VARIAÇÕES SAZONAIS DE PROPRIEDADES ÓPTICAS DE AEROSSÓIS E IDENTIFICAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS EM JI-PARANÁ BASEADO EM DADOS AERONET



José Alberto do Nascimento Pinho1, Rafael da Silva Palácios2, José de Souza Nogueira2, Jorge Almeida de Menezes3

1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, Instituto de Educação Agricultura e Ambiente – IEAA, UFAM.

2Docente do Programa de Pós-Graduação em Física Ambiental, Instituto de Física, UFMT.

3Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, Instituto de Educação Agricultura e Ambiente – IEAA, UFAM.





RESUMO



O aerossol atmosférico é constituído por partículas sólidas e líquidas em suspensão na atmosfera, eles podem ser de origem primária, aquele emitido diretamente por uma fonte na forma de partículas sólidas ou líquidas, ou podem ser de origem secundária, onde sua formação se dá através de transformações físico-químicas na atmosfera. Os aerossóis, tanto de origens naturais quanto de processos antropogênicos, existem em todos os lugares do planeta. Os aerossóis influenciam o balanço de radiação da Terra diretamente pelo espalhamento e absorção da radiação solar e indiretamente atuando como núcleos de condensação de nuvens na visibilidade e na saúde da população. Foram utilizadas medidas de Profundidade Óptica de Aerossóis (AOD 440nm) e Expoente Angstrom 𝛼 (440nm­-870nm) obtido através da rede de fotômetros solares da rede AERONET (Aerosol Robotic Network) localizados em Ji-Paraná (RO).O objetivo desse trabalho é analisar os processos de variabilidade sazonal das propriedades ópticas de aerossóis: Profundidade Óptica de Aerossóis (AOD 440nm) e Expoente Angstrom 𝛼(440nm­_870nm) que contribuem na climatologia em região de floresta tropical na região Amazônica. Com a série temporal de 2014 a 2016 classificou-se as propriedades desses aerossóis para o sítio de Ji-Paraná. Foram feitas as análises espectrais dos aerossóis onde a média de AOD (440nm) foi de 0,29(±0,30) com média de 𝛼(440nm-870nm) 1,40(±0,30), indicando uma grande variabilidade no sítio de Ji-Paraná. Nesse sítio verificou-se diferentes tipos de aerossóis presentes na estação seca e chuvosa, onde se tem uma maior densidade de aerossóis misturados, aerossóis de queima de biomassa e/ou urbano, com forte influência de fontes locais de aerossóis poluídos, além de poeira em suspensão.

Palavras-chave: Queima de biomassa, Expoente Angstrom, Profundidade óptica, Climatologia, Educação ambiental.



ABSTRACT



SEASONAL VARIATIONS OF OPTICAL PROPERTIES OF AEROSOLS AND IDENTIFICATION OF DIFFERENT TYPES IN JI-PARANÁ BASED ON AERONET DATA



Atmospheric aerosol consists of solid and liquid particles suspended in the atmosphere, they may be of primary origin, those emitted directly by a source in the form of solid or liquid particles, or they may be of secondary origin, where their formation occurs through physico-chemical changes in the atmosphere. Aerosols, both from natural sources and from anthropogenic processes, exist everywhere on the planet. Aerosols influence the Earth's radiation balance directly by scattering and absorbing solar radiation and indirectly acting as nuclei of cloud condensation in the visibility and health of the population. Aerosol Optical Depth measurements (AOD 440nm) and Exponent Angstrom 𝛼 (440nm-870nm) were obtained through the network of AERONET (Aerosol Robotic Network) network photometers located in Ji-Paraná (RO). The objective of this work (AOD 440nm) and Exponent Angstrom 𝛼 (440nm_870nm) that contribute to the climatology in the rainforest region of the Amazon region. With the time series from 2014 to 2016, the properties of these aerosols were classified for the Ji-Paraná site. Aerosol spectral analyzes were performed, where the mean AOD (440nm) was 0.29 (± 0.30) with mean 𝛼 (440nm-870nm) 1.40 (± 0.30), indicating a great variability in site of Ji-Paraná. At this site different types of aerosols were present in the dry and rainy season, with a higher density of mixed aerosols, biomass and / or urban burning aerosols, strongly influenced by local sources of polluted aerosols, as well as dust in suspension.



