EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO FÍSICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL



Désirée Gonçalves Raggi ¹; Renata Corti Sant’Ana²; Roseli Francisco da Rocha Dias³; Guilherme Carlesso Braz³



1 - Doutora em Educação. Instituto Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo (UFES). desireeraggi@yahoo.com.br.

2 – Mestre em Ciência, Tecnologia e Educação. Faculdade Vale do Cricaré (FVC). renata.corti@gmail.com

3 – Mestrandos em Ciência, Tecnologia e Educação. Faculdade Vale do Cricaré (FVC).

roseli_francisco_dias@hotmail.com ; guilherme-carlesso@hotmail.com



RESUMO

O presente artigo traz uma reflexão da prática pedagógica da educação física relacionada com a educação ambiental no contexto da educação infantil. Essa prática pedagógica está embasada em autores e ordenamento legal da educação, como Jose Carlos Libâneo, Henri Giroux, Gomez, Soares, Marcos Rigota, Lacerda, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), entre outros, cujas considerações são importantes para refletir sobre o processo educativo, bem como, verificar como os conteúdos e a prática pedagógica podem auxiliar no crescimento de um ser humano em formação, como é o caso das crianças que frequentam a educação infantil. A metodologia utilizada envolveu aulas em forma de brincadeiras como girar, rolar, equilibrar, dançar, entre outras, buscando aprender explorando o próprio espaço/ambiente escolar, na perspectiva da educação ambiental como colocação do lixo em recipientes adequados e separado entre seco e orgânico. A discussão dos resultados traz considerações sobre o valor do trabalho desenvolvido, estabelecendo a correlação entre educação ambiental e educação física, amplamente favorável para conscientização e desenvolvimento dos alunos. Conclui-se que é deveras benéfico para as crianças, envolvidas nas aulas de educação física estabelecer uma relação à educação ambiental, utilizando o conteúdo da prática de ginástica, ainda em forma de brincadeiras, pois se observa um crescimento emotivo, afetivo e sociocultural evidente e uma consciência ambiental crescente.

Palavras-chave: educação física, educação ambiental, ginástica, prática pedagógica



ABSTRACT

This article reflects on the pedagogical practice of physical education related to environmental education in the context of early childhood education. This pedagogical practice is based on authors and legal ordering of education, such as Jose Carlos Libâneo, Henri Giroux, Gomez, Soares, Marcos Rigota, Lacerda, the National Curricular Common Base (BNCC), among others, whose considerations are important to reflect on the educational process, as well as, to verify how the contents and the pedagogical practice can help in the growth of a human being in formation, as is the case of the children who attend the early childhood education. The methodology used involved classes in the form of games such as spinning, rolling, balancing, dancing, among others, seeking to learn by exploring the school space / environment, in the perspective of environmental education, such as placing waste in suitable containers and separated between dry and organic. The discussion of the results brings considerations about the value of the work developed, establishing the correlation between environmental education and physical education, which is widely favorable for students' awareness and development. We conclude that it is very beneficial for children involved in physical education classes to establish a relationship with environmental education, using the content of gymnastics practice, still in the form of games, as there is an evident emotional, affective and sociocultural growth and a growing environmental awareness.

Keyword: physical education, environmental education, gymnastics, pedagogical practice







1 INTRODUÇÃO

O presente artigo trata de aspectos curriculares da Educação Física inter-relacionada com a Educação Ambiental. A prática de qualquer atividade física sempre necessitará de um espaço em ambiente fechado ou ao ar livre, como numa quadra de esportes, um campo de jogos gramado e também de trilhas em meio a árvores, próximo a rios, na praia, entre diversas possibilidades. Desta forma, é de suma importância que o praticante, no caso, o aluno tenha consciência da importância de um ambiente saudável para a prática de atividades físicas.

A ginástica é uma das práticas bastante vivenciadas em aulas de educação física. Importante é destacar que essa prática precisa estar cercada de cuidados e não ser, também, uma mera tarefa a ser desenvolvida sem uma necessária reflexão sobre o que se pretende alcançar e o que os discentes aproveitarão com um trabalho que pode ser profícuo para a construção de saberes, a saúde e a autoestima dos estudantes e realização pessoal do docente, além de se sentirem – todos os envolvidos – responsáveis pela manutenção e preservação do meio ambiente.

