A EVIDENCIAÇÃO DAS INFORMAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS NOS RELATÓRIOS CONTÁBEIS: UM ESTUDO NAS EMPRESAS DE PAPEL E CELULOSE LISTADAS NA B3


Leopoldo Pedro Guimarães Filho1

Milla Lúcia Ferreira Guimarães2

Geraldo Milioli3

Vilson Menegon Bristot4

Gabriela de Jesus Bortolatto5



1 Doutor em Ciências Ambientais. Professor da Universidade do Extremo Sul Catarinense. E-mail: lpg@unesc.net

2 Doutoranda em Ciências Ambientais. Professora da Universidade do Extremo Sul Catarinense. E-mail: mlg@unesc.net

3 Doutorado em Engenharia de Produção. Professor da Universidade do Extremo Sul Catarinense. E-mail: gmi@unesc.net

4 Doutorado em Engenharia de Minas. Professor da Universidade do Extremo Sul Catarinense. Email: vilson.bristot@unesc.net

5 Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade do Extremo Sul Catarinense. Email: gabibortolatto@hotmail.com

Resumo:

O objetivo geral deste artigo consiste em identificar a evidenciação das informações socioambientais pelas empresas de papel e celulose listadas na B3. A metodologia utilizada para o estudo foi qualitativa, descritiva e documental, com base na norma NBC T 15 que apresenta procedimentos para evidenciação de informações de natureza social e ambiental. Foi elaborado um Check List com as informações descritas na norma com intuito de observar o modo de evidenciação dessas empresas para suas atividades socioambientais. Conclui-se que falta padronização entre as empresas para que as informações de cunho socioambiental possam ser compreendidas de maneira mais clara por todo o público interessado.

Palavras-chave: Contabilidade Ambiental; Evidenciação; Relatório de Sustentabilidade; B3.



Abstract:

The general objective of this article is to identify the disclosure of social and environmental information by the pulp and paper companies listed in B3. The methodology used for the study was qualitative, descriptive and documentary, based on the NBC T 15 standard that presents procedures for the disclosure of social and environmental information. A Check List was prepared with the information described in the standard in order to observe the way of disclosure of these companies for their social and environmental activities. It is concluded that there is a lack of standardization among companies so that all the interested public can understand information of a social and environmental nature more clearly.

Key words: Environmental Accounting; Disclosure; Sustainability report; B3



INTRODUÇÃO

A Contabilidade Ambiental trata de informações que objetivam medir os resultados das empresas em relação ao meio em que vive, com a finalidade de demonstrar aos diversos públicos a participação e a responsabilidade social da entidade. A Contabilidade é a ciência que estuda as variações quali-quantitativas ocorridas no patrimônio das entidades, seja ela física ou jurídica apresentando informações aos stakeholders, por meio de suas demonstrações que evidenciam sua real situação financeira e econômica. A Contabilidade Ambiental, no entanto, vem também ao encontro desta tarefa na medida em que demonstra como as empresas estão interagindo com a sustentabilidade econômica, social e ambiental e qual o tratamento dado a estas questões em seu processo produtivo.

As informações de cunho socioambiental são demonstradas, especialmente, por demonstrações contábeis como o Balanço Social (BS) e a Demonstração do Valor Adicionado (DVA). O BS é um demonstrativo publicado pelas empresas contemplando projetos e ações sociais podendo ser útil no planejamento estratégico e na multiplicação do exercício da responsabilidade social corporativa. A DVA por sua vez, demonstra o valor da riqueza gerada pela empresa e a sua distribuição aos stakeholders.

As empresas que possuem maior risco de poluição ou degeneração da natureza são as que passam por fiscalização ambiental mais rigorosa, porém quando a mesma evidencia as informações ambientais de forma clara, correta e transparente, a entidade demonstra segurança e rigor nos seus processos produtivos diante das fiscalizações. As empresas do segmento de Papel e Celulose possuem processos altamente poluentes sendo classificadas pelos órgãos fiscalizadores como uma das principais responsáveis pelo esgotamento de recursos naturais do planeta, como por exemplo, a madeira. Por este motivo, estas empresas sentem a necessidade de tornar seus processos menos agressivos ao meio ambiente de modo a minimizar os impactos além de demonstrar para a sociedade as atitudes tomadas para reverter ou mitigar os efeitos negativos provocados por sua atividade.

O objetivo geral deste artigo consiste em identificar como se dá a evidenciação das informações socioambientais pelas empresas de papel e celulose listadas na B3. Para tanto tem-se como objetivos específicos: i) Identificar quais são as empresas de papel e celulose listadas pela B3, no Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2; ii) Verificar os relatórios da contabilidade de cunho socioambiental das empresas objeto de estudo, iii) Analisar a prática das informações socioambientais das empresas estudadas, considerando os exercícios o ano de 2016 e as regras estabelecidas pela Norma Brasileira de Contabilidade Técnica nº 15 (NBC T 15). A escolha da temática se deu devido a cobrança da sociedade pela transparência das ações empresariais que busca a qualidade do serviço ou produto alinhado ao comprometimento com questões socioambientais e da necessidade das empresas em divulgar suas práticas de responsabilidade social. O estudo justifica-se para verificar o modo como as entidades vêm se adaptando com as demonstrações socioambientais, pois diante da degradação ambiental, faz-se necessário que as empresas tenham conscientização do dever de incorporar não somente a obtenção de lucros, mas também a responsabilidade de preservação.

Após esta introdução apresenta-se o embasamento da pesquisa por meio de revisão da literatura com estudos teóricos e empíricos acerca da Contabilidade Ambiental. A ênfase é na demonstração dos relatórios socioambientais nas empresas de papel e celulose listadas pela B3. Em seguida, apresentam-se os procedimentos metodológicos para posteriormente, demonstrar os resultados dos estudos e as considerações finais.

2 CONTABILIDADE AMBIENTAL

Há algum tempo, o tema Desenvolvimento Sustentável vem ocupando pautas de discussões sobre os rumos do planeta em relação ao meio ambiente, devido sua destruição e uso indiscriminado de seus recursos naturais não renováveis. Para que fosse possível acompanhar esse convívio, seja na forma de nação ou entidade, designou-se uma área da Contabilidade denominada Contabilidade Ambiental (PAIVA, 2003).