Keywords: Biomass burning, Angstrom exponent, Optical depth, Climatology, Environmental education.



  1. INTRODUÇÃO



Partículas de aerossol são de especial interesse climático pois elas tanto servem de núcleos de condensação de nuvem como espalham e absorvem radiação solar. Entre outras regiões, a Bacia Amazônica representa uma área de crescente interesse por possuir a maior floresta tropical do planeta e, em uma perspectiva global, é provavelmente a maior emissora contínua de gases biogênicos e partículas de plantas (HARRIS et al. 1990; ANDREAE E CRUTZEN, 1997). A Amazônia tem uma grande variabilidade no ciclo anual de concentração de aerossóis e gases traço (ARTAXO et al, 2005) que afetam o balanço de radiação na atmosfera e na superfície (YU, et al, 2002; ICHOKU et al, 2003; YAMASOE et al, 1998) e, portanto, tem o potencial de alterar direta ou indiretamente a evolução do tempo e do clima locais. A Amazônia está sob intenso processo de atividades humanas, especialmente o desmatamento generalizado pela ocupação agrícola, incêndios antrópicos e o impacto dos aerossóis da queima de biomassa nos processos microfísicos e de nucleação das nuvens. Estas atividades resultam em significativas cargas sazonais de aerossol em vastas extensões da bacia Amazônica que são difundidas e persistem durante a estação seca e, como tal, a Amazônia é considerada uma das principais fontes de emissão de gases e partículas de aerossol para a atmosfera. Isto sugere que os efeitos da queima de biomassa podem extrapolar a escala local ou regional e ser determinante no padrão de redistribuição de energia planetária dos trópicos para médias e altas latitudes através de processos de transporte convectivo.

O aerossol atmosférico refere-se a um conjunto de partículas sólidas e/ou líquidas em suspensão na atmosfera, de diferentes tamanhos, formas, composições químicas e propriedades físicas (SEINFELD; PANDIS, 2016). Essas partículas são introduzidas na atmosfera através de processos naturais ou atividades antropogênicas. As principais fontes naturais são poeiras do solo, erupções vulcânicas, sal marinho, material biogênico, incêndios naturais e outros (SEINFELD; PANDIS, 2006). Nas fontes antrópicas pela queima de biomassa, emissões industriais, agricultura e queima de combustível fóssil. As concentrações e distribuições de aerossóis na atmosfera são altamente variáveis no espaço e no tempo. Dependem de fatores como localização, estações, condições atmosféricas, ciclos anuais e a presença de fontes locais (BALARABE, 2016).

A NASA (National Aeronautics and Space Administration) gerencia uma rede de fotômetros solares distribuídos na Amazônia, a AERONET (Aerosol Robotic Network), esta rede fornece dados contínuos de profundidade ótica de aerossóis (AOD) e expoente de Angstrom (𝛼) (HOLBEN et al., 1998). Assim, o monitoramento de AOD em diferentes comprimentos de onda torna-se útil, pois deriva informação adicional na distribuição de tamanho de partículas, bem como variação com o tempo, que por sua vez pode colaborar na identificação da variação da intensidade de diferentes partículas emitidas para a atmosfera. As análises de Profundidade Ótica de Aerossóis (AOD) com os valores do coeficiente de Angstrom(𝛼) possibilitam uma caracterização das propriedades óticas da atmosfera local e as influências locais e globais nas alterações climáticas. Nesse sentido o objetivo desse trabalho é analisar os processos de variabilidade sazonal das propriedades ópticas de aerossóis: Profundidade Óptica de Aerossóis (AOD 440nm) e Expoente Angstrom 𝛼 (440nm­_870nm) através de dados obtidos pela rede AERONET (HOLBEN et al., 2001), que contribuem na climatologia em região de transição entre floresta e pastagem na região Amazônica com o intuito de auxiliar na sensibilização da população e contribuir nas práticas de educação ambiental para combate as queimadas nessas áreas.