Na prática pedagógica para que se alcance uma significativa formação do aluno, faz-se necessária uma constante reflexão em torno do planejamento e do estabelecimento de objetivos acerca do que se ensina e como se ensina. Assim, o educador deve clarificar que tipo de homem e sociedade ele pretende construir. Para isso, o educador deve ser sabedor do contexto social dos seus alunos para que possa utilizar mecanismos, procedimentos didáticos que viabilizem uma reflexão crítica de sua realidade, possibilitando-lhe atuar e transformar sua realidade, tornando-se sujeito e não apenas mero receptor de conhecimentos. Assim, segundo Libâneo (1994):

Educação é um conceito amplo que se refere ao processo de desenvolvimento de qualidades unilaterais da personalidade, envolvendo a formação de qualidades humanas ─ físicas, morais, intelectuais, estéticas ─ tendo em vista a orientação da atividade humana na sua relação com o meio social, num determinado contexto de relações sociais (LIBÂNEO, 1994, p. 22).

Desta forma, para a efetivação de uma prática contextualizada, o profissional da educação deve estar em sintonia com as mudanças e transformações sociais que provocam impactos no cotidiano escolar. Para isso, o profissional da educação necessita estar em processo de formação continuada, para buscar subsídios que orientem sua prática pedagógica-curricular. Nesse entendimento, o processo de formação continuada do professor deve ter como objetivo compreender e refletir sobre sua ação pedagógica, com o intuito de estabelecer estudos e análises de sua própria prática, visto que, segundo Gómez (2000), “sem compreender o que se faz, a prática pedagógica é mera reprodução de hábitos existentes, ou respostas que os docentes devem fornecer por demandas e ordens externas” (GÓMEZ, 2000, p. 09). Assim, o significado do currículo deve ser direcionado não pelo aspecto da prescrição, mas fundamentalmente, a concretização deste na escola. Ou seja, o que, como e de que forma e desenvolve a prática pedagógica na realidade escolar.

Assim, a Educação Física é um componente curricular, aqui entendida como área de conhecimento que tematiza e problematiza o universo da cultura corporal de movimento, tendo, como fundamento teórico que orienta nossa prática, o entendimento de Soares et al (1992):

a educação física é uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal (SOARES et al, 1992, p. 50).

Percebe-se, portanto, que essa perspectiva revela a concretização de um currículo voltado para a operacionalização de uma educação que privilegia o desenvolvimento de um aluno crítico e atuante na compreensão e transformação da sociedade.

Assim, Chervel (1990, p. 200) aponta que: “a escola desempenha um papel eminentemente ativo e criativo que somente a história das disciplinas escolares está apta a evidenciar, que é o de instruir e formar as crianças, ao mesmo tempo em que constrói e seleciona cultura”.

Desta forma, o papel da escola, ao não se constituir apenas na transmissão de conhecimentos, mas também criar as disciplinas que serão selecionadas, converter e sistematizar de forma inovadora os conteúdos, constituindo-se dessa forma em saber escolar (Saviani, 1994). Esse saber escolar configura-se em uma linguagem que “adquire imediatamente sua autonomia, tornando-se um objeto cultural em si e, apesar de um certo descrédito que se deve ao fato de sua origem escolar, ela consegue, contudo infiltrar-se sub-repticiamente na cultura da sociedade global” (CHEREVEL, 1990, p. 200).

Isso revela que a escola veicula, através das disciplinas escolares, um conhecimento que deve ser planejado com base nas condições escolares, no público que se destina e também na reelaboração/reinterpretação do conhecimento científico em conhecimento escolar.

Desse modo, o professor de educação física deve buscar construir uma realidade educacional escolar em que o saber e o fazer constituem um par dialético, numa prática dialógica marcada pela produtividade consciente, capaz de superar a atividade mecânica do currículo da educação física e oferecer aos educandos oportunidades e experiências educativas sistematizadas que vislumbrem uma educação significativa para os alunos, tantos em termos de bem-estar – saúde, preparo corporal – como em termos ambientais conhecendo a real importância do verde, do ar puro, da água limpa e tantos outros aspectos que envolvem uma vida saudável num ambiente em condições de viver tranquilo, sem poluição dos elementos que constituem a natureza.



