EDUCAÇÃO AMBIENTAL INTERDISCIPLINAR: PROPOSIÇÃO DE PRÁTICAS DA VERMICOMPOSTAGEM NA RECICLAGEM DA MATÉRIA ORGÂNICA



Marcia Regina Rodrigues da Silva Zago1; Ana Claudia Nuernberg Vaz2; Ana Aparecida Souza dos Santos3; Daniele Maria Borges4; Daniella Giovanna Zago5; Gilmara Aparecida Amaral6; Alexandre Hüller7



1Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Mestra em Educação em Ciências e Matemática (PPGECM) email:marciazagoz@gmail.com

2Mestra em Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) email:ana.claudia.n.vaz@gmail.com

3Professora da Rede Estadual do Paraná - Pedagoga – Especialista em Psicopedagogia- Educação Especial com especificidade em Altas Habilidades email: anaapsantos@hotmail.com

4Mestranda do Programa de Pós- Graduação em Formação Cientifica Educacional e Tecnológica (PPGFCET) Universidade Tecnológica do Paraná. email: danielebraives@gmail.com

5Estudante de Direito do Centro Universitário (OPET), Curitiba-Paraná - email:daniellazagoz@gmail.com

6Especialista em Educação Infantil; e em Educação Especial, com complementação para o Magistério Superior. e-mail: gilcompostaintegral@gmail.com

7Biólogo, Mestre em Educação. Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura do RS. E-mail: alexandre-huller@sema.rs.gov.br





Resumo: A pesquisa versa sobre contexto da Educação Ambiental (EA) crítica e interdisciplinar nas escolas, com diferentes metodologias que podem apoiar a participação ativa de educadores e estudantes do 1° ao 5°ano da Rede Municipal de Ensino de Curitiba. Os objetivos destacam-se na caracterização de oficinas de práticas e propostas no gerenciamento de resíduos orgânicos, que podem instigar pensamentos matemáticos, fomentando EA, caminhos para sensibilização da sustentabilidade. A proposição da atividade com a vermicompostagem pode ser aliada ao destacar a experimentação com as práticas no gerenciamento dos resíduos orgânicos, atividades que estão em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), desafio global para a desenvolvimento sustentável. Metas que pretendem alcançar as dimensões – econômica, social e ambiental – de forma equilibrada e integrada. Nesta linearidade de pensamento o trabalho em equipe na dimensão escolar, com o gerenciamento de resíduos pode assegurar uma visão multidisciplinar com o apoio dos pressupostos teóricos das Diretrizes de Educação Ambiental da Rede Municipal de Curitiba, da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) com os constructos da ecopedagogia, alfabetização científica, e possivelmente fomentando atividades interdisciplinares. No desvelar dos resultados percebem-se melhorias na escrita, na elaboração do pensamento crítico ambiental, raciocínio matemático, criatividade, autonomia e equidade dos participantes.

Palavras-Chave: Educação Ambiental; Gerenciamento de Resíduos; Interdisciplinaridade contexto da matemática; Oficinas de práticas com a vermicompostagem.

Abstract: The research deals with the context of critical and interdisciplinary Environmental Education (AE) in schools, with different methodologies that can support the active participation of educators and students from the 1st to the 5th year of the Municipal Education Network of Curitiba. The objectives stand out in the characterization of practical workshops and proposals in the management of organic waste, which can instigate mathematical thoughts, fostering EA, ways to raise awareness of sustainability. The proposition of the activity with vermicomposting can be combined with highlighting the experimentation with practices in the management of organic waste, activities that are in line with the Sustainable Development Goals (SDGs), a global challenge for sustainable development. Goals that aim to reach the dimensions - economic, social and environmental - in a balanced and integrated way. In this linearity of thought, teamwork in the school dimension, with waste management, can ensure a multidisciplinary view with the support of the theoretical assumptions of the Environmental Education Guidelines of the Municipal Network of Curitiba, of the Common National Curricular Base (BNCC) with the constructs ecopedagogy, scientific literacy, and possibly fostering interdisciplinary activities. In the unveiling of the results, improvements can be seen in writing, in the elaboration of critical environmental thinking, mathematical reasoning, creativity, autonomy and equity of the participants.