A degradação excessiva, bem como a grande escala de recursos naturais, tem chamado a atenção de diversos públicos despertando a conscientização gerando assim, necessidade de uma área nas organizações capaz de apresentar resultados adequados de caráter socioambiental.

Ferreira (2006) ressalta que, com a necessidade de demonstrar informações de natureza socioambiental desenvolveu-se a Contabilidade Ambiental. Frisando que refere-se a um conjunto de informações que relatam economicamente as ações que modificam o patrimônio de uma entidade. A Contabilidade Ambiental não deve ser vista como uma nova ciência, mas sim, como uma nova especialização dentro das Ciências Contábeis que tem por objetivo apresentar informações do desempenho da empresa relacionado com a proteção, preservação e recuperação ambiental. Desse modo, as empresas têm utilizado a Contabilidade Ambiental para gestão de suas atividades a fim de proteger o recurso natural utilizado e reduzir os impactos decorrentes de suas atividades, que devem ser evidenciados na Contabilidade, dando transparência a entidade e a sociedade.

O crescimento da consciência ecológica e sustentável na sociedade, no governo e nas empresas, fez com que as organizações se preocupassem para além do seu processo produtivo eficiente, passando a introduzir a Gestão Ambiental como instrumento em sua direção. A Gestão Ambiental inclui na estrutura organizacional atividades a fim de manter na entidade uma política ambiental, tais como: práticas, procedimentos, processos, recursos que desenvolvam e analisem criticamente os efeitos negativos gerados ao meio ambiente por suas atividades mobilizando a organização, interna e externamente, para obter a qualidade ambiental desejada. (TINOCO; KRAEMER, 2011).

Ferreira (2006) explica que uma decisão socioambiental envolve variáveis complexas, que muitas vezes podem ter barreiras de aceitação, pois os executivos das empresas dificilmente escolhem alternativas que menos danifiquem o meio ambiente se essa escolha torna o resultado econômico menor. O grande desafio do desenvolvimento sustentável nas organizações envolve muitos obstáculos a serem superados, pois muitas vezes a preservação ao meio ambiente significa não produzir certos produtos ou contar com custos mais altos para manter um processo produtivo de forma que privilegie menor impacto ambiental. Outro desafio a ser superado está nas exigências legais impondo um controle de maior rigidez sobre os níveis de poluição.

A Norma Brasileira de Contabilidade Técnica nº 15 (NBC T 15) estabelece procedimentos para evidenciação de informações de natureza social e ambiental, com o objetivo de demonstrar à sociedade a participação e a responsabilidade social da entidade. Visando formar os procedimentos para evidenciação das informações de natureza social e ambiental, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), através da Resolução nº 1003/2004, criou a NBC T 15, que estabelece a demonstração dessas informações, objetivando evidenciar as ações e preocupações referentes à responsabilidade social da entidade.

Nesta norma, entendem-se como informações de natureza social e ambiental: a geração e a distribuição de riqueza; os recursos humanos; a interação da entidade com o ambiente externo; a interação com o meio ambiente. Com intuito de assegurar que empreendimentos passíveis de causar danos ambientais sejam analisados conforme os prováveis impactos no meio ambiente há alguns estudos exigidos nas etapas de licenciamento.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) prescreve em sua Resolução nº 1/1986 o conceito de impacto ambiental como sendo “qualquer alteração das propriedades: físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por atividades humanas, afetando: a saúde, a segurança e o bem-estar; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais” (BRASIL, 1986).

2.1 EVIDENCIAÇÃO CONTÁBIL

Tinoco e Kraemer (2011) afirmam que o principal objetivo da evidenciação é divulgar informações de desempenho econômico, financeiro, social e ambiental das entidades aos parceiros sociais, os stakeholders, considerando que os demonstrativos financeiros e outras formas de evidenciação não devem ser enganosas.

Tanto a divulgação quanto às informações de questões ambientais tem sido evidenciada por meio do Balanço Social, anexo as demais demonstrações contábeis, como também por meio de inserção nos relatórios de administração a respeito da preservação do meio ambiente, além da exposição em relatórios ambientais ou socioambientais (TINOCO; KRAEMER, 2011).

A Figura 1 demonstra, na visão de Carvalho (2008) a relação de agentes que têm levado empresas a evidenciarem na Contabilidade informações ambientais.

Figura 1 - Público da Contabilidade ambiental

Fonte: Carvalho (2008, p. 114).

De acordo com Carvalho (2008) a decisão de evidenciar, mensurar e registrar os fatos contábeis ambientais não decorre apenas da entidade, mas também de informações demonstradas pelas concorrentes conforme apresentado na Figura 1. Ademais evidenciar informações socioambientais é valorizar a relação com o meio ambiente, tornando a imagem empresarial diferencial perante a opinião pública, atraindo novos consumidores e conservando os atuais. (PAIVA, 2003).

Conforme observa-se na Figura 1 são diversos os públicos que levam as entidades a evidenciarem suas informações, visto que torna a empresa mais confiável por parte dos interessados, sendo assim evidenciar as informações socioambientais tende a beneficiar as empresas.

As organizações por exigência da legislação devem divulgar certas informações a respeito de suas atividades financeiras, sociais ou econômicas, denominadas evidenciações obrigatórias, que dependendo da empresa são demonstradas por meio do Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado, Demonstração do Fluxo de Caixa, Demonstração do Valor adicionado, Notas Explicativas e Parecer do Auditor Independente.

A Lei nº 6.404/1976 estabelece que empresas listadas na B3, por ser Sociedade Anônima (SA) devem, ao fim de cada exercício, informar suas movimentações econômicas, financeiras e sociais, expondo com clareza a situação patrimonial e as mutações ocorridas no exercício. Iudícibus (2007) afirma que, as SA por terem seu capital aberto e negociar suas ações na bolsa de valores devem obrigatoriamente publicar suas demonstrações em dois jornais, no diário da união e em um jornal de grande circulação regional.

