A PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE MICROALGAS E SUA VIABILIDADE AMBIENTAL, ECONÔMICA E OPERACIONAL

Alanderson Rafael dos Santos Medeiros1, Ana Catarina Fernandes Coriolano2*

1Instituto Federal do Rio Grande do Norte, Mestre em Engenharia de Petróleo e Gás/Universidade Potiguar; 2*Universidade Potiguar, Doutora em Geodinâmica e Geofísica/Universidade Federal do Rio Grande do Norte, catarinaufrn@yahoo.com.br



RESUMO

A possibilidade de produzir energia renovável é abordada com frequência na atualidade, devido à problemática socioeconômica e os impactos ambientais causados ao longo dos anos pelos combustíveis fósseis e as implicações determinadas por estes. Há grandes expectativas direcionadas à obtenção de energia renovável a partir de matrizes vegetais com grande potencial energético, no intuito de reduzir os impactos ecológicos e promover a prática de sustentabilidade. O presente trabalho conduz uma análise de aspectos ambientais, econômicos e operacionais bem como, a discussão da viabilidade de produção de biodiesel a partir de biomassa de microalgas. A pesquisa foi fundamentada em um levantamento bibliográfico e os dados obtidos esclarecem de maneira holística os benefícios e limitações da aplicação de microalgas como matéria-prima para síntese de biodiesel em detrimento à diversas matrizes vegetais energéticas.

PALAVRAS-CHAVE: biocombustíveis, biodiesel, microalgas, impactos ambientais, viabilidade, aspectos operacionais.

ABSTRACT

The possibility of producing renewable energy is frequently discussed nowadays because of the socioeconomic issues and the environmental impacts caused over the years by burning fossil fuels and its particular implications. There are great expectations directed to obtain renewable energy from vegetable matrices with huge potential energy, in order to minimize the ecological impacts and promote the practice of sustainability. The present work conducts an analysis of environmental, socioeconomic and operational aspects as well as a discussion of the viability for the production of biodiesel from microalgae biomass. The research was based on a bibliographical survey and the obtained data holistically clarify the benefits and limitations of the application of microalgae as a feedstock for the biodiesel synthesis to the detriment of various energetic plant matrices.

KEYWORDS: biofuel, biodiesel, microalgae, environmental impacts, viability, operational aspects.

1. INTRODUÇÃO

Desde a década de 70 do século XX, após a descoberta de que o petróleo é uma fonte de energia esgotável, houve um intenso aumento na preocupação em substituir os combustíveis fósseis por energia renovável.

Apenas na metade da década de 1990, após a reestruturação da matriz energética brasileira juntamente com as preocupações ambientais relacionadas ao uso dos combustíveis fósseis, as ideias voltadas para o desenvolvimento de biocombustíveis apareceram como tópico importante para discussão.

Grandes expectativas vêm sendo direcionadas ao desenvolvimento e aplicação de formas energéticas renováveis, nas suas mais diversas modalidades, com o objetivo de fortalecer a consciência e a prática da sustentabilidade. Os combustíveis fósseis, essenciais para a dinâmica atual da sociedade, apresentam limitações já evidenciadas, relacionadas ao balanço negativo, decorrente do consumo crescente e superior à capacidade de geração muito lenta e característica do petróleo; além da preocupação com as emissões nocivas e o impacto ambiental resultante. (MEDEIROS et al, 2013)

Neste contexto surgem alternativas para usar combustíveis renováveis no intuito de amenizar o impacto causado pelo uso de combustíveis de origem fóssil, uma dessas possibilidades é a mistura do Biodiesel proveniente de matrizes vegetais com o óleo diesel produzido a partir do petróleo, Lobo et al (2009) destacaram que no Brasil, a Lei 11097/05 instituiu a obrigatoriedade da adição de 2% de biodiesel ao diesel (mistura B2) a partir de janeiro de 2008 e torna obrigatórias as misturas de 5% até 2013, em 2016 já utilizando 7%.