Key words: Environmental Education; Waste management; Interdisciplinarity in the context of mathematics; Practice workshops with vermicomposting.



1 Introdução



A educação ambiental atende a uma perspectiva bastante necessária no atual mundo em que vivemos, pois se trata de uma educação importante que se refere a uma esfera de interações baseadas no desenvolvimento pessoal e social com base nos recursos naturais e interação entre os seres, ou seja, é a da relação com o meio em que vivemos (SAUVÉ, 2005). Neste sentido, a educação ambiental também serve para promover a consciência planetária, que promove a solidariedade planetária (CURITIBA, 2012).

Portanto, melhorar a qualidade e o acesso à educação vai além, acontece em todos os níveis e modalidades de ensino, uma cidadania comprometida com a preservação, conservação e recuperação do meio ambiente (CURITIBA, 2016). Pois, é preciso preparar melhor os jovens para a promoção do desenvolvimento sustentável, pois, as gerações mais jovens são os guardiões do futuro (SANTANA, 2013).

De um modo em geral, o desenvolvimento sustentável se define pela relação harmônica do homem com a natureza, com o desenvolvimento que satisfaça às necessidades e às aspirações humanas (CURITIBA, 2012). Assim, o desenvolvimento sustentável que a política ambiental prevê deve ser parte que integra do processo de desenvolvimento e não mais uma responsabilidade setorial fragmentada, (SANTANA, 2013).

Os sistemas de ensino devem estar preparados para ensinar os jovens sobre o desenvolvimento sustentável, com professores preparados para desenvolver programas escolares que abordem as questões sobre sustentabilidade (SANTANA, 2013).

Nesse sentido, acredita-se que a pesquisa pode direcionar à preservação ambiental e o trabalho em equipe na dimensão escolar, com o gerenciamento de resíduos e desta forma, assegurar uma visão multidisciplinar para os estudantes em ambiente escolar (CURITIBA, 2012). Dessa forma, com o apoio dos pressupostos teóricos das Diretrizes de Educação Ambiental da Rede Municipal de Curitiba, da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) com os constructos da ecopedagogia, alfabetização científica, e possivelmente fomentando atividades interdisciplinares, acredita-se que a conscientização ambiental possa ser maximizada.

Nas aulas de matemática, por exemplo, os professores podem instigar os estudantes, para que eles encontrem elementos matemáticos também nos conceitos e conteúdos de outras disciplinas ou assuntos, assim como, relacionados ao processo de vermicompostagem e reciclagem de matéria orgânica (ROHR, 2014).

Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho foi de avaliar a participação de educadores e estudantes do 1° ao 5°ano da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, no gerenciamento de resíduos orgânicos, com inclusão de pensamentos matemáticos no processo de vermicompostagem e reciclagem de matéria orgânica.

O presente estudo justifica-se pela importância do tema e da necessidade em contextualizar e disseminar os conteúdos relacionados à Educação Ambiental dentro e fora de salas de aula. Ainda, com a realização de oficinas de prática da vermicompostagem na reciclagem da matéria orgânica, incluindo-se as questões da disciplina de matemática, acredita-se que o processo de conscientização ambiental possa ser maximizado.



2 Referencial teórico



Nesta seção é abordado o conceito de desenvolvimento sustentável e responsabilidade ambiental, abordando o papel da Educação Ambiental este contexto. Também é apresentado o conceito de alfabetização científica, mostrando a importância de uma abordagem multidisciplinar, neste caso, com o tema central “resíduos orgânicos e vermicompostagem”.



2.1 Conceituando desenvolvimento sustentável e responsabilidade ambiental



Acredita-se que um dos conceitos mais importantes relacionados ao desenvolvimento sustentável é o originário no relatório “Nosso Futuro Comum”, mostrando que, “o desenvolvimento sustentável atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras” (DIAS, 2010).

Desta forma, segundo Sanches (2000), a responsabilidade ambiental refere-se à prevenção dos recursos naturais, com diminuição da poluição, à minimização dos resíduos dentre outros fatores.

Nesta linearidade, conceituar a responsabilidade ambiental significa um dos pontos primordiais para a obtenção do desenvolvimento sustentável, ou seja, ela está ligada a educação ambiental, em que a responsabilidade é criada através da educação do envolvimento social e da relação com o meio (CAVALCANTE, 2003).

