LEVANTAMENTO DAS PESQUISAS PALEOAMBIENTAIS NO CERRADO DO BRASIL



Fernando Henrique Villwock1, Mauro Parolin2, Ana Paula Colavite3



1Programa de Pós graduação em Geografia, nível doutorado, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Bolsista CAPES, fernandovillwock@hotmail.com;

2Orientador, Professor Doutor, Colegiado de Geografia, Universidade Estadual do Paraná, UNESPAR, Campus de Campo Mourão, mauroparolin@gmail.com;

3Coorientadora, Professora Doutora, Colegiado de Geografia, Universidade Estadual do Paraná, UNESPAR, Campus de Campo Mourão, apcolavite@hotmail.com;



Resumo: O Cerrado, compreende um dos principais biomas brasileiros, com grande diversidade de fauna e flora, no entanto, o bioma vem sofrendo grandes ações antrópicas. A partir do exposto, o presente artigo tem por objetivo apontar o conhecimento paleoambiental produzido em áreas de Cerrado no Brasil. A pesquisa foi realizada por meio de levantamento bibliográfico realizado no Portal de Periódicos CAPES e Google Acadêmico. Foram registrados 21 trabalhos de reconstrução paleoambiental em áreas de Cerrado no Brasil.



Palavras-chave: Cerrado. Paleoambientes. Brasil. Pesquisas. Espacialização.



Abstract: The Savana, comprises one of the main Brazilian biomes, with great diversity of fauna and flora, however, the biome has been suffering great anthropic actions. From the above, this article aims to point out the paleoenvironmental knowledge produced in Cerrado areas in Brazil. The research was conducted through a bibliographic survey conducted in the CAPES Journal Portal and Google Scholar. Twenty-one paleoenvironmental reconstruction works were recorded in Cerrado areas in Brazil.



Keywords: Savana. Paleoenvironments. Brazil. Researches. Spatialization



Introdução



O Brasil é conhecido por sua grande extensão territorial, de acordo com Coutinho (2002) são mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, sendo que dentro desse vasto território se observa grande diversidade paisagística com variações expressivas de clima, solo, vegetação e fauna. De acordo com AB’Saber (1967), o Cerrado, é o segundo maior domínio, ocupando aproximadamente 24% do território brasileiro.

De acordo com Ribeiro e Walter (1998) o termo Cerrado, se refere ao bioma presente na região central do Brasil. Corroborando o exposto Rizzini (1997) destaca que o Cerrado é a forma brasileira da formação geral chamada Savana. A área ocupada pelo Cerrado, conforme com Eiten (1994), apresenta vasto domínio, em consequência de sua dimensão apresenta grande amplitude de fisionomias vegetais, bem como de espécies animais e tipos de solos.

Além da dimensão expressiva, de acordo com Ruggiero et al. (2005), o Cerrado se destaca pela sua diversidade, além de formações vegetacionais que vão de campos a florestas. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (2017), o Cerrado apresenta grande biodiversidade, com inúmeras espécies da fauna e flora, sendo muitas endémicas, ou seja, só podem ser encontradas nesse bioma.

Os solos onde se encontram o Cerrado são classificados como solos antigos, profundos, bem drenados, com baixa fertilidade natural, acidez acentuada e baixa concentração de matéria orgânica (MAACK, 1968; EMBRAPA, 2005; CUNHA et al., 2008). Até a década de 1970 os solos do Cerrado eram caracterizados por sua baixa fertilidade, constituindo um fator limitante a sua utilização. Com a necessidade da expansão das fronteiras agrícolas e especialmente com a modernização da agricultura, foram desenvolvidas pesquisas com o objetivo de converter as áreas de vegetação em campos de produção de alimentos (EMBRAPA, 2005).

Segundo Ritter et al. (2010), a partir da aplicação das tecnologias de correção de solos, o Cerrado tem sofrido diversas transformações pela expansão da agricultura, sendo que 20% da área original permanece preservada. Além de todos os aspectos ambientais do Cerrado, destaca-se a grande importância para a sociedade, provendo aporte ao desenvolvimento de diversas atividades económicas, em especial pelo agronegócio.

