PANORAMA DA SUSTENTABILIDADE NAS UNIVERSIDADES – uma visão crítica

Leni Palmira Piacitelli1

Profa. Dra. Sandra Regina Monteiro Masalskiene Roveda2



1 Pós-graduação: doutorado em Ciências Ambientais, Sorocaba/SP - Brasil, lenipiacitelli@hotmail.com

2 Laboratório de Geoprocessamento e Modelagem Matemática Ambiental, Sorocaba/SP - Brasil, sandra@sorocaba.unesp.br; smasalskiene@gmail.com

3 UNESP - Universidade Estadual Paulista - Campus de Sorocaba – Brasil

RESUMO

Este estudo tem como objetivo verificar como as universidades estão envolvidas com a questão da sustentabilidade, tanto na formação dos futuros profissionais como nas ações desenvolvidas no campus. Para tanto elaborou-se um estudo exploratório de trabalhos/pesquisas no Brasil e no mundo num período de dez anos referentes à Década Internacional de Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005 a 2014), utilizando-se da análise qualitativa evidenciando dificuldades/barreiras na implementação da sustentabilidade e esforços que sinalizassem uma preocupação com o desenvolvimento sustentável. Procurou-se também conhecer alguns modelos de avaliação da sustentabilidade nas Instituições de Ensino Superior – IES – para identificar como os compromissos assumidos por estas instituições estavam sendo computados/realizados. O resultado revelou que a incorporação da sustentabilidade nas Instituições de Ensino Superior (IES), ainda não estava sistematizado, embora houvesse esforços isolados para sua implementação.

Palavras-chave: sustentabilidade, universidade, formação e gestão.

ABSTRACT

This study aims to verify how universities are involved with the issue of sustainability, both in the training of future professionals and in the actions developed on campus. In order to do so, an exploratory study of works / researches was carried out in Brazil and the world over a period of ten years referring to the International Decade of Education for Sustainable Development (2005 to 2014), using content analysis, that is, analysis qualitative evidence showing categories that indicate a concern with sustainability. It was also sought to know some models of sustainability assessment in Higher Education Institutions - IES - to identify how the commitments assumed by these institutions were being computed / realized. The result showed that the incorporation of sustainability in Higher Education Institutions (HEIs) was not yet systematized, although there were isolated efforts to implement them.

Key words: sustainability, university, training and management.

INTRODUÇÃO

As Instituições de Ensino Superior – IES como, por exemplo, as universidades são instituições multidisciplinares e responsáveis pela formação de profissionais em nível superior das diversas áreas de atividades com um papel diversificado e singular. No que se refere a sua composição social, protagonizam o desenvolvimento humano e conhecimentos na complexa realidade atual a fim de contemplar com melhorias e soluções aos diversos problemas que assolam a sociedade, objetivando a preservação do bem comum.

Com as preocupações sobre os caminhos para uma sociedade sustentável ganhando cada vez mais importância e refletindo sobre o arcabouço de saberes e de valores que compõem as IES, veio à tona uma questão fundamental: Qual o papel da universidade com relação à sustentabilidade?

Esta questão ganhou destaque, sobretudo a partir da Década da Educação, compreendida entre 2005 a 2014, período no qual as Instituições de Ensino Superior intensificaram esforços para implementar iniciativas sustentáveis em seu cotidiano (Ryan et al. 2010; Patrick et al. 2008; Perna et al. 2006).

Ações relacionadas a promoção de uma universidade sustentável em duas perspectivas principais: gestão e formação de seus novos profissionais foram muito importantes para consolidar o papel da educação como elemento chave na busca pelo desenvolvimento sustentável. Além disso, surgiram as primeiras mudanças sistêmicas para a incorporação da sustentabilidade, reorientando as atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão em algumas instituições do ensino superior (Wals, 2014).

O objetivo deste artigo é reunir o que tem sido proposto pelas universidades, durante a década da educação para incorporação da sustentabilidade em suas ações, tanto nas propostas de formação profissional como na administração do campus relacionado às atividades operacionais desenvolvidas no seu cotidiano.

A primeira seção percorre os caminhos históricos para a consolidação do conceito de desenvolvimento sustentável. Na seção 2, é apresentada a metodologia utilizada neste estudo. A seção 3 apresenta um panorama com relação à internalização da sustentabilidade nas IES, no contexto nacional e internacional. A seção 4, reúne os principais modelos que tem sido utilizado como instrumento para mensurar os avanços alcançados no campo da sustentabilidade nas IES e, na seção 5 são apresentadas as considerações finais deste estudo.

1 - PERCURSO HISTÓRICO

O alarme sobre a atividade humana degradando o ambiente foi dado por Carson (1962) no seu livro “Primavera Silenciosa”, no qual a autora faz um estudo sobre os efeitos das substâncias químicas utilizadas principalmente na agricultura, citando que a partir de meados de 1940 foram criadas mais de 200 substâncias químicas para eliminar insetos, roedores e ervas daninhas, denominados como “pestes” ou “pragas”.

