EDUCAÇÃO AMBIENTAL, RESÍDUOS SÓLIDOS E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA EM ITAJUBÁ- MG

Fernando Yuri da Silva Reis¹, Lucas Martins Brito², Luiza Maria Marcos Cerqueira Mendes³, Marina Batista de Carvalho 4, Tayrine Parreira Brito5, Letícia de Alcântara Moreira6, Ana Lúcia Fonseca7



¹ Mestre em Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Universidade Federal de Itajubá, fernandoysreis@gmail.com;

² Mestre em Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Universidade Federal de Itajubá, lucasmartinsbrito@gmail.com;

³ Mestra em Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Universidade Federal de Itajubá, luizamendess@hotmail.com;

4 Mestra em Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Universidade Federal de Itajubá, maribc89@yahoo.com.br;

5 Aluna Doutorado em Engenharia Agrícola, Universidade Estadual de Campinas; tayrinepb@gmail.com;

6 Aluna Doutorado em Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Universidade Federal de Itajubá, lemorera@hotmail.com;

7 Professora no Instituto de Recursos Naturais, Universidade Federal de Itajubá, afonseca@unifei.edu.br.





Resumo: o presente trabalho tem por objetivo apresentar um relato de experiência de uma atividade de extensão desenvolvida em uma escola rural do município de Itajubá- MG, a qual teve como tema o reaproveitamento dos resíduos sólidos orgânicos. Como resultados, tem-se a participação ativa dos alunos envolvidos, principalmente nas etapas de montagem das composteiras e hortas verticais. Contudo, a avaliação do projeto foi positiva e considera que os alunos fixaram os conceitos trabalhados.



Abstract: The present work aims to present an experience report of an extension activity developed in a rural school in the city of Itajubá- MG, which had as theme the reuse of organic solid waste. As a result, there is the active participation of the students involved, mainly in the stages of assembly of the composting and vertical gardens. However, the evaluation of the project was positive and considers that the students fixed the concepts worked.

Introdução

O desenvolvimento econômico, o crescimento populacional, a urbanização e a revolução tecnológica vêm sendo acompanhados por alterações no estilo de vida e nos modos de produção e consumo da população. Como decorrência direta desses processos, o aumento na produção de resíduos sólidos, tanto em quantidade como em diversidade, tem sido um grande problema nos grandes centros urbanos. Diariamente, são coletadas no Brasil entre 180 e 250 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos (IBGE, 2010; ABRELPE, 2010).

A geração desses resíduos cresceu 4,1% de 2012 para 2013, enquanto que a taxa de crescimento populacional urbano foi de 3,7% no mesmo período (ABRELPE, 2010).

A maior porcentagem (51,4%) dos resíduos gerados nas cidades brasileiras é constituída por resíduos sólidos orgânicos (IBGE, 2010).

Os resíduos orgânicos são compostos de restos de vegetais e animais que decompõe facilmente na natureza. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2016) as origens destes resíduos podem ser de fontes diversas, como: “doméstica (restos de alimentos e podas), agrícola ou industrial (resíduos de agroindústria alimentícia, indústria madeireira, frigoríficos), de saneamento básico (lodos de estações de tratamento de esgotos), entre outras”.

Atualmente, a problemática ambiental da geração de resíduos sólidos constitui um sério desafio a ser enfrentado, considerando que o crescimento populacional e o aumento do grau de urbanização não têm sido acompanhados com as medidas necessárias para dar um destino adequado ao lixo produzido (COELHO, 2000).

Embora tenha havido progresso nos últimos vinte anos, os resíduos ainda são depositados de maneira incorreta em vazadouros a céu aberto, os chamados lixões, em mais da metade dos municípios brasileiros (GOUVEIA, 2012).

Quando dispostos em aterros ou lixões estes resíduos causam elevados impactos ambientais, reduzem o tempo de vida útil dos aterros e geram despesas que poderiam ser evitadas. Uma vez acondicionados nestes locais, os resíduos sólidos podem comprometer a qualidade do solo, da água e do ar, por serem fontes de compostos orgânicos voláteis, pesticidas, solventes e metais pesados, entre outros (GIUSTI, 2009 apud GOUVEIA, 2012).

A decomposição da matéria orgânica presente no lixo resulta na formação de um líquido de cor escura, o chorume, que pode contaminar o solo e as águas superficiais ou subterrâneas pela percolação deste líquido até o lençol freático. Pode ocorrer também a formação de gases tóxicos, asfixiantes e explosivos que se acumulam no subsolo ou são lançados na atmosfera 7 (GOUVEIA; PRADO, 2010).