As evidenciações não obrigatórias são aquelas conhecidas como voluntárias possuem a função de aperfeiçoar e complementar as exigidas por lei, prestando contas a sociedade por meio das ações desenvolvidas com relação às questões ambientais e sociais. Para Oro et al. (2010) as evidenciações voluntárias apresentam informações de interesse social e ambiental e outras informações complementares que são publicadas mesmo sem cunho obrigatório.

Como exemplos de demonstrações não obrigatórias têm o Balanço Social (BS). O BS é o documento pelo qual o grau de responsabilidade social é evidenciada, prestando contas de modo mais transparente possível, aos mais diferenciados usuários. Freire e Rebouças (2001) afirmam que essa forma de evidenciação, pode ser considerada uma demonstração técnica gerencial que engloba um conjunto de informações sociais da empresa, permitindo que suas ações e programas sociais, como salários e benefícios, associações e sindicatos, impostos e cidadania, sejam visualizados.

Os modelos de Balanço Social utilizados no Brasil são os elaborados pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais (IBASE) que contemplam informações quantitativas e o modelo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, que apresenta dados qualitativos com recomendação de adoção do padrão estabelecido pelas diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI).

2.2 BRASIL, BOLSA, BALCÃO - B3

Fundada em 1890 a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) tornou-se o maior centro de negociação brasileiro. Em 2008, a Bovespa passou por uma nova integração, onde teve seu nome alterado para B3, a partir da junção das operações da Bolsa de Valores de São Paulo e da Bolsa de Mercadorias & Futuros. Em 2017, a B3 passou por uma fusão com a Cetip que é uma empresa integradora do mercado financeiro que oferece serviços de registro, central depositária, negociação e liquidação de ativos e títulos proporcionando liquidez, segurança e transparência para as operações financeiras.

2.3 GOVERNANÇA CORPORATIVA E SEUS NÍVEIS

Governança Corporativa é um conjunto de práticas e regras, pela qual as sociedades são dirigidas, garantindo a confiabilidade de acionistas, administradores e funcionários, proporcionando um benéfico desempenho econômico.

Silva et al. (2007), apresentam a governança corporativa como uma prática que visa minimizar as dificuldades das empresas com tomada de decisão em beneficio das partes com direitos legais, eliminando o oportunismo. Tendo como objetivo principal desse método assegurar aos acionistas a transparência e o bom resultado devido a obediência a legislação.

A origem das boas práticas de governança está pautada em seus princípios que tendem a ser duradouros, mesmo que as práticas sejam modificadas em função do cenário. A autora, baseada no Código das Melhores Práticas de Governança e nas informações do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) ilustra os princípios norteadores das práticas de governança corporativa conforme Figura 2.

Figura 2 – Princípios norteadores das práticas de governança coorporativa

Fonte: Kumm (2016, p. 39)

A Figura 2 apresenta a integração entre governança corporativa e sustentabilidade na medida em que se direciona aos quatro princípios que norteiam essas práticas: prestação de contas, transparência, equidade e responsabilidade.

Criado em 2001, o Novo Mercado (NM) foi planejado devido ao crescimento do mercado de capitais, pois com o aumento de investidores foi necessário que possuíssem uma política de investimento com informações claras e seguras. Para Pinheiro (2012) o NM é um segmento destinado a negociação de ações emitidas por empresas que, voluntariamente adotam regras societárias adicionais, ampliando os direitos dos acionistas e melhorando a qualidade das informações usualmente prestadas pelas companhias.

Após a o NM, foi criado um conjunto de normas para as empresas, administradores e controladores, essas normas levam aos níveis 1 e 2 de governança corporativa.

O nível 1 tem como exigência práticas transparentes e o acesso às informações pelos investidores. Segundo Bovespa (2011) devem ser divulgadas informações adicionais às exigidas em lei, como relatórios financeiros mais completos, informações sobre negociações realizadas por diretores, executivos e acionistas controladores e sobre operações com partes relacionadas, além de terem no mínimo 25% de ações em circulação. É caracterizado como o nível de menor comprometimento com regras de governança corporativa.

As empresas partícipes do nível, além das obrigações do nível 1, devem adotar práticas mais amplas de Governança Corporativa e de direitos adicionais aos acionistas minoritários. As empresas que possuem ações preferenciais em sua estrutura acionária são classificadas no Nível 2. Possuem o direito de manter ações preferenciais, em caso de controle da empresa, sendo assegurado aos detentores de ações preferenciais o direito de todos os acionistas a venda de 80% do preço pago pelas ações ordinárias dos acionistas controlador, nesse nível as ações preferenciais ainda dão direito ao voto em situações críticas, como aprovações de fusões e incorporações da empresa e contratos entre acionista controlador e a companhia (B3, 2016). A Figura 3 apresenta as características das empresas inclusas nos níveis de governanças, demonstrando suas diferentes exigências.

Figura 3 - Características dos níveis de governança corporativa

Fonte: Pinheiro (2012, p. 310).

Conforme observa-se na Figura 3, o nível 1 e 2 foram criados com a finalidade de incentivar as empresas a aderirem ao NM o qual exige práticas de Governança Corporativa mais consistentes e que, por sua vez, oferecem maior credibilidade aos investimentos realizados.

2.4 EMPRESAS DE PAPEL E CELULOSE

O processo produtivo das empresas do segmento de papel e celulose é iniciado fora das indústrias, para sua fabricação é necessário que haja uma área extensa de florestas submetida à plantação de pinus e eucalipto, onde antes havia vegetação nativa.

Após a fase de produção de matéria-prima, de acordo com Osorio (2007), é iniciada a produção do papel e celulose, acontecendo primeiramente o preparo da madeira, passando por descascamento e picagem, sendo levada ao cozimento, lavagem e depuração, posteriormente o processo de branqueamento da celulose, sendo empregado um forte processo químico e grande quantidade de água gerando resíduos chamados de licor negro, que causam grande impacto ao meio ambiente. Finalizando com a produção do papel, extração, secagem, rotulagem, identificação, vendas, até chegar ao consumidor final.