A possibilidade de utilização de reservas energéticas renováveis surgiu como alternativa, apontando matrizes vegetais para processos de conversão em biocombustíveis. A viabilidade dessa proposta é frequentemente questionada, principalmente no que diz respeito ao custeamento de produção e valor final – frente aos combustíveis fósseis – e a possível competitividade desses recursos para consumo alimentício. A vantagem dos biocombustíveis em relação aos combustíveis fósseis é a diminuição de emissão de CO2, SOx, fuligem e hidrocarbonetos. No entanto, se por um lado os biocombustíveis são menos poluidores, por outro a sua produção exige grandes áreas de terras agricultáveis. Como a demanda por combustíveis para transporte aumenta anualmente, a produção de biocombustíveis exigirá cada vez mais terras aráveis, e isso começa a ameaçar a segurança alimentar, porque produzir mais álcool significa produzir menos açúcar. (SUAREZ, 2011).

Dentre as diversas possibilidades então conhecidas, estudos apontam que a utilização de óleo extraído de microalgas para produção de biodiesel se destaca frente à outras matrizes vegetais devido às suas características intrínsecas. Em comparação às demais opções de biocombustíveis, o biodiesel proveniente de microalgas apresenta destaque, uma vez que, além das variadas vantagens em termos ambientais, possui alta compatibilidade físico-química com as características observadas no diesel derivado do petróleo (número de cetanos, viscosidade cinemática etc.), com possibilidade de utilização nos motores destinados ao diesel, sem a necessidade de altos custos para adaptações adicionais. O cultivo de microalgas para a produção de biodiesel mostra-se vantajoso em várias perspectivas, tais como rápida reposição e multiplicação celular e devido à suas dimensões microscópicas, não implica em grandes extensões para sua cultura; o intenso consumo de dióxido de carbono e a composição celular ricamente oleaginosa. Tais características são demonstradas nos trabalhos de alguns autores, sendo abordadas posteriormente.

Além disso, vale salientar que este modelo de cultivo não gera efeitos sobre a indústria alimentícia, pois não suscita concorrência pelos terrenos cultiváveis. A literatura atual lista uma série de vantagens das microalgas em detrimento às outras matrizes vegetais energéticas: potencial de produção de óleo de 7 a 30 vezes superior ao das oleaginosas típicas, como girassol, mamona, palma e soja; possibilidade de produção contínua, sem período de plantio e entressafra; e, por fim, taxa de sequestro de carbono muito superior a dos vegetais terrestres (Biodieselbr, 2013).

Johnson e Wen (2009) avaliaram parâmetros no biodiesel obtido a partir do óleo da microalga Schizochytrium limanicum, tais como, glicerol livre, conteúdo saponificável, viscosidade e material particulado. A partir desta avaliação, os autores enfatizaram que a biomassa de algas não só é uma fonte sustentável para a produção de biodiesel, do ponto de vista socioeconômico, como também o produto obtido apresentou características físico-químicas semelhantes às do diesel, de acordo com as normas estabelecidas pela American Society for Testing and Materials (ASTM).

O presente trabalho visa realizar um estudo teórico detalhado com base na literatura, onde foi analisado e discutido projetos e iniciativas em algumas das principais áreas relativas à obtenção de biodiesel por meio do cultivo de microalgas, bem como aspectos econômicos e ambientais resultantes do uso em larga escala do biodiesel, além disso, a viabilidade da mistura de óleo diesel obtido do petróleo com o biodiesel obtido a partir destas seguindo as exigências legais.

2. O BIODIESEL E SUA INTRODUÇÃO COMO MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA

Segundo Penteado (2005) o biodiesel é definido como um combustível composto de mono-alquil-éteres de ácidos graxos de cadeia longa, apresentando ou não duplas ligações em sua estrutura molecular.

A molécula de óleo vegetal é formada por três moléculas de ácidos graxos ligadas a uma molécula de glicerol, formando portanto um triacilglicerol. O biodiesel pode ser obtido através de processos distintos, ao exemplo do craqueamento, a esterificação ou pela transesterificação. Esta última é a mais utilizada, e seus reagentes podem ser óleos vegetais, gorduras animais ou residuais com álcool. Uma catálise, que pode ser homogênea ou heterogênea, é realizada a partir de catalisadores ácidos, básicos ou neutros. Os mais comuns são os catalisadores básicos como o hidróxido de sódio.”(DÂMASO, 2006).

De acordo com Fukuda (apud GALVAO, 2012), além da esterificação e transesterificação, existem outras maneiras para obtenção do biodiesel a partir de óleos vegetais ou gordura animal, seja em escala laboratorial ou industrial, tais como pirólise ou craqueamento, técnicas de microemulsificações, misturas diretas de óleos vegetais e diesel fóssil.