Em 1972, foi realizada a primeira conferência internacional cujo mote foi a criação de políticas voltadas para a gestão ambiental. Denominada como Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente Humano e realizada na cidade de Estocolmo, Suíça, teve a participação de 113 países e converteu-se em um evento histórico mundial relativo à política de gerenciamento do meio ambiente. Esse acontecimento provocou uma visualização dos problemas impactantes da poluição ambiental na população mundial. Foram colocados em evidência os efeitos de resíduos descartados inadequadamente, dos problemas trazidos pelos dejetos industriais em efluentes, das áreas degradadas e inférteis etc. e a noção de que não há limites geográficos e nem políticos quando se trata da poluição, ela irá atingir a todos.

A ex-Primeira Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, mestre em saúde pública e com conhecimentos em assuntos ambientais e de desenvolvimento humano, foi convidada em 1983 pelo Secretário-Geral da ONU, para estabelecer e presidir a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Após quatro anos, em abril de 1987, a “Comissão Brundtland”, como ficou conhecida, publicou um relatório revolucionário “Nosso Futuro Comum”, o qual conceitua o desenvolvimento sustentável como: “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades” (Nascimento 2012).

A sustentabilidade conforme Elkington (1994), o criador do termo Triple Botton Line, ou tripé, está firmada em três pilares que se equilibram: o econômico, o ambiental e o social, porque devido a grande competição dos mercados na contemporaneidade, as empresas foram pressionadas a se desenvolver sustentavelmente e elaborar um plano de boas práticas no que concerne à sua atuação com seus funcionários e sua responsabilidade social com o seu entorno.

A Conferência das Partes, realizada em 1997, na cidade de Quioto, Japão, realizou um importante acordo denominado “Protocolo de Quioto”, o qual objetivou a redução da emissão de gases de efeito estufa em pelo menos 5% até o período entre 2008 e 2012 pelos países industrializados, os quais deveriam até 2005 apresentar a comprovação dos avanços alcançados.

Vinte anos após a Conferência de Estocolmo, foi realizada na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida como RIO 92, contando com a presença de 100 chefes de Estado e os representantes de mais de 170 países. O saldo positivo desse acontecimento foi a adoção de grandes acordos, entre eles a Agenda 21 (Ministério do Meio Ambiente), que segundo o Ministério do Meio Ambiente no Brasil, significa um instrumento de planejamento que prevê a construção de sociedades sustentáveis em diferentes alicerces geográficos agregando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica (Nascimento 2012).

Em Johanesburgo, África do Sul, em 2002, realizou-se a RIO+10 ou Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável cujo objetivo foi o de reforçar os compromissos assumidos com o desenvolvimento sustentável, contando com a presença de 104 chefes de Estado, ONGs, setor empresarial e outros setores.

Agora, mais recente, no período de 25 a 27 de setembro de 2015, reuniu-se novamente a cúpula das Nações Unidas e foi criada a Agenda 2030 sobre o desenvolvimento sustentável com 17 novos objetivos, sendo o de número 4 referente à educação “OBJETIVO 4: Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (Nações Unidas do Brasil - ONU 2016).

Embora nesta nova agenda, a prioridade da educação seja a inclusão, principalmente no que se refere às matriculas na fase primária, a proposta é de aprendizagem ao longo da vida para todos e isso inclui o ensino superior (Nações Unidas do Brasil – ONU – 2016).

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (LDB 9.394 de 1996), em seu capítulo I, subitem 1.1:

Os princípios e objetivos da Educação Ambiental se coadunam com os princípios gerais da Educação contidos na Lei 9.394, de 20/12/1996 (LDB - Lei de Diretrizes e Bases) que, em seu artigo 32, assevera que o ensino fundamental terá por objetivo a formação básica do cidadão mediante: (...) II – a compreensão do ambiental natural e social do sistema político, da tecnologia das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade”.

As Diretrizes Curriculares Nacionais se referem a todos os níveis de ensino, portanto, a preocupação nesta nova agenda com a educação está voltada para formação do indivíduo responsável pela sua participação e conduta com o ambiente natural e os outros seres que habitam o planeta. Isso só pode acontecer se desde a formação básica do indivíduo houver o entendimento de uma educação crítica, transformadora por meio de conhecimentos científicos sobre o ambiente natural a fim de que no futuro se possa atuar de maneira consciente das necessidades planetárias.

Diante dessa preocupação com a sustentabilidade do planeta, torna-se tema de discussão e reflexão, qual tem sido a atuação das universidades ou Instituições de Ensino Superior (IES), responsáveis pela formação de profissionais nas mais diversas áreas de atuação em duas perspectivas, quanto às estruturas de ensino com embasamento sólido nos problemas de desenvolvimento sustentável e também como atuam em sua gestão administrativa para atenuação dos impactos derivados dos seus diversos procedimentos e instalações.

Essas questões são de total relevância para um efetivo estudo sobre as práticas, as políticas institucionais e perspectivas relacionadas ao desafio que se coloca para o ser humano quanto a sua permanência no futuro em um ambiente não degradado e preservado para a continuidade da vida no planeta.

2 - METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado com o intuito de identificar como tem sido realizada a incorporação da sustentabilidade nas universidades. Foi elaborada uma revisão de literatura a fim de analisar essa questão no Brasil e no mundo no período de 2005 a 2014 referente à Década Internacional da Educação para o Desenvolvimento Sustentável proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas para integrar os princípios, os valores e as práticas do desenvolvimento sustentável a todos os aspectos da educação e da aprendizagem.

