EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AULAS DE CAMPO NA AMAZONIA PARAENSE:

ESTUDO COM OS ALUNOS DA PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS DO IFPA, BRAGANÇA-PA



ENVIRONMENTAL EDUCATION IN FIELD LESSONS IN THE PARAENSE AMAZONIA:

STUDY WITH POST-GRADUATE STUDENTS IN ENVIRONMENTAL SCIENCES OF IFPA, BRAGANÇA-PA



Manoel Márcio M. Borges1, Priscila de Lima e Silva Dutra², Nivia Maria V. Costa³



1Especialista em Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologias do Pará – IFPA. E-mail: marciocn2012@gmail.com

2 Especialista em Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologias do Pará – IFPA. E-mail: prisciladlimaesilvadutra@gmail.com

³ Pós-doutoranda em Educação/ Universidade de Coimbra - Professora doutora do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologias do Pará – IFPA. E-mail: nivia.costa@ifpa.edu.br

Resumo: Trata-se de uma pesquisa sobre educação ambiental em aulas de campo em curso de pós-graduação, o objetivo da pesquisa foi compreender de que modo a aula de campo pode ser uma metodologia para a aprendizagem. Optou-se pela abordagem qualitativa com aplicação de questionários semiestruturados com característica de pesquisa participante. O cenário da pesquisa foi o município de Bragança-PA, Amazônia Paraense, e o lócus o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFPA. Os resultados apontam para um interesse dos alunos pelas aulas de campo, que compreendem melhor a realidade local e contribui com novos aprendizados. Conclui-se que há necessidade de ampliar a discussão sobre o tema proposto numa perspectiva a utilizar essa metodologia no ensino não somente nas turmas de pós-graduação, como nos diversos níveis e modalidades de ensino.

Palavras-chave: Educação Ambiental. Amazônia paraense. Aula de campo. Pós-graduação.

Abstract: It is a research on environmental education in field lessons in the course of postgraduate studies, your research goal its understand how field lessons can be a methodology for learning. We opted for the qualitative approach with the application of semi-structured questionnaires with participant research characteristics. The research scenario was the municipality of Bragança-PA, Amazon Paraense, and the locus of the Federal Institute of Education, Science and Technology - IFPA. The results point to an interest of the students about the importance of the field lessons, better understand the local reality and contribute to new learning. It is concluded that there is a need to broaden the discussion about the proposed theme in a perspective to use this tool in teaching not only in postgraduate classes, but also in the different levels and modalities of teaching.

Keywords: Environmental Education.Paraense Amazon. Field class.Postgraduate.



Introdução



Este trabalho tem a finalidade de discutir sobre aula de campo como metodologia de ensino. De acordo com Zem (2014, p. 9) "o trabalho de campo na educação surge, portanto, como um instrumento valiosíssimo para a sensibilização de atitudes positivas da sociedade em relação ao meio ambiente". Dessa forma, sua contribuição no aprendizado poderá contribuir, sobretudo, na preservação do ambiente em que vivemos.

Corriqueiramente são divulgados, especialmente através da imprensa, informações que nos dão conta do quanto o planeta terra está sendo impactado por ações humanas e, sobretudo na Amazônia Paraense, que ainda detém uma grande parte da biodiversidade global, populações tradicionais e suas culturas. Assim, faz-se necessário a utilização da metodologia de aula de campo e discutir formas de mitigar os impactos antrópicos que essa região vem sofrendo, numa perspectiva de manter as riquezas naturais amazônicas preservadas, bem como os povos tradicionais que dela dependem.

Barros (2011), Cerati (2011) e Costa et al (2016), mencionam que os ambientes naturais vêm sofrendo crescentes ameaças e que devido a tais fatos a atenção global tem se voltado para a valorização destes ambientes e também na perspectiva da conservação da biodiversidade. Sobre essa questão, Barros (2011) reforça que,

Na Amazônia brasileira, por exemplo, onde nem sequer a biodiversidade é bem conhecida, e muito tempo será preciso para tal, a discussão desse assunto torna-se ainda mais desafiante, frente à dimensão espacial da área, à grande diversidade sociocultural presente, à riqueza de formas de uso e aproveitamento dos recursos advindos da biodiversidade pelas populações autóctones e à pressão internacional ora pela sua preservação, ora pelo seu aproveitamento econômico (BARROS, 2011, p. 24).

Assim, também se torna importante considerar, a questão dos povos e comunidades que vivem nessa região, onde Barros (2011, p. 22), destaca em sua pesquisa que "as comunidades humanas que integram esses sistemas naturais, são da mesma forma elementos importantes a considerar, pois, tal como a biodiversidade, sua existência também é ameaçada". Espera-se que com os aprendizados adquiridos estudando em contatos com esses povos, seja possível dar mais importância e reconhecimento a eles.

