EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM SAÚDE: ANÁLISE DOS CASOS DE ESQUISTOSSOMOSE NOTIFICADOS NA PARAÍBA NO PERÍODO DE 2015 A 2017
Geise dos Santos Pereira1, Heloísa Mara Batista Fernandes de Oliveira2, Abrahão Alves de Oliveira Filho3
1Graduanda em Ciências Biológicas, Unidade Acadêmica de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Campina Grande, e-mail: geise_cherry@hotmail.com
2Doutora em Farmacologia, Farmacêutica-Bioquímica do Hospital Universitário Ana Bezerra, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e-mail: heloisambf@gmail.com
2Doutor em Farmacologia, Professor da Unidade Acadêmica de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Campina Grande, e-mail: abrahao.farm@gmail.com
Resumo: A ausência de ações de Educação Ambiental, juntamente com a carência de saneamento básico, promove a proliferação dos parasitas intestinais na população. A esquistossomose é uma doença infecto-parasitária, endêmica de países subdesenvolvidos, que ocupa o segundo lugar no ranking mundial de casos confirmados. No Brasil, a maior predominância é encontrada na Região Nordeste. O objetivo do presente estudo foi realizar a análise dos casos de esquistossomose notificados no estado da Paraíba durante o período de 2015 a 2017. Trata-se de um estudo explicativo, quantitativo por meio do levantamento realizado com o banco de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), onde foram coletados dados referentes a esquistossomose no estado da Paraíba nos anos de 2015 a 2017. As variáveis descritas foram: gênero, zona de residência, faixa etária, escolaridade, municípios e evolução da doença. Apesar da carência no preenchimento das fichas de notificações, os dados encontrados mostraram 351 registros de esquistossomose confirmados durante esse período. Houve uma maior incidência de casos confirmados para o gênero feminino (51%), tendo uma maior distribuição da população total na zona rural (56%). A faixa etária mais acometida foi de 40 a 59 anos (43%). O grau de escolaridade mais frequente esteve entre a 1ª a 4ª série incompleta do ensino fundamental (11%). A maior incidência de casos foi observada no município de Pedras de Fogo (29%). A evolução da doença foi classificada em: ignorado/branco (46%), cura (52%) não cura (1%) e óbito por esquistossomose (1%). Portanto, a esquistossomose continua sendo uma doença presente no Brasil. Nesse sentido ressalta-se a importância de Saneamento básico e Educação Ambiental, como estratégia voltada para que o ser humano não se exponha a fatores condicionantes e determinantes da doença.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Esquistossomose, SINAN.
Abstract: The absence of Environmental Education actions, together with lack of basic sanitation, promotes the proliferation of intestinal parasites in the population. Schistosomiasis is an infectious-parasitic disease, endemic to underdeveloped countries, which ranks second in the world ranking of confirmed cases. In Brazil, the highest prevalence is found in the Northeast Region. The objective of the present study was to analyze the cases of schistosomiasis reported in the State of Paraíba during the period from 2015 to 2017. This is an explanatory, quantitative study by means of the survey carried out with the database of the Information System of Notification Agreements (ISNA), where data on schistosomiasis were collected in the State of Paraíba in the years from 2015 to 2017. The variables described were: gender, area of residence, age group, schooling, municipalities, and disease evolution. Despite the lack of filling in the notification forms, the data found showed 351 records of schistosomiasis confirmed during this period. There was a higher incidence of confirmed cases for the female gender (51%), with a larger distribution of the total population in the rural area (56%). The most affected age group was 40 to 59 years (43%). The most frequent schooling was between the 1st to the 4th incomplete elementary school (11%). The highest incidence of cases was observed in the municipality of Pedras de Fogo (29%). The evolution of the disease was classified as: ignored / white (46%), cure (52%) did not cure (1%) and death due to schistosomiasis (1%). Therefore, schistosomiasis remains a disease present in Brazil. In this sense, the importance of basic sanitation and environmental education is emphasized as a strategy aimed at the human being not being exposed to conditioning factors and determinants of the disease.
Key words: Environmental education, Schistosomiasis, ISNA.
Introdução
Saneamento é o conjunto de medidas que visa o controle dos fatores que exercem efeitos nocivos sobre o bem-estar físico, mental e social dos indivíduos a fim de promover e melhorar a qualidade de vida (OMS, 2006). A falta de planejamento urbano adequado contribui para que um sistema de saneamento básico pouco eficiente associado a ausência de ações de Educação Ambiental acarretem consequências que comprometam a qualidade de vida da população, sendo estas a causa direta de muitas doenças e mortes pelo mundo.
