HORTAS URBANAS EM ESCOLAS E

COMUNIDADES DO RIO DE JANEIRO E SUA

INTERFERÊNCIA NO CONTEXTO SOCIOAMBIENTAL

E ALIMENTAR DA POPULAÇÃO JOVEM



Márcia de Fátima Inácio1 , Kátia Rodrigues de Souza2, Júlio César Lacerda Monteiro de Barros² e João Carlos da Silva³



1 Eng. Florestal, MSc Ciências Ambientais e Florestais, PhD Agronomia – Ciências do Solo, Tecnologista do Responsabilidade Socioambiental do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, email: marcia@jbrj.gov.br.

2 Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária/UERJ, estagiária do Centro de Responsabilidade Socioambiental do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

3 Eng. Agrônomo, gerente de Agroecologia e Produção Orgânica da SMAC- Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro – RJ.

4 Pedagogo e MSc. em Avaliação pela Cesgranrio, Coordenador do Centro de Responsabilidade Socioambiental do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.



RESUMO



Hábitos alimentares são construídos prioritariamente durante a infância, muitas vezes a vida corrida dos pais e a ampla oferta de fast foods favorecem uma rotina alimentar pouco saudável. A implantação de hortas orgânicas em escolas públicas ou em projetos de cunho social trazem uma nova leitura para a rotina infantil. As hortas permitem o acesso dos pequenos ao consumo de alimentos saudáveis, além de introduzir conceitos de agricultura orgânica e educação ambiental. No presente trabalho são discutidas as mudanças alimentares e socioambientais de crianças e adolescentes a partir da criação de hortas na Escola Municipal Emma D´Ávila, no Projeto Florescer do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro e na Comunidade do Morro da Formiga, RJ. Os resultados demonstraram que mudanças bastante positivas foram observadas em todos os locais de estudo.



Palavras Chave: Educação Ambiental, inclusão social, alimentação saudável, hortas comunitárias.



INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a situação nutricional no Brasil passou de grave a um problema de saúde pública. A obesidade infanto-juvenil subiu 240% nas últimas duas décadas, enquanto 10,5% das crianças menores de cinco anos enfrentaram problemas de desnutrição (FERNANDES, 2005). Maus hábitos alimentares e sedentarismo são associados a diversas doenças que podem surgir ao longo de cada período da vida, infância, adolescência, fase adulta e velhice (ENES & SLATER, 2010).

Os jovens atualmente preferem alimentos de pouca qualidade, os “fast foods”, que são frequentemente relacionados a fatores de risco alimentar e doenças graves como o câncer (SERPA, 2018). Esse mesmo grupo frequentemente consome poucos alimentos considerados saudáveis, como frutas, verduras, legumes e cereais. Esta tendência, apesar de mais frequente nas regiões metropolitanas, é também observada no meio rural, independente da classe social do jovem.

Outros fatores, tais como os crescentes problemas ambientais, reforçam a necessidade de sérias discussões acerca da qualidade alimentar da população.  A poluição de rios, lagos e   águas subterrâneas, a degradação de grandes extensões territoriais e o uso indiscriminado de agrotóxicos vem gradativamente piorando a qualidade de vida em nosso planeta (SILVA & FONSECA, 2009). O que seria então uma proposta de alimento saudável, como frutas , verduras e legumes, se transforma em veneno, reforçando o papel da Educação Ambiental como ferramenta fundamental para reaproximação do ser humano com a natureza (CRIBB, 2010). O Ministério da Educação considera importante que se estabeleça novos modelos educacionais que integrem a saúde, o meio ambiente e o desenvolvimento comunitário por meio de programas interdisciplinares (FERNANDES, 2005).

Nesse contexto as hortas escolares podem se tornar uma importante estratégia pedagógica para o ensino da educação ambiental, alimentar e nutricional nas escolas. Crianças que vivem nos grandes centros urbanos são, via de regra, mais afastadas do convívio com a natureza e todo o processo de formação de uma horta, assim como o consumo dos alimentos produzidos, estimula, sem dúvida, o fortalecimento de conceitos socioambientais. São momentos de trabalho em equipe em ambientes externos, transferindo na prática conceitos de cultivo, solos, nutrição e outros.