    1. Conhecendo o ambiente escolar: limites e possibilidade de aprendizagem das aulas de educação física.

A lócus do projeto foi uma instituição de ensino da rede Municipal de Serra (ES), que atende alunos da educação Infantil com idade de 3 a 5 anos. A escola possui 5 salas, uma pequena área interna coberta, um parquinho de areia, refeitório e áreas externas cobertas por grama e uma pista de caminhada. Nesse sentido, a educação física também trabalha tendo como objetivo a apropriação dos espaços e tempos da escola, contextualizando com a perspectiva da educação ambiental.

A escola não possui uma quadra com cobertura apropriada para a prática da educação física. Muitos são os desafios enfrentados com as intemperes do tempo (calor e chuva) que, muitas vezes, inviabilizam determinadas atividades planejadas. A área externa tem um piso áspero, com ondulações e ressaltos, ocasionando, às vezes, lesões e escoriações nos alunos, e isso tem sido de fato uma constante preocupação com a segurança dos alunos. No entanto, essa problemática não tem sido motivo de inércia e/ou comodismo na prática pedagógica, visto que, nessa área externa temos um paisagismo, que mescla áreas verdes com várias árvores, gramas, plantas com o concreto/ferro piso, bancos, grades, etc., tornando-o, assim, um ambiente para ser explorado e trabalhado na perspectiva da educação ambiental, pois entendemos que a educação ambiental deve ser iniciada desde cedo, já na educação infantil, a fim de sensibilizar e informar as crianças sobre a responsabilidade cidadã e social, no tocante à produção, ao descarte, à reciclagem do lixo e também na relação de convívio no e para o ambiente. Atualmente, observamos vários problemas que o excesso de lixo tem provocado no planeta e, consequentemente, na vida das pessoas, gerando impactos ambientais, econômicos, educacionais e de saúde pública, colocando em risco a vida de algumas espécies em extinção. Nesse sentido, entendemos que, desenvolver ações para a educação ambiental deve ser uma ação coletiva e colaborativa, perspectivando um trabalho inter - multi e de transdisciplinaridade.

Por isso, é imprescindível que as escolas implementem projetos institucionais referentes à educação ambiental, objetivando sensibilizar e conscientizar toda a comunidade escolar sobre a importância de atitudes ecologicamente corretas e sustentáveis para a preservação do ambiente.

Desta forma, os professores podem despertar uma reflexão crítica a partir da realidade dos alunos, da comunidade que está inserida, promovendo, junto a eles, reflexões e pesquisas sobre o lixo, na escola, no bairro e na cidade, buscando pensar como as pessoas/alunos descartam o lixo e qual a forma correta que a sociedade deveria utilizar em relação ao que é produzido e, também, qual sua relação/entendimento que o sujeito/criança estabelece e compreende do ambiente em que vive.

Nessa perspectiva, ao desenvolver as aulas de educação física, especificamente a ginástica, também empreendemos uma análise com as crianças sobre como podemos aprender e fazer a ginástica explorando o ambiente natural e modificado na escola, objetivando refletir sobre como o ser humano se constitui no e para o ambiente, e se suas ações são integradas e inter-relacionadas com o meio ambiente e todos os seres vivos.

Desse modo, cabe destacar que, ao pensar e desenvolver a prática pedagógica, temos como referência o conceito de criança trazido pela Resolução CNE/CEB nº 5/2009), em seu Artigo 4º:

sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura” (BRASIL, 2009).

Nesse primeiro trimestre, optamos em trabalhar com a ginástica, buscando propiciar atividades na perspectiva do que trata a Base Nacional Comum Curricular (2018)

Essa concepção de criança como ser que observa, questiona, levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila valores e que constrói conhecimentos e se apropria do conhecimento sistematizado por meio da ação e nas interações com o mundo físico e social não deve resultar no confinamento dessas aprendizagens a um processo de desenvolvimento natural ou espontâneo. Ao contrário, impõe a necessidade de imprimir intencionalidade educativa às práticas pedagógicas na Educação Infantil, tanto na creche quanto na pré-escola.