O Brasil tem se destacado com relação a potencialidade da produção de biodiesel a partir de matrizes vegetais energéticas e isso se deve, inclusive, a características intrínsecas de sua localização geográfica. Os fatores climáticos e geográficos favorecem o metabolismo de plantas e principalmente microalgas, que necessitam de alta incidência solar durante todo o ano, facilitando, dessa maneira, o cultivo de diversos espécimes.

As microalgas são os organismos mais eficazes no processo de conversão da energia luminosa em energia química. Crescem rapidamente e são eficientes conversores de energia solar e produzem muito mais biomassa por unidade de área de terra plantada quando comparada com plantas terrestres e, não necessitam de áreas aráveis ou de água potável, não competindo, dessa forma, com a agricultura, animais ou pessoas. (SOARES, 2011)

No decorrer dos últimos anos, a produção de biodiesel no Brasil vem se fortalecendo de maneira a gerar novos empregos e renda, tanto na fase agrícola e nos mercados de insumos e serviços, bem como nas atividades de transporte, mistura e comercialização de biocombustíveis. No entanto, foi a partir do lançamento do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) que o biodiesel avançou de forma extraordinária, tornando-se um instrumento de geração de riqueza e inclusão social importantíssimo.

3. Biodiesel proveniente da utilização do óleo produzido por microalgas

Os biocombustíveis podem ser subdivididos de acordo com sua geração, sendo os de primeira geração aqueles fabricados a partir de matérias vegetais oriundas da agricultura, sendo, portanto, parte da indústria alimentícia. Os biocombustíveis de segunda geração são originados de fibras de celulose e outras substâncias de partes de vegetais que não são direcionadas à alimentação. Existem ainda biocombustíveis de terceira e quarta gerações, em que se utilizam resíduos de espécies não comestíveis como matéria prima.

O uso de biocombustíveis de primeira geração tem gerado controvérsias, principalmente, devido ao seu impacto sobre os mercados globais de alimentos, especialmente nas regiões vulneráveis ​​da economia mundial. Isso tem motivado questionamentos pertinentes sobre o potencial desses recursos como substituição dos combustíveis fósseis, e em relação à sustentabilidade da sua produção (MOORE, 2008)

Segundo Demirbas (2009), a grande vantagem da utilização do biodiesel é sua relação positiva com o meio ambiente comparado a gasolina e os combustíveis derivados do petróleo. Além disso, o biodiesel apresenta excelente portabilidade, avaliabilidade, rentabilidade, poder de combustão eficiente, baixo teor de enxofre e aromáticos e é altamente biodegradável, tornando-o ecologicamente mais favorável.

Uma nova geração de biocombustíveis ganha espaço e interesse de pesquisas devido às características intrínsecas do mesmo. Trata-se dos fluidos combustíveis obtidos por meio do cultivo de algas, dentre eles, o biodiesel.

Os maiores entraves à adoção do biodiesel de microalgas residem na questão da economicidade do processo como um todo, analisado em função do custo final do produto oferecido, área a que muitos esforços tem sido direcionados, no intuito de minimizar os ônus e garantir a viabilidade de produção e consumo desse combustível, que se mostra como alternativa ecologicamente adequada.(MEDEIROS et al, 2013)

As microalgas são amplamente distribuídas no mundo. Comparado com fontes de biomassa lignino-celulósica (hidrocarbonetos fibrosos de classe bioquímica glicídica), as microalgas como matriz energética possuem, as seguintes vantagens:

a) Possuem maior eficiência fotossintética e maior produção de biomassa [comparado à plantas terrestres superiores].(Peng et al., 2001; Schenk et al., 2008)

b) As microalgas podem ser cultivadas em meio aquático e não ocupam espaço em terra arável [para produção primária]. (Rodolfi et al., 2009)

c) A Composição química das microalgas pode ser modulada facilmente através de variações nas condições de cultivo e maior conteúdo lipidíco pode ser obtido. (Rodolfi et al., 2009)

d) As microalgas podem utilizar água salgada e matéria orgânica derivada de águas residuais como fertilizantes. (Schenk et al., 2008)

4. O Biodiesel e a viabilidade ambiental no contexto da sociedade atual

Para que o biodiesel tenha sua produção aplicada em larga escala, é imprescindível que, em detrimento de vários aspectos a serem considerados, haja viabilidade em um contexto socio-econômico, operacional e ambiental, sendo o último discutido no presente capítulo.