As empresas deste segmento são consideradas de atividade com alto impacto ambiental desde seu processo agrícola, onde a mata nativa é substituída por mata homogênea, até sua fabricação com grande consumo de água e substâncias químicas.

2.5 TRABALHOS CORRELATOS

Realizou-se busca na base de dados Scientific Periodicals Electronic Library (SPELL) consultando pela expressão “papel e celulose", obtendo-se dois artigos que tratam da temática.

A pesquisa realizada por Santos e Klann. (2012) concluiu que o índice de evidenciação dos instrumentos derivativos das notas explicativas ainda é baixo, visto que nem a metade dos requisitos de divulgação das normas internacionais é atendida. Deste modo, considera-se que a evidenciação dos instrumentos derivativos das empresas analisadas é insatisfatória, necessitando ser aprimorada. A melhora na divulgação observada em outros anos ocorreu devido à imposição das normas legais impostas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O autor inferiu que as empresas investigadas não possuem como hábito divulgar informações a respeito dos derivativos de modo voluntário.

Barbosa et al. (2014) apresentou uma reflexão sobre a contabilidade tornar-se uma grande aliada para a evidenciação das práticas sociais e ambientais, através de relatórios e informações complementares. Os autores concluíram que a evidenciação das informações ambientais nas empresas do setor de papel e celulose quanto ao cumprimento dos itens de divulgação das informações de natureza social e ambiental são evidenciadas parcialmente, pois as empresas, em sua grande maioria, demonstram apenas os ativos ambientais, deixando de informar os passivos ambientais.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Quanto a análise dos dados o estudo classifica-se como qualitativo. A pesquisa qualitativa para Gil (1999) propicia o aprofundamento da investigação das questões relacionadas ao fenômeno em estudo e das suas relações, mediante a máxima valorização do contato direto com a situação estudada, buscando perceber o que é comum, a individualidade e os significados múltiplos. Quanto ao objetivo, o estudo caracteriza-se como descritivo. De acordo com Selltiz et al. (1965), a pesquisa descritiva busca descrever um fenômeno ou situação em detalhe, especialmente o que está ocorrendo, permitindo abranger as características de um indivíduo, uma situação, ou um grupo. Quanto os procedimentos utilizados a pesquisa classifica-se como documental. Segundo Lakatos e Marconi (2001), a pesquisa documental é a coleta de dados em fontes primárias, como documentos escritos ou não, pertencentes a arquivos públicos, arquivos particulares de instituições e domicílios, e fontes estatísticas. Neste estudo, utilizam-se os relatórios de sustentabilidade das empresas objetos de estudo a luz da (NBC T 15).

Para esta pesquisa optou-se por estudar as empresas do segmento de papel e celulose que aderiram algum nível de governança corporativa baseado em Silva et al. (2007) visto que empresas que adotam essa prática objetivam minimizar os problemas na tomada de decisão assegurando aos stakeholders transparência, melhorias no exercício das funções das companhias.

Os níveis considerados para o estudo são: Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2. As empresas de papel e celulose aderentes a estas práticas e que atendem os requisitos para o presente estudo são: Fibria Celulose SA aderente ao Novo Mercado, Klabin SA pertencente ao Nível 2 e Suzano Papel e Celulose SA classificada no Nível 1.

Os relatórios contábeis das empresas selecionadas para esta pesquisa foram: Relatório de Sustentabilidade ou Balanço Social, Notas Explicativas referente às atividades empresariais do exercício de 2016. Análise dos dados se deu a luz das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) especificamente a NBC T 15 que trata das informações de natureza social e ambiental. Para tanto as informações de cunho social e ambiental das empresas foram coletadas nos respectivos relatórios de sustentabilidade e relacionadas em planilha eletrônica, documento denominado de Check List, objetivando identificar a evidenciação das informações dessa natureza pelas empresas pesquisadas.

Ao todo, o Check List contemplou 28 indicadores sociais e ambientais, distribuídos em: A – Geração e distribuição de riqueza (1), B – Recursos Humanos (13), C – Interação com o ambiente externo (6); e, D – Interação com o meio ambiente (8). Além, de ser dividido de forma qualitativa e quantitativa, sendo as qualitativas informações que são demonstradas apenas de modo descritivo, sem quantificação financeira, e quantitativas sendo as que apresentam relação monetária. Para finalizar o estudo, foram apresentados os resultados referentes a evidenciação das informações socioambientais nas empresas objeto de estudo e analisado as diferenças dessas informações nos três níveis de governança corporativa.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nesta seção será descrito as informações sobre as empresas do segmento de papel e celulose pesquisados.

4.1 Suzano Papel e Celulose SA

A Suzano Papel e Celulose SA possui cinco unidades no Brasil e está enquadrada no nível 1 de governança corporativa. Tem por missão oferecer produtos de base florestal renovável, celulose e papel, destacando-se globalmente pelo desenvolvimento de soluções inovadoras e contínua busca da excelência e sustentabilidade em suas operações.

Sua área florestal soma cerca de 1,2 milhões de hectares, do total, 518 mil hectares são de florestas plantadas nos estados de, São Paulo, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Piauí, Tocantins, Pará e Maranhão. Cerca de 480 mil hectares são áreas de preservação, o restante está distribuído entre áreas para plantios futuros e infraestrutura.

Além de apresentar todas as evidenciações contábeis obrigatórias, disponibiliza o Relatório de Sustentabilidade com informações de cunho socioambiental. O relatório foi elaborado através da consulta aos públicos externos: fornecedores, clientes nacionais e internacionais de papel e celulose e representantes de Organizações Não Governamentais (ONGs); e internos: lideranças das áreas de Estratégia e Novos Negócios, Sustentabilidade e Relações Institucionais, Operações Florestal e Industrial e Recursos Humanos, porém não conta com auditoria para verificar o relatório. A partir das informações apresentadas pela empresa em seus relatórios foram retiradas as informações que preenchem o Check List a seguir.