Essa intencionalidade consiste na organização e proposição, pelo educador, de experiências que permitam às crianças conhecer a si e ao outro e de conhecer e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que se traduzem nas práticas de cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar-se), nas brincadeiras, nas experimentações com materiais variados, na aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas (BNCC, 2018, p. 36).

As atividades foram direcionadas considerando a criança como ser histórico e pensante que pode ser capaz de estabelecer conexões e criticidade com as atividades e o mundo social em que está inserido. Nesse sentido, o papel do professor, na dinâmica pedagógica não pode se abster ao que Girox (1997) chama de “assumir responsabilidade ativa pelo levantamento de questões sérias acerca do que ensinam, como devem ensinar, e quais são as metas mais amplas pelas quais estão lutando”, (GIROX, 1997, p. 161) evidenciando-se, assim, que, para superar limites e dificuldades na prática pedagógica, faz-se necessário construir uma relação dialética entre teoria e ação pedagógica. Necessita-se, pois, refletir constantemente sobre as ações, atitudes e intenções, transformando a realidade escolar num laboratório de estudos, percebendo-se o professor, em tal processo, como, de acordo com a denominação de Girox (1997), um “intelectual transformador”.

Em virtude da importância e amplitude dos objetivos do projeto em foco, tornou-se necessário pensar previamente em cada item e fator necessários para a realização de um trabalho profícuo em prol das crianças que estariam presentes nas aulas de ginástica e, desta forma, oportunizar a esses pequenos-grandes seres um bem-estar durante a construção de uma aprendizagem própria para sua faixa etária.



    1. A educação ambiental na educação infantil

Na construção do projeto partimos do conceito de educação ambiental do Ministério do Meio Ambiente

"Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade" (Política Nacional de Educação Ambiental – Lei nº 9795/1999, Art 1º).

É fato essencial compreender que a educação ambiental precisa ser desenvolvida em todos os níveis e etapas da educação, propiciando conceitos, valores, experiências e vivências que canalizem para uma relação mais consciente com o ambiente.

Reigota (1994) define educação ambiental como um tema que está inserido em todos os aspectos que educam o cidadão, seja no espaço social, cultural, político ou educacional. O autor ainda percebe a Educação Ambiental com uma perspectiva global, onde a mesma não pode ser considerada simplesmente como uma disciplina do processo educativo e sim como a perspectiva que permeia todas as disciplinas.

Baldin (2015, p. 15) afirma que “a educação ambiental é uma atividade intencional, que deve desenvolver o indivíduo em sua relação com o meio ambiente e a sociedade para se desenvolver sustentavelmente”.

Nesta perspectiva, pautamo-nos nas orientações didáticas prescritas a partir do documento Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCENI, 1998), no eixo: Natureza e Sociedade, pois entendemos ser pertinente considerar relações/ações pedagógicas entre educação física e educação ambiental na educação infantil.

No RCENI observamos

O trabalho com os conhecimentos derivados das Ciências Humanas e Naturais deve ser voltado para a ampliação das experiências das crianças e para a construção de conhecimentos diversificados sobre o meio social e natural. Nesse sentido, refere-se à pluralidade de fenômenos e acontecimentos — físicos, biológicos, geográficos, históricos e culturais —, ao conhecimento da diversidade de formas de explicar e representar o mundo, ao contato com as explicações científicas e à possibilidade de conhecer e construir novas formas de pensar sobre os eventos que as cercam (RCENI, 1998, p. 166).

Da mesma fonte obtemos o que segue;

Dada a grande diversidade de temas que este eixo oferece, é preciso estruturar o trabalho de forma a escolher os assuntos mais relevantes para as crianças e o seu grupo social. As crianças devem, desde pequenas, ser instigadas a observar fenômenos, relatar acontecimentos, formular hipóteses, prever resultados para experimentos, conhecer diferentes contextos históricos e sociais, tentar localizá-los no espaço e no tempo. Podem também trocar ideias e informações, debatê-las, confrontá-las, distingui-las e representa-las, aprendendo, aos poucos, como se produz um conhecimento novo ou por que as ideias mudam ou permanecem. Contudo, o professor precisa ter claro que esses domínios e conhecimentos não se consolidam nesta etapa educacional. São construídos, gradativamente, na medida em que as crianças desenvolvem atitudes de curiosidade, de crítica, de refutação e de reformulação de explicações para a pluralidade e diversidade de fenômenos e acontecimentos do mundo social e natural. (RCENI, 1998, p. 173)

É preciso instigar nas crianças que as relações e atitudes humanas impactam o meio ambiente e todos os segmentos da sociedade e da vida.

Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas pedagógicas e as competências gerais da Educação Básica propostas pela BNCC, seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento asseguram, na Educação Infantil, as condições para que as crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural. (BNCC, 2018, p. 35)

Por isso, é relevante trabalhar e instigar nas crianças valores e atitudes que fomentem novos conhecimentos e comportamentos acerca de sua compreensão de meio ambiente, como separar adequadamente o lixo, cuidar do verde nos espaços que elas frequentam, preocupar-se com a vida vegetal e animal em todos os aspectos de sua possível compreensão.



  1. METODOLOGIA

Os fundamentos pedagógicos que orientam a metodologia empregada nas aulas de educação física baseiam-se nos parâmetros apontados na BNCC (2018), que indicam que:

...na Educação Infantil, as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças têm como eixos estruturantes as interações e a brincadeira, assegurando-lhes os direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se, a organização curricular da Educação Infantil na BNCC está estruturada em cinco campos de experiências, no âmbito dos quais são definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento (BNCC, 2018, p. 38).

O projeto “Educação física e educação ambiental: tematizando a ginástica na educação infantil” foi pensado a partir de duas constatações: a) na leitura de teóricos percebe-se que ainda há pouca reflexão com a questão ambiental quando se aborda temas de educação física e b) a pessoa humana, se não orientada desde a mais tenra idade, terá dificuldades para se tornar um cidadão consciente em termos ambientais.

Por isso, pensamos o projeto como um meio integrador entre as práticas físicas e as informações e orientações sobre o descarte correto do lixo, orientando sobre a separação dos elementos que o compõem.

Os itens a integrarem o trabalho são:

  1. Conversa com a equipe diretiva e com a coordenação pedagógica acerca dos planos de aula a serem elaborados;

  2. Reunião de pais para explicitar os propósitos deste projeto;

  3. Elaboração dos planos de aula, envolvendo atividades de ginástica com conversas sobre um ambiente saudável, os espaços do ambiente escolar livre de lixo e com ar mais puro;

  4. Orientação das crianças sobre o descarte do lixo;

  5. Instalação de recipientes para descarte de lixo, havendo um espaço para lixo seco e outro para lixo orgânico;

  6. Debates com os alunos sobre a possibilidade de reutilização de elementos do lixo seco pela indústria e do lixo orgânico para a produção de adubo para hortas e jardins, inclusive pomares.

Uma vez estabelecidas as tarefas, parte-se para a prática. Após a conversa com a equipe diretiva, é providenciada a instalação de recipientes fixos para a colocação de lixo, tendo cor vermelha para tipos de lixo como plástico e papel e cor verde para lixo orgânico, basicamente restos de merenda sobrando na hora do recreio. A instalação desses recipientes ocorre dentro do refeitório e ao lado da externo onde acontece a educação física.

Como a criança é considerada um ser que aprende com o brincar de diversas formas de andar, correr, rastejar, girar, esticar, manipular movimentos corporais, fazendo o uso dos diferentes aspectos presentes no ambiente escolar, para que possam, além de se divertir, desenvolver seu senso de estar presente e ser sujeito consciente de suas realizações. Esse aprender pelo brincar envolve a conscientização ambiental desde a mais tenra idade.

O trabalho é avaliado constantemente observando o crescimento dos conhecimentos acerca das atividades físicas desenvolvidas e a coerência das atitudes no momento em que o discente terá lixo a descartar. Também será observado o que os alunos dizem sobre o descarte de lixo em suas residências.

O acompanhamento é fundamental para conhecer as especificidades, características de cada um, seus limites e potencialidades. Assim, no processo avaliativo, a observação, participação, interação e registro são critérios adotados para a análise e formalização do resultado da avaliação do aluno, tendo em vista que a BNCC (2018) assevera que:

Ainda, é preciso acompanhar tanto essas práticas quanto as aprendizagens das crianças, realizando a observação da trajetória de cada criança e de todo o grupo – suas conquistas, avanços, possibilidades e aprendizagens. Por meio de diversos registros, feitos em diferentes momentos tanto pelos professores quanto pelas crianças (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos), é possível evidenciar a progressão ocorrida durante o período observado, sem intenção de seleção, promoção ou classificação de crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”. Trata-se de reunir elementos para reorganizar tempos, espaços e situações que garantam os direitos de aprendizagem de todas as crianças BNCC, 2018, p. 37).