A Educação Ambiental colabora para que exista uma maior consciência por parte do indivíduo em suas atitudes com o meio ambiente, podendo ainda minimizar problemas relacionados ao saneamento básico. A Política Nacional de Educação Ambiental de Lei nº 9795/99, descreve que a educação ambiental é um processo que visa desenvolver nos indivíduos uma preocupação com problemas sociais e ambientais, buscando a conservação e preservação do meio ambiente, afim de construir uma melhor qualidade de vida a humanidade (BRASIL, 1999).
Países subdesenvolvidos ainda são pouco eficientes no fornecimento de serviços básicos a população, como por exemplo limpeza pública, coleta seletiva, água e esgotos tratados corretamente e uma educação voltada para essa problemática. A carência dessas condições mínimas de saneamento, assim como a má higiene doméstica são os principais mecanismos de transmissão dos parasitas intestinais. As parasitoses intestinais são mais frequentes em países subdesenvolvidos onde, em sua maioria, apresenta espécies endêmicas que contribuem para problemas socioeconômicos (SILVA, SANTOS, 2001; KUNZ et al., 2008).
Parasitoses são doenças causadas por parasitas: vermes, bactérias e protozoários, que se acomodam no corpo humano e se alimentam de sangue ou do conteúdo intestinal, provocando diversos problemas de saúde. De acordo com Prado et al., (2001) a maior parte dessas doenças são transmitidas através de excretas humanas contaminadas expostas ao ambiente e associadas às más condições de higiene e habitação tornando o meio peridomiciliar um foco para infecção desses agentes.
Estima-se que infecções intestinais causadas por essas parasitoses afetem cerca de 3,5 bilhões de pessoas, causando adoecimentos em 450 milhões de indivíduos pelo mundo (BELO et al., 2012).
Dentre as principais parasitoses pode-se destacar a esquistossomose mansônica, considerada uma doença negligenciada, também conhecida como barriga d’água ou doença do caramujo. É uma doença infecciosa parasitária, causada pelo Schistosoma mansoni, tem o homem como hospedeiro principal e caramujos de água doce do gênero Biomphalaria como hospedeiros intermediários, dividindo-se em duas fases: aguda ou crônica. Considerada endêmica das Américas, Ásia e África (KATZ, ALMEIDA, 2003; CARDIM et al., 2011; CUNHA, GUEDES, 2012).
As etapas de transmissão consistem na eliminação dos ovos do S. mansoni pelas fezes do humano infectado. Estas são lançadas em meio aquático, se desenvolvem liberando larvas e infectando o caramujo. Depois de quatro semanas as larvas ficam na forma de cercária. O ser humano ao ter contato com a água contaminada acaba se tornando vulnerável, ocorrendo a penetração do parasita por meio da pele ou mucosa contaminando-o. O tempo de duração em que as cercárias se desenvolvem está, em média, seis semanas após a penetração (PORDEUS et al., 2008).
A patogenia depende de fatores como a linhagem do parasito, a idade, o estado nutricional, imunidade do hospedeiro e a quantidade de parasitos que infectou a vítima. Na fase inicial da doença, o homem apresenta dermatite cercariana, na fase aguda apresentam urticária e edema localizados, diarreia mucosa, febre, anorexia, vômito, hepatoesplenogalia dolorosa, manifestações pulmonares e astenia (KATZ, ALMEIDA, 2003).
Por serem sintomas comuns de outras doenças pode ser confundido com outras enfermidades como febre tifoide, calazar, salmoneloses, malária e hepatites viróticas, por isso, é necessário realizar exames específicos (KATZ, ALMEIDA, 2003).
Seu diagnóstico se dá por exames laboratoriais, com relevância para o método de Lutz e Kato-Katz, processo quantitativo, observando a presença de ovos nas fezes, após o tempo de infecção (VITORINO et al., 2012).
No Brasil, a presença de portadores desses vermes pode ser observada em 19 estados, distribuídas em todas as regiões do país, com predominância no nordeste e no estado de Minas Gerias (MS, 2009; CARDIM, 2011).
Diante desse contexto, o objetivo deste estudo foi realizar uma análise dos casos de esquistossomose notificados no estado da Paraíba durante o período de 2015 a 2017.
Metodologia
Esta pesquisa foi desenvolvida por meio de um levantamento de dados de esquistossomose descritos para o estado da Paraíba através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
A Paraíba que localiza-se no leste da Região Nordeste, está dividido em quatro mesorregiões, 23 microrregiões e 223 municípios. Com uma população acima de quatro milhões de habitantes, sendo o décimo terceiro estado mais populoso do Brasil (IBGE, 2017).