A pesquisa foi exploratória que conforme Gil (1987), é utilizada para uma maior autonomia na exploração de ideias a respeito do fenômeno em estudo. Sua definição não é clara no sentido de limites o que oferece maior liberdade ao pesquisador que tenta entender o porquê de as coisas acontecerem (Castro, 2006).

O estudo pautou-se na análise de trabalhos publicados, no período estabelecido, que evidenciassem como a sustentabilidade foi agregada ao processo de formação desenvolvido pela instituição, bem como, com relação às atividades de gestão do campus. As bases de dados utilizadas foram: Portal de Periódicos da Capes, Scielo e Science Direct. Os descritores foram “Sustentabilidade nas universidades” e o período estipulado foi de 2005-2014, em que foram encontrados 202 trabalhos no Portal de Periódicos da CAPES, nenhum no site de periódicos da Scielo e 1 trabalho no site da Science Direct.

Para a análise e levantamento das diversas formas de abordagem da sustentabilidade foram elencadas algumas dificuldades/barreiras visualizadas durante a pesquisa e alguns esforços no sentido de expandir esse tipo de desenvolvimento que serão comentados nesta análise.

As dificuldades/barreiras reconhecidos nos trabalhos publicados durante o período referido no mundo foram com relação à educação, gestão de instalações, campi, transporte para a universidade, site universitário informativo, educação gerencial, literatura e professores. No entanto, no Brasil foram identificados outras dificuldades e esforços com relação à inclusão da disciplina de sustentabilidade no curso de Administração, pós-graduação e formação profissional.

Neste estudo, também foram destacados os principais modelos concebidos para medir os esforços voltados para o equilíbrio ambiental na gestão e formação universitária nas diversas áreas do conhecimento, pois os instrumentos de avaliação são úteis ao fornecerem uma estimativa dos sistemas integrados balizando os gestores a determinar quais ações devem ou não devem ser tomadas na tentativa de tornar a sociedade sustentável (Ness, 2007). Por meio da pesquisa bibliográfica foi possível catalogar alguns dos principais métodos utilizados pelas Instituições de Ensino Superior – IES para aferir a sustentabilidade.

3 - PANORAMA DA SUSTENTABILIDADE

Embora as universidades sejam organizações com enorme complexidade, muitas delas estão iniciando a abordagem da inserção da sustentabilidade.

Este estudo procurou construir o cenário analisando trabalhos e pesquisas publicados na Década Internacional de Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014), no contexto brasileiro e internacional, com relação ao que está sendo produzido e pesquisado a respeito da sustentabilidade nas IES. Foi considerado tanto a perspectiva de como tem sido reputada por seus gestores, quanto as percepções relativas às dificuldades de elaboração de projetos para efetivação de uma política de abrangência dos aspectos ambientais, como também relativo à formação dos profissionais numa nova conscientização de como atuar de maneira a não impactar o ambiente nas diversas áreas de sua atuação.

3.1 Sustentabilidade nas Universidades no Mundo

Dentre os avanços alcançados pelas Instituições de Ensino Superior – IES, com relação à sustentabilidade, destacam-se os estudos de Wright and Wilton (2012) que relatam como o desenvolvimento sustentável é percebido pelos administradores das instalações das universidades canadenses, em que as questões mais evidenciadas para a efetivação da sustentabilidade, em sua maioria, seriam a promoção de iniciativas de sustentabilidade em seus campi, constatando também que alguns administradores mencionaram ser a primeira vez que tomavam conhecimento sobre considerar a sustentabilidade no âmbito da educação.

Na investigação, as autoras deram mais ênfase às considerações dos diretores de gestão de instalações, responsáveis pela construção do campus universitário, visto que são responsáveis pela redução de um impacto ambiental potencial. A maioria dos entrevistados de sua pesquisa afirmou que o maior entrave está na redução ou falta de financiamento, diminuindo sua capacidade de ação e impedindo a implementação de iniciativas de sustentabilidade.

Wright (2010) constatou que, em nenhum momento o conceito de sustentabilidade foi mencionado como uma questão central por algum dos entrevistados, mas apenas aspectos distintos, como expansão dos edifícios, economia de energia do campus. O estudo também aponta para a percepção dos diretores das universidades quanto a não considerar como prioridade, assim como para alguns dos entrevistados, esta teria sido a primeira vez que a consideravam dentro do cenário da educação.

Hancock and Nuttman (2013) relatam um estudo de caso australiano, o primeiro no âmbito do governo estadual (Victoria – Austrália), com o objetivo de colocar em prática uma mudança de comportamento na comunidade universitária e institucional iniciando por um transporte sustentável visando envolver-se com stakeholders (pessoa ou grupo que tem interesse em uma empresa, negócio ou indústria; público estratégico) internos e externos resistentes ou favoráveis à mudança. O projeto australiano foi financiado durante o período de quatro anos e o plano elaborado para a utilização desse transporte seria para todos os campi.

A relevância desse projeto se deu pela utilização de transporte próprio pelos estudantes e demais integrantes do campus universitário devido sua distância da cidade de Melbourne causando transtornos pela emissão de gases estufa – principal problema da Austrália com relação ao nível elevado de proprietários de automóveis, como também, congestionamentos e superlotação dos espaços de estacionamentos no campus.