Ao todo foram levadas em conta 20 horas-aulas, durante dez semanas, sendo que cada aula teve a duração de 50 minutos. As atividades envolveram movimentos corporais como saltar, equilibrar, rolar, girar, trepar e balançar, de forma livre, bem como, utilizando o ambiente com suporte e barreira. Outras atividades envolviam coreografias simples individuais e em duplas. Também se oportunizou um breve aquecimento com corrida ao redor do pátio da escola e, no final, a volta à calma com caminhadas lentas até parar. Depois sempre se conversou e se observou se havia lixo pelo chão e se observou nos recipientes se havia descarte feito de forma inadequada, além de explorar como as diferentes formas, texturas e contornos no ambiente escolar pode auxiliar na prática de atividades físicas.



  1. DISCUSSÃO

De acordo com o pensamento de estudiosos do campo da educação física na educação infantil para destacar o que aconteceu no trabalho que desenvolvemos dentro de nosso projeto.

Para Lacerda (2004),

A Educação Física, como componente curricular da Educação Infantil, tem como finalidade, dentre outras, a promoção de estratégias prazerosas de ensino, capazes de estimular as crianças a agirem sobre os objetos de forma a reconhecer suas propriedades, identificando suas múltiplas possibilidades de utilização individual e coletiva, ao mesmo tempo que adquirem competências de caráter instrumental, social, comunicativo e emocional adequadas e necessárias para a promoção do seu desenvolvimento cognitivo, psicomotor e sócio-afetivo, por meio da:

a) identificação, reconhecimento, comparação, agrupamento e/ou classificação dos elementos constitutivos e das propriedades do corpo, dos materiais utilizados e das práticas sociais manifestadas na aula, tais como a competição, por meio de atividades que tenham sentido/significado para a sua existência, sejam desafiadoras e enfatizem a superação do egocentrismo e/ou do individualismo;

b) socialização permanente em todas as experiências de aprendizagem, fomentando a autonomia, a capacidade criativa, a busca do prazer pelo que se faz, bem como pelo acesso à possibilidade de mudança de regras, tendo a organização grupal como fonte de resolução de problemas para transformação da realidade social;

c) estimulação da competência comunicativa (gráfica, verbal, escrita e teleológica), incentivada pela reflexão e, consequentemente, pela mediação do pensamento e dos sentimentos envolvidos na ação frente aos objetos, às pessoas e à realidade social simbolicamente estruturada pelo mundo adulto no contexto de sua cultura cotidiana (FARIA, 2003). (LACERDA, 2004, p. 256).

No trabalho desenvolvido no projeto, foi possível ver exatamente o que Lacerda (2004) e Faria (2003) enfatizaram. À medida que as aulas transcorriam, percebeu-se um entusiasmo de parte das crianças e uma vibração forte por parte delas só ao ver que estávamos chegando para as atividades.

Assim ocorreu uma socialização cada vez melhor durante todo o trabalho, e as crianças tiveram sua competência comunicativa bastante estimulada, o que demonstraram com seu comportamento de atenção para cada nova atividade, ou a repetição daquelas pelas quais já passaram em aulas anteriores, manifestando sua perspectiva para o que estava por vir a ser proposto. Neste aspecto, trabalhamos no parquinho, refletindo, com as crianças, o conceito de equilíbrio, não somente no aspecto físico-motor, mas também no contexto do ambiente natural e social, destacando como o ambiente arborizado pode ser significativo para dar sombra, dar condições de sobrevivência a diversas espécies de animais, na harmonização e estética do ambiente, dentre outras, ou seja, como pode contribuir para o equilíbrio ambiental, necessário para a vida de todas as espécies.

Percebemos uma forte interação entre as crianças e os professores. A partir da observação foi possível conhecer mais de cada aluno, notando comportamentos como insegurança, timidez, interação e amizades.