A possibilidade da utilização de matrizes energéticas renováveis surgiu como uma alternativa ao uso dos combustíveis fósseis da atualidade, apontando culturas vegetais para processos de conversão de biomassa em biocombustíveis. Não obstante, a viabilidade dessas iniciativas tem sido questionada, devido à baixa competitividade financeira frente aos combustíveis fósseis – e à ótica basal do cultivo desses recursos para consumo alimentício.

A utilização de microalgas para tal fim evidencia-se com grande potencial para eficiente incremento na matriz energética brasileira utilizando a mistura do biodiesel obtido, com o diesel derivado do petróleo.

O cultivo de microalgas para a produção de biodiesel mostra-se vantajoso em várias perspectivas, tal como Kochem (2010) afirmou, esses organismos são microscópicos e crescem rapidamente devido a sua estrutura celular mais simplificada, isso desencadeia uma rápida reposição populacional desses organismos que ainda devido à característica de microscopia, não implica em grandes extensões para sua cultura; o intenso consumo de dióxido de carbono e a composição celular ricamente oleaginosa permitem um maior aproveitamento da biomassa, visto que maiores taxas de fotossíntese permitem gerar carboidratos complexos, fomentando o desenvolvimento e multiplicação desses organismos. Além disso, vale salientar que este modelo de cultivo não gera efeitos sobre a indústria alimentícia, pois não suscita concorrência pelos terrenos cultiváveis.

Como discutido no trabalho de Lobo (2010), em comparação às demais opções de biocombustíveis, o biodiesel proveniente de microalgas apresenta destaque, uma vez que, além das variadas vantagens em termos ambientais, possui alta compatibilidade com as características observadas no diesel derivado do petróleo (número de cetanos, viscosidade cinemática etc.), com possibilidade de utilização nos motores destinados a este último, sem a necessidade de adaptações adicionais.

Em virtude da similaridade do biodiesel com as características do diesel convencional, muitos estudos efetuados e mencionados neste trabalho buscam testar a viabilidade de utilização desse combustível com minimização dos danos ambientais, já bastante enfatizados para a modalidade dos originários fósseis.

Em relação aos processos produtivos implicados na produção do biodiesel, aquele ligado à utilização de algas vem sendo confrontado a outras modalidades, objetivando medir os impactos ambientais suscitados, tal como descrito em Figueiredo (2011), que conduziu uma comparação entre os processos envolvidos na extração do biodiesel a partir de duas culturas distintas, microalgas e girassol. Foram considerados os impactos de ciclo de vida para os dois tipos de biodiesel, utilizando métodos de avaliação de impactos ambientais. Os resultados mostram que o biodiesel de microalgas apresenta menores impactos para todas as categorias apreciadas, dentre elas, efeito estufa, toxicidade humana, eutrofização, acidificação e ecotoxicidade de recursos freáticos e marinhos.

Figueiredo (2011) reuniu o trabalho de diversos autores que analisaram os impactos atribuídos à produção de biodiesel a partir de microalgas e de girassol em diversos países. Apesar de se extrair uma maior quantidade de óleo por kg de matéria-prima para o girassol. A produtividade das microalgas é bastante superior, o que revela uma maior quantidade de óleo por hectare para as microalgas. Assim, é notório a existência de uma vantagem do uso de microalgas para produção de biodiesel no que diz respeito à atribuição de impactos, tornando o aproveitamento dessa matéria prima aprimorado.

Trabalhos recentes relacionando o cultivo de microalgas e impactos ambientais têm dedicado preocupação particular aos problemas com os extensivos recursos hídricos necessários para manutenção das algas, matéria-prima para o biodiesel. Uma solução recorrente na pesquisa acadêmica, e que mostra-se bem sucedida sob diversas análises, é a reutilização de águas residuais.

Park et al. (2013) discutem as vantagens e desvantagens de basear a cultura de microalgas em fontes de águas residuais, provenientes de atividades urbanas, agrícolas e industriais, com potencial para fornecer meios eficientes (com custo reduzido) e sustentáveis ​​de crescimento de algas para biocombustíveis, além de combinar tratamento dessas águas pelos microrganismos, com a o aproveitamento dos nutrientes úteis para a produção do biodiesel.