Além disso, os locais de armazenamento e de disposição final tornam-se ambientes propícios para a proliferação de vetores e de outros agentes transmissores de doenças. Uma forma viável e sustentável de reciclar um volume tão grande de resíduos orgânicos e diminuir a problemática do mau gerenciamento desses resíduos é processá-lo por meio da compostagem.

Através da compostagem – decomposição aeróbia por microrganismos – é possível transformar a fatia orgânica dos resíduos, obtendo-se um produto útil como fertilizante do solo (REIS; SELBACH; BIDONE, 2003). No entanto, o processo da compostagem ainda é pouco aceito culturalmente no Brasil. Estima-se que apenas 1,6% desses resíduos sejam aproveitados desta maneira no país (IPEA, 2012) e “aproveitar este enorme potencial de nutrientes para devolver fertilidade para os solos brasileiros está entre os maiores desafios para a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos” (MMA, 2016).

Dentro do contexto exposto, iniciativas de educação ambiental podem servir como incentivos para o reconhecimento da compostagem como fator importante para a redução de lixo e, em última instância, como elemento gerador de renda.

Neste sentido, este trabalho tem por objetivo relatar uma atividade de educação ambiental, cuja temática central foi o reaproveitamento dos resíduos sólidos orgânicos.

A atividade foi desenvolvida por alunos do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Recursos Hídricos, como parte dos requisitos para aprovação na disciplina intitulada de “Desafios Socioambientais” e cumprindo com um dos objetivos da Universidade, que é a Extensão. O público alvo da proposta foi alunos de uma escola municipal localizada na zona rural do município de Itajubá, Sul de Minas Gerais.



Metodologia

O presente projeto foi desenvolvido em uma escola municipal rural, a qual localiza-se na rodovia Itajubá-Maria da Fé, Km 5, bairro Juru. Cerca de 80 alunos estudam na escola, incluindo alunos de creches (período integral), pré-escola (meio período) e ensino regular fundamental, anos iniciais (meio período). O projeto abrangeu 21 alunos dos 4° e 5° anos.

As principais atividades práticas desenvolvidas ao longo do projeto foram: a construção da composteira, como forma de apresentar uma alternativa ambientalmente adequada a destinação dos resíduos sólidos orgânicos; e a construção de uma horta vertical, a fim de apresentar efetivamente a utilidade do produto gerado na composteira, o húmus.

No período necessário para que o resíduo orgânico se convertesse em húmus, foram realizadas visitas à escola, para verificar o funcionamento da composteira, bem como apresentar pequenas palestras sobre temas relacionados ao meio ambiente.

Cabe ressaltar que as composteiras e as hortas verticais foram montadas com a participação dos alunos, as etapas que envolviam algum risco foram feitas preliminarmente, como forma de manter a segurança dos alunos.

Para construção das mesmas foi utilizada a metodologia proposta por Reis, Selbach e Bidone (2003) (Figura 1).

Figura 1- Esquema de composteira feita com baldes.



Os materiais utilizados na construção da composteira foram: Três baldes opacos, que possam ser empilhadas e uma tampa (um dos baldes pode ter altura menor que os outros); Banco para apoiar as caixas; Torneirinha de bebedouro; Furadeira com broca de 4 ou 5 milímetros (ou outra técnica para fazer furos em plástico);Tela para colocar sobre o balde de chorume, a fim de filtrar o líquido e impedir a passagem de terra e minhocas; Minhocas californianas; Terra; jornal, serragem e folhas secas

Para finalizar as ações, foram construídas também hortas verticais, nessa etapa foram utilizadas garrafas PET, como forma de fortalecer o processo de aprendizagem dos alunos envolvidos e fixando conceitos inerentes ao tema, como o de reaproveitamento (Figura 2). Na construção da composteira, foram utilizados os seguintes materiais: Garrafas PET de 2 litros; Tesoura sem ponta; Terra adubada com o húmus gerado na composteira; Corda, barbante ou varal; Arruelas; Mudas de hortaliças e temperos; e Furadeira.

Figura 2 – Esquema para montagem da horta vertical com garrafas PET

Resultados

A participação dos alunos foi muito positiva em todas as etapas do projeto, estes se mostraram interpresados no tema, bem como foram participativos. A escola onde a atividade foi realizada foi receptiva e avaliou de forma positivo o projeto desenvolvido.

No que diz respeito às palestras, as mesmas foram divididas da seguinte forma:

Buscou-se sempre apresentar os assuntos de maneira lúdica e de modo a permitir aos alunos associarem os conceitos as vivencias de seu dia a dia.

