AGROTÓXICO E AGRICULTOR: A NECESSIDADE DE UMA ASSOCIAÇÃO SEGURA



Maira Neves Borgo

Biomédica, Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, campus Maringá – PR, Brasil. maiaraborgo@hotmail.com

Márcia Aparecida Andreazzi

ProfDra do Programa de Mestrado em Tecnologias Limpas e do Departamento de Agronomia/ Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, campus Maringá – PR, Brasil. Pesquisadora do Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICETI). marcia.andreazzi@unicesumar.edu.br

Suelen Barth Zafalon

Biomédica, Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, campus Maringá – PR, Brasil. suelenzafalon@hotmail.com

Maria de los Angeles Perez Lizama

ProfDra do Programa de Mestrado em Tecnologias Limpas e do Departamento de Biologia / Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, campus Maringá – PR, Brasil. Pesquisadora do Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICETI).

maria.lizama@unicesumar.edu.br

Fábio Luiz Bim Cavalieri

Prof. Dr. do Programa de Mestrado em Tecnologias Limpas e do Departamento de Medicina Veterinária / Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, campus Maringá – PR, Brasil. Pesquisador do Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICETI)

Sandra Maria Simonelli

Profa. Dra. do Dep. de Zootecnia da Universidades Estadual de Londrina/ UEL/ PR.

sandsimonelli@hotmail.com







RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi caracterizar um grupo de agricultores, verificar o uso de EPI´s quando manipulam agroquímicos, analisar os níveis plasmáticos da enzima colinesterase plasmática e propor ações de educação, sensibilização e fiscalização que resultem em maior segurança e melhor qualidade de vida para estes indivíduos.

Palavras-chaves: agroquímicos; defensivos agrícolas; equipamentos de proteção individual; saúde do trabalhador.



ABSTRACT

The objective of this research was to characterize a group of farmers, to verify the use of EIS when handling pesticides, to analyze plasma levels of the enzyme cholinesterase plasma and to propose more intense education, sensitization and actions that result in greater safety and better quality of life for these individuals

Keywords: agrochemicals; equipment for individual safety; farmer health; pesticides.



  1. Introdução

O aumento da produtividade agrícola empregando técnicas de controle de pragas é prática comum há muito tempo na agricultura. Antigamente, se empregavam compostos inorgânicos, contudo, o período pós-guerra mundial, tornou necessário o aumento da demanda por produtos agrícolas, surgindo então os produtos orgânicos, como o dicloro-difenil-tricloroetano. As principais características destes produtos eram a persistência no ambiente, com significava eliminação de pragas, porém, traziam riscos a saúde humana e ao meio ambiente. Por este fato, estes produtos foram substituídos pelos agrotóxicos organofosforados, que apresentam um tempo de residência menor que os organoclorados (TOMITA et al., 2002; VEIGA et al., 2006; TOTTI et al., 2007).

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2016), o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos, possuindo ampla cobertura legal dentro do país por meio da Lei nº 7802/89, que controla o registro de agrotóxicos, controlando para que seus resíduos não provoquem riscos à saúde humana, animal e ao meio ambiente (MMA, 1989).

Segundo o OCDE-FAO (2015), os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, tem agricultura baseada no uso intensivo de fertilizantes e pesticidas. O Paraná é caracterizado como um estado agrícola, com o cultivo de várias lavouras, como soja, trigo, milho e feijão (IBGE, 2010), que proporcionam elevado grau de desenvolvimento econômico e o emprego de tecnologias avançadas (SILVA et al., 2005). Contudo, este fato gera a necessidade do emprego de vários tipos de defensivos agrícolas para a prevenção ou eliminação de pragas, garantindo a produtividade das lavouras (DAHER et al., 2011). Porém, alguns produtos podem ocasionar a degradação ambiental, através da contaminação do solo, água e ar e ameaçar a saúde pública na área rural (OLIVEIRA SILVA et al., 2001).