  1. MATERIAL E MÉTODOS

Os dados apresentados nesse estudo foram retirados de uma estação da rede AERONET situada em uma região de transição entre floresta e pastagem localizada em Ji-Paraná em Rondônia (10.93°S,61.85°W) conforme a figura1. As informações detalhadas sobre a instrumentação, protocolos de medidas, precisão fotométrica, calibração e métodos de processamento podem ser obtidos na obra de Holben et al. (1998). Nesse estudo foram utilizados os dados de nível 2.0, tanto para as médias diárias quanto para as mensais para os anos de 2014 a 2016. Foram analisados a AOD de 440nm e o Expoente de Angstrom (𝛼) para o intervalo de 440nm a 870nm.  O conjunto de dados foi dividido em dois grupos com base nas variações sazonais usadas em algumas literaturas (BALARABE; ABDULLAH; NAWAWI, 2015; OGUNJOBI; OLULEYE; AJAYI, 2012) da seguinte forma: estação seca e estação chuvosa. 

Figura 1: Representação da área de estudo.



As propriedades ópticas são identificadas quantitativamente de acordo com gráficos de dispersão do expoente de angstrom 𝛼 (440nm-870nm) contra AOD (440nm) e foram utilizados para classificação com base nos critérios propostos por (TOLEDANO et al., 2007). Este critério foi aplicado para determinar os tipos de aerossóis em diferentes meses ao longo do ano. O traçado sazonal de frequência de trajetória integrada híbrida de Lagrangeia única (HYSLIT_4) modelo (DRAXLER; ROLPH, 2003) foi usado para descrever as fontes de aerossol devido à sua adequação para simular o movimento de massa de ar.

  1. RESULTADOS E DISCUSSÃO

    1. Análise temporal da profundidade óptica AOD (440nm)), Expoente de Angstrom (𝛼 (440nm-870nm)) e Água Precipitável (AP)

A figura 2 mostra a variação da série temporal de AOD 440nm para o sítio de Ji-Paraná, verificou-se que nesse sítio a principal característica de AOD 440nm é sua alta variabilidade. Nota-se uma série de episódios com AOD (440nm) no intervalo de 0.05- 0.25 ocorre todos os anos nesses sítios.

Figura 2: Profundidade Óptica de Aerossol AOD (440nm) para o sítio de Ji-Paraná de 2014 a 2016.

A profundidade óptica na região de transição entre floresta-pastagem, mostra uma disposição decrescente para a série de dados analisadas para o sítio de Ji-Paraná (RO). As mudanças de AOD (440nm) para o sítio de Ji-Paraná (RO) observadas na série temporal dos dados considerados estão se reduzindo de 2014 a 2016. Para o sítio de Ji-Paraná (RO) a profundidade óptica varia de 0.05 a 0.25 para o ano de 2014, de 0.05 a 0.18 para o ano de 2015 e em 2016 quase não teve mudanças. Na figura 3 é apresentado o histograma de frequência de 𝛼 (440nm-870nm) para o sítio de Ji-Paraná (RO). Observa-se que para o sítio de Ji-Paraná (RO) o modo de frequência especifico está centralizado em torno de 1.3.

Figura 3: Histograma de frequência para 𝛼 (440nm-870nm) para o sítio de Ji-Paraná (RO).