A construção da composteira foi bastante simples e de fácil entendimento dos alunos. Os materiais utilizados foram bastante acessíveis e de baixo custo. Seguindo-se as orientações descritas na metodologia e com o acompanhamento regular dos membros do grupo, a composteira funcionou perfeitamente e após o prazo previsto produziu um húmus de excelente qualidade, que pode ser utilizado na horta vertical confeccionada ao final do projeto.

Foram passadas instruções aos funcionários da cozinha e às professoras para que possam continuar como o funcionamento da composteira, além das cartilhas distribuídas no dia da construção da composteira, que ficaram disponíveis na escola, para qualquer consulta.

Também foram disponibilizados os contatos dos membros do grupo para o esclarecimento de eventuais dúvidas que possam surgir durante o manuseio da composteira. Esta atividade foi bastante eficiente no propósito de apresentar aos alunos a problemática da elevada produção de resíduos orgânicos e uma alternativa ambientalmente adequada para a destinação dos mesmos. Ao final desta atividade, avaliou-se a aprendizagem dos alunos por meio da aplicação da dinâmica do cartaz. De maneira geral, os alunos responderam positivamente a dinâmica, sabendo diferenciar e explicar quais resíduos poderiam ou não ser utilizados na composteira.

Como fechamento do projeto, com a construção da horta vertical, utilizando garrafa PET e com a aplicação do húmus produzido na composteira, buscou-se realizar uma atividade que resgatasse e reafirmasse os principais assuntos tratados ao longo do trabalho e mostrasse aos alunos efetivamente a aplicabilidade dos conceitos abordados, de modo a agir em diversas frentes no que diz respeito a temática meio ambiente, conscientizando de maneira efetiva os alunos quanto a este assunto.

Analisando-se os desenhos feitos pelos alunos, como forma de se avaliar a assimilação dos conceitos, pode-se observar que os mesmos assimilaram os conceitos trabalhados.

Com base na percepção dos membros do grupo com relação a reação dos alunos às atividades desenvolvidas no projeto, assim como por meio da análise das dinâmicas aplicadas, pode-se observar uma boa assimilação dos conceitos passados aos alunos, bem como a sensibilização dos mesmos quanto às questões ambientais e à importância da preservação do meio ambiente e às diversas possibilidades de cada um agir para alcançar este objetivo.



Conclusões

Pode-se observar uma efetividade no alcance do objetivo de informar e sensibilizar alunos de escola rural de Itajubá, quanto a questões ambientais. A apresentação destes assuntos, ainda nos primeiros anos da escola é muito importante, pois só a repetição destes conceitos ao longo de toda a formação do aluno é que vai 19 poder criar uma base de conhecimento sólida e permitir uma real educação ambiental, um dos eixos fundamentais para a aplicação e funcionamento do conceito de sustentabilidade. Projetos de extensão, envolvendo atividades práticas e abrangendo diversas frentes de atuação, são eficientes na assimilação do conhecimento, além de transmitirem aos alunos a sensação de serem uteis e responsáveis na contribuição para melhoria do meio ambiente e que práticas simples e pequenas realizadas individualmente podem resultar em efeitos significativos para melhoria ambiental. Com a conclusão deste projeto, pode-se, principalmente, perceber a capacidade e o dever que a universidade tem, por deter o conhecimento, de interferir positivamente na comunidade em que se insere, não só por meio de grandes produções científicas, mas, também, quando analisa as carências locais e busca, de maneira viável, atender as demandas da população, observando as peculiaridades de cada local. Cumprindo um papel social importante de retribuir os investimentos técnicos e financeiros concedidos à universidade, por meio do compartilhamento do conhecimento e do desenvolvimento local.



Bibliografia

Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil- 2010. São Paulo: Abrelpe; 2010.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, PNSB -2008. Rio de Janeiro: IB; 2010.

COELHO, H. Manual de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2000. 85p.

GIUSTI, L. A review of waste management practices and their impact on human health. Waste Manage. 2009; 29(8): 2227-2239.

GOUVEIA, N; PRADO, R.R. Riscos à saúde em áreas próximas a aterros de resíduos sólidos urbanos. Revista de Saúde Pública, 2010; 44 (5): 859-866.

Ministério do Meio Ambiente, MMA. Gestão de Resíduos Orgânicos. Brasília: MMA; 2016.

REIS, M. F. P.; SELBACH, P. A.; BIDONE, F. R. A. Curso de Compostagem: aspectos teóricos e operacionais. Porto Alegre: ABES/RS, 2003. 55 p.