Katiliute et al. (2014), realizaram uma pesquisa em larga escala que dá continuidade ao primeiro trabalho deles sobre o desenvolvimento sustentável em universidades objetivando agora, neste outro momento, analisar os sites de 14 universidades lituanas para ter uma percepção de o quanto essa questão está sendo disseminada para a comunidade em geral, visto que as universidades têm uma ferramenta poderosa na divulgação de informações sobre como enfrentar situações desafiantes e ao mesmo tempo acelerar a transição da sociedade para a sustentabilidade.

A conclusão a que os autores chegaram é que as informações referentes ao desenvolvimento sustentável são insuficientes nos sites destas universidades e ocupam um lugar hierárquico também em um nível menor.

3.1.1 Sustentabilidade pós Década da Educação no mundo

Logo após a Década Internacional da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, evidenciou-se alguns trabalhos que mencionavam a evolução de um pensamento mais sustentável.

Para Figueiró and Raufflet (2015) nos últimos dez anos, tem–se notado um aumento de interesse pela sustentabilidade por parte da educação gerencial e, a preocupação dos autores foi a de revisar 63 artigos na área de Ensino Superior mapeando e revisando as publicações baseadas nas categorias: Tipos de Trabalho, Desafios, Técnicas de Ensino e Orientação curricular e há ainda uma avaliação do estado da sustentabilidade nestas instituições evidenciando orientações futuras para a educação de gestão. É apontada pelos autores, a compreensão limitada quanto à introdução da área de sustentabilidade na educação gerencial devido ser um conceito com várias definições; os artigos dos principais autores neste campo são os próprios professores e palestrantes que estão tanto atuando no campo quanto nos artigos simultaneamente constituindo-se de agentes de mudança; outros autores crêem que a sustentabilidade é desejável e sua introdução deve ser feita por razões morais. É comum em todos os artigos, referência à necessidade geral de mudança de currículo, mas são poucos os que caracterizam como isso deveria ser feito.

Outros estudos se referem à percepção do conceito de sustentabilidade pelos professores, funcionários, estudantes, líderes e mesmo stakeholders, e os desafios e obstáculos enfrentados na implementação de iniciativas sustentáveis como é o caso dos estudos exploratórios de Aleixo et al. (2016) durante a análise de quatro Instituições de Ensino Superior – IES – portuguesas. São apontados movimentos lentos e um mínimo de estratégias quanto à sua implementação, ainda que tanto os interessados internos como externos tenham uma compreensão maior sobre isso.

Segundo Viegas et al. (2016), no ensino superior, a base fundamental para a sustentabilidade seriam os debates filosóficos, valores pessoais e complexidade inerente, e estes exemplos de atributos estão ausentes de seus programas.

Os autores buscaram identificar e categorizar os atributos críticos referentes a Educação para a Sustentabilidade no Ensino Superior - Sustainability in Higher Education (SHE), retirados da literatura acadêmica. Eles destacaram a importância das categorias como facilitadoras da coleta de conhecimento sobre determinado assunto. Os atributos são características que podem ser agrupados por similaridade e formar uma categoria, que irá gerar debates ainda desconhecidos que podem evidenciar ao pensamento humano a sua capacidade de refletir sobre uma ação responsável dos temas da sustentabilidade.

Para uma abordagem sistemática, os autores utilizaram o método Proknow-C que efetua uma revisão de literatura por meio de três etapas: elaboração de portfólio bibliográfico, análise bibliométrica e análise sistêmica. Segundo Waiczyk e Ensslin (2013) o ProKnow-C tem sua origem no Laboratório de Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão (LabMCDA), do Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina.O método possibilita fazer a análise bibliométrica da bibliografia disponível nas bases de dados, apresentando-se boa ferramenta para seleção de artigos, principalmente para os alunos que iniciam na pesquisa acadêmica.

Foram focalizados 2513 artigos sobre sustentabilidade em educação e outras áreas afins entre os anos de 2000 e 2015, por meio de uma análise bibliométrica, dos quais foram destacados 259 para uma categorização de: fundações, conhecimento, pessoal e ativos integradores. Dentre as considerações finais sobre este estudo encontra-se o currículo deficiente pela incapacidade de mudança de uma visão para a sustentabilidade e ancorado numa estrutura rígida estabelecida em aspectos teóricos que não dão o devido suporte para a sua filosofia.

As universidades dos países pós-socialistas da Europa Central estão em um processo moroso quanto ao desenvolvimento sustentável de acordo com Dlouhá et al. (2016). Os autores pesquisaram seis desses países (República Tcheca, Hungria, Polônia, Sérvia, Eslováquia, Eslovênia), a fim de conhecer como está sendo efetuada a transição para a sustentabilidade nas Instituições de Ensino Superior – IES por meio do método qualitativo “análise de estrutura conceitual” na expectativa de visualizar pontos comuns ou diferenças e tendências gerais na região, já que todos estes países possuem uma história comum.

Para os autores, a pesquisa indicou que houve uma grande transformação no sistema educacional desses países nas últimas décadas, tanto no aspecto econômico como social e político. Também, no ensino superior, houve processos transformadores que liberaram as universidades de sua carga ideológica anterior. Essa abertura provocou mudanças positivas e novas iniciativas foram realizadas em direção à educação para o desenvolvimento sustentável, como cooperação dos atores e entidades dentro e fora da academia.