A Gerência de Agroecologia e Produção Orgânica (GAP) da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro desenvolve o “Hortas Cariocas”, um projeto que surgiu para ocupar áreas ociosas em comunidades e em escolas da rede municipal (Figura 1). Além de popularizar o consumo de alimentos produzidos de maneira orgânica, o projeto tem um indiscutível papel integrador e educacional, contando atualmente com 42 hortas em diversos bairros da cidade do Rio de Janeiro (Hortas Cariocas-RIO PREFEITURA, 2019).

No Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro foi criado em 1997 um projeto direcionado aos jovens das comunidades do entorno, chamado Florescer. Lá os jovens tem acesso a oficinas de arte, educação, cidadania, ecologia, cursos de jardinagem e parataxonomia. O Projeto conta também com uma horta dentro do parque, onde os alunos aprendem os princípios da agricultura e a importância das hortaliças para a saúde.

A fim de se compreender e evidenciar a importância da introdução das hortas no cotidiano de crianças e adolescentes foram realizadas entrevistas com alunos da Escola Municipal Emma D' Ávila, do Projeto Florescer no Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro e jovens moradores da comunidade do Morro da Formiga, locais que sediam esse tipo de projeto (Figura 2).

Figura 1 – Distribuição dos cultivos do Projeto Hortas Cariocas na cidade do Rio de Janeiro

Figura 2 – Localização geográfica das hortas onde foram realizadas as entrevistas, Escola Municipal Emma D’Ávilla , Comunidade do Morro da Formiga , Projeto Florescer do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro .

OBJETIVO GERAL





OBJETIVOS ESPECÍFICOS





METODOLOGIA



  1. Público Alvo



  1. Projetos Hortas Cariocas

O “Hortas Cariocas” foi criado em 2006 visando a ocupação de terrenos ociosos e a melhoria da qualidade alimentar de moradores de comunidades e escolas da rede pública. O projeto também aposta no seu papel integrador, uma vez que os próprios moradores são inseridos no cultivo e na gestão das hortas implantadas. Todo o processo tem apoio e orientação profissional de Engenheiros Agrônomos e Florestais. Atualmente o Programa conta com 42 hortas ativas, distribuídas entre Escolas Municipais e Comunidades nos mais variados tipos de terrenos (Figura 3). Nesse trabalho tivemos como objeto de estudo duas hortas geridas pelo projeto, a horta da Escola Municipal Emma D´Ávila e a horta comunitária da Comunidade do Morro da Formiga.

.Figura 3 – Muro da Escola Municipal Emma D´Ávila anunciando a presença de uma das hortas do projeto.





1.1 - Escola Municipal Emma D´Avila - Localizada em Pedra de Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro, a Escola Emma D’ Ávila abriga 477 crianças do primeiro ao quinto ano e oferece educação integral (Figura 4). Há cerca de 2 anos foi implementado dentro do seu espaço, que é bastante amplo, uma horta com o principal objetivo de melhorar a qualidade nutricional dos estudantes. Com 300 m2, a horta oferece diversos alimentos orgânicos como: alface, beterraba, couve-flor, coentro, tomate, brócolis, quiabo, berinjela, milho, pepino, cenoura, mandioca e feijão, diariamente. Além de fazer a manutenção do plantio, a hortelã Valdete (responsável pelo cultivo) realiza atividades ligadas à culinária e educação ambiental. Uma das atividades rotineiras é solicitar aos alunos que identifiquem as hortaliças de acordo com a letra do alfabeto que ela mencionar. Tal atividade tem como propósito aproximar as crianças da horta e incentivá-las a se alimentarem melhor. Na escola foram entrevistadas quatro alunas, com idades compreendidas entre 10 e 14 anos e a Sra. Regina merendeira da escola.