Com relação à saúde pública, estudo realizado no estado do Paraná, no período de 1993 a 2000 mostrou que as intoxicações por agrotóxicos agrícolas variam de acidentes profissionais a tentativas de suicídio (SILVA; ALVES, 2007) e os motivos destas intoxicações se relacionam a inúmeros fatores, dentre eles, o uso inadequado destas substâncias, o uso de agrotóxicos de alta toxicidade, a falta de equipamentos de proteção individuais (EPI), a falta de informações, a insuficiência de dados sobre possíveis intoxicações, o grau de escolaridade e a precariedade de vigilância neste tipo de trabalho ocupacional (OLIVEIRA SILVA et al., 2001).

Devido ao vasto emprego destes compostos, um grande número de pessoas está ocupacionalmente exposto, tanto na sua fase de produção como na aplicação destes produtos (GOLD ANALISA, 2013) sendo que as principais vias de intoxicação são a via digestiva, respiratória, cutânea e a ocular (BARTH, 2010). Por isso, de acordo com Mazzonetto (2012), o EPI é a única forma que o trabalhador do campo tem para se prevenir e sua utilização é necessária em todas as etapas de uso dos defensivos agrícolas, desde o início do preparo até a limpeza dos equipamentos.

O controle laboratorial da exposição ocupacional a estes produtos é realizado por meio da determinação da atividade da enzima acetilcolinesterase no sangue dos trabalhadores, que se constitui em índice biológico satisfatório, sendo sua variação proporcional à intensidade e duração da exposição aos agentes anticolinesterásicos, como é o caso dos compostos organofosforados (GOLD ANALISA, 2013). A principal ação destes compostos é a inibição da enzima acetilcolinesterase (OGA, CAMARGO e BATISTUZZO, 2014). A acetilcolinesterase hidrolisa a acetilcolina, um neurotransmissor sintetizado pela célula pré-sináptica, em colina e acetato. Quando há a inibição da acetilcolinesterase ocorre um acúmulo de acetilcolina nas terminações nervosas, levando a efeitos indesejáveis a saúde do homem como cólicas abdominais, diarreia, dores de cabeça, visão turva, fraqueza, salivação excessiva, vômitos, tremores, alterações na pressão arterial, convulsões e depressão cardiorrespiratória (BARTH, 2010).

Mamborê, no estado do Paraná, é uma cidade agrícola e tem no plantio de soja, milho e trigo seus principais produtos agrícolas, sendo uma necessidade constante o uso de agrotóxicos. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi caracterizar um grupo de agricultores, verificar o uso de EPI´s quando manipulam agroquímicos, analisar os níveis plasmáticos da enzima colinesterase plasmática e propor ações de educação, sensibilização e fiscalização que resultem em maior segurança e melhor qualidade de vida para estes indivíduos.



  1. Material e métodos



Este estudo, de característica transversal, foi realizado com 50 agricultores expostos a defensivos organofosforados até 30 dias antes da coleta de sangue, residentes na zona rural do município de Mamborê, localizado no sul do Paraná (24º19'10"S e 52º31'48"W, altitude 762m, área de 738,6 Km2).

Inicialmente foi realizada uma visita nas residências dos trabalhadores a fim de divulgar o estudo e esclarecer os objetivos da pesquisa, destacando o sigilo em relação aos dados e garantindo a liberdade de escolha do agricultor em participar ou não. Aqueles que aceitaram e que tiveram contato com defensivos agrícolas organofosforados no último mês, foram orientados quanto aos procedimentos para o dia da coleta, dentre eles, o jejum de 4 horas antecedentes a coleta.

No dia da coleta foi entregue aos trabalhadores o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para lerem e assinarem, logo após, foi aplicado um questionário baseado em Baccon e Broetto-Biazon (2012) que abordou as seguintes variáveis: identificação, idade, sexo, grau de escolaridade, tempo que trabalha na agricultura, lavoura mais cultivada, quantidade de alqueires cultivados, identificação dos agrotóxicos que entrou em contato nos últimos 30 dias, utilização ou não de EPI, identificação do EPI, sintomas ou não de mal estar após contato com estes produtos, tipos de sintomas e leitura do rótulo antes do uso do produto.

Após preenchimento do questionário, foram realizadas as coletas de sangue. As amostras de sangue (5 mL) foram coletadas por punção venosa e passadas para tubos com vácuo e gel separador. Toda a coleta foi realizada seguindo os procedimentos padrões e, após a centrifugação, o soro foi congelado. As coletas foram realizadas empregando-se materiais e as dependências dos Centros de Saúde do município de Mamborê, na zona rural e urbana, conforme autorização da Secretaria Municipal de Saúde.