Para resolver os problemas ambientais, cada vez mais complexos e crescentes na mesma velocidade desenvolvimento tecnológico, é preciso uma promover uma mudança nos sistemas de conhecimento, valores e comportamentos (JACOBI, 2003). Para tal, faz-se necessário estimular as crianças a um pensamento reflexivo em relação ao meio ambiente em que elas se encontram, sendo uma possibilidade através da alfabetização científica (FABRI & SILVEIRA, 2012).

De acordo com Lorenzetti & Delizoicov (2001), alfabetização científica é definida como “a capacidade do indivíduo ler, compreender e expressar opinião sobre assuntos que envolvam a Ciência”. Desta forma, conforme os autores, verifica-se que os professores precisam esclarecer aos estudantes a visão de que a Ciência é parte de seu mundo e não um conteúdo separado, além de propiciar iniciativas para que os estudantes saibam como e onde buscar os conhecimentos que necessitam para a sua vida diária (LORENZETTI & DELIZOICOV, 2001).

Uma oportunidade de os estudantes colocar a mão na massa, fazer experiências, levantar hipóteses e analisar resultados e de permitir aos mesmos vivenciarem situações de aprendizagem é por meio da educação em tempo integral, ofertada na Cidade de Curitiba-PR desde o ano de 1956 (CURITIBA, 2012).

No ano de 2005, os representantes das escolas de Curitiba criaram o documento “Diretrizes Curriculares Municipais (DCM) – Educação Integral”, que explica sobre a concepção de educação integral, afirmando que o ser humano deve ser valorizado além das não necessidades individuais, como uma formação humana (CURITIBA, 2006).

Neste sentido, verifica-se que estas atividades se dividem em dois turnos: um de quatro horas, onde são dados os conteúdos referentes ao turno, e no outro turno os conteúdos de contra turno, ou seja, as escolas da RME que ofertam educação em tempo integral totalizam nove horas de trabalho diário (CURITIBA, 2012).

Mesmo com todas as estruturas diferenciadas, com a implementação da DCM, a carga horária e as Práticas Educativas, são trabalhadas conforme o seu Projeto Político Pedagógico, com a adequação as oficinas educativas (LOUREIRO, 2017). As atividades são desenvolvidas através de um professor articulador da educação integral, que deve ter formação em pedagogia, e precisa ser aprovada pelo Conselho de Escola (CURITIBA, 2006). Com a função de contribuir nos planejamentos das Práticas Educativas, acompanhar o trabalho dos professores nas oficinas, participar de formações específicas do contra turno e articulá-las nas oficinas, e por fim, ela precisa realizar a divulgação das ações do Plano Municipal de Educação (PME) (CURITIBA, 2006).

O articulador precisa dar todo o suporte pedagógico, no que diz respeito à organização do trabalho pedagógico, suprindo a falta do pedagogo (BRASIL, 2014). A fonte menciona ainda que se sobrecarrega com outros afazeres, ou seja, ele deve promover a articulação entre a escola e a comunidade, favorecendo um diálogo entre ambos.

Nesse sentido, as compostagens das escolas também podem ser usadas pelos docentes nas aulas de várias disciplinas (ZAGO et al, 2017). Em português, ciências e biologia são discutidas assuntos relacionados à compostagem, como por exemplo, descarte de resíduos e meio ambiente (ROHR, 2014). Já nas aulas de matemática, por exemplo, podem ser calculada quantidade de resíduo, como as serragem e folha seca em decomposição (ROHR, 2014).

Nas aulas de matemática o estudante muitas vezes não pode utilizar de sua própria criatividade porque nestas aulas existem regras prontas e imutáveis (CURITIBA, 2012). O professor nas depois das histórias infantis, poderá solicitar aos estudantes, que os mesmos encontrem elementos matemáticos nestas histórias, proporcionando situações que eles percebam que é possível encontrar, num simples texto de literatura infantil, situações matemáticas (ROHR, 2014).

As habilidades para uma boa aprendizagem são adquiridas por meio da interpretação, dos questionamentos, da memória, e da avaliação das estratégias (CURITIBA, 2012). Portanto, em relação aos conteúdos matemáticos uma ferramenta muito usada e importante são os jogos lúdicos (PASTELLS, 2009).