 

Figura 4 – Canteiros da horta da Escola Emma D’ Ávila



1.2 - Morro da Formiga - Localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, o Morro da Formiga é um sub bairro da Tijuca. Com 8.000 m2, a horta cultivada no local surgiu há 9 anos com muita ajuda dos moradores. Desde então oferece alimentos orgânicos de qualidade superior à comunidade (Figura 5). A horta é especial também pelo alto índice de inclusão social que promove, há visível integração de moradores em torno do cultivo de vagem, milho, jiló, chicória, alface, almeirão, ora- pro- nobis, cebolinha, alho poró, salsa, couve e outros alimentos. No local foram entrevistados dois jovens matriculados no nono ano escolar, com a idade de 13 anos, e também o hortelão Orlando, que é o responsável (Figura 6).

Figura 5 - Canteiros da horta do Morro da Formiga, Tijuca, RJ.



Figura 6 - O hortelão Orlando e os jovens entrevistados no Morro da Formiga.



  1. Projeto Florescer

O Jardim Botânico do Rio de Janeiro, localizado na zona sul da cidade de mesmo nome, abriga dentre outros setores o Centro de Responsabilidade Socioambiental – CRS. No Centro são desenvolvidos vários projetos, e dentre estes o Florescer, onde atualmente 54 jovens recebem formação pré-profissionalizante com o objetivo de desenvolver as habilidades intelectuais, culturais, sociais e ambientais que facilitem sua inserção no mercado de trabalho. São jovens de famílias em situação de vulnerabilidade econômica e risco social, moradores de comunidades próximas ao Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Lá são ensinadas especializações técnicas que os capacitam em Jardinagem, Agente de Desenvolvimento Socioambiental ou Assistente Administrativo. O Projeto conta com uma horta de aproximadamente 45 m2 onde são cultivados diversos alimentos, que posteriormente são servidos para os próprios alunos e funcionários do setor (Figuras 7, 8 e 9). As práticas pedagógicas desenvolvidas no projeto visam sensibilizar e conscientizar os jovens tanto para as questões ambientais quanto para a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis. No Florescer foram entrevistados treze educandos com idades compreendidas entre 16 a 18 anos e o Julio, chef de cozinha.



Figura 7 - Horta localizada no Centro de Responsabilidade Socioambiental- do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Figura 8 - Alunos da Jardinagem realizando a manutenção da horta.



Figura 9 - Alunos da jardinagem após a colheita das hortaliças.



II - Formatação do questionário dos jovens

Para a concretização deste projeto, optamos por estruturar a metodologia em duas etapas: a primeira foi realização de pesquisa bibliográfica baseada em algumas linhas de estudo científicos, onde temas como “Hortas Escolares”, “Hortas em Comunidades”, “Educação Ambiental e Nutricional” e “Educação e Saúde” foram buscados. A partir dessa pesquisa foi elaborado um roteiro que permitisse responder às nossas indagações. Em todo o processo buscamos uniformizar as entrevistas sem extenuar o entrevistado. Ao final chegamos a dez questões elaboradas e algum tempo livre para observações que o entrevistado quisesse fazer, o que caracteriza uma entrevista previamente estruturada (Figura 10). Esse modelo permite obter um máximo de informações com um mínimo de perguntas (BONI & QUARESMA, 2005). Todas as entrevistas foram gravadas em um celular Sansung S9 e posteriormente transcritas para análise.

Figura 10 - Questionário aplicado aos alunos nos três locais avaliados.

III - Formatação do questionário dos responsáveis

Foram também entrevistados responsáveis pelo cultivo ou elaboração do cardápio dos locais de estudo. Dois questionários distintos foram construídos, um direcionado aos responsáveis pela elaboração do cardápio e ou consumo e outro direcionado aos envolvidos no cultivo (Figuras 11 e 12). O objetivo foi verificar através do olhar de quem lida diariamente com os jovens as possíveis modificações que surgiram através da pratica diária.