Foram coletados dados referentes a esquistossomose no estado da Paraíba no período de 2015 a 2017. As variáveis coletadas foram: gênero, zona de residência, faixa etária, escolaridade, municípios e evolução da doença. Para a análise dos dados e construção dos gráficos utilizou-se o programa Microsoft Excel® versão Office 2013.
Resultados e Discussão
Dentre os anos de 2015 a 2017 no Brasil, a Região Nordeste apresentou-se em segundo lugar no número de casos notificados de esquistossomose, foram 25% dos casos confirmados, ficando atrás apenas da Região Sudeste que confirmou 72% dos casos. Entre os estados do Nordeste, a Paraíba ocupou a quarta posição com 9% dos casos notificados (Tabela 1).
Tabela 1- Número de casos de esquistossomose notificados na Região Nordeste do Brasil no período de 2015 a 2017.
Localização |
Casos notificados |
Alagoas |
238 |
Bahia |
1890 |
Ceará |
95 |
Maranhão |
102 |
Paraíba |
352 |
Pernambuco |
853 |
Piauí |
3 |
Rio Grande do Norte |
74 |
Sergipe |
361 |
Total |
3967 |
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - SINAN
Houve uma maior incidência para o gênero feminino 51% dos casos e, para o gênero masculino 49% dos casos, como é apresentado (Gráfico 1).
Gráfico 1- Percentual de esquistossomose por Gênero na Paraíba no período de 2015 a 2017.
Fonte: Ministério da Saúde/SVS – SINAN
A infecção por esquistossomose acomete pessoas do gênero masculino ou feminino, sendo observado neste trabalho pouca variação entre ambos os gêneros. Para Resendes et al., (2005) o ser humano quando em contato com água contaminada de rios ou outras fontes de contágio acaba ficando vulnerável à infecção pela doença independentemente do gênero, pois homens e mulheres têm hábitos comuns no uso da água, seja para atividades de recreação, higiene pessoal ou ainda para a força de trabalho.
Foi observado que a zona urbana registrou um número de casos inferior 42% quando comparado a zona rural 54%, que pode estar diretamente relacionado a diferente realidade que pode ser observada nesses dois tipos de população (Gráfico 2).
Gráfico 2- Percentual de esquistossomose por Zona de Residência na Paraíba no período de 2015 a 2017.
Fonte: Ministério da Saúde/SVS – SINAN
Historicamente esquistossomose é uma doença que apresenta maior prevalência na zona rural, apresentando elevados índices de infecção associado a falta de saneamento básico, baixa qualidade de vida, moradia inadequada, alimentação e higiene pessoal, que podem intensificar os riscos de transmissão e contágio da doença (PAES, SILVA, 1999; ARAÚJO, 2004).
A esquistossomose é uma doença que pode ser considerada generalista pois acomete todas as idades, no entanto é mais frequente em pessoas que apresentem idades entre 20 a 59 anos (Tabela 2).
Tabela 2- Casos notificados de esquistossomose por Faixa Etária na Paraíba no período de 2015 a 2017.
Faixa Etária |
Casos notificados |
<1 ano |
3 |
01 a 04 anos |
1 |
05 a 09 anos |
8 |
10 a 14 anos |
15 |
15 a 19 anos |
12 |
20 a 39 anos |
106 |
40 a 59 anos |
150 |
60 a 64 anos |
16 |
65 a 69 anos |
16 |
70 a 79 anos |
19 |
80 e + |
6 |
Total |
352 |
Fonte: Ministério da Saúde/SVS – SINAN
Os mais acometidos pela doença são os adultos entre 40 a 59 anos (43%) e 20 a 39 anos (30%), numa fase mais produtiva financeiramente. De acordo com Santos et al., (2016) ocorrências de doenças nessa fase ativa dos indivíduos limita a capacidade produtiva prejudicando a condição social e econômica direta ou indiretamente da família.
Foi observado uma falta no preenchimento das fichas de notificações dos casos por escolaridade, com destaque para o item ignorado/branco que correspondeu a 56% dos casos notificados. Salientando assim a deficiência de treinamento adequado, podendo haver assim o comprometimento dos resultados, tendo em vista que deve haver uma maior atenção quando se trata de infecção servindo de aporte para adotar medidas de controle da doença (Tabela 3).
Tabela 3- Casos notificados de esquistossomose por Escolaridade na Paraíba no período de 2015 a 2017.