As análises foram realizadas pelo Laboratório de Análises Clínicas Santa Rosa de Mamborê (PR) que participa do Programa Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ) da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), realizadas por automação em aparelho Mindray BS-120, empregando-se o método enzimático cinético. As análises foram feitas em duplicata e os valores obtidos foram comparados com os valores de referência de indivíduos masculinos, que foram o objeto deste estudo. Para homens, o valor de referência é de 4.620 a 11.500 U/L. Valores diminuídos de colinesterase são encontrados em situações de envenenamento por inseticidas organofosforados (GOLD ANALISA, 2013).

O programa BioEstat 5.0 (AYRES et al, 2007) foi utilizado nas análises estatísticas do presente estudo. Foram aplicados os testes de Qui – Quadrado ou teste G de aderência nos casos em que o número de observações em determinada classe foi menor ou igual a cinco. O nível de significância adotado foi de 5%.

O protocolo do estudo foi realizado de acordo com as normas da Resolução CNS (Conselho Nacional de Saúde) 196/96, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro Universitário de Maringá / UNICESUMAR sob CAAE número 16102013.1.0000.5539.



  1. Resultados e discussão



Os resultados médios obtidos sobre a idade, os anos de trabalho e área cultivada (Tabela 1) evidenciaram que os agricultores participantes deste estudo são adultos jovens (41,6 anos) e que foram expostos a produtos organofosforados por um longo período de suas vidas (25 anos) e de forma expressiva, visto que a área cultivada por eles totalizou, em média, 129,5 alqueires paulista (313,39 ha ou 3.133.900 m2). De fato, os agricultores de Mamborê/ PR praticam a agricultura em grandes extensões de terras e esta é a principal atividade de trabalho na cidade, conforme dados da Prefeitura Municipal de Mamborê, que classifica o município como agrícola, com muitas propriedades agropecuárias, que cultivam lavouras temporárias e permanentes.

Apesar dos dados de caracterização dos agricultores terem denotado longa exposição aos produtos organofosforados e a coleta de sangue ter sido realizada em momento próximo ao manuseio destes produtos, os resultados médios obtidos sobre os valores plasmáticos da atividade da enzima colinesterase nos agricultores pesquisados não evidenciaram quadros de intoxicação por estes produtos (Tabela 2), se revelando dentro dos valores de referência para atividade da enzima para homens, que é de 4.620 a 11.500 U/L (GOLD ANALISA, 2013).



Tabela 1. Média, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) da idade, dos anos de trabalho e da área cultivada pelos agricultores pesquisados em Mamborê/ PR.

Parâmetro

Idade (anos)

Anos de trabalho

Área cultivada (alqueires)

Média e desvio padrão

41,6 ± 13,4

25,0 ± 14,3

129,5 ± 116,9

CV (%)

32,1

27,3

40,3





Tabela 2. Média, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) dos valores plasmáticos da atividade da enzima colinesterase (U/L) nos agricultores pesquisados em Mamborê/ PR.

Parâmetro

Enzima (U/L)

Média e desvio padrão

10.179,6 ± 1.207,2

CV (%)

11,9



Quando ocorre intoxicação por inseticidas organofosforados, os valores da atividade da colinesterase se apresentam diminuídos (GOLD ANALISA, 2013) e conforme Barth (2010) a diminuição da atividade da colinesterase plasmática pode permanecer alterada na circulação por até 30 dias após a intoxicação ao organofosforado. Um estudo semelhante realizado em Campo Mourão/ PR, envolvendo 33 agricultores também mostrou resultados de colinesterase dentro dos limites de normalidade (BACCON; BROETTO-BIAZON, 2013).

Com relação à frequência do uso dos agrotóxicos, foi possível observar nesta pesquisa que 60,4% dos entrevistados utilizam estes produtos com frequência e, assim como no trabalho de Baccon e Broetto-Biazon (2012), os agrotóxicos citados como mais utilizados pelos agricultores foram os CARBOMAX®, ENGEO PLENO®, PREMIO®, U46 D-FLUID2,4D®, ROUNDUP®, que são destinados a culturas de soja, milho e trigo, que são os principais cultivos da região. A similaridade entre os dois estudos pode ser atribuída ao fato de que as cidades são próximas.