Figura 11 – Questionário aplicado aos profissionais ligados transformação das hortaliças em alimento e ao seu consumo na Escola Municipal Emma D’ Ávila e Projeto Florescer.



Figura 12 – Questionário aplicado ao profissional ligado à produção dos alimentos da horta do Morro da Formiga.



RESULTADOS E DISCUSSÃO



Dezenove jovens foram entrevistados nos três locais de estudo, treze no Centro de Responsabilidade Socioambiental do JBRJ, quatro na Escola Municipal Emma D`Ávilla, e dois no Morro da Formiga.

Dentre os dezenove, quatro jovens já tinham horta em casa e a partir do conhecimento adquirido com a prática nos locais de estudo passaram a atuar nas mesmas. Todos se declararam desejosos de ter uma horta em casa.

Quando perguntados sobre a importância de se tê-la, o principal fator apontado foi a melhoria da saúde. Quinze jovens no total falaram sobre isso, sete deles mencionaram o não uso de agrotóxico como o ponto importante no cultivo saudável. Dois jovens mencionaram a economia, apenas um jovem mencionou a beleza visual e outro a fisiologia da germinação.

Sobre a utilização na vida cotidiana dos conceitos aprendidos nas escolas, seis jovens falaram das técnicas do cultivo orgânico, inclusive da compostagem, cinco da melhoria da qualidade alimentar, três da redução da poluição, um jovem falou sobre reciclagem de materiais e outro sobre fisiologia da germinação.

Há um consenso geral entre os jovens entrevistados de que o cultivo de hortas caseiras e orgânicas só trás benefícios. Quinze jovens disseram que vale a pena produzir seu próprio alimento e quatro disseram não saber ou não ter opinião formada sobre o assunto. Mais uma vez a alimentação saudável é foi o termo mais empregado, oito jovens falaram sobre isso. A economia foi o segundo fator mais (cinco jovens), seguido de conhecimento de cultivo limpo (dois jovens), e finalmente o beneficio de não comer alimentos geneticamente modificados, mencionado por um jovem.

Quando perguntados sobre a importância de consumir alimentos orgânicos, nove jovens falam da saúde proporcionada e oito sobre o não comer agrotóxicos, um mencionou que os alimentos orgânicos tem sabor melhor e um jovem disse não saber.

Quando perguntados se sabiam o que eram agrotóxicos, dois jovens disseram não saber, nove disseram saber parcialmente e oito afirmaram saber. Entretanto, quando tentavam exemplificar suas afirmativas, alguns explanavam corretamente, dizendo que são venenos, que podem causar doenças como câncer, má formação genética e ou aumento da pressão arterial. Outros jovens, entretanto se confundiam, nove jovens relataram equivocadamente que os agrotóxicos faziam a planta crescer mas não eram bons pra saúde, evidenciando uma confusão entre os termos adubação química e agrotóxico. A unanimidade ficou no conceito que trazem prejuízos a saúde do planeta. Os dezenove jovens tem esse conceito bem fundamentado.

Quando perguntados sobre o motivo pelo qual jovens não gostam de hortaliças, onze jovens disseram que há falta de incentivo por parte dos pais, oito apontaram o desconhecimento dos seus benefícios, dois jovens disseram que hambúrguer e pizza são mais gostosos e um disse não saber.

De maneira geral, os hábitos alimentares do grupo é muito bom, oito jovens afirmaram que comem legumes e verduras todos os dias, seis jovens afirmaram que comem quase todos os dias, dois jovens comem pelo menos uma vez por semana e três jovens dizem não saber.

A vivência em cada um dos projetos, segundo os próprios jovens, modificou os seus hábitos alimentares, introduzindo novos alimentos que até então eram rejeitados, como beterraba, abóbora, quiabo, jiló, repolho, pepino, cenoura, almerão, chicória, coentro e taioba.