A partir do exposto, o artigo tem como objetivo apontar o conhecimento paleoambiental produzido em área que apresentam vegetação de Cerrado no Brasil. Neste sentido, o presente artigo se justifica pela necessidade de reunir informações relativas ao cerrado, vegetação que vem sofrendo grande impacto ambiental.



Metodologia



O levantamento dos trabalhos, foi realizado por meio da leitura de artigos publicados em revistas científicas, utilizando os seguintes buscadores: Portal de Periódicos da CAPES (www.periodicos.capes.gov.br) e Google Acadêmico (www.scholar.google.com.br). Para efeito de pesquisa, foram selecionadas as seguintes palavras-chave: Cerrado, paleovegetação de Cerrado, Cerrado relictual e reconstrução paleoambiental.

Com os dados obtidos, a produção do mapa, seguiu as seguintes etapas:

1) plotagem do local de realização da pesquisa no Google Earth;

2) os pontos foram exportados para o software Qgis;

3) no Qgis, onde os pontos foram plotados no mapa do Brasil;

4) por fim, o mapa foi exportado como imagem.



Resultados



Apesar da importância de determinar a expansão do Cerrado, com objetivo de compreender a evolução vegetacional, poucos são os estudos, que buscam a reconstrução paleoambiental do mesmo. Foram contabilizados via pesquisa em base de dados 21 trabalhos de reconstrução paleoambiental em área de Cerrado (Figura 1).



Figura 1: Distribuição dos trabalhos de reconstrução paleoambiental em áreas de Cerrado no Brasil

Fonte: Os autores



Dentre os primeiros trabalhos, encontram-se Ledru (1993) e Pessenda et al. (1996), que realizaram pesquisas no município de Salitre de Minas, Minas Gerais, inferiram dois períodos de clima mais seco nos últimos 32.000 anos AP. O primeiro período seco ocorreu entre 11.000 e 10.000 anos AP, o segundo período destacado ocorreu entre 6.000 e 4.500 anos AP. Ainda destacam que a vegetação nesses períodos era composta prioritariamente por gramíneas.

Em Parizzi et al. (1998), que pesquisou o Cerrado na região central do Brasil, verificou que a área passou por um clima frio e mais seco durante o final do Pleistoceno, corroborando tal resultado, temos os trabalhos de Ledru et al. (1996), Parizzi et al. (1998), Horák (2009) e Lorente et al. (2010).

Posteriormente, a pesquisa realizada por Barberi (2001), na Lagoa Bonita, situada no Distrito Federal, apresentou um período mais seco por volta de 6.300 anos AP, com predominância de elementos de Cerrado, correlacionando-se aos estudos realizados no município de Salitre (MG).

Em Rubin (2003) e Rubin et al. (2011) são apresentados os resultados para o Quaternário Tardio, no município de Inhumas, Goiás. O perfil de solo analisado foi coletado na margem direita do rio Meia Ponte, tendo datação na base de aproximadamente 31.830 anos AP. Foram inferidos dois conjuntos de vegetação. O primeiro compreendendo de 31.800 a 23.400 anos AP, caracterizado pela alta porcentagem de gramíneas, com condições mais úmidas que as atuais, com a presença de vegetação de Cerrado. O segundo período compreende de 23.400 a 11.000 anos AP, apresenta queda na umidade e redução de elementos arbóreos. Sendo que a partir de 11.000 anos AP até o presente, observa-se a constante oscilação na umidade.

Ainda em Goiás, Carmo et al. (2003) apresenta os resultados obtidos para a região centro-sul do estado. A sequência do terraço fluvial no qual foram coletadas as amostras, demonstram que o mesmo se desenvolveu durante o Holoceno, apresenta um conjunto de palinomorfos caracterizado pela presença dominante de elementos dos Cerrados e a ocorrência de veredas nas fases mais recentes.

Meyer et al. (2014) apresenta uma descrição de 11 localidades com presença de Cerrado no Brasil, buscando uma caracterização geral do Cerrado durante o Quaternário. A partir dos pontos amostrais foi inferido que o Cerrado presente na Região Norte do país, passou por um extenso período de seca e frio, de 21.000 a 19.000 anos AP, enquanto o Cerrado presente na Região Central, passava por uma fase mais úmida e mais fria.