Marques e Carniello (2003, p. 11) afirmam que "o homem é o grande responsável pela degradação do ambiente, porém pode vir dele mesmo formas para a conservação". Então, faz-se necessário que como promotores de constantes degradações, sermos também realizadores de práticas que venham diminuir os impactos que causamos no ambiente em vivemos, e que através da educação e com novas metodologias de ensino aprendizagem seja possível melhorar o conhecimento do aluno, tornando este, um cidadão mais preparado para lidar com o futuro.

Este artigo trata da utilização de aula de campo na pós-graduação lato sensu, de modo especifico no curso de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia do IFPA/Campus Bragança. Surgiu a partir da preocupação em compreender a biodiversidade não apenas através de teorias, mas também do contato direto com o objeto de estudo que esteja ligado ao mundo do aluno, através de uma aprendizagem vivencial. Da mesma forma, no entendimento de Leff (2001) é necessário estabelecer uma ponte entre o saber científico e o saber popular, ao encontro de um diálogo de saberes que busque compreender a realidade na promoção da sustentabilidade.

Educação Ambiental no espaço escolar

Definir ou conceituar Educação Ambiental (EA) requer filtrar qual linha de pesquisa o pesquisador irá trilhar para alcançar seu objetivo final. Abordar educação ambiental é transitar por diversas discussões e modos de praticar a ação educativa neste campo, uma vez que não existe a melhor maneira de se fazer EA, mas existe a mais adequada àquela comunidade de pessoas que se irá abordar a temática.

Uma das correntes selecionadas para definição de EA é a corrente naturalista que consiste numa relação do ser humano bem próximo ao meio em que ele convive, na qual envolve o cognitivo, afetivo, experiencial, artístico ou espiritual (SAUVÉ, 2005). Essa experimentação com a natureza está ligada à sensação de pertencimento ao meio ambiente, em como nos sentimos partes dele, e na sua representatividade à vida. Trazendo esta visão global da corrente para a particularidade das comunidades tradicionais da Amazônia paraense o contato do homem com a natureza é uma extensão do seu próprio corpo, pois é na natureza que eles encontram subsistência à vida.

Levar a educação ambiental ao espaço escolar é criar condições e buscar metodologias que transponha o educando a refletir sua realidade, para que assim haja a consolidação da conscientização e sensibilização pelo meio, fazendo-o compreender-se como parte interdependente daquela biodiversidade local, no qual suas escolhas refletem e determinam resultados futuros e globais.

Para tal intento é necessário fazer o aluno compreender sua realidade, que por ser um cenário comum do dia a dia passa despercebida da criticidade que ele deveria possuir. O professor precisa transpô-lo da sua realidade para assim fazê-lo contextualizar, refletir e desenvolver a consciência crítica do aluno, capacitando-o e atribuindo valores sobre a ecologia e biodiversidade local, neste trabalho o educador será capaz de criar/estimular o sentimento afetivo de pertencimento pelo meio ambiente local.

Metodologia

Nesta pesquisa foi desenvolvida a técnica de abordagem qualitativa (CHIZZOTTI,1998), com opção pela pesquisa participante. As informações foram colhidas por meio da aplicação de questionários e observações diretas. A abordagem qualitativa é útil para uma análise intensiva de uma situação particular (YIN, 1989). Para Bressan (2000), é adequado para responder às questões de "como" e '"porque", que são questões explicativas e tratam de relações operacionais que ocorrem ao longo do tempo mais do que frequências ou incidências.

O questionário foi aplicado aos alunos da primeira turma de pós-graduação lato sensu em Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia do lnstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, IFPA/Campus Bragança, e abordou questões sobre a opinião destes acerca da existência de aulas de campo no seu curso de especialização. Os alunos, sujeitos da pesquisa, participaram de uma aula de campo da disciplina Arranjos Produtivos Locais na Amazônia, Diagnósticos e Possibilidades, em Março de 2018. Sendo que compareceram 29 alunos do curso, dos 35 alunos matriculados, e foi realizada na Cerâmica São Mateus, produção familiar artesanal de panelas de barro que fica localizada na Comunidade São Mateus, distante a aproximadamente 13 km da sede do município de Bragança-PA. A seguir, veja imagens da aula de campo.