A última pergunta feita aos jovens foi sobre o quão importante foi o aprender sobre cultivo e posteriormente consumir os alimentos cultivados. Nove jovens do grupo responderam que o acesso a essas informações lhes proporcionou uma melhor qualidade alimentar e consequentemente melhor qualidade de vida. Exemplificaram com melhorias visíveis na pele, emagrecimento e redução do consumo de sal. Uma parte do grupo citou o próprio conhecimento em si como fator importante enquanto que todos concordaram que a construção da horta e o seu consumo aproxima as pessoas, favorecendo o convívio e o trabalho em equipe, o que só melhora toda a vida. A ideia principal de cada resposta passada pelos entrevistados foi registrada nas tabelas 1, 2 e 3.

Uma equipe de profissionais está sempre envolvida nesses projetos, têm agrônomos, chefs, merendeiras, hortelãos. São profissionais que lidam diariamente com estes jovens, daí a importância de se conhecer suas impressões para avaliar no que a implantação de uma horta e o consumo dos alimentos produzidos interferiu na vida desses jovens. No Projeto Florescer entrevistou-se, Júlio, responsável pelo cardápio e pelo preparo dos alimentos vindos da horta, na Escola Municipal Emma D’ Ávila entrevistou-se a merendeira Regina e no Morro da Formiga, o Sr. Orlando, hortelão responsável pelo cultivo.

No Projeto Florescer e na Escola Municipal Emma D’Ávilla os profissionais entrevistados conhecem o cultivo de perto, mas não são diretamente envolvidos nele, Julio é chef de cozinha, colhe os alimentos junto com os jovens e os transforma e pratos saborosos para agradar até mesmo os que têm resistência ao consumo de vegetais. Ele mostra através do seu relato que a falta de incentivo mencionada pelos jovens quando indagados sobre o porquê do baixo consumo de alimentos saudáveis pode ser driblada com estratégias, confirmando que a vida corrida dos pais muitas vezes não deixa tempo para que se dediquem a pratica desse tipo de incentivo. Regina, a merendeira, fala de introdução gradativa, o que mais uma vez reforça a necessidade de se educar para comer melhor. Todos os jovens entrevistados relataram aprendizado no consumo de novos alimentos a partir da convivência, exemplificando que desconheciam diversos alimentos até chegarem ao Florescer ou a Horta da Escola Emma D’Ávilla, reforçando que é preciso conhecer para consumir (Figura 13).

O terceiro entrevistado foi o Sr. Orlando, hortelão responsável pelo cultivo no Morro da Formiga do Projeto Hortas Cariocas. Ele lida diariamente com os jovens nas fases de implantação e colheita da horta, tais como preparo de solo, semeadura, rega, adubação e controle de pragas. Alguns pontos importantes foram levantados pelo Sr. Orlando durante a entrevista e um dos que precisamos ressaltar é que o aprendizado e os hábitos adquiridos dentro do projeto pelos jovens são levados para os lares. Os jovens aprendem como cultivar e passam a fazê-lo em suas casas, inovando e utilizando materiais recicláveis, construindo hortas verticais, disseminando conhecimento. Outro fator de extrema relevância é o caráter social do projeto, famílias inteiras se envolvem de alguma forma com o cultivo, gerando um sentimento de grupo e parceria dentro de comunidades carentes. Além disso, parte dos alimentos produzidos são doados para as famílias mais carentes. São alimentos de qualidade, cultivados com critérios e sem aditivos químicos que chegam para pessoas necessitadas (Figura 14).



Tabela 1 – Respostas fornecidas por jovens do Projeto Florescer do Centro de Responsabilidade Socioambiental às perguntas elaboradas na figura 10.

Tabela 2 - Respostas fornecidas por jovens entrevistados na Escola Municipal Emma D’ Ávila às perguntas elaboradas na figura 10.



Tabela 3 - Respostas fornecidas por jovens entrevistados na no Projeto Hortas Cariocas- Morro da Formiga às perguntas elaboradas na figura 10.