Galindro (2012) apontou o uso do efluente do cultivo superintensivo de camarões marinhos como matéria-prima para impulsionar o crescimento de microalgas destinadas à produção de biodiesel. O estudo mostrou que a produtividade de biomassa obtida com o uso do efluente foi 17,5% superior à utilização de fertilizantes químicos.

Estudos vêm analisando também a possibilidade de associar o cultivo de microalgas a áreas de intensa produção e emissão de dióxido de carbono (CO2), uma vez que esse tipo de emissão pode gerar diversos inconvenientes do ponto de vista ambiental e social. Por outro lado, este gás constitui fonte primária para os processos fotossintéticos, e pesquisas na área revelam que o crescimento de biomassa nessas condições é superior. (FIGUEIREDO, 2011)

5. Viabilidade econômica e operacional do Biodiesel Proveniente de matrizes vegetais

Segundo Demirbas, A. e Demirbas, M. (2011) os poucos estudos existentes nessa temática enfatizam as estimativas com base em três parâmetros: eficiência fotossintética, adoção em larga escala e cultivo em longo prazo. Eles ressaltam que o cultivo de microalgas em modalidades abertas costuma incorrer em baixa eficiência, por outro lado, a utilização de fotobiorreatores eleva os custos e, como resultado, ambas as configurações apresentam alto custo final do biodiesel ($1.40/l para o cultivo aberto e $1.81/l em fotobiorreatores), tornando-o pouco competitivo economicamente em comparação ao diesel de origem fóssil ($0.48/l).

Nos últimos anos, segundo o IBGE (2012), houve um crescimento exponencial na produção de biodiesel para acompanhar o crescimento das vendas, como mostrado na Tabela 01.

A partir disso, pode-se inferir que haverá maior direcionamento para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras na área de produção do biodiesel com concomitante possibilidade de reduções nos valores de venda do biodiesel. O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), divulgou em novembro de 2013, o investimento de R$ 36,8 milhões, onde R$ 11,2 milhões foram investidos para pesquisas sobre aprodução de microalgas para finalidades energéticas.

Slade e Bauen (2013) analisaram três aspectos da produção de microalgas que irão influenciar intensamente a aplicabilidade futura da produção de biocombustíveis dessa origem: o balanço energético e de carbono, impactos ambientais e custos de produção. Os autores concluíram que, para se atingir um balanço positivo de energia, serão necessários avanços tecnológicos e otimização dos sistemas de produção, e encaram a mitigação dos impactos ambientais, em particular, a gestão da água, como oportunidade e desafio, simultaneamente. Por outro lado, assinalam que o custo pode ser significativamente reduzido (em até 50%) se CO2, água e nutrientes forem obtidos a baixo custo.

Uma discussão acerca dos benefícios e dificuldades na produção em larga escala do biodiesel de microalgas foi dirigida por Rawat et al. (2013). Uma reflexão foi tecida, abordando diversos pontos ligados ao tema, como a seleção das microalgas, marinhas ou de água doce, a origem das culturas e a viabilidade das cepas; a determinação do uso ou não de linhagens submetidas a condições estressantes do meio para o aumento na produtividade de lipídios; além de considerar as interações sinérgicas que ocorrem naturalmente entre algas e outros microrganismos. Considerações relativas ao melhor modelo de cultivo (modalidades abertas e fechadas) também estão delineadas neste estudo, apontando que a maioria das empresas pesquisadas utilizam sistemas fechados (52%), e as demais, tanques abertos (26%) e configurações naturais (22%). Soares et al, 2011, em seu estudo, analisa em profundidade as variáveis que podem influenciar cada configuração de cultivo de microalgas, apontando vantagens e desvantagens em cada uma.

Abordagens críticas e concernentes ao panorama presente da produção de biodiesel em grandes proporções foram realizadas também por Singh e Gu (2010); Alam et al (2012) e Mata et al (2010), com apontamentos semelhantes, ou seja, a viabilidade econômica do processo depende da minimização do custo operacional e de manutenção, além da maximização da produção de microalgas. Carmo (2012) ressalta ainda que a aquisição da cultura e a extração somam mais de 90% do custo total de obtenção do biodiesel, e que o custo final é bastante superior ao valor de mercado, indicando como formas de diminuir o custo de produção, a otimização dos níveis de solvente aplicado, bem como, métodos mais eficientes de processamento. Gao et al (2012) apontam ainda, como alternativa viável para redução dos altos custos referidos para a produção do biodiesel, o reaproveitamento dos resíduos da biomassa oriunda das microalgas, como fonte de nutrientes para fermentação em diferentes vias.