Evans et al. (2017), investigaram como os formadores/acadêmicos de professores do ensino superior incorporavam a educação para a sustentabilidade na aprendizagem por meio de uma revisão de literatura sistemática, detectando abordagens pedagógicas diferentes. Os autores denotam que a base de investigação nesta área ainda é muito pequena mesmo considerando que o campo ainda é muito novo.

Já o trabalho de Annan-Diab et al. (2017) objetiva demonstrar como uma abordagem interdisciplinar é importante para a educação do desenvolvimento sustentável de maneira a perceber perspectivas diferentes de sustentabilidade, assim como, a responsabilidade social corporativa e os princípios para a educação responsável em gestão elucidam por meio de um estudo de caso como os alunos são estimulados a combinar o conhecimento de todas as disciplinas favorecendo sua compreensão e ação sobre desenvolvimento sustentável.

Diante da análise destes trabalhos que abordam a sustentabilidade nas instituições de ensino superior – IES, tanto para a formação dos novos profissionais como na administração de seus campi nos diversos países pesquisados, pode-se inferir, a partir das dificuldades/barreiras e avanços levantados e discriminadas no Quadro 1, que ainda é incipiente a aplicação de um composto pedagógico e administrativo integrado visando conscientizar e criar uma cultura da preservação.

Quadro 1: Sustentabilidade nas IES no mundo – Impedimentos

3.2 Sustentabilidade nas Universidades do Brasil

O trabalho sobre sustentabilidade nas universidades também tem sido evidenciado no Brasil de maneira ainda um pouco tímida, mas há um esforço dos estudiosos da área em procurar compreender como se desenvolvem os currículos, a abordagem das questões ambientais nos cursos de formação profissional, assim como se estrutura a administração da própria instituição com relação à sustentabilidade.

A II Jornada Iberoamericana da Alianza de Redes Iberoamericanas por la Sustentabilidad y el ambiente – ARIUSA, foi realizada de 13 a 15 de junho de 2012 na Universidade do Vale do Itajaí, Univali, campus de Itajaí, no Brasil, em que inscreveram-se 117 participantes de 10 países: Brasil, Colômbia, Argentina, México, Espanha, Equador, Chile, Costa Rica Guatemala e Cuba. O objetivo da ARIUSA foi o de promover e dar apoio a coordenação de ações no campo da educação ambiental nos cursos superiores e também colaborar na parte acadêmica e científica entre as redes universitárias pelo ambiente e a sustentabilidade.

Lara (2012 p. 1646) apresenta um artigo destacando a importância do ensino superior como “[... o despertar da consciência sustentável, bem como sua relevância como ferramenta de construção de integração social em prol da sustentabilidade...]”

Considerando a sustentabilidade como um desafio de novos modelos de ensino em que não há fórmulas prontas e mágicas para uma educação que a inclua, Gonçalves-Dias et al (2013), em sua análise para a inclusão da disciplina “sustentabilidade” no curso de administração de uma Instituição do Ensino Superior (IES) referem-se à diversidade de estratégias didático-pedagógicas e o uso de diferentes instrumentos de gestão, os quais ainda não estão bem posicionados nas disciplinas tradicionais e necessitam de um tratamento de integração entre as mesmas.

Sinay et al. (2013) conclui que somente 25% dos cursos de pós-graduação em Administração disponibilizam disciplinas especificamente voltadas para a gestão ambiental, mas que houve um avanço quanto ao número de grupos de pesquisa na área ambiental de 2002 a 2012 e que o tema tem sido inserido em periódicos importantes em administração no país.

A formação profissional relacionada ao desenvolvimento sustentável está ainda sendo construída, visto a falta de percepção de algum comprometimento com este conceito que tem sido utilizado rotineiramente nas organizações (Cunha et al, 2013). Isto ocorre devido ao conceito de sustentabilidade não estar devidamente esclarecido para os estudantes; como prática social ainda é incipiente e demanda um longo período para ser interiorizado, sendo que há a necessidade da incorporação definitiva da relevância pela sociedade deste conceito para a sobrevivência futura (Cunha et al, 2013).

As organizações têm sentido a pressão exercida pela sociedade com relação aos novos padrões organizacionais reivindicando mudanças que possam controlar suas ações. Viegas and Cabral (2013) analisaram como estão atuando as Instituições de Ensino Superior com referência a modelos de gestão que contemplem a área socioambiental para uma reflexão das diretrizes a serem seguidas para que uma instituição de ensino superior se torne uma Organização Sustentável.

Tommasiello and Guimarães (2013) destacam em seu ensaio a necessidade da inserção da educação ambiental com vistas à sustentabilidade na formação de profissionais na universidade, embora estejam cientes que esta proposta é contrária à visão hegemônica de desenvolvimento e que depende muito também da autonomia da universidade com relação aos seus financiadores e da percepção de futuro de seus gestores, entre outros obstáculos que se interpõem a essa ideia. No entanto, essa possibilidade seria de uma sustentabilidade democrática que utiliza conceitos, valores e atitudes que auxiliam na formação de uma sociedade responsável e comprometida com o ambiente e, sendo assim, desperta o interesse e envolvimento dos alunos e funcionários, assim como, da sociedade em geral.