Cada criança tem seu jeito próprio de reagir aos estímulos, sendo que algumas respondem com mais rapidez do que outras, mas nenhuma deixa de se envolver e dar seu feedback.

Assim, é confortante e uma, diga-se, premiação para os docentes quando percebem o quão envolvido cada desses pequenos seres humanos se tornam e quão grandes eles se sentem em relação ao mundo em que vivem.

Foi marcante perceber a disciplina e aprendizado demonstrado na hora de entrar em filas, de fazer círculos, de atender a ordens diversas, de silenciar, de bater palmas, de conhecer e compreender como explorar a natureza, os diferentes aspectos do ambiente escolar para brincar e aprender os movimentos da ginástica, colocando o lixo nos recipientes adequados.

Como dizem Torres & Correa (2011), “A prática da ginástica é essencial para o indivíduo, pois contribui para o desenvolvimento integral do mesmo considerando os aspectos físico, cognitivo, social e psicológico do ser humano” (TORRES & CORREA, 2011, p. 2), assim, se para o adulto a atividade física, incluindo a ginástica traz tantos benefícios, para a criança não acontece diferente. Nesta aula, discutimos com os alunos a importância de cuidar e preservar todos os locais e ambientes em que passamos e ou vivemos. O cuidado em não destruir o que existe e não jogar lixo no chão deve ser constante, da mesma forma, ter cuidado com as plantas, animais e espaços como parques e áreas de lazer comunitárias.

Enquanto docentes, ministrando as aulas de ginástica para crianças, foi possível sentir uma grande realização profissional. Isso acontece quando se percebe a validade do trabalho que é realizado, levando a essas crinaças, em fase de despertar de suas potencialidades de desenvolvimento físico, emocional e social, a oportunidade de terem prazer em aprender, sentirem-se capaz de realizações com que sequer sonhavam e de poderem se expressar por uma linguagem corporal de desempenho efetivo e demonstrar seu amor à natureza por se preocuparem com um ambiente limpo de lixo e o mesmo separado adequadamente.

Nessa aula, trabalhamos com as crianças o assunto da importância de considerar que diversos espaços, ambientes, objetos e materiais podem ser utilizados para ajudar na prática de atividade física. Por isso, é imprescindível destacar valores, saberes e comportamentos que contribuem para as crianças adquirirem habilidades e competências capazes de promover práticas ecológicas e sustentáveis ao bem comum de todos.



  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um trabalho docente profícuo sempre tem algumas nuances: deixa o professor com a sensação do dever cumprido e de estar realizado como profissional naquele momento; coloca o discente num novo patamar em seu histórico de aprendizagem; afeta a família do aluno e faz a mesma sentir que o filho está sendo bem tratado, respeitado em sua história cultural e afetiva; faz a escola ser notória por oferecer um ensino de qualidade; demonstra à comunidade do entorno escolar que é possível, mesmo sem grandes recursos, causar uma transformação na forma de construir a aprendizagem de uma parcela de seus membros, que são os frequentadores da educação infantil; e provocar uma reação nas autoridades do sistema educacional a que sejam instados a investir em melhorias no aspecto de recursos para a escola em foco e possibilitar melhores condições para realizar as aulas de educação física e, especificamente, as de ginástica.

Finalizando o presente artigo, é possível afirmar que o resultado do projeto desenvolvido com aulas de ginástica para crianças da educação infantil foi plenamente exitoso conforme já debatido na discussão dos resultados.

Embora sempre seja necessário e possível melhorar o trabalho docente na disciplina de Educação Física, no momento em que se trabalha com ginástica para crianças, tem-se a nítida impressão de que se influi na vida desses seres humanos no início da construção de conhecimento para a vida toda. Novas relações emotivas, afetivas e culturais se estabelecem e, quando uma criança percebe que ela pode mais do que sabia executar com sua estrutura corporal em crescimento, isso faz com que ela se veja como um ser de um potencial incalculável. O simples brincar de se exercitar por meio da ginástica explorando o espaço escolar eleva a autoestima de cada aluno envolvido num projeto como o que acabamos de descrever.

Tendo, pois, alcançado nosso objetivo, é importante ressaltar que será importante que outros docentes-pesquisadores se debrucem sobre o tema e possam trazer acréscimos ao que experenciamos e relatamos neste trabalho.



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