Quadro 2 - Distribuição e geração de riqueza Suzano

Empresas

Suzano

Indicadores

Qualitativo

Quantitativo

A

Geração e distribuição de riqueza

0

1

1

Demonstração do Valor Adicionado

-

1

Fonte: Adaptado da NBC T 15 (2017).

No item (A) que apresenta a geração e distribuição de riqueza a empresa apresenta a Demonstração do Valor Adicionado com valores monetários em comparação com exercícios anteriores.

Quadro 3 - Recursos Humanos Suzano

B

Recursos Humanos

6

2

1

Remuneração por empregados

1

-

2

Gastos com encargos sociais

1

-

3

Gastos com alimentação

1

-

4

Gastos com transportes

-

-

5

Gastos com capacitação e desenvolvimento profissional

-

-

6

Participação nos lucros e resultados

-

-

7

Total de empregados ao fim do exercício

 1

-

8

Total de estagiários ao fim do exercício

1

-

9

Prestadores de serviços terceirizados

1

-

10

Empregados por nível de escolaridade

 -

-

11

Percentual de ocupantes de cargo de chefia por sexo

 -

-

12

Número de processos trabalhistas

-

1

13

Valor total de indenização e multas pagas por determinação da justiça

-

1

Fonte: Adaptado da NBC T 15 (2017).



No item (B) Recursos Humanos a empresa demonstra 8 dos 13 indicadores, onde 6 são apresentados de forma qualitativa, e 2 de modo quantitativo. A Suzano conta com 8.066 trabalhadores próprios, e 572 funcionários terceirizados distribuídos por suas filiais.

Em 2016 obteve 307 processos administrativos e judiciais de natureza tributária e previdenciária, nos quais são discutidas matérias relativas a compensações de determinados créditos fiscais, autos de infração, multas e tomada de alguns créditos fiscais, totalizando um valor pago de R$ 233.141 e 2.320 processos de natureza trabalhista que estão relacionados, principalmente, a questões frequentemente contestadas por empregados de empresas agroindustriais, como certas verbas salariais e/ou rescisórias, além de ações propostas por empregados de empresas contratadas para prestação de serviços para a Companhia, totalizando o valor R$ 37.664 de depósitos judiciais efetuados por esses processos.

Quadro 4 - Interação com o ambiente externo Suzano

C

Interação com o ambiente externo

3

1

1

Educação, exceto de caráter ambiental

-

1

2

Cultura

1

-

3

Saúde e saneamento

1

-

4

Esporte e lazer, não considerando patrocínios publicitários

-

-

5

Reclamações recebidas na entidade

1

-

6

Multas e indenizações a clientes determinadas por proteção e defesa do consumidor

-

-

Fonte: Adaptado da NBC T 15 (2017).

No item (C) interação com o ambiente externo a Suzano traz 4 das 6 informações. No que diz respeito à educação a empresa apresenta a informação de modo quantitativo, como mostra na Figura 4.

Figura 4 - Projetos educacionais empresa Suzano.

Fonte: Relatório de Sustentabilidade Suzano (2016).

Observa-se na Figura 4 que a empresa possui diversos projetos educacionais e culturais em 7 municípios do país. Em 2016 foram cerca de 26.890 pessoas que usufruíram desses projetos, onde a empresa investiu R$ 376.370,07 reais.

A empresa também traz o número de suas reclamações através do canal Suzano Responde, acessível ao público externo, que pode enviar sugestões, comentários, dúvidas ou reclamações, em 2016, a Suzano Responde recebeu 13.007 chamados. O Sispart – sistema de partes interessadas, canal de diálogo ativo com a comunidade – somou no ano 37 queixas e reclamações relacionadas a impactos na sociedade, das quais 36 foram solucionadas no período.

Quadro 5 - Interação com o meio ambiente Suzano

D

Interação com o meio ambiente

5

1

1

Investimentos e gastos com manutenção nos processos operacionais para melhoria do meio ambiente

1

-

2

Investimentos e gastos com preservação ou recuperação de ambientes degradados

-

1

3

Investimentos e gastos com educação ambiental para empregados

1

-

4

Investimentos e gastos com educação ambiental para a comunidade

1

-

5

Investimentos e gastos com projetos ambientais

1

-

6

Processos ambientais movidos contra a entidade


-

7

Valor das multas e indenizações relativas a matéria ambiental

-


8

Passivos e contingências ambientais


-

Fonte: Adaptado da NBC T 15 (2017).

No item (D) Interação com o meio ambiente, a empresa aponta 5 das 8 informações contidas na NBC T 15. Os investimentos da empresa com proteção ambiental somaram R$ 19,2 milhões, como pode-se observar na Figura 5.

Figura 5 - Investimento com proteção ambiental Suzano

Fonte: Relatório de Sustentabilidade Suzano (2016).

Na Figura 5 pode-se observar a empresa investiu no exercício um alto valor na preservação do meio ambiente, sendo sua maior parte destinada ao monitoramento e projetos ambientais das industriais, sendo eles distribuídos na redução e recuperação de água, troca de iluminação, redução de resíduos e disposição de resíduos.

A empresa também conta com parceria com o Instituto Itapoty, que é uma organização não-governamental que atua na educação ambiental de estudantes e professores da rede pública de ensino da região de Itatinga no estado de São Paulo, visando a preservação do meio ambiente, com foco na difusão da importância dos biomas.

4.2 Klabin SA

Atuando no mercado há 119 anos e possuindo 18 unidades industriais, a empresa Klabin tem sua gestão orientada no desenvolvimento sustentável, unindo rentabilidade a compromisso social e ambiental, além de seguir critérios de governança inclusas no Nível 2 promovendo a transparência de seus atos.

Klabin (2017) tem como missão a garantia da melhora na qualidade dos plantios florestais para sua produção, e sua visão está ligada a atividades exercidas de forma economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta.

A empresa conta com uma área de 214 mil hectares de florestas nativas, e 229 mil hectares de florestas plantadas de pinus e eucalipto. A empresa contém suas florestas cultivadas nos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, além de estar inserida também em mais quatro estados, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, e Pernambuco, obtendo ainda uma filial na Argentina.