Desta forma, são com os jogos que situações cotidianas podem ser vivenciadas ludicamente fazendo uma ponte entre a fantasia e a realidade (CURITIBA, 2012). O material concreto é usado no momento em que o estudante sentir que é importante usá-lo, por meio de atividades de representação por números e sinais indicativos de operações (PASTELLS, 2009).

Segundo Nacarato; Mengali; Passos, (2009) as atividades realizadas, possui significado na construção do conhecimento contextualizado, abrindo espaço para a comunicação nas aulas de matemática, por meio de um método mecânico de cálculos.

A socialização é outra atividade que o professor pode propor aos estudantes, ou seja, é a escrita final sobre os conhecimentos produzidos (CURITIBA,2012). É muito importante que as ideias não permaneçam somente na oralidade, e sim, é fundamental que elas sejam escritas pelos estudantes (ROHR, 2014).

Nesta perspectiva, que se propôs em trabalhar os assuntos relacionados à vermicompostagem e na reciclagem da matéria orgânica, incluindo-se as questões da disciplina de matemática, melhorando assim o processo de conscientização ambiental.



3 Metodologia



O presente trabalho consiste em uma atividade multidisciplinar desenvolvida e aplicada para estudantes do 5º ano de escolas de tempo integral. Foi utilizado o assunto “vermicompostagem” para trabalhar assuntos de ciências e matemática dentro da disciplina de ciências ambientais. Como também o trabalho com os temas transversais ligados a ética, cidadania, saúde e meio ambiente.

Esta é uma das atividades que fazem parte do diagnóstico e do desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental voltadas ao ensino formal do projeto Ciclo de Vida Agroalimentar do Município de Curitiba e Região Metropolitana visando à Sustentabilidade.

O trabalho foi desenvolvido em duas etapas: o desenvolvimento e preparo da atividade e a aplicação aos estudantes. A presente metodologia foi separada de acordo com estas duas atividades centrais.



3.1 Desenvolvimento e preparo da atividade



Primeiramente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica qualitativa, onde foi definido o tipo de “Pesquisa descritiva” como estratégia para a realização do presente trabalho. Na pesquisa descritiva realiza-se o estudo, a análise, o registro e a interpretação dos fatos do mundo físico sem a interferência do pesquisador. “São exemplos de pesquisa descritiva as pesquisas de opinião” (BARROS; LEHFELD, 2007). Também foi realizado um estudo de caso em escolas, com diferentes metodologias que podem apoiar a participação ativa de professores(as) que atuam com as práticas ambientais e os(as) estudantes do 1° ao 5°ano da Rede Municipal de Ensino de Curitiba.



Com o levantamento da pesquisa teórica e o estudo das metodologias de participação ativa dos estudantes foi desenvolvida esta atividade. Para o desenvolvimento da prática, foram separados os conteúdos e aspectos importantes para serem trabalhados com os estudantes, que foram:



1- O processo de reciclagem da matéria orgânica por meio do processo de vermicompostagem de maneira geral;

2- A estrutura física da composteira, materiais necessários e como montá-la;

3- O papel das minhocas no processo de decomposição, a relação da quantidade de animais com a quantidade de resíduos ingerido;

4- Quais alimentos podem ser colocados neste processo, como deixar o processo de decomposição mais rápido;

5- Levantamento de questionamentos, perguntas e observações do processo como um todo.

O primeiro item, do processo de reciclagem da matéria orgânica por meio do processo de vermicompostagem é essencial para apresentar o processo de mutualismo entre os microrganismos e a minhocas no ciclo de decomposição. entende o processo de decomposição. Esta etapa da atividade envolve aprendizado de ciências e meio ambiente.

O segundo item aborda a estrutura física da composteira, materiais necessários e como montá-la. Para facilitar na aquisição dos materiais e possibilitar que a montagem fosse realizada pelos estudantes, optou-se por um modelo de composteira em miniatura, utilizando potes de sorvete.

No terceiro item foi explicado o papel das minhocas no processo de decomposição e sua relação da quantidade de animais com a quantidade de resíduos ingerido. Nesta etapa é possível trabalhar o raciocínio matemático, operações e unidade de medida.