Figura 13 – Entrevistas realizadas com o chef do Florescer e com a merendeira da Escola Municipal Emma D’ Ávilla.

Figura 14 – Entrevista realizada com o responsável pelo cultivo da horta do Morro da Formiga.



As entrevistas evidenciaram que a construção de uma horta proporcionou aos alunos aulas em um espaço aberto e em contato direto com a natureza, algo pouco comum. Durante o processo os jovens aprendem sobre semeadura, plantio, cultivo e consumo das hortaliças. Esse contato, além de estimular a melhoria alimentar destes mesmos jovens e de suas famílias, pode despertar o interesse por biologia, fisiologia vegetal e meio ambiente. Os alimentos produzidos em excesso pela Escola Emma D’Ávila e em outros projetos semelhantes são doados aos familiares dos alunos e isso de certa forma colabora com a reestruturação da comunidade, social e culturalmente (OLIVEIRA, 2015).

As escolas municipais e estaduais brasileiras servem alimentação aos seus alunos, entretanto esse processo não é visto como conteúdo de ensino. O Projeto Florescer, cultiva, consome e oferece cursos sobre o tema, o que sem duvida reflete na alta aceitação dos alimentos considerados “não agradáveis” pela a maioria, como as hortaliças (Figura 15). Com esse entendimento o projeto contribui para mudar a realidade de muitos jovens que se encontram em situação de vulnerabilidade social (NASCIMENTO & FLEIG, 2012). Da mesma forma esse resultado é observado nas hortas do Projeto Hortas Cariocas.

A partir das entrevistas é possível concluir que a barreira entre consumir fast foods e alimentos saudáveis pode ser gradativamente rompida quando o jovem for conscientizado sobre os riscos do consumo de substâncias nocivas e capacitado para produzir seu próprio alimento (LOPES @ ALBUQUERQUE, 2018; MORGADO e SANTOS, 2008). Ressaltando que esse jovem passa a ser um novo agente de construção dessa ideia, levando para sua família, amigos e comunidade o que aprende. A vivência diária trouxe, para muitos informações sobre riscos do consumo não só de alimentos não saudáveis como também a forma correta de produzi-los (AQUINO & ASSIS, 2005). Com os altos índices de criminalidade em comunidades carentes, as hortas surgem também como um elemento de inclusão social e redução da criminalidade, minimizando práticas ilícitas nesses locais. A sua construção e manejo geram empregos, proporcionando maior convívio e promovendo a ocupação de terrenos ociosos (SILVA & FONSECA, 2011). Através das atividades práticas como a reciclagem de resíduos orgânicos, compostagem para a produção de adubo orgânico, captação de chorume da composteira e uso de métodos alternativos de controle de pragas há um despertar para a valorização de estudos relacionados à educação ambiental, o que, sem dúvida, melhora todo o contexto de uma comunidade (BETTIOL & CAMPANHOLA, 2003; KANDLER, 2012).



Figura 15- Almoço servido aos alunos do CRS.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ficou claro para nós que a implementação de uma horta cercada de profissionais competentes e interdisciplinares, tem resultados altamente positivos não apenas para os jovens que atuam nesses projetos e sim para um contexto bem maior, que envolve pais, irmãos, familiares e amigos. A alimentação mais saudável, que é o principal beneficio, traz junto informação e formação em outras áreas do conhecimento. A introdução de uma horta envolve e transmite conhecimentos de agronomia, biologia, toxicologia, ecologia, nutrição, solos e outros. O contexto social ou socioambiental é, sem dúvida, um dos grandes beneficiados com a prática também. É notória a melhoria na qualidade das relações interpessoais e ambientais dos envolvidos. Portanto, é fundamental e necessário que mais iniciativas nesse sentido se transformem em realidade. Iniciativas voltadas para a Educação Socioambiental, sensibilizando a população com questões ambientais e conscientizado-a da importância dos bons hábitos alimentares.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



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