O aproveitamento de resíduos de biomassa obtidos das microalgas pode ser realizado através do processo de Pirólise. A Pirólise é considerada um eficiente processo de conversão de biomassa em produtos precursores de combustíveis. Tais produtos incluem char” (material sólido residual de compostos carbonados após combustão), elementos gasosos e bio-óleos. Essencialmente, pirolisar biomassa é um processo atrativo devido à alta densidade energética e conveniência em seu uso, armazenamento e transporte (ISLAM et al., 2004).

6 DISCUSSÕES

Nos últimos 40 anos, devido à crescente diminuição das reservas de petróleo, com o aumento dos custos de seus derivados, tornou-se necessário a busca de uma nova matriz energética com renovação cíclica. Dentre os principais combustíveis, o biodiesel surge como uma opção que atualmente pode ser aplicada em uma mistura com o diesel oriundo do petróleo, tornando-se um eficiente combustível em termos de rendimento, ao passo em que minimiza os conhecidos danos ambientais causados pela utilização de combustíveis fósseis amplamente usados.

Inicialmente, as pesquisas apontavam gramíneas, leguminosas e plantas oleaginosas como matrizes vegetais energéticas com grande potencial para a produção de biodiesel. De 1980 à 2014, houve um grande crescimento na produção das matrizes supracitadas, segundo IBGE (2012), como de acordo com o Gráfico 01, todavia, esses vegetais são utilizados amplamente na indústria alimentícia. Isso pode gerar competição com o consumo humano e um direcionamento maior da produção dessas matrizes para produção de biocombustíveis.

O constante crescimento na produção dessas matrizes, demanda uma área de cultivo ampla e cada vez maior, porém de 1980 à 2002, a área de cultivo era praticamente a mesma, mas nos últimos 10 anos houve um crescimento de 50% da área. A partir disso, infere-se que haverá demanda de uma área de cultivo maior, o que pode gerar desde comprometer a área de produção voltada para o consumo alimentício ao fato de que o espaço geográfico é limitado.

Nesse contexto, a obtenção de biodiesel a partir do óleo de microalgas torna-se uma possibilidade que se mostra mais eficiente em relação a diversos parâmetros, como por exemplo, a área de cultivo necessário para as microalgas é exclusivamente em meio aquático com possibilidade de verticalização, o que exclui a necessidade da exploração horizontal em terra arável, sendo portanto, uma matriz vegetal energética eficiente em termos de aproveitamento de área de cultivo. Além disso, a produção pode ser estável e contínua, sem período de plantio e entressafra como é o caso de outras fontes vegetais.

Segundo Holanda & Ramos (2011), a eficiência fotossintética das microalgas é maior do que as matrizes ligninocelulósicas e, portanto tendem a apresentar maior produção de biomassa, além disso, a composição bioquímica das microalgas podem ser controladas com facilidade através de variações nas condições de cultivo e dessa forma, a obtenção de óleos é mais eficiente.

Outro aspecto importante é o fato de que as microalgas podem utilizar água salgada e matéria orgânica derivada de águas residuais como fertilizantes no cultivo. O seu cultivo em água de produção de petróleo também é uma possibilidade de aplicação futura que poderia aliar a produção de matéria-prima ao uso das microalgas para o tratamento da água para descarte ou para a reutilização na produção do petróleo.

O biodiesel de microalgas apresenta menores impactos para todas as categorias apreciadas, dentre elas, efeito estufa, toxicidade humana, eutrofização, acidificação e ecotoxicidade de recursos freáticos e marinhos.

Ainda com relação às diferentes fontes vegetais, como o girassol, mamona, palma, soja e cártamo, as microalgas possuem um importante e altamente vantajoso aspecto com relação à dificuldades de cultivo, como por exemplo os problemas relacionados à infecção por patógenos que prejudicam o desenvolvimento de algumas plantações, em que as microalgas não apresentam esse tipo de susceptibilidade.