Conforme a tabela 1, que apresenta a estatística descritiva para a série de dados do sítio de Ji-Paraná (RO), a média de AOD (440nm) é 0,291. O desvio padrão de AOD (440nm) é 0,301, representando variações típicas para essas regiões, com máximo de 2,196. A média de AOD (440nm) vai diminuindo para comprimentos de onda maiores, tendo média de AOD (1020nm) 0,081. Observa-se a média de 1,404 para 𝛼 (440nm-870nm), com desvio padrão de 0,301, apresentando máximo de 2,133. Os valores máximos de AOD podem indicar alta variabilidade de aerossóis.



Tabela 1: Estatística de AOD (nm) e Expoente Angstrom (nm) em todos os comprimentos de onda para série temporal de Ji-Paraná (RO).


AOD (1020)

AOD (870)

AOD (675)

AOD (440)

𝛼 (440-870)

Média

0,081

0,103

0,146

0,291

1,404

DP*

0,075

0,095

0,149

0,301

0,301

Máximo

0,955

1,072

1,339

2,196

2,133

Mínimo

0,004

0,013

0,013

0,029

0,288

Mediana

0,049

0,059

0,074

0,139

1,396

*DP-Desvio Padrão



A figura 4 apresenta a evolução temporal para o período de 2014 a 2016 do Expoente de Angstrom 𝛼(440nm-870nm) para o sítio de Ji-Paraná. Para o sítio de Ji-Paraná observa-se uma variabilidade nos extremos de 0,3 a 1,7 ao longo da série. Em Ji-Paraná os eventos de AOD (440nm) vão diminuindo ao longo da série e 𝛼(440-870nm) se mantendo quase constante.

Figura 4: Série Temporal do Expoente Angstrom 𝛼 para Ji-Paraná de 2014-2016.

A figura 5 mostra a variabilidade da média diária da AOD (440nm) no sítio de Ji-Paraná, apresentando as diferenças climatológicas sobre este sítio.

Figura 5: Média diária de AOD (440nm) para Ji-Paraná para a série de dados de 2014 a 2016.



O Expoente de Angstrom é um parâmetro que nos possibilita ter uma noção a respeito do tamanho das partículas em suspensão na atmosfera, ele representa a dependência espectral da interação da radiação solar com as partículas de aerossol. Variações no expoente de angstrom indicam variações no tamanho das partículas, isto é, valores menores indicam que as partículas têm tamanho maior e vice-versa.

A figura 6 ilustra o Expoente de Angstrom (𝛼) (baseadas em dois comprimentos de onda, ou seja, 440nm e 870nm) para o sítio de Ji-Paraná. A evolução das médias diárias de (𝛼) para o período de 2014 a 2016 tem uma variabilidade muito elevada, com valores aproximados de 0 a 2 ao longo dos anos.

Figura 6: Média diária de Expoente Angstrom (440nm-870nm) para Ji-Paraná para a série de dados de 2014 a 2016.



Os valores de AOD medidos no Brasil estão entre os mais elevados de toda a rede da AERONET, operada pela NASA (HOLBEN et al., 1998; PROCOPIO et al., 2003; 2004). Na figura 7 observa-se máximos de AOD (440nm) durante a estação seca, sendo que para o sítio de Ji-Paraná os maiores valores se concentram nos meses de setembro e outubro, com diminuição na estação chuvosa de dezembro a maio.

Figura 7: Média mensal de AOD (440nm) para Ji-Paraná no período de 2014-2016.



A análise das médias mensais de 𝛼(440nm-870nm) foram feitas para verificar a variabilidade sazonal para o sítio de Ji-Paraná, embora que os valores médios são resultados de diferentes condições atmosféricas, há muitas informações contidas neles. Na figura 8 são apresentadas a variabilidade sazonal para esse sítio. Um certo comportamento sazonal é previsto, baixos 𝛼 para os meses da estação chuvosa para esse sítio em todos os anos. No sítio de Ji-Paraná as médias mensais também são crescentes ao longo dos anos, onde os menores valores foram encontrados no mês de fevereiro e os maiores valores no mês de setembro. Há uma predominância de aerossóis de moda fina em quase todos os meses ao longo dos anos, exceto o mês de fevereiro onde predomina aerossóis de moda grossa.