3.2.1 Sustentabilidade pós Década da Educação no Brasil

Guerra (2015) compilou em um livro o resultado de um projeto desenvolvido durante os anos de 2013 a 2015 por pesquisadores de três universidades comunitárias: Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS e o Centro Universitário de Brusque – UNIFEBE. Juntaram-se a estes investigadores, colegas da Escola de Engenharia de São Carlos e da Universidade de São Paulo – USP. O projeto foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ, cujo objetivo geral foi o de gerar subsídios para a elaboração de políticas de ambientalização curricular e sustentabilidade em Instituições de Ensino Superior.

Nas IES no Brasil foi constatado que muitas pesquisas foram feitas nesse campo da sustentabilidade, contudo ainda não há evidência de sistematização e controle tanto na formação como na administração dos campi. As dificuldades/barreiras evidenciadas foram: Inclusão da Disciplina, Pós-graduação, Formação Profissional, que podem ser verificadas no quadro 2:

Quadro 2: Sustentabilidade nas IES no Brasil – Dificuldades

4 – MODELOS DE AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE

Paralelamente a análise realizada sobre como tem se comportado as diversas instituições de ensino superior no Brasil e no mundo quanto à implementação de políticas que visem e estabeleçam critérios de ensino e de administração dos campi voltados para a sustentabilidade, foram identificados modelos que se propõem efetivamente mensurar como estão sendo processados os compromissos assumidos por essas instituições. O Quadro 3 resume as principais características dos modelos evidenciados neste estudo.

Quadro 3 - Modelos Avaliadores da Sustentabilidade

4.1 Instrumento de Auditoria para a Sustentabilidade no Ensino Superior (AISHE)

O Instrumento de Auditoria para a Sustentabilidade no Ensino Superior (Auditing Instrument for Sustainability in Higher Education – AISHE) foi desenvolvido especificamente para avaliar a sustentabilidade ambiental nas Instituições de Ensino Superior (IES) e foi criado por um grupo de universidades holandesas que, baseadas no modelo EFQM-INK – European Foundation for Quality Management - Com cerca de 30 subcritérios, agrupados por sua vez em torno de 9 critérios, este modelo permite fazer o diagnóstico e avaliação do grau de Excelência alcançado por uma determinada organização e estimular, a partir daí a sua melhoria continua. Foi adaptado para o ensino superior como EFQM-HE para o desenvolvimento do AISHE e, é por meio desse tipo de metodologia, alicerçada em indicadores, que se pode afirmar se as práticas adotadas estão sendo efetivas (Brandli et al 2012).

A aplicação desta ferramenta fundamentou-se no ciclo PDCA de Deming, ou seja, Círculo da Qualidade, onde temos as fases Plan (Planejar), Do (Fazer), Check (Verificar) e Action (Agir), na qual foi incluída um número de critérios como indicadores e que se referem à qualidade de gestão da instituição.

A pesquisa seguiu as etapas: adaptação do método, aplicação da ferramenta para coordenadores, estudantes e professores, construção de gráficos, cálculo de medianas e análise dos resultados. Os resultados mostraram significantes diferenças entre os cursos, demonstrando falta de visão estratégica e de gestão da universidade. No entanto, existem critérios que poderiam ter sido avaliados mais positivamente para todos, se houvesse um planejamento da universidade que definisse nos cursos, meios para aprimorarem a sua sustentabilidade ambiental. Dessa forma a existência de uma política e gestão ambiental adequada se faz necessária para que a sustentabilidade seja inserida de forma eficaz no ensino da instituição (Brandli et al. 2012).

Shriberg (2002) in Brandli et al. (2012) explica que o AISHE é como um método de auditoria se igualando à ISO 14001 auxiliando na formulação de políticas.

4.2 Modelo de Avaliação de Sustentabilidade Socioambiental (MASS)

O estudo de Warken et al. (2014) revela por meio do Modelo de Avaliação de Sustentabilidade Socioambiental (MASS), elaborado por Freitas (2013), o nível de sustentabilidade ambiental da Universidade Federal Fronteira Sul, campi de Chapecó/SC.

Para realização dessa avaliação foi aplicado um questionário de Educação Ambiental no departamento de sustentabilidade dessa instituição, com 229 questões fechadas e os resultados apontaram que 53,09% numa escala de 0 a 100%, a instituição aplica a sustentabilidade ambiental predominantemente para cumprir os requisitos legais.

4.3 Modelo Adaptável de Avaliação da Sustentabilidade (AMAS)

O Modelo Adaptável de Avaliação da Sustentabilidade (Adaptive Model of Sustainability Assessment – AMAS) é baseado em uma estrutura flexível que permite a melhoria contínua ajustando-se para facilitar o processo de avaliação num contexto mais amplo, inclusive de países onde a implementação da sustentabilidade nas instituições de ensino superior ainda está num estágio inicial de desenvolvimento (Gomez et al. 2015).

O modelo é idealizado levando em consideração as declarações das instituições de ensino superior sobre sustentabilidade e as relações com as diversas dimensões do sistema universitário, tais como: educação e pesquisa, engajamento público, administração e operações. É proposta uma hierarquia de quatro níveis com o objetivo principal de dar ênfase no primeiro nível à sustentabilidade nas instituições de ensino superior, seguida pelos segundo e terceiro nível com seus critérios e subcritérios e no quarto nível pelos indicadores, conforme Fig.1 (Gomez et al. 2015).