Figura 1: Local da retirada de argila. Cerâmica São Mateus/ Bragança-PA

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Figura 2: Produção artesanal de panela de barro na Cerâmica São Mateus/ Bragança-PA

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Figura 3: Produto final a ser comercializado pela Cerâmica São Mateus/ Bragança-PA

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Os alunos e professores da especialização foram recebidos pelo líder da produção de panelas de barro, o senhor Daniel, que apresentou a todos nós o espaço de produção da cerâmica, mostrando sua relação com o ambiente e o seu trabalho, dando exemplos teóricos e práticos de como ocorre a dinâmica desde a extração da argila, passando pela confecção dos utensílios, secagem e a queima.

Após a aula de campo, os alunos responderam a um questionário com algumas perguntas pertinentes a aula mencionada e sobre a importância no curso; qual a avaliação dessa metodologia na pós-graduação lato sensu; se essa experiência fora de sala de aula lhes trouxe novos aprendizados; quais foram as dificuldades enfrentadas durante a aula de campo e para os alunos que já exercem a docência como profissão, foi perguntado se eles utilizam a metodologia de aula de campo com seus alunos nas escolas em que trabalham e por fim qual a avaliação pessoal de cada aluno da especialização sobre a aula de campo que participaram. Todos os alunos que participaram da aula de campo responderam voluntariamente o questionário proposto.

O cenário da pesquisa trata-se da cidade de Bragança-PA localizada na região norte do Brasil, a nordeste do estado do Pará, Amazônia Oriental, com latitude 01° 03’ 13” S e Longitude 46° 45’ 56” W e altitude de 19 m, possui clima quente-úmido, com média anual de 26°C, compõe a microrregião bragantina e fica distante acerca de 210 km de Belém, capital do estado. Segundo dados do IBGE (BRASIL,2017) Bragança possuía uma população de 113.227 habitantes e que no ano de 2017 já contava com uma população estimada de 124.184 habitantes, sua extensão territorial é de 2.091,930 km², com uma densidade demográfica de 54,13 hab./ km² e sua fundação é datada de 08 de julho de 1613. Trata-se de um dos munícipios mais antigos no estado do Pará, com 405 anos. A economia de Bragança-PA gira em torno da pesca, agricultura, extrativismo e da renda do funcionalismo público. Na agricultura local, destaca-se a produção da farinha de mandioca que é exportada para todo o Brasil e outras partes do mundo.

O lócus da pesquisa foi o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA/Campus Bragança, localizado no meio urbano do município e fundado em 20 de Outubro de 2008. Este Instituto Federal no ano de 2018 tinha 1.262 alunos matriculados, sendo 351 alunos dos cursos de ensino médio técnico integrado, 333 dos cursos técnicos subsequentes, 452 dos cursos de graduação e 126 dos cursos de pós-graduação lato sensu. Os sujeitos desta pesquisa foram 29 alunos que participaram da aula de campo na Cerâmica São Mateus, e que estão regularmente matriculados no curso de pós-graduação lato sensu em Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia do IFPA/Campus Bragança, turma de 2017. Na análise dos resultados, e na apresentação das falas esses alunos foram identificados como Aluno 01, Aluno 02, Aluno 03, e assim sucessivamente até o número 29, para resguardar suas identidades.

Resultados e discussão

Dos 29 alunos participantes da pesquisa 11 são homens (37,9%) e 18 são mulheres (62,1%). A tabela a seguir apresenta a formação inicial e número de alunos por curso.

Tabela 1 – Formação inicial dos alunos da Pós-graduação em Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, Turma 2017- IFPA/Campus Bragança.

Formação inicial

Número de alunos

Gestão ambiental

6

Agroecologia

4

Letras

4

Pedagogia

3

Turismo

3

Ciências biológicas

2

História

2

Agronomia

1

Ciências naturais

1

Engenharia florestal

1

Engenharia de pesca

1

Geografia

1

Fonte: Os autores (2018)

Do total de alunos entrevistados, 24 alunos (82,7%) estão fazendo a primeira especialização e 05 alunos (17,3%) já fizeram uma outra especialização, sendo estas em: Economia Solidária, Educação Especial, Gestão Educacional, Leitura e Produção Textual e Psicopedagogia. Ao tratar sobre a formação continuada em nível de pós-graduação, Morales (2007), afirma que,

[...] um número significativo de profissionais das diversas áreas de conhecimento que buscam, na especialização, conhecimentos teórico-práticos, a fim de validar suas ações e avançar no debate e na produção de saberes relevantes e necessários aos problemas socioambientais presentes na sociedade contemporânea (MORALES, 2007, p. 194).