A empresa apresenta todas as evidenciações contábeis obrigatórias, utilizando-se do Relatório de Sustentabilidade para evidenciar as informações de cunho socioambiental. O relatório da empresa é auditado pela empresa Price Water House Coopers, e traz informações financeiras de todas as unidades da empresa, já as informações de cunho socioambiental mostram informações apenas da entidade no Brasil. Em 2016, os temas materiais, os objetivos e metas da Estratégia de Sustentabilidade foram os principais direcionadores para a elaboração deste relatório. A partir dessas informações apresentadas pela empresa foram retiradas as informações que preencheram o Check List que será apresentado a seguir.

Quadro 6 - Geração e distribuição de riqueza Klabin

Empresas

Klabin SA

Indicadores

Qualitativo

Quantitativo

A

Geração e distribuição de riqueza

0

1

1

Demonstração do Valor Adicionado

-

1

Fonte: Adaptado da NBC T 15 (2017).

No item (A) que apresenta a Geração e distribuição de riqueza da empresa, a Klabin traz a Demonstração do Valor Adicionado, mostrando os valores relativos à constituição de riqueza bem como sua distribuição, trazendo valores monetários, onde são comparados com exercícios anteriores.

Quadro 7 - Recursos Humanos Klabin

B

Recursos Humanos

9

0

1

Remuneração por empregados

-

-

2

Gastos com encargos sociais

-

-

3

Gastos com alimentação

1

-

4

Gastos com transportes

1

-

5

Gastos com capacitação e desenvolvimento profissional

1

-

6

Participação nos lucros e resultados

1

-

7

Total de empregados ao fim do exercício

1

-

8

Total de estagiários ao fim do exercício

1

-

9

Prestadores de serviços terceirizados

1

-

10

Empregados por nível de escolaridade

 -

-

11

Percentual de ocupantes de cargo de chefia por sexo

 1

-

12

Número de processos trabalhistas

1

-

13

Valor total de indenização e multas pagas por determinação da justiça

-

-

Fonte: Adaptado da NBC T 15 (2017).

No item (B) Recursos Humanos, o quadro de funcionários é formado por 13.400 empregados diretos, 4.681 terceirizados, além de 292 estagiários, os quais recebem benefícios como refeição, transporte, participação nos lucros, vale alimentação, assistência médica, auxílio creche, auxílio filho excepcional, convênio farmácia, kit escolar, plano odontológico, previdência privada e seguro de vida. Proporciona cursos de capacitação para seus funcionários diretos e indiretos.

Quadro 8 - Interação com o ambiente externo Klabin

C

Interação com o ambiente externo

4

0

1

Educação, exceto de caráter ambiental

1

-

2

Cultura

1

-

3

Saúde e saneamento

1

-

4

Esporte e lazer, não considerando patrocínios publicitários

1

-

5

Reclamações recebidas na entidade

-

6

Multas e indenizações a clientes determinadas por proteção e defesa do consumidor

-

-

Fonte: Adaptado da NBC T 15 (2017).

No item (C) Interação com o ambiente externo, são apresentadas 4 informações. A companhia utiliza de projetos de desenvolvimento socioambiental nas áreas de saúde, cultura, educação, esporte, lazer para minimizar seus impactos negativos, e potencializar os positivos.

No ramo da educação a empresa tem investido em instalação de bibliotecas infantis em escolas municipais, já possuindo mais de 10 mil livros doados. Na cultura a empresa proporciona aulas de dança contemporânea e capoeira a crianças e adolescentes, além de possuir um coral de crianças da comunidade de uma de suas filiais, ensinando noções de teoria musical, ritmo e técnica vocal, além do desenvolvimento do trabalho em equipe.

A empresa recebeu um total de 1.499 reclamações na ouvidoria da empresa, e no canal "Fale com a Klabin", onde são enviadas via 0800 e e-mail. Dessas reclamações 1.454 foram resolvidas, o que corresponde a 97%, e 45 reclamações ainda se encontram pendentes.

Quadro 9 - Interação com o meio ambiente Klabin

D

Interação com o meio ambiente

3

0

1

Investimentos e gastos com manutenção nos processos operacionais para melhoria do meio ambiente

-

2

Investimentos e gastos com preservação ou recuperação de ambientes degradados

1

-

3

Investimentos e gastos com educação ambiental para empregados

-

-

4

Investimentos e gastos com educação ambiental para a comunidade

1

-

5

Investimentos e gastos com projetos ambientais

1

-

6

Processos ambientais movidos contra a entidade

 

-

7

Valor das multas e indenizações relativas a matéria ambiental

-

 

8

Passivos e contingências ambientais

 

-

Fonte: Adaptado da NBC T 15 (2017).

No item (D) Interação com o meio ambiente, 4 informações são apresentadas, a Klabin, desde 2005 colabora com proprietários rurais para o uso sustentável de suas terras, incentivando a recuperação dos remanescentes florestais nativos, a silvicultura com métodos responsáveis, a agricultura orgânica, o ecoturismo e a conservação do patrimônio natural. Realizado em parceria com a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida ajuda a melhorar a qualidade de vida da população e a aprimorar o desenvolvimento florestal.

A empresa possui treinamentos a estudantes do ensino fundamental sobre a preservação da natureza, legislação ambiental, aspectos da fauna e flora local para que a educação ambiental possa ser multiplicada.

4.3 Fibria Celulose SA

A empresa Fibria Celulose SA atua 50 anos no mercado de papel e celulose. A empresa busca o lucro a partir de recursos utilizados de forma sustentável. Adere ao Novo Mercado na B3, seguindo os princípios do nível mais alto de Governança Corporativa, tais como, a transparência, clara definição de funções, independência da administração, alta qualidade do corpo técnico e gerencial, equidade de tratamento aos acionistas, crescimento sustentável e prestação de contas.

Tem o compromisso de adotar as melhores práticas ambientais, para sempre inovar na promoção do desenvolvimento. Da floresta até a entrega do produto final, são mantidos processos que beneficiam a natureza, como o manejo florestal, geração própria de energia e processos de produção mais limpa (FIBRIA, 2017).