Fig.1 Avaliação da Sustentabilidade em quatro níveis em Instituições de Ensino Superior- Quadro adaptado.

Após o estabelecimento dos critérios e subcritérios parte-se para a eleição de indicadores potenciais obtidos de diferentes ferramentas de avaliação de acordo com o processo de filtragem baseado nos seguintes princípios propostos por Hezri (2004) in Gomez et al (2015): robustez (a questão principal deve abarcar modelos com perspectivas vastas e conectadas), inclusão democrática (integração daqueles que estão empenhados no processo de escolha dos indicadorers), longevidade (devem ser várias vezes mensurados e adaptados às variações) e, relevância (devem considerar os dados coletados, manutenção e documentação das necessidades do público e dos usuários).

A partir desse ponto, são convocados os peritos para analisar a importância dos indicadores em relação à sustentabilidade dentro de cada subcritério para compará-los a outras instituições que possuam relatórios de sustentabilidade equivalentes. A lista final de indicadores prováveis para o cálculo é obtida, lembrando que para um contexto diferente, esse processo precisa ser repetido. A priorização dos indicadores é realizada utilizando o Método de Análise Hierárquica – AHP de Tomas L.Saaty (1987) que fornece resolução em problemas com multicritérios por meio da decomposição do problema em fatores até ao nível mais baixo dimensionável introduzindo relações que depois serão sumarizadas (Marins, Souza & Barros, 2009).

Como os indicadores podem ser expressos em diferentes unidades e podem também incluir muitos dados são agregados usando um método de normalização.

O Modelo Adaptável para Avaliar a Sustentabilidade (AMAS), demonstra algumas diferenças a serem consideradas: transparência metodológica, pode ser aplicado por qualquer pessoa, capacidade de demonstrar os resultados para diferentes públicos, permite a comparação entre instituições etc. (Gomez et al, 2015).

4.4 Avaliação Gráfica da Sustentabilidade nas Universidades (GASU)

A Avaliação Gráfica da Sustentabilidade nas Universidades (The Graphical Assessment of Sustainability in Universities – GASU) é um modelo que envolve todas as questões importantes sobre o desempenho de uma instituição, ilustrado de forma integral em gráficos AMOEBA e composto por 8 categorias, 43 subcategorias e 126 indicadores baseados na adaptação do Relatório de Iniciativa Global – GRI – (Ten Brinks et al. 1991). AMOEBA.ap. é um modelo conceitual para o desenvolvimento de objetivos ecológicos quantitativos e verificáveis. "AMOEBA" é o acrônimo holandês para "um método geral de descrição e avaliação do ecossistema". Este modelo baseia-se no conceito de desenvolvimento sustentável.

O modelo GASU oferece ao usuário a possibilidade de classificar todos os indicadores numa planilha que contém as dimensões econômica, ambiental, social e educacional das diretrizes GRI modificadas. A planilha gera nove gráficos: 01Geral: mostra a performance econômica e as dimensões ambiental, social e educacional;01mostra as dimensões econômicas; 01mostra as dimensões ambientais; 05 mostram as dimensões sociais: um para práticas trabalhistas e trabalho docente, um para direitos humanos, um para a sociedade e um para responsabilidade do produto; 01 mostra as dimensões educacionais.

4.5 O modelo de Ranking Universitário Tridimensional (TUR, 2010)

De acordo com Lukmann et al. (2010) o modelo de Ranking Universitário Tridimensional (TUR) visa aperfeiçoar a metodologia e os indicadores das tabelas de classificação para as universidades agregando a dimensão ambiental. Considera 15 indicadores e divide-se em três dimensões. Propõe a utilização do Método AHP – Processo Analítico Hierárquico (Saaty 1987) para estimativa dos pesos dos indicadores selecionados pelos especialistas. É um modelo de fácil aplicação podendo ser utilizado em benchmarking internacional de sustentabilidade em instituições de ensino superior, visto que utiliza a mesma lógica que outros sistemas internacionais de classificação universitária, como o Academic Ranking of World Universities - ARWU2012 e QS World University Rankings 2012. Segundo Chiavenato (2003), o benchmarking visa desenvolver a habilidade dos administradores de visualizar no mercado as melhores práticas administrativas das empresas consideradas excelentes (benchmarks) em certos aspectos, comparar as mesmas práticas vigentes na empresa focalizada, avaliar a situação e identificar as oportunidades de mudanças dentro da organização. A meta é definir objetivos de gestão e legitimá-los por meio de comparações externas.

A Classificação Académica das Universidades Mundiais (em inglês: Academic Ranking of World Universities, em sigla: ARWU) é publicada pela primeira vez em junho de 2003 pelo Centro de Universidades de Classe Mundial (CWCU), da Escola Superior de Educação (ex-Instituto de Ensino Superior) de Universidade de Jiao Tong de Xangai, na China, sendo atualizada numa base anual.

O Sistema de Classificação Universitária (TUR), é um método em que os resultados possuem uma representação gráfica simples e por conta disso sua análise é melhor visualizada nas comparações multidimensionais entre instituições. No entanto, este método não é indicado quando temos uma avaliação mais abrangente, visto que ele tem a propriedade de avaliar a sustentabilidade de até um conjunto de 5 indicadores.