Escolaridade |
Casos notificados |
Ignorado/Branco |
197 |
Analfabeto |
19 |
1ª a 4ª série incompleta do ensino fundamental |
38 |
4ª série completa do ensino fundamental |
13 |
5ª a 8ª série incompleta do ensino fundamental |
25 |
Ensino fundamental completo |
9 |
Ensino médio incompleto |
9 |
Ensino médio completo |
27 |
Educação superior incompleta |
2 |
Educação superior completa |
8 |
Não se aplica |
5 |
Total |
352 |
Fonte: Ministério da Saúde/SVS – SINAN
De acordo com os dados obtidos a esquistossomose não tem relação direta com a formação escolar. No entanto, a baixa escolaridade foi uma variável significante, refletindo um fator de risco para a transmissão como contaminação (COURA-FILHO, 1994; RIBEIRO et al., 2004; VASCONCELOS et al., 2009).
Nessa perspectiva a falta de conhecimento sobre o parasita e a doença está relacionado a carência de uma Educação Ambiental em indivíduos com menor escolaridade. Quanto menor a escolaridade, menor acesso a informação o indivíduo vai possuir, ficando mais susceptível a contrair a doença. Para Melo et al., (2011) é necessário atenção especial assim como, estratégias de educação em saúde que leve em consideração o grau de instrução que essa população está inserida.
Na Paraíba foram notificados 38 municípios com casos de esquistossomose, variando entre todas as regiões do estado. Em Pedras de Fogo foi notificado o maior número de casos com 29% (Tabela 4).
Tabela 4- Casos notificados de esquistossomose por Municípios na Paraíba no período de 2015 a 2017.
Municípios |
Casos notificados |
Alagoa Grande |
1 |
Alagoinha |
2 |
Alcantil |
12 |
Areia |
7 |
Aroeiras |
20 |
Bananeiras |
2 |
Barra de Santana |
45 |
Bayeux |
1 |
Belém |
13 |
Boqueirão |
2 |
Brejo dos Santos |
1 |
Cabedelo |
2 |
Caiçara |
2 |
Campina Grande |
11 |
Cuité |
1 |
Cuité de Mamanguape |
1 |
Guarabira |
7 |
Itapororoca |
2 |
Itatuba |
18 |
João Pessoa |
9 |
Juru |
1 |
Lucena |
1 |
Mogeiro |
1 |
Natuba |
12 |
Pedra Lavrada |
1 |
Pedras de Fogo |
102 |
Pilões |
6 |
Pilõezinhos |
2 |
Pirpirituba |
20 |
Pocinhos |
1 |
Queimadas |
21 |
Riachão do Bacamarte |
1 |
Riacho de Santo Antônio |
3 |
Santa Cecília |
2 |
Santo André |
1 |
Serraria |
2 |
Soledade |
1 |
Umbuzeiro |
15 |
Total |
352 |
Fonte: Ministério da Saúde/SVS – SINAN
As cidades da Região Nordeste são as que mais sofrem com condições inadequadas de saneamento básico, frágil educação em saúde para uma população com alto índice de pobreza, favorecendo os riscos de contaminação por fatores biológicos, socioeconômicos, políticos e culturais, causando assim impactos na saúde pública (FREITAS, 2014).
De acordo com os dados coletados, os municípios com elevadas notificações pertencem a microrregião do brejo e litoral. O que pode estar relacionado com o índice pluviométrico das microrregiões envolvidas, visto que o aparecimento de caramujos se dá pela ocorrência das chuvas. O litoral registrou chuvas com um índice acima de 1.300mm anuais e, o brejo com índice acima de 600mm anuais (AESA, 2018).
Foi observado referente a evolução da doença, que 52% dos casos de pessoas infectadas obtiveram a cura, enquanto 1% dos casos não desenvolveram a cura, o que se torna um fator positivo diante dessa doença (Gráfico 3).
Gráfico 3- Percentual de esquistossomose por Evolução da Doença na Paraíba no período de 2015 a 2017.
Fonte: Ministério da Saúde/SVS – SINAN
O tratamento da doença consiste no uso de medicamentos que eliminam os ovos do helminto evitando a proliferação de formas infectantes da doença. A medicação específica é praziquantel e oxaminiquine. O acompanhamento da cura consiste em realizar exames após o quarto mês de início do tratamento. Para as formas graves da doença é indicado processo cirúrgico (BRASIL, 2014; GOMES, 2016).
Conclusão
Fatores como a falta de saneamento básico, despreparo de alguns setores de saúde, como também o baixo nível de escolaridade foram alguns tópicos que levaram a Paraíba a ocupar a quarta posição entre os estados da Região Nordeste em relação ao ranking dos casos de esquistossomose no País. Isso mostra que a carência de práticas de abordagem efetivas como a Educação Ambiental pode se tornar uma peça chave e fundamental para a erradicação desta doença no estado.
Portanto ressalta-se a importância de saúde ambiental como ação voltada para informatizar a população sobre hábitos saudáveis de higiene e alertar aos riscos de contágio da doença.
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