Quanto ao tipo de lavoura cultivada, 52,8% dos indivíduos afirmaram plantar soja, trigo e milho, 18,9% plantam somente soja, e o mesmo valor se repete para os que plantam soja e milho, para aqueles que cultivam soja e trigo a porcentagem foi de apenas 9,4%. Dados do IBGE (2010) confirmam que Mamborê/ PR possui uma alta produção de cereais, dos 95.007 ha de área colhida, 93.318 ha são destinadas exclusivamente a soja, milho e trigo. Esta grande produção se deve ao solo e ao clima propício para o crescimento destas culturas, além do grande valor econômico gerado com estas plantações.

Quanto ao uso dos EPI´s, os valores encontrados evidenciaram que a maioria dos agricultores estudados (66%) utiliza algum tipo de EPI. Contudo, quando estratificado este resultado, verificou-se que somente 17% empregam todos os itens de segurança (Figura 1). O EPI se constitui no principal meio para se evitar intoxicações por agrotóxicos, sendo que o ideal é o uso de todos os EPIs, porém, cabe ressaltar que, apesar de 34% dos estudados não usarem EPI, os exames da colinesterase não evidenciaram intoxicações.



Figura 1. Frequência de uso de equipamento de proteção individual (EPI) em agricultores do município de Mamborê/ PR. (B= Bota, L= luva, M= máscara, R= roupa).



O uso de todos os EPI´s também não foi alto em levantamento realizado em Chapecó/ SC, apresentando frequência muito parecida à deste estudo (Bohner, et al., 2013). Infelizmente, o uso de somente alguns EPI´s entre os agricultores é frequente, fato que também foi constatado por Silva et al (2001) e Castro et al (2011).

Mazzonetto (2012) e a Norma Regulamentadora dos EPI´s No6 (BRASIL, 2014) postulam que os EPI´s utilizados podem variar dependendo do tipo de atividade ou de riscos que poderão ameaçar a segurança e a saúde do trabalhador e da parte do corpo que se pretende proteger, sendo necessário o uso de luvas, respiradores ou máscaras, máscara ou óculos, jaleco e calças hidro-repelentes, touca árabe, avental e botas impermeáveis.

Atualmente, existem muitos casos de intoxicações de agricultores, cabendo aos profissionais da área, autônomos, via empresas ou cooperativas agrícolas, realizar a divulgação, o treinamento e o incentivo a utilização correta dos EPI´s, prezando pela saúde das pessoas ligadas ao setor rural (Mazzonetto, 2012).

Apesar dos resultados negativos para colinesterase, a negligência relacionada à falta dos EPI´s ficou evidenciada nos relatos sobre a apresentação de algum sintoma após o emprego do agrotóxico na lavoura, onde 32% dos agricultores afirmaram vivenciar algum tipo de sintoma. Destes, 27,7% relataram sentir náuseas e tontura. Tontura e vômito, dores de cabeça e visão turva acompanhada ou não de outros sintomas também foram relatados (Figura 2). A análise dos sintomas separadamente demonstrou que tontura foi o sintoma mais relatado (55,5%).

Figura 2. Frequência dos sintomas vivenciados pelos agricultores do município de Mamborê/ PR, após manuseio de agrotóxicos organofosforados.



Resultados semelhantes foram observados em pesquisa conduzida por Castro et al (2011), que listaram como sinais e sintomas relatados pelos agricultores vertigens e tonturas, mal-estar generalizado, dores de cabeça, cãibras, fraqueza ou cansaço e falta de apetite. Em pesquisa realizada em Campo Mourão/ PR, 54,54% dos seus participantes afirmaram ter sentido algum tipo de sintoma de intoxicação durante a aplicação dos agrotóxicos nas lavouras (Baccon; Broetto-Biazon, 2012), valor superior ao encontrado neste estudo, realizado em região e condições semelhantes.