Quanto a atuação profissional dos sujeitos pesquisados, 21 alunos (72,5%) não atuam profissionalmente na docência e apenas 8 (27,5%) se declararam como professores, atuando nas disciplinas de Biologia, Ciências, Estudos Amazônicos, Geografia, História, Língua Portuguesa e um na Pedagogia.

A primeira pergunta realizada aos alunos foi quanto a opinião destes sobre a existência de aulas de campo no curso de pós graduação que fazem parte. Todos os alunos disseram que consideram fundamental o uso dessa ferramenta no processo de ensino aprendizagem. E de acordo com um deles [...] essa metodologia contribui na construção do conhecimento, pois confronta a teoria com a prática, motivando os alunos (Aluno 16).

Da mesma maneira pensam Viveiro e Diniz (2009), pois afirmam que as atividades de campo proporcionam o contato direto com o ambiente, permitindo que o aluno se envolva e interaja em situações reais de aprendizagem, o que estimula a curiosidade e aguça os sentidos, possibilitando confrontar teoria e prática.

Um dos alunos afirmou que considera fundamental a aula de campo na especialização porque [...] para termos uma melhor aprendizagem, precisamos da junção teoria e prática, essas práxis andam juntas. É mediante a prática que adquirimos experiência (Aluno 10).

Corroborando com a fala do aluno Alves (2009) afirma que,

Na verdade, conhecendo a teoria que sustenta a sua prática, o educador pode desejar e fazer a sua transformação em direção a conscientização e a consequente liberação de condicionantes sociais, tornando o processo ensino aprendizagem algo realmente significativo tanto para o educador como para o educando (ALVES, 2009, p. 01).

É a partir da percepção atribuída pelos alunos à aula de campo como metodologia para a aprendizagem significativa que se compreende que garantir essa vivência aos alunos dará novos sentidos às disciplinas ofertadas nos cursos de especialização, como vemos no discurso que segue, [...] parto da ideia que a pesquisa é um princípio educativo, por isso a relação teoria e prática são fundamentais, a disciplina Arranjos Produtivos Locais ficou mais significativa a partir da aula de campo (Aluno 15).

Em estudo realizado por Oliveira (2017, p. 34,35) ele afirma que "o contato direto com o objeto de estudo por meio do trabalho de campo proporciona uma aprendizagem significativa ao aluno”. Um aluno destaca a importância da aula de campo para a contextualização de uma aprendizagem de fato voltada para o ambiente local [...] em razão de possibilitar aos discentes uma contextualização da teoria e realidades locais (Aluno 18).

Ao serem questionados se a aula de campo lhes trouxe novos aprendizados 28 alunos (96,5%) afirmaram que sim e disseram que [...] foram diversos aprendizados, principalmente sobre a importância do conhecimento empírico na produção econômica (Aluno 16).

Afirmaram também sobre a importância dos conhecimentos tradicionais [...] do saber fazer de uma comunidade tradicional, passados por gerações (Aluno 17). E, mais ainda que, [...] trouxe aprendizados relacionados ao conhecimento empírico da comunidade, que relacionados aos conhecimentos teóricos de sala de aula enriquecem a minha bagagem pessoal e intelectual de estudante (Aluno 09).

O conhecimento que se adquire através da experiência, seja de um indivíduo ou de uma comunidade é compreendido como conhecimento empírico, muito presente na fala dos alunos. Para Altet (2001, p. 30), "os saberes práticos, oriundos das experiências, contextualizados e adquiridos em situação de trabalho, são também chamados de saberes empíricos ou da experiência".

Relacionar os saberes científicos com os saberes empíricos é uma das responsabilidades do curso de especialização em Ciências Ambientais e Desenvolvimento da Amazônia, uma vez que muitos saberes acadêmicos desse curso nasceram do seio dos povos tradicionais através dos saberes da experiência.

Apenas 01 aluno afirmou que a experiência da aula de campo não trouxe nenhum novo aprendizado, como justificativa para sua resposta disse que [...] foram poucas visitas, por ter aulas nos sábados os motoristas se recusam a trabalhar (Aluno 20).

A fala do aluno revela a dificuldade de muitos cursos de especialização que são ofertados nos finais de semana e não dispõem da facilidade de transporte ou de motoristas que muitas vezes trabalham somente durante a semana e não recebem horas extras para trabalhos aos sábados ou domingos.