As atividades da Fibria têm por base uma área florestal de 969 mil hectares, dos quais 343 mil hectares são dedicados à conservação de ecossistemas nativos. Possuem em operação quatro fábricas com capacidade produtiva de 5,3 milhões de toneladas de celulose. Utiliza-se da logística integrada por modais rodoviário, ferroviário e marítimo, para o transporte eficiente de madeira e celulose.

A empresa apresenta todos os meios de evidenciação obrigatórios, obtendo como modo pelo qual a empresa apresenta suas informações de cunho socioambiental o Relatório de Sustentabilidade, o qual é elaborado por uma comissão editorial formada por representantes da empresa, contando com a opinião dos empregados, e especialistas em sustentabilidade, ao fim passando por uma auditoria independente da empresa Bureau Veritas Certification Brasil, contratada pela Fibria para que possa ser conduzida uma verificação desse relatório. A partir dessas informações elaborou-se o Check List que será apresentado a seguir.

Quadro 10 - Geração e distribuição de riqueza Fibria

Empresas

Fibria Celulose SA

Indicadores

Qualitativo

Quantitativo

A

Geração e distribuição de riqueza

0

1

1

Demonstração do Valor Adicionado

-

1

Fonte: Adaptado da NBC T 15 (2017).

No que diz respeito ao item (A) Geração e Distribuição de Riqueza, a empresa apresenta sua Demonstração do Valor Adicionado, mostrando os valores relativos à constituição de riqueza bem como sua distribuição. A empresa apresenta essas informações de forma quantitativa mostrando valores monetários do exercício, comparando com anos anteriores.

Quadro 11 - Recursos humanos Fibria

B

Recursos Humanos

10

1

1

Remuneração por empregados

1

-

2

Gastos com encargos sociais

1

-

3

Gastos com alimentação

1

-

4

Gastos com transportes

1

-

5

Gastos com capacitação e desenvolvimento profissional

1

-

6

Participação nos lucros e resultados

1

-

7

Total de empregados ao fim do exercício

1

-

8

Total de estagiários ao fim do exercício

-

-

9

Prestadores de serviços terceirizados

1

-

10

Empregados por nível de escolaridade

 -

-

11

Percentual de ocupantes de cargo de chefia por sexo

1

-

12

Número de processos trabalhistas

1

-

13

Valor total de indenização e multas pagas por determinação da justiça

-

1

Fonte: Adaptado da NBC T 15 (2017).

No item (B) Recursos Humanos, a empresa contempla 11 dos 13 itens, sendo 10 de forma qualitativa e 1 de modo quantitativa. A Fibria cita seus gastos com empregados sem demonstrar valores monetários. Seu grupo de funcionários é formado por 4.244 funcionários próprios e 13.477 terceiros, quanto aos funcionários próprios da empresa estão 3.355 homens enquanto mulheres ocupam apenas 574 cargos, a empresa acredita que a terceirização é a melhor opção devido ao seu extenso campo florestal estar distribuído em vários estados do país.

A empresa conta com inúmeros treinamentos para seus funcionários, além de criar programas como o i9, que foi estruturado para estimular a participação dos empregados no negócio da Fibria a partir de sugestões de melhorias nos processos da empresa e em suas próprias rotinas de trabalho. As ideias são cadastradas na intranet da companhia e selecionadas de acordo com critérios como redução de custos, geração de valor ao cliente, incremento da receita, eficiência ambiental, aumento da produtividade e melhoria em saúde e segurança. No exercício de 2016 a empresa recebeu 6.895 sugestões de seu quadro de funcionários, conseguindo implementar 2.549, fazendo assim seu funcionário sentir-se confortável trabalhando em um local que está disposto a ouvir suas sugestões de melhoria.

Quadro 12 - Interação com o ambiente externo Fibria

C

Interação com o ambiente externo

4

0

1

Educação, exceto de caráter ambiental

1

-

2

Cultura

1

-

3

Saúde e saneamento

1

-

4

Esporte e lazer, não considerando patrocínios publicitários

-

-

5

Reclamações recebidas na entidade

1

-

6

Multas e indenizações a clientes determinadas por proteção e defesa do consumidor

-

-

Fonte: Adaptado da NBC T 15 (2017).

O item (C) Interação com o ambiente externo, a empresa traz 4 dos 6 itens contidos na NBC T 15, sendo todas de forma qualitativa. A empresa obteve cerca de 360 reclamações recebidas na empresa sendo a maioria delas por direitos humanos, e sua minoria por relação a comunidade.

A Fibria conta com parceira da Universidade Federal de São Paulo, onde possui projetos para a alfabetização de adultos e de estudos sobre ervas medicinais para auxilio na saúde dos moradores. No Rio de Janeiro a empresa está construindo uma escola popular para a formação de técnicos em agroecologia.

Quadro 13 - Interação com o meio ambiente Fibria

D

Interação com o meio ambiente

4

2

1

Investimentos e gastos com manutenção nos processos operacionais para melhoria do meio ambiente

1

-

2

Investimentos e gastos com preservação ou recuperação de ambientes degradados

-

1

3

Investimentos e gastos com educação ambiental para empregados

-

-

4

Investimentos e gastos com educação ambiental para a comunidade

-

-

5

Investimentos e gastos com projetos ambientais

-

1

6

Processos ambientais movidos contra a entidade

1

-

7

Valor das multas e indenizações relativas a matéria ambiental

-

1

8

Passivos e contingências ambientais

1

-

Fonte: Adaptado da NBC T 15 (2017).

A interação da empresa com o meio ambiente está exposta no item (D), onde são apresentadas 6 das 8 informações. No ano de 2016 a empresa investiu cerca de R$ 67.142.886,27 em proteção ambiental em suas unidades, sendo investido em recursos hídricos, remediação de áreas contaminadas, gestão ambiental, emissões e resíduos. A empresa ainda possui uma porcentagem de 91% de reaproveitamento de resíduos industriais, incluindo cinzas, lama de cal, lodo primário e sucatas do processo, entre outros. Uma parte desse volume que não é passível de destinação interna é doada ou comercializada como matéria-prima para indústrias de variados setores. Em 2016, foram vendidas 886 mil toneladas de resíduos industriais, totalizando R$ 4,2 milhões, e evitando o custo de R$ 31,8 milhões que teriam na utilização de aterros.