Figura 8: Média mensal de 𝛼 (440nm-870nm) para Ji-Paraná no período de 2014-2016.



Para o sítio de Ji-Paraná a variação das propriedades de aerossóis ano a ano é vista na tabela 2, os menores valores observados de AOD (440nm) ocorreram em 2016 quando a precipitação teve máximos superiores aos anos de 2014 e 2015. Os maiores valores de AOD (440nm) foram observados no ano de 2015 e os menores valores foram observados em 2016 com respectivos valores de água precipitável de 3,675cm e 4,612cm, sendo que essa redução observada nos valores de AOD(440nm) podem estar associadas a processo de deposição úmida neste sítio. Há uma concentração de partículas de moda fina presente na atmosfera desse sítio com concentração de partículas moda grossa (baixos valores de 𝛼 (440nm_870nm) encontrada no ano de 2014, tendo o mínimo de AOD (440nm) observado em 2016. Esse sítio tem sido dominado por aerossóis oriundos de queima de biomassa e/ou urbano, com presença de mistura desses particulados.

Tabela 2: Média anual e desvio padrão (DP) de AOD (440nm), 𝛼(440nm_870nm) e precipitação (AP) para Ji-Paraná.

Ano

AOD (440)

DP

𝛼 (440-870)

DP

AP (cm)

DP

2014

0,292

0,276

1,443

0,285

3,638

0,713

2015

0,321

0,339

1,395

0,309

3,675

0,807

2016

0,113

0,049

1,229

0,262

4,612

0,505



3.2 Climatologia e evolução temporal do expoente angstrom 𝛼 (440nm-870nm)

O gráfico de dispersão AOD versus 𝛼 é uma ferramenta comum para classificar os tipos de aerossóis. Enquanto o AOD (440nm) dá informações sobre a quantidade de aerossóis, 𝛼(440nm-870nm) está relacionado com o tamanho do aerossol (tipo), a análise conjunta de ambos os parâmetros torna possível uma melhor interpretação dos dados. Os valores típicos de AOD(440nm) e 𝛼(440nm-870nm) são reportados na literatura (D’ALMEIDA; KOEPKE; SHETTLE, 1991; HESS; KOEPKE; SCHULT, 1998; ECK et al., 1999; HOLBEN et al., 2001; DUBOVIK et al., 2002; SMIRNOV et al., 2002; VERGAZ et al., 2005), é possível identificar os tipos de aerossóis nesses ambientes.

A análise espectral de aerossóis permite identificar os principais tipos de aerossóis e avaliar a frequência de cada tipo de aerossol presente em cada sítio. Para isso foram preparados gráficos de dispersão de AOD (440nm) em relação a 𝛼 (440nm-870nm, pra estação seca e chuvosa, na qual é apresentado na figura 9 para o sítio de Ji-Paraná.

Figura 9: AOD versus 𝛼 para estação seca e chuvosa para sítio de Ji-Paraná.



Quando AOD (440nm) é baixo temos valores de 𝛼(440nm-870nm) sobre todo alcance, mas concentram-se principalmente em uma região em torno de 0.1 – 2.2. Para o sítio de Ji-Paraná, conforme figura 9, tem -se baixos valores de AOD (440nm) para estação chuvosa com crescimento progressivo dos valores de 𝛼 (440nm-870nm). Os maiores eventos observados para a estação chuvosa nesse sítio de AOD (440nm) concentram-se em torno de 0.1-0.4 com 𝛼 (440nm-870nm) entre 0.3-1.7. Para a estação chuvosa foram observados máximos de AOD (440nm) de 0.1 associados com 𝛼 = 1.75. Na estação seca tem-se altos valores de AOD (440nm) associados com crescimento progressivo de valores de 𝛼 (440nm-870nm). Os maiores eventos observados na estação seca indicam altos valores de AOD (440nm) entre 0.1-2.1, sendo que a maior concentração de dados está entre valores de AOD (440nm) que variam de 0.6-1.8 com 𝛼 (440nm-870nm) entre 0.5-2.1.