Mais recentemente, no estado do Paraná, passaram a ser realizados trabalhos de reconstrução paleoambiental nos fragmentos de Cerrado. Os autores Parolin et al. (2014), Luz (2014) e Monteiro et al. (2015) apresentaram estudos no município de Campo Mourão, em que os autores inferiram que no passado a região foi ocupada por vegetação menos adensada, com vasta presença de vegetação arbustiva, caracterizada como Cerrado, estando esta vegetação relacionada a períodos mais secos que atualmente.



Agradecimento



O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001



Bibliografia



AB' SÁBER A. N. Domínios morfoclimáticos e províncias fitogeográficas do Brasil. Orientação, n. 3, 1967.

BARBERI, M. Mudanças paleoambientais na região dos cerrados do Planalto Central Durante o Quaternário Tardio: o estudo da lagoa Bonita, DF. Tese (Doutorado) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

CARMO, F., BARBERI, M., RUBIN, J.C.R. Análise palinológica de sedimentos do Quaternário Tardio, a partir de 44.000 anos AP, na região centro-sul do Estado de Goiás, Brasil. Anais... CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS DO QUATERNÁRIO,9, 2003. Recife, p. 65.

CUNHA, Nina Rosa da Silveira; LIMA, João Eustáquio de; GOMES, Marília Fernandes Maciel; BRAGA, Marcelo José. A intensidade da exploração agropecuária como indicador da degradação ambiental na região dos Cerrados, Brasil. Piracicaba/SP. Revista de Economia e Sociologia Rural (on line), São Paulo, v. 46, n. 2, p. 291- 323, 2008.

COUTINHO, L. M. O bioma do cerrado. In: KLEIN, A. L. (org.) Eugen Warming e o Cerrado brasileiro: um século depois. Editora Unesp, São Paulo, 2002.

EITEN, G. Vegetação de cerrado. In: PINTO, M. N. (org.) Cerrado: caracterização, ocupação e perspectivas. UnB/SEMATEC, Brasília, 1994.

HORÁK, I.VIDAL-TORRADO, P.SILVA, A. C.PESSENDA, L. C. R. Pedological and isotopic relations of a highland tropical peatland, Mountain Range of the Southern Espinhaço (Brazil). Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 35, p. 41-52, 2011.

LEDRU, Marie-Pierre. Late Quaternary Environmental and Climatic Changes in Central Brazil. Quaternary Research, v. 39, p. 90-98, 1993.

LEDRU, Marie-Pierre; BRAGA, P. I. S.; SOUBIÈS, F.; FOURNIER, M.; MARTIN, L.; SUGUIO, K.; TURCQ, B. The last 50,000 years in the Neotropics (Southern Brazil): evolution of vegetation and climate. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, v. 123, 1996.


LUZ, L. D.PAROLIN, M. Caracterização dos sedimentos turfosos em Campo Mourão, Paraná, Brasil. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 7, p. 319-326, 2014.

LORENTE, F. L.; PESSENDA, L. C. R.; CAEGARI, M. R.; COHEN, M. C. L.; ROSSETTI, D.; GIANNINI, P. C. F.; BUSO JUNIOR, A. A.; CASTRO, D. F.; FRANÇA, M. C.; BENDASSOLLI, J. A.; MACARIO, K. Fitólitos como indicadores de mudanças ambientais durante o Holoceno na costa norte do estado do Espírito Santo (Brasil). Quaternary and Environmental Geosciences, v.6, n. 1, 2015.

MAACK, Reinhard. Geografia física do Estado do Paraná. Curitiba: BADEP: UFPR: IBPT, 1968.

MEYER K. E. B., CASSINO R. F. C., LORENTE F. L. L., RACZKA M., PARIZZI M. G. 2014. Paleoclima e Paleoambiente do Cerrado Durante o Quaternário com Base em Análises Palinológicas. In: Carvalho I. S., Garcia M. J., Lana C. C., Strohschoen Jr. O. (ed) Paleontologia: Cenário de Vida – Paleoclimas, vol-5. Rio de Janeiro: Interciência.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. O Bioma Cerrado. 2017. Disponível em:< http://www.mma.gov.br/biomas/cerrado> Acessado: 27 de jun de 2017.