No item quatro é importante para explicar quais resíduos podem ser colocados neste tipo de compostagem e como deixar o processo de decomposição mais rápido.

O quinto é importante para o trabalho da alfabetização científica, realizado nesta atividade por meio de questionamentos, perguntas e observações do processo como um todo.

Para a abordagem dos conteúdos selecionados, a atividade foi desenvolvida para aplicação em equipes de trabalho, um para cada assunto. Portanto, esta atividade foi desenvolvida em cinco etapas e os estudantes foram divididos em cinco equipes. Cada equipe possuía de 5 a 6 integrantes, os quais foram orientados por duas professoras auxiliares.

Foram elaboradas orientações do que cada equipe iria desenvolver, as quais foram deixadas nas mesas de trabalho da equipe. Cada etapa da atividade teve a durabilidade de 10 minutos cada, para que cada equipe se organizasse e concluísse a atividade, totalizando 50 minutos.

Para a realização desta atividade foram necessários os seguintes materiais: 26 potes de sorvete com tampa, 30 tubos de canetas, uma balança pequena, duas tesouras, duas réguas, dois pregos, folhas de jornal, papeis, lápis, borrachas, cinco kits de figuras de resíduos que podem ser colocados na composteira e os que não podem, húmus de minhoca, resíduos “marrons” (folhas secas de plantas), resíduos “verdes” (casca de legumes e frutas não cítricos), uma faca e minhocas da espécie Eisenia fédida, conhecidas como minhocas vermelhas californianas. Foi utilizada uma balança pequena e de precisão de até 5000g, com uma casa depois da vírgula, ex: 3580,2g.

A descrição de como cada etapa foi conduzida e como foi realizada a abordagem dos assuntos está apresentada na aplicação da atividade.

3.2 Aplicação da atividade com os estudantes



Para esta dinâmica, cada equipe passou por todas as oficinas propostas. Deste modo, realizou-se rodízio para que cada estudante participasse ativamente de toda a prática. Em cada uma das mesas, as atividades estavam descritas com as orientações necessárias por escrito. Indicações do que cada equipe deveria fazer em cada etapa.

A equipe 01 - foi orientada a observar a decomposição da matéria orgânica em uma composteira levada para a sala de aula. Nesta etapa da atividade, os estudantes também tinham a tarefa de separar algumas minhocas, Figura 1A e 1B, que foram utilizadas nas outras etapas.

Figura 1: Desenvolvimento da atividade de montagem de uma composteira com minhocas. 1A: Equipe 1 realizando a catação das minhocas dentro de uma composteira. 1B: equipe separando minhocas para a utilização nas próximas etapas da atividade.

Fonte: Autores.



Com a ajuda de uma professora, a equipe 02 organizou a montagem da minicomposteira em portes de sorvete. Para a montagem de cada composteira foram utilizados os seguintes materiais: três potes de sorvete, seis canudos, estilete, régua, prego, jornal, húmus de minhoca e minhocas. Primeiramente, os estudantes cortaram o fundo de dois potes de sorvete e a parte central de em duas tampas.

Em seguida, foram feitos furos paralelos nos dois potes cortados para passar os tubos de canetas, conforme mostrado na figura 2A. No primeiro pote com cortes no fundo, facilita a aeração, ventilação do composto, o que ajuda no deslocamento da minhoca para os demais compartimentos. Com os pregos, foram realizados pequenos furos na parte superior dos dois potes de sorvete modificados, de modo a auxiliar na entrada de ar na composteira. Por fim, os três potes foram empilhados, sendo o primeiro, em contato com a mesa, sem modificação e com uma tampa cortada, o segundo pote com o fundo cortado e encaixado com uma tampa modificada e por último, o segundo pote modificado com uma pampa sem modificação encaixada, conforme as figuras 2A e 2B.





Figura 2: Desenvolvimento da atividade de montagem de uma composteira com minhocas. A:Foto mostrando o fundo da composteira. B: Composteira construída por estudantes do 5º ano do ensino fundamental.

Fonte: Autoras.