4.6 O Sistema de Avaliação de Acompanhamento e Avaliação da Sustentabilidade (STARS)

O Sistema de Avaliação de Acompanhamento e Avaliação da Sustentabilidade (STARS), conforme Aashe (2011) apud Gomez et al (2015) é uma iniciativa da Associação para o Progresso da Sustentabilidade no Ensino Superior (AASHE) dividindo-se em 3 categorias principais, 17 subcategorias e 67 indicadores.

Conforme Saadatian & Salleh (2011) apud Gomez et al (2015) atualmente é uma das ferramentas mais amplas e populares. Este modelo está sempre sendo aperfeiçoado devido a sua consulta aberta no processo. Todavia, existem duas objeções à sua aplicação: a primeira diz respeito à sua concepção proposta para um contexto em maior desenvolvimento, como Estados Unidos e Canadá, visto que nestes países há maior apoio às instituições e maior incentivo à sustentabilidade (Garcia, 2010 apud Gomez, 2015). Em segundo, necessita de uma participação operante e com resguardo do pagamento das instituições para adquirir as informações necessárias.

4.7 O Sistema de Classificação Green Metric (GM)

O Sistema de Classificação Green Metric (GM) foi lançado em 2010 por uma iniciativa da Universidade da Indonésia, com o objetivo de apresentar uma ferramenta com um sistema de classificação internacional alternativo para avaliação de “Campus Verde e Sustentabilidade nas Universidades” (Gomez et al. 2015). Esta ferramenta possui 5 dimensões com 34 indicadores, focando principalmente a eco-eficiência e sem considerar outros aspectos da sustentabilidade como a diversidade e o desempenho da equidade.

4.8 A Avaliação das Políticas Universitárias de Sustentabilidade e sua Relação com o Programa Campus de Excelência Internacional (AUSP)

A Avaliação das políticas Universitárias de Sustentabilidade e sua Relação com o Programa Campus de Excelência Internacional (AUSP) é um projeto que foi financiado pela Espanha (Ministério da Educação) com coordenação do grupo de avaliação da sustentabilidade (Gomez 2015).

A AUSP tem como principal objetivo reforçar as políticas das universidades espanholas. Ela foi colocada em prática no ano de 2010 devido a um inquérito convidando as instituições a se auto-avaliarem quanto ao progresso desenvolvido e foi designado um consultor para visitar cada instituição a fim de verificar as respostas e calcular a pontuação final.

Esta ferramenta possui 3 categorias principais divididas em 12 subcategorias, considerando 176 indicadores e, ainda que, tenha a capacidade de cobrir todas as questões que se referem à sustentabilidade nas instituições de ensino superior, tem a desvantagem de depender do compromisso destas com relação à auto-avaliação e, portanto, dependem de uma terceira parte para rever o processo (Gomez 2015).

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho procurou-se evidenciar dentro de um período determinado, 2005 a 2014, referente à Década Internacional da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, como está sendo efetuada a formação dos novos profissionais para o mercado de trabalho com relação às competências adquiridas sobre desenvolvimento sustentável, assim como, a administração/gestão das ações desenvolvidas no campus universitário e seus impactos sobre o meio ambiente.

Para mensurar as ações concretizadas, as Instituições de Ensino Superior – IES utilizam modelos que podem avaliar a sustentabilidade e, por esse motivo foram pesquisados alguns dos principais modelos empregados.

A partir dessa busca, foram apresentados os diferentes cenários em que se encontra a questão da sustentabilidade nas IES no contexto internacional e nacional.

Embora a discussão sobre desenvolvimento sustentável seja pauta de interesse no cenário internacional e a educação a força motriz para seu estabelecimento pleno, ao analisarmos a trajetória da incorporação deste conceito junto às IES notou-se que sua implementação ainda é embrionária, ou seja, encontra-se em estágio inicial de desenvolvimento com esforços esparsos caracterizados principalmente por um número baixo de produções científicas nesta área.

Especificamente no cenário brasileiro, existem alguns estudos e pesquisas que foram evidenciados sobre a inserção da sustentabilidade nos cursos de graduação e o que se constatou foram alguns impedimentos que são ocasionados por uma visão hegemônica contrária de desenvolvimento que tem relação ao tipo de economia vigente no Brasil. As IES, por sua vez, dependem dos financiamentos de seus gestores. No entanto, revelou-se através das análises, que há uma intencionalidade de elaboração de políticas públicas com relação à inserção da sustentabilidade nos currículos universitários.

A análise dos modelos propostos para avaliar a sustentabilidade mostrou a ausência de uma base comum de indicadores, que poderia ser útil no delineamento de uma estrutura mínima de ações de sustentabilidade nas IES. É evidente que as particularidades de cada instituição devem ser consideradas, no entanto, um conjunto comum permitiria uma padronização de critérios mínimos a serem atendidos para que se tivesse uma garantia da responsabilidade da promoção do desenvolvimento sustentável facultada ao ensino superior.

A questão da sustentabilidade, aqui discutida, nos remete a pensar no significado da educação que nada mais é do que um processo de gerar conhecimento, buscando continuamente transformar a realidade para que o indivíduo possa conseguir viver no mundo e na sociedade a que pertence. Sendo assim, a realidade atual exige a preservação do ambiente e esta nova meta impulsiona a continuação de estudos que permitam construir e expandir as estratégias de inserção de sustentabilidade na educação superior.

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