3.3 Classificação de aerossol: AOD (440nm) versus 𝛼 (440nm-870nm)



Os valores de AOD (440nm) e de 𝛼 (440nm-870nm) nos gráficos de dispersão podem ser interpretados em conjunto para identificar os tipos de aerossóis e suas frequências em um determinado local quantitativamente. Estes, portanto, tornam importantes os estudos regionais, porque o padrão muito diferente em AOD (440nm) contra dispersão 𝛼 (440nm-870nm) são observados por diferentes autores de diferentes regiões do mundo (TAN et al., 2015; SALINAS; CHEW; LIEW, 2009; KASKAOUTIS et al., 2007; PACE et al., 2006; SMIRNOV et al., 2002; SMIRNOV et al., 2003). Em muitas literaturas, diferentes tipos de aerossóis foram identificados como: aerossol de poeira, aerossol marítimo, aerossol urbano, industrial e continental, queima de biomassa e aerossol misturado (KASKAOUTIS et al., 2008).

A análise do espectro de AOD (440nm) versus 𝛼 (440nm-870nm) da figura 10 permite a identificação dos principais tipos de aerossóis presentes no sítio de Ji-Paraná.

Figura 10: Gráfico AOD (440nm) versus 𝛼 440nm-870nm) para Ji-Paraná.



O sítio de Ji-Paraná indica que o maior número de medidas está concentrado na região de AOD(440nm) entre 0.1 e 1.5 e 𝛼 entre 0.6 e 2.0. O episódio mais importante para o sítio de Ji-Paraná é observado nos meses de agosto a outubro, com um máximo de AOD(440nm) aproximadamente de 1.8 e 𝛼 =2.1 associado. Assim, para o sítio de Ji-Paraná, os valores de 𝛼 (440nm-870nm) superiores a 1.5 correspondem a aerossóis oriundos de queima de biomassa e/ou aerossóis urbanos e/ou de áreas industriais, sendo que tais eventos são observados para a estação seca no período compreendido entre os meses de agosto a novembro. Os valores de 𝛼 (440nm-870nm) compreendidos entre 0.5 e 1.5 podem estar relacionados como mistura de aerossóis e para valores de AOD (440nm) superiores a 0.5, sendo observados durante a estação seca. Para a estação chuvosa, observa-se valores de 𝛼 (440nm-870nm) inferiores a 0.5 com AOD(440nm) (<0.2) que podem ser caracterizados como aerossóis oriundos de poeira em suspensão.

Para os valores observados na estação seca de 𝛼(440nm-870nm) superiores a 1.5 e AOD (440nm) (<1.2), tem-se aerossóis oriundos de queima de biomassa e/ou aerossóis urbanos e/ou áreas industriais, isto pode ocorrer devido Ji-Paraná está na região do arco do desflorestamento e receber fortes cargas de aerossóis devidos as queimadas. Também é possível observar pelas cores na figura 10 que os valores mais altos de AOD (440nm) no eixo horizontal, a maioria sempre ocorre na estação seca. No período de janeiro a junho os valores de AOD (440nm) estão sempre abaixo de 0.3.



3.4 Análise das trajetórias das massas de ar através do modelo Hysplit para o sítio de Ji-Paraná

Foram feitas as análises das trajetórias das massas de ar usando o modelo de transporte de parcelas de ar Hysplit (NOAA, 2018) para verificarmos a origem espacial das altas concentrações de partículas se solo.