A equipe 3 realizou a verificação da massa de minhocas utilizando uma balança de precisão e um pote de sorvete. As minhocas e o pote de sorvete, separadas na etapa anterior, foram colocados na balança e verificado a massa total, Figura 3. Os estudantes foram questionados de como descobrir apenas a massa de minhocas, sendo a resposta correta a subtração da massa total, pote de sorvete mais massa das minhocas, menos a massa do pote vazio. Posteriormente, o pote vazio também foi colocado na balança e registrado a massa, Figura 3B, e os estudantes realizaram o cálculo, sempre realizando registro escrito.

Em seguida, foi explicado que, de acordo com Lourenço (2014), a espécie de minhoca trabalhada tem a capacidade de ingerir o equivalente a até metade de sua massa corpórea de alimento por dia, no caso, resíduos orgânicos. Após a explicação, as crianças realizaram o cálculo da quantidade de resíduos que são necessários adicionar na composteira para alimentar as minhocas.

Figura 3: Etapa da atividade em que a equipe 3 realizou a aferição da massa das minhocas e do recipiente. A: Foto mostrando a massa do pote de sorvete mais a massa de minhocas. B: Foto da massa do pote de sorvete vazio.



Enquanto isso, a equipe 4, foi orientado a separar a comida adequada para ativar a composteira nos potes de sorvete e picando em partes menores, pois sabiam que o resíduo picado é mais apropriado para colocar em confinamento menor, evita a proliferação de outros insetos.

Na equipe 5 foi trabalhado a alfabetização científica, sendo instigado a levantava hipótese, questionamentos, perguntas para expor aos demais estudantes, e registrar as observações por meio de desenhos dos os contextos argumentados (Figura 4).



Figura 4: Estudantes da equipe 5 trabalhando no levantamento de hipóteses e questionamentos a respeito do processo de vermicompostagem.

Fonte: Autores.

As equipes também realizaram a ativação da composteira, de modo a possibilitar o seu uso. Para isso, no segundo pote, com fundo retirado, foi colocado uma camada de folha de papel jornal e, em seguida, adicionado húmus e minhocas na composteira e alimentos, previamente separado nas etapas anteriores.

Nesta linha de argumentações, o presente estudo foi realizado durante 3 meses compilando com a atividades de oficinas de práticas ambientais no contra turno escolar das escolas de Tempo Integral de Curitiba- PR.



4 Resultados e discussões



As atividades pedagógicas interdisciplinares, “exigem uma reflexão profunda e inovadora sobre o conhecimento, que demonstra a insatisfação com o saber fragmentado (JAPIASSU,1992). Desta maneira, as experimentações oportunizaram que “o ensino dos conteúdos seja complementado por projetos ou oficinas, utilizando de temas emergentes de interesse dos estudantes, em parceria com um ou mais componentes curriculares” (CURITIBA, 2012).

A problematização inicial deu-se por meio das questões: Como o que fazer com os resíduos descartados diariamente proveniente da merenda escolar? A partir do questionamento, novos caminhos da Educação Ambiental crítica, iniciam a construção de um pensamento socioambiental, almejando a sustentabilidade.

O primeiro momento destaca-se na elaboração e entendimentos de como compostar a matéria orgânica em potes de sorvete. Várias hipóteses foram lançadas, o que permitiu a escrita, leitura, pesquisa e práticas de experimentação.

A oficina de prática da na montagem de uma composteira “condomínio das minhocas” assim, foi batizado pelos estudantes.

Os vemicompostores de potes de sorvete, oportunizou uma gama de saberes interdisciplinares. As atividades perpassaram entendimentos da história da sociedade sobre os resíduos, cultura de descartes, separação dos resíduos pelas das famílias, entre outras questões. As práticas de experimentação “funcionam como investigação, conhecimento. Espaço para idealizar e testar estratégias que permitam concretizar os princípios de um desenvolvimento sustentável e, por meio de soluções propostas e descobertas, criar e estabelecer sinergias em todos os atores” (LOURENÇO e COELHO, 2012, p.19).

Para saber a quantidade de resíduos orgânicos, a ser colocada diariamente, realizou-se a pesagem da quantidade de minhocas. Nesta etapa, foram aferidos conceitos matemáticos. Elaboração de uma situação problema, cálculo, utilizando peso e quantidade. Neste aspecto, foi possível perceber que a aprendizagem é significativa e tem um contexto articulado, conduzindo caminhos e ampliando conhecimentos.