MONTEIRO; M. DOS R. . PAROLIN; M., CAXAMBU, M. G. Análise da assembléia fitolítica em solo superficial e serrapilheira em dois fragmentos de cerrado em área urbana de Campo Mourão – Paraná. Revista Brasileira de Geografia Física, vol.08, n.04 (2015)

PARIZZI, M. G.; SALGADO-LABOURIAU, M. L.; KOHLER, H. C. Genesis and Environmental History of Lagoa Santa, Southeastern Brazil. The Holocene, Bristol, v. 8, n.3, p. 311-321, 1998.

Parolin M., Rasbold G.G., Pessenda L.C.R. 2014. Paleoenvironmental conditions of Campos Gerais, Paraná, since the Late Pleistocene, based on phytoliths and C and N isotopes. In: Coe H.H.G., Osterrieth M. (eds) Synthesis of some phytoliths studies in South America (Brazil and Argentina). Nova Science Publishers, New York, 149-170p

PESSENDA, L. C. R.ARAVENA, R ; MELFI, A. J. TELLES, E. C. C. ; BOULET, R ; VALENCIA, E. P. E. ; TOMAZELLO, M. . The use of carbon isotopes (C-13, C-14) in soil to evaluate vegetation changes during the Holocene in Central Brazil. Radiocarbon, Tucson, v. 38, n.2, p. 191-201, 1996.

RIBEIRO, J. F.; WALTE, B. M. T. Fitofisionomias do bioma Cerrado. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P. (org.). Cerrado ambiente e flora. EMBRAPA, Planaltina – DF, 1998.

RITTER, L.M.O., RIBEIRO, M.C. & MORO, R.S. 2010. Composição florística e fitofisionomia de remanescentes disjuntos de Cerrado nos Campos Gerais, PR, Brasil - limite austral do bioma. Biota Neotrop. 10(3).

Rizzini, C. T. 1997. Tratado de fitogeografia do Brasil. 2ª Edição. Âmbito Cultural Edições Ltda, Rio de Janeiro.

RUBIN, J. C. R. Sedimentação quaternária, contexto paleoambiental e interação antrópica nos depósitos aluviais do alto rio Meia Ponte: Goiás/GO. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2003.

RUBIN, J. C. R.; BARBERI, M.; SILVA, R. T.; SAAD, A. R.; GARCIA, G. V.; LEMOS, C. M. Arqueologia e paleoambiente em áreas do Cerrado. Habitus. n.9. p.77-94. 2011.

RUGGIERO, P. G. C.; PIVELLO, V. R.; SPAROVEK, G.; TERAMOTO, E.; PIRES NETO, A. G. Relação entre solo, vegetação e topografia em área de cerrado (Parque Estadual de Vassununga, SP): como se expressa em mapeamentos. Acta Botanica Brasilica, Belo Horizonte, v. 20, n. 2, 2005.

Stevaux, J.C. O rio Paraná: geomorfogênese, sedimentologia e evolução quaternária de seu curso superior. Programa de Pós-Graduação em Geologia Sedimentar, Universidade de São Paulo, Tese de Doutorado, 142 p, 1993.

Stevaux, J.C. Geomorfologia, sedimentologia e paleoclimatologia do Alto Curso do rio Paraná (Porto Rico-PR). Boletim Paranaense de Geociências, 42:97-112, 1994.

Salgado-Laboriau M. L. 1973. Contribuição à Palinologia dos Cerrados. Academia Brasileira de Geociências.

TURCQ, B.; SIFEDDINE, A.; MARTIN, L.; ABSY, M. L.; SOUBIÈS, F.; SUGUIO, K.; VOLKMER-RIBEIRO, C. Amazonia reinforest fires: A lacustrine record of 7000 years. Ambio, 27 (2): 1:3-26, 1997.

VILLWOCK, F. H.; MONTEIRO, M. R.; PAROLIN, M. CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO CERRADO: EM CAMPO MOURÃO E JAGUARIAÍVA, PARANÁ Revista GEOMAE - v.8, n. Especial SIAUT, 2017.