Para o sítio de Ji-Paraná foram feitas as análises das massas de ar para a estação chuvosa no mês de fevereiro de 2014 e 2015 e estão representadas na figura 11. Observa-se que as retro trajetórias das massas de ar são provenientes de regiões da América do Norte, do Oceano Atlântico trazendo aerossóis marinhos e do deserto do Saara transportando poeira para a região.

Figura 11: Análise de retro trajetórias de massas de ar utilizando o modelo Hysplit

para o mês de fevereiro de 2014 e 2015 para o sítio de Ji-Paraná.



Para o mês de agosto para o sítio de Ji-Paraná na estação seca as retro trajetórias das massas de ar são mostradas na figura 12. No mês de agosto nota-se que as massas de ar são provenientes de outras regiões da América do Sul, de outras regiões do Brasil e do Oceano Atlântico. Fica claro que só tem eventos de poeira do deserto do Saara na estação chuvosa para o sítio de Ji-Paraná.

Figura 12: Análise de retro trajetórias de massas de ar utilizando o modelo Hysplit para o mês de agosto de 2014 e 2015 para o sítio de Ji-Paraná.



4. CONCLUSÃO



O sítio de Ji-Paraná que está na região do arco do desflorestamento, uma área de transição entre floresta e pastagem, bastante sujeita as ações antropogênicas como práticas agropecuárias de queimadas. Este estudo mostrou que variações sazonais nesse sítio tem como resultado diferentes tipos de aerossóis, concentrações e características, no sítio de Ji-Paraná a média de AOD (440nm) foi de 0,29(±0,30) com média de 𝛼 (440nm-870nm) 1,40(±0,30), indicando uma alta variabilidade

As análises dos gráficos de dispersão AOD versus 𝛼 mostrou uma vasta gama de diferentes tipos de aerossóis, com uma concentração de dados de 𝛼 (440nm-870nm) compreendidos entre 0,5 e 1,5. Com o aumento de AOD (440nm) tem-se valores crescentes de 𝛼 (440nm-870nm). Em ambos os sítios se identificou uma maior densidade de dados relacionados a mistura de aerossóis e aerossóis de queima de biomassa e/ou urbano. No sítio de Ji-Paraná os maiores valores de AOD (440nm) se concentram na estação seca nos meses de setembro e outubro, com diminuição na estação chuvosa de dezembro a maio. As médias mensais de 𝛼 (440nm-870nm) é crescente, onde o menor valor registrado foi em fevereiro na estação chuvosa e o maior valor registrado foi no mês de setembro na estação seca. É muito importante o monitoramento contínuo da concentração de partículas de aerossóis e sua composição para estudos dos impactos climáticos na Amazônia.

As análises das trajetórias de massas de ar realizadas pelo modelo HYSPLIT mostram claramente o transporte de poeira do deserto do Saara para o sítio de Ji-Paraná na estação chuvosa, além de aerossóis provenientes do Oceano Atlântico e de Outras regiões do brasil e da América do Norte. No sítio de Ji-Paraná mostra claramente o transporte de aerossóis provenientes do Oceano Atlântico, de outras regiões do Brasil e de outros países da América do Sul.

Grande parte da biodiversidade brasileira está na Amazônia, logo é importante conhecer e avaliar os impactos causados pelas queimadas visto que são amplamente utilizadas pelos produtores da região. Todos os anos grandes áreas de vegetação nativa na Amazônia são perdidos para os incêndios florestais. Mesmo tendo consciência do grande problema que o fogo pode causar, a extinção dessa ferramenta agrícola é muito complicada, pois poucas são as alternativas acessíveis aos pequenos e isolados produtores. Logo, o problema do fogo na Amazônia vai além da fiscalização, pois é necessário o desenvolvimento de novas técnicas que sejam viáveis aos pequenos produtores da região.



5. AGRADECIMENTOS



Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais do Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente -IEAA da Universidade Federal do Amazonas - UFAM e ao grupo de Estudos do Instituto de Física da USP (em especial ao professor Paulo Artaxo) pela utilização dos dados da rede AERONET.





5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



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