No período de 2016 a empresa não obteve multas de caráter ambiental, porém encontra-se um valor de R$ 3.008,00 pendentes por decisão judicial, sendo que no exercício anterior a mesma pagou o valor de R$ 251,00, relativo a multas de cunho ambiental.

A empresa ainda conta com certificações ambientais, entre elas a norma 14001 que como já mencionado, para a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (2004), as normas da ISO 14001, permitem à organização implementar uma política e objetivos com requisitos legais e aspectos ambientais significativos, que podem se aplicar a qualquer empresa que deseje estabelecer um Sistema de Gestão Ambiental, assegurar-se de sua política ambiental, e demonstrar conformidade com esta norma.

4.4 COMPARATIVOS EVIDENCIAÇÃO DAS AÇÕES SOCIO AMBIENTAIS POR EMPRESA

Sendo identificadas as empresas de papel e celulose listadas na B3, e selecionar as que possuíam níveis de Governança Coorporativa, foi verificado os relatórios contábeis publicados pelas empresas objeto de estudo no ano de 2016, onde foi feito um Check List com itens da Norma Brasileira de Contabilidade NBC T 15, para constatar se as empresas a utilizavam para elaboração de sua informações socioambientais, as companhias que foram estudadas são: Suzano Papel e Celulose SA , Klabin SA e Fibria Celulose SA, as quais possuem respectivamente o Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado de Governança Coorporativa.

As empresas pesquisadas nesse estudo evidenciam suas informações de cunho socioambiental através do Relatório de Sustentabilidade, que estão disponíveis nos sites das empresas, além de demonstrar algumas informações adicionais a esses relatórios nas Notas Explicativas que estão dispostas no site da B3. Ficou claro que as companhias não possuem uma regra, ou padrão nos relatórios de sustentabilidade, dispondo cada uma de seu modo de publicação.

A empresa Suzano Papel e Celulose SA exibe um relatório com muitas tabelas, e figuras, porém apresenta pouco texto, ou informações adicionais as imagens, muitas vezes não se fazendo entender. A Suzano evidenciou 18 das 28 informações contidas no Check List, sendo em sua maioria informação relativas a Recursos Humanos. Seu relatório não conta com auditoria, e é criado através de pesquisa ao publico externo e interno.

A Klabin SA, o relatório da empresa é auditado pela empresa Price Water House Coopers, e traz informações socioambientais de todas as unidades do país, e apresenta 17 das 28 informações contidas no Check List. Ainda que apresente menos informações dos itens apresentados, a empresa possui um relatório claro, de fácil leitura e entendimento, apresentando ainda separação por capítulos.

A empresa Fibria foi a empresa que mais apresentou resultados, apresentando 22 dos 28 itens, sendo ainda a empresa que possui o relatório mais completo e claro, o qual é elaborado por uma comissão editorial formada por representantes da empresa, contando com a opinião dos empregados, e especialistas em sustentabilidade, ao fim passando por uma auditoria independente da empresa Bureau Veritas Certification Brasil.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade se encontra cada vez mais consciente da necessidade de conservação do meio ambiente, por isso, o tema desenvolvimento sustentável vem ocupando pautas de discussões. Muitas empresas necessitam de recursos naturais para seu processo produtivo, e para diminuir os impactos causados por suas ações, precisam ser responsavelmente sustentáveis.

A Contabilidade Ambiental vem então ao encontro da necessidade de demonstrar informações de natureza socioambiental, onde possui a Norma Brasileira de Contabilidade Técnica nº 15 (NBC T 15) que estabelece procedimentos para a evidenciação de informações de natureza social e ambiental, com o objetivo de demonstrar à sociedade a participação e a responsabilidade social da entidade.

As empresas de capital aberto são as que demonstram informações relacionadas ao ambiente socioambiental, por esse motivo optou-se por selecionar empresas listadas na B3, buscando ainda por empresas do segmento de papel e celulose, por serem empresas que são consideradas altamente poluidoras por seu processo produtivo.

Este artigo teve como objetivo principal, analisar o modo pelo qual as empresas evidenciam suas informações de cunho socioambiental. No primeiro objetivo especifico buscou-se as empresas que apresentavam níveis de governança coorporativa como uma forma de selecionar as empresas que seriam estudadas, as quais foram: Suzano Papel e Celulose que possui nível 1, Klabin SA que possui o nível 2, e a empresa Fibria Celulose SA que está inserida no Novo Mercado.

Posteriormente foram analisados os relatórios da empresa, onde constatou-se que as informações socioambientais eram evidenciadas através do Relatório de Sustentabilidade, cumprindo então o segundo objetivo especifico. Logo para se cumprir o terceiro e último, foi elaborado um CheckList adaptando a NBC T 15, onde pode ser analisado as informações disponíveis de cada empresa em estudo.

Constatou-se que a principal forma de evidenciar as informações socioambientais, pelas empresas estudadas, é através do Relatório de Sustentabilidade, onde cada uma demonstra o que julga importante destacar do seu relacionamento socioambiental, trazendo projetos sociais e culturais, para o publico externo e para a comunidade, ações e investimentos que estas estão fazendo em favor do meio ambiente.

Tais evidenciações são consideradas de extrema importância para essas empresas, pois é uma forma encontrada de minimizar os impactos negativos causados por seu processo de produção, o Relatório é uma forma de a empresa demonstrar à sociedade que se importa com o meio ambiente e com a comunidade que vive a sua volta.

A Contabilidade Ambiental vem sendo valorizada no mercado, e conquistando seu espaço, mesmo ainda faltando um padrão de como essas demonstrações devem ser elaboradas. Essa área da contabilidade vai além de retorno financeiro, busca a harmonia entre a empresa, a sociedade e a natureza.

REFERÊNCIAS

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