Com relação a dificuldades ou desconforto durante a aula de campo 28 alunos (96,5%) disseram que não tiveram nenhuma dificuldade e apenas 01 aluno (3,5%) afirmou ter desconforto e atribuiu problemas com relação a higiene pessoal. Da mesma forma, em um trabalho realizado por Seniciato e Cavassan (2004), cerca de 14% dos alunos sentiram-se desconfortáveis durante a aula de campo e alguns atribuíram o desconforto à falta de infraestrutura, como lugar para descansar e banheiros. Mas merece destaque que a grande maioria dos alunos, apesar das limitações de infraestrutura local ou de higiene afirmaram não ter tido nenhum desconforto ou dificuldade durante a aula de campo.

Os alunos que já exercem a docência como profissão, quando perguntados se eles utilizam a metodologia de aula de campo com seus alunos nas escolas em que trabalham 07 afirmaram que já realizaram poucas ou algumas vezes aulas de campo com suas turmas, [...] já fiz essa experiência e deu certo, quando é um trabalho bem articulado produz uma ótima aprendizagem, tem um rendimento até melhor que na sala de aula (Aluno 10).

Os outros docentes, apesar de afirmar já ter realizado essa prática, responderam demonstrando algum tipo de dificuldade [...] trabalho em uma escola que não prioriza as aulas de campo como uma ferramenta metodológica eficaz no processo ensino aprendizagem (Aluno 25). Outros disseram ainda que não há planejamento para as aulas de campo, [...] devido muitas vezes o planejamento das aulas serem uma dificuldade (Aluno 03).

E houve os que destacaram a ausência de recursos como fator impeditivo para a realização da atividade, bem como a falta de apoio da equipe escolar, [...] em virtude da falta de recurso (ônibus) e apoio de alguns colegas (Aluno 15).

De acordo com Viveiro (2006), muitos professores apontam entraves burocráticos e financeiros, como problema presente em boa parte das escolas públicas, além da carência de tempo para preparo e o preconceito de outros educadores para com aqueles que recorrem a atividades dessa natureza, entre outros motivos. Apenas 01 aluno afirmou que nunca realizou aula prática com seus alunos e como justificativa para sua resposta disse que [...] na escola que atuo, ainda não tive abertura para aplicar, assim como estrutura para articular essas aulas (Aluno 27).

Por fim, todos os alunos avaliaram a aula de campo que participaram e 17 destes (58,6%) classificaram-na como excelente, 11 alunos (37,9%) disseram ser boa e apenas 01 aluno (3,5%) afirmou que para ele a aula de campo foi ruim. Na soma das avaliações excelente e boa, verificamos que quase todos os alunos (96,5%) que participaram da pesquisa compreendem que não apenas são impactados positivamente pela aula de campo, mas que a disciplina que ofertou essa metodologia ganhou novo significado e se expandiu em riqueza de conhecimento e sentido.

As aulas de campo na pós-graduação e demais espaços educativos possibilitam a aproximação do aluno com o espaço em que vive e garantem uma compreensão do sujeito como parte do meio e dependente vital dos recursos naturais.

Considerações finais

Ao final deste trabalho, é possível apontar que os alunos se posicionaram de forma bastante positiva ao tema proposto, mostrando interesse em aprender em outros ambientes fora da sala de aula, apesar de várias dificuldades e imprevistos que possam ocorrer para se desenvolver essas atividades. Quando os entrevistados afirmaram que a aula de campo é considerada por eles como importante, que lhes trazem novos aprendizados e que enriquece as disciplinas do currículo do curso de pós-graduação em Ciências Ambientais, eles estão dando um parecer favorável para que se amplie as discussões acerca dessa metodologia.

Devemos levar em consideração que nossa região, com grande potencial de biodiversidade, possui condições extremamente favoráveis para desenvolver uma educação mais reflexiva e ao mesmo tempo significativa, por meio de aulas de campo, aproveitando o contato dos sujeitos com o ambiente, e assim transformando esta, como sendo ferramenta valiosa de ensino e, sobretudo, da troca de experiências com comunidades tradicionais.

A metodologia de utilização de aulas de campo se mostrou eficaz na pós-graduação lato sensu, de acordo com os alunos. Mas não somente para esse nível de ensino pode ser utilizado, podendo ser explorado por alunos do nível superior, da educação básica fundamental e ensino médio e até mesmo com a educação infantil, já que relacionar o conhecimento teórico ao prático, a experiência vivencial, torna o processo de ensino-aprendizagem muito mais significativo e rico de saberes.

Portanto, o uso dessa metodologia por meio de atividades extraclasses, tem um potencial motivador e proporciona uma aprendizagem mais significativa aos sujeitos, o que pode lhes tornar capazes de assumir a luta pela biodiversidade local e preservação do ambiente, de forma crítica, reflexiva e consciente de seu papel como protagonistas pela manutenção da existência sustentável no planeta.



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