7. CONCLUSÕES

Em comparação às demais matrizes vegetais energéticas, o biodiesel proveniente de microalgas apresenta destaque para a síntese de uma mistura mais eficiente, uma vez que, além das variadas vantagens em termos ambientais, possui alta compatibilidade com as características observadas no diesel derivado do petróleo (número de cetanos, viscosidade cinemática, hidrocarbonetos etc.), com possibilidade de utilização nos motores destinados a este último, sem a necessidade de adaptações adicionais, que gerariam custos mais elevados.

A produção do conteúdo lipídico das microalgas é cerca de sete à trinta vezes superior ao de matrizes vegetais, como girassol, mamona, palma e soja. Além disso, as melhores condições de cultivo dessas matrizes necessitam de investimento hídrico maior.

Atualmente, o custo final do biodiesel para o consumidor é cerca de três vezes mais elevado devido aos altos custos de produção, entretanto, o crescente investimento governamental na área de inovação tecnológica da produção de biodiesel oriundo de matrizes vegetais, principalmente microlagas, pode tornar viável a diminuição dos custos de cultivo/produção e consequente redução do custo final de mercado.

Diante do exposto, a análise de literaturas mais recentes relacionadas à produção de biodiesel permite-se inferir que o biodiesel oriundo de microalgas frente à outras matrizes vegetais mostra-se mais viável no que diz respeito à múltiplos aspectos discutidos, apesar da constante necessidade de mais pesquisas inovadoras para que haja a implementação do cultivo de microalgas como principal matéria prima para produção em larga escala.

Uma das principais considerações, destacada pela reunião dos diversos títulos apresentados neste trabalho, é a importância de relacionar áreas distintas de conhecimento em prol do avanço nas pesquisas, de modo a acelerar e aumentar a eficiência dos projetos, por meio de designações multidisciplinares e, portanto, com embasamento ainda mais sólido.

REFERÊNCIAS

ALAM, F.; DATE, A.; RASJIDIN, R.; MOBIN, S.; MORIA, H.; BAQUI, A. Biofuel from algae: Is it a viable alternative?. Procedia Engineering. V. 49, p. 221 – 227, 2012.

ANP, Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Site da internet. Disponível em: www.anp.gov.br. Acesso em 12 nov. 2013.

ASTM, American Society for Testing and Materials. Site da internet. Disponível em: http://www.astm.org. Acesso em 10 fev. 2014.

BIODIESELBR. Tudo sobre biodiesel. Site da Internet. Disponível em: < http://www.biodieselbr.com/>. Acesso em: 02 nov. 2013.

CARMO, M. P. S. Biodiesel de microalgas: Balanço energético e econômico. Dissertação (Pós-Graduação em Engenharia Mecânica). Universidade de Aveiro, Aveiro, 2012.

DÂMASO, M. S. Biodiesel e o ecossistema: educação ambiental no ensino médio. Monografia (Graduação em Licenciatura em Química). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.

DEMIRBAS, A.; DEMIRBAS, M. F. Importance of algae oil as a source of biodiesel. Energy Conversion and Management. V. 52, p. 163–170, 2011.

DEMIRBAS, A. Progress and recent trends in biodiesel fuels, Energy Conversion and Management, Selcuk University, 2009.

FIGUEIREDO, F. D. F. Biodiesel de girassol ou microalgas em Portugal: Uma avaliação comparativa de ciclo de vida. 2011, 72 p - Dissertação (Pós- Graduação em Engenharia do Ambiente na Especialidade de Tecnologia e Gestão do Ambiente). Faculdade de Ciências e Tecnologias.

GALINDRO, B. M. Análise técnica e avaliação do ciclo de vida de culturas de produção de microalgas para biodiesel. 2012, 234 p. - Dissertação (Pós- Graduação em Engenharia Ambiental). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012.

GAO, M.; SHIMAMURA, T.; ISHIDA, N., TAKAHASHI, H. Investigation of utilization of the algal biomass residue after oil extraction to lower the total production cost of biodiesel. Journal of Bioscience and Bioengineering. V. 114, n. 3, p. 330-333, set. 2012.

HOLANDA, L. R.; RAMOS, F. S. ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICA DA ENERGIA ELÉTRICA GERADA ATRAVÉS DAS MICROALGAS. Sistema&Gestão. V. 6, p.327 - 345, 2011.