Em substituição aos organoclorados que são persistentes no ambiente e causam acumulação ambiental, os organofosforados apresentam pouca persistência, porém, ao entrar em contato com a forma ativa do inseticida, podem ser extremamente tóxicos para a saúde humana e animal (Totti et al., 2007). Para a saúde humana, a contaminação por agrotóxicos depende da sua composição química, da quantidade utilizada, ingerida e ou absorvida, do tempo que o agricultor está exposto e também das condições de saúde da pessoa (Peres, Moreira e Dubois, 2003), contudo, a inalação é a principal causa dos sintomas de enjoo, dores abdominais e dores de cabeça.

Segundo Barth (2010) a inibição da atividade da enzima colinesterase leva ao aumento de acetilcolina nas terminações nervosas, e esse aumento provoca sintomas como cólicas abdominais, diarreia, dores de cabeça, visão turva, fraqueza, vômitos, tremores e alterações na pressão arterial, dentre outros. Este dado é intrigante, pois apesar de alguns agricultores relatarem sintomas de intoxicação, os resultados plasmáticos não confirmaram este fato.

Quanto ao grau de escolaridade dos indivíduos estudados, o resultado mostrou que a maioria (98,1%) dos entrevistados possui algum grau de instrução (Figura 3). Esse achado é importante, pois se relaciona diretamente com o item do questionário sobre a leitura dos rótulos antes do manuseio dos produtos, onde se verificou correlação significativa (p<0,05).



Figura 3. Frequência do grau de escolaridade dos agricultores pesquisados no município de Mamborê/ PR. (SA=sem alfabetização; EFI= Ensino fundamental incompleto; EFC= Ensino fundamental completo; EMI= Ensino médio incompleto; EMC= Ensino médio completo; ESI= Ensino superior incompleto; ESC= Ensino superior completo).



As embalagens e rotulagens dos agrotóxicos são regulamentadas pelo Decreto Lei No 4.074, de 4 de janeiro de 2002 (BRASIL, 2002), que determina os requisitos que devem ser atendidos, de modo a propiciar segurança e alertar os usuários desses produtos sobre os riscos inerentes ao manejo desses produtos químicos. Segundo o Decreto, rótulos e bulas de agrotóxicos devem conter, entre outras informações, a procedência do produto, grau de toxicidade, forma de utilização e recomendações para que a bula seja lida antes da aplicação do agrotóxico. Apesar destas exigências, Yamashita (2009) afirmou que a maioria dos agricultores leem os rótulos e bulas de agrotóxicos, contudo, a compreensão desses impressos ainda é problemática.

Resultados semelhantes aos deste estudo foram obtidos por Baccon e Broetto-Biazon (2012), que afirmaram que 63% dos trabalhadores rurais que manuseavam o agrotóxico liam os rótulos antes de aplicá-los na lavoura. Em estudo conduzido em assentamentos de reforma agrária no estado do Ceará, observou-se que a maioria dos trabalhadores rurais apresentava baixa escolaridade, até a 4ª série do ensino fundamental, o que poderia estar relacionado com a falta de uso do EPI (Castro et al, 2011). Araújo et al. (2007) em trabalho realizado em Nova Friburgo/ RJ, afirmaram que a frequência de intoxicação era inversamente proporcional ao grau de escolaridade.



  1. Conclusões



Com base nos resultados obtidos, conclui-se que os produtores rurais estudados são adultos jovens e que trabalham em grandes áreas de lavouras, refletindo em significativa exposição a diferentes tipos de agrotóxicos ao longo de suas vidas.

Contudo, os exames laboratoriais não mostraram quadros de intoxicação, porém, muitos afirmaram sentir tontura, náusea e vômito quando manipularam estes produtos. Estes sintomas podem ser explicados pelo fato de que somente uma pequena parcela utiliza todos os EPI´s necessários para o correto manuseio destes produtos, evidenciando negligência com a própria saúde e bem-estar, além disso, quase a totalidade dos produtores pesquisados apresenta algum grau de instrução e, portanto, são capazes de ler os rótulos e assim, conhecer melhor o produto que estão utilizando e os cuidados necessários referentes ao seu manuseio.

Trabalhos de sensibilização e fiscalização mais intensa poderão resultar em maior segurança e melhor qualidade de vida destes indivíduos.



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