Fonte: Os autores (2019).



Os estudantes e professores iniciam uma dinâmica de ensino em que conseguem redesenhar posturas sobre suas ações no ambiente escolar. A análise dos resíduos que é gerado, categorizando como reciclável orgânico e o que pode ser compostados. As minhocas trazem uma dinâmica da ecopedagogia, diferentes práticas de ensino para estudantes e professores no sentido do cuidado com a natureza, então é uma forma de começar a ver o outro. Deste modo, a vermicompostagem, tem esse sentido do cuidar, “somos seres profundamente ecodependentes, portadores de uma carência fundamental que é suprida pelas pessoas, pela cultura e pelos recursos e serviços da natureza” (BOFF,2012).

Ligada à escola a Educação Ambiental se encontra enfraquecida, fragilizada. Portanto, a formação dos professores é importante para o processo de incorporação do tema no âmbito curricular, e na compreensão das questões ambientais em seus aspectos políticos, ideológicos, sociais e econômicos (GOMES; NAKAYAMA, 2016).

Neste sentido, os educadores ambientais devem entender a importância da educação para a cidadania planetária e para um futuro sustentável, pois, e por esta razão que o educador ambiental reflete sua ação, posicionando-se como educador e como cidadão, em caráter pedagógico de sua ação, e na sua intervenção política (SORRENTINO, 2005).

As atividades perpassaram entendimentos da história da sociedade sobre os resíduos, cultura de descartes, separação dos resíduos pelas das famílias, entre outras questões. As práticas de experimentação “funcionam como investigação, conhecimento. Espaço para idealizar e testar estratégias que permitam concretizar os princípios de um desenvolvimento sustentável e, por meio de soluções propostas e descobertas, criar e estabelecer sinergias em todos os atores” (LOURENÇO e COELHO, 2012).

Desta forma a realizar-se oficinas de práticas e propostas no gerenciamento de resíduos orgânicos, que podem instigar pensamentos matemáticos, fomentando assim a Educação Ambiental por meio dos temas transversais que fomentam a ética, cidadania, saúde e meio ambiente.

Os vemicompostores de potes de sorvete, oportunizou uma gama de saberes interdisciplinares.

A Educação Ambiental vivenciada pelos educadores ambientais tem como principal objetivo de possibilitar a construção da identidade socioambiental, porém, é necessário compreendê-la em sua complexidade, sendo que, os valores ecológicos, são importantes para manter viva a luta por um projeto de sociedade equitativa e sustentável (GOMES; NAKAYAMA, 2016).

Desta forma, a Educação Ambiental faz a mediação com o conhecimento e transformação social, por meio do processo educativo.

Os estudantes tiveram um melhor entendimento dos cálculos e maior interesse pela matemática.



5 Considerações finais



A alfabetização científica é desenvolvida durante a escolarização, ou seja, antes que a criança comece a ler e escrever. Portanto, o ensino de ciências se constitui a partir do desenvolvimento da leitura e da escrita, e a matemática pode auxiliar no processo de ensino aprendizagem dos conceitos ambientais, especialmente ligados à vermicompostagem e na reciclagem da matéria orgânica, objetos deste estudo.

Organizar o ambiente escolar conforme as demandas das atividades sugeridas nesta proposta de alfabetização têm incidência direta no currículo escolar da escola. Assim, o planejamento escolar deverá incluir parâmetros que operam as demandas para a implantação do processo proposto.

Verifica-se que o docente deve atuar por meio de competências técnicas e instrumentais, executando a sua função educativa em sintonia com as demandas desta perspectiva alfabetizadora, desenvolvendo o espírito crítico e a criatividade, sendo um formador de opiniões.

No desvelar dos resultados percebem-se melhorias na escrita, na elaboração do pensamento crítico ambiental, raciocínio matemático, criatividade, autonomia e equidade dos participantes.

Por fim, diante da complexidade e importância do tema, sugere-se a continuidade dos estudos, com aprofundamento maior no tema, e apresentação de maiores resultados de outros estudos científicos.



Referências



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