KOCHEM, L.H. Caracterização de fotobiorreator airlift para cultivo de microalgas. Trabalho de conclusão do curso de Engenharia Química, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, 2010.

ISLAM, M.N., ISLAM, M.N., BEG, M.R.A.. The fuel properties of pyrolysis liquid derived from urban solid wastes in Bangladesh. Bioresource Technoly. 92, 181–186, 2004.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Site da internet. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home. Acesso em 12 ago. 2013.

LOBO, I. P.; FERREIRA, SERGIO L. C.; CRUZ, R. S. Biodiesel: parâmetros de qualidade e métodos analíticos. Química. Nova,  São Paulo,  v. 32, n. 6,   2009 .

MATA, T. M.; MARTINS, A. A.; CAETANO, N. S. Microalgae for biodiesel production and other applications: A review. Renewable and Sustainable Energy Reviews. V. 14, p. 217–232, 2010.

MEDEIROS et al. ANÁLISE DE ASPECTOS GERAIS, ECOLÓGICOS E SÓCIO-ECONÔMICOS DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL DE MICROALGAS A PARTIR DE LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO. RUnPetro. Ano 2, n1. p. 37 - 44. Nov. 2013/abr 2014.

MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA (MME). Site da internet. Disponível em: <http://www.mme.gov.br/programas/biodiesel>. Acesso em: 27 jan. 2014.

MINISTÉRIO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO (MCTI). Site da internet. Disponível em: <http://www.mcti.gov.br/>. Acesso em: 27 jan. 2014.

MOORE, A. Biofuels are dead: long live biofuels(?)—part one. New Biotechnology. V. 25, n. 1, p. 6–12, 2008.

PARK, J. B. K.; CRAGGS, R. J.; SHILTON, A. N. Wastewater treatment high rate algal ponds for biofuel production. Bioresource Technology. V. 102, p. 35–42, 2011.

PENG, W.M., WU, Q.Y., TU, P.G., 2001. Pyrolytic characteristics of heterotrophic Chlorella protothecoides for renewable bio-fuel production. J. Appl. Phycol. 13, 5– 12.

PENTEADO, M.C.P.S. Identificação dos Gargalos e Estabelecimento de um Plano de Ação para o Sucesso do Programa Brasileiro de Biodiesel. São Paulo, 2005, 159 f. Dissertação (Mestrado) Engenharia Automotiva, Escola Politécnica da USP, São Paulo, 2005.

RAWAT, I.; KUMAR, R. R.; MUTANDA, T.; BUX, F. Biodiesel from microalgae: A critical evaluation from laboratory to large scale production. Applied Energy. V. 103, p. 444–467, 2013.

RODOLFI, L., ZITTELLI, G.C., BASSI, N., PADOVANI, G., BIONDI, N., BONINI, G., TREDICI, M.R., 2009. Microalgae for oil: strain selection, induction of lipid synthesis and outdoor mass cultivation in a low-cost photobioreactor. Biotechnol. Bioeng. 102, 100–112.

SCHENK, P.M., THOMAS-HALL, S.R., STEPHENS, E., MARX, U.C., MUSSGNUG, J.H., POSTEN, C., KRUSE, O., HANKAMER, B., 2008. Second generation biofuels: high-efficiency microalgae for biodiesel production. Bioenergy Res. 1, 20–43.

SINGH, J.; GU, S. Commercialization potential of microalgae for biofuels production. Renewable and Sustainable Energy Reviews. V. 14, p. 2596–2610, 2010.

SLADE, R.; BAUEN, A. Micro-algae cultivation for biofuels: Cost, energy balance, environmental impacts and future prospects. Biomass and Bioenergy. V. 53, p. 29-38, 2013.

SOARES, A. V-H.; TORBEY, B. I.; PASSOS, F. B.; MONTEIRO, L. P. C. Técnicas de crescimento da microalga Dunaliella salina para produção de biodiesel e separação de óleo e biomassa produzidos no processo. ENGEVISTA. V. 13, n. 2. p. 102-110, 2011.

SUAREZ, P. A. Z.; PINTO, A. Biodiesel de algas: promessa ou futuro? J. Braz. Chem. Soc.,  São Paulo ,  v. 22, n. 11, Nov.  2011.