A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ÂMBITO DA MITIGAÇÃO DA AGRICULTURA ITINERANTE NO DISTRITO DE SUSSUNDENGA, MOÇAMBIQUE

Munossiua Efremo1
efremomunossiua@yahoo.com.br

Reinaldo Portal Domingo2

Miguel Y. Ramírez Sánchez3

RESUMO: A agricultura itinerante é uma atividade praticada pelos camponeses e agricultores, usando a técnica de corte e queima da floresta, com finalidade de limpar o terreno, contribuindo negativamente para a degradação do solo com o seu meio ambiente. Assim, o estudo em causa tem como objetivo: Investigar as causas que têm motivado os camponeses e agricultores a praticarem agricultura itinerante, apresentando conceito dos princípios básicos de agricultura sustentável nos debates dos conteúdos de Educação Ambiental, sensibilizando para que a comunidade em geral compreenda a essência fundamental da prática do desenvolvimento sustentável ambiental, promovendo técnicas que não perigam a regeneração física, química e biológica do solo. Para o efeito, a pesquisa em causa é bibliográfica, descritiva, exploratória de natureza qualitativa e quantitativa, usando a entrevista semidirecta. Trabalhamos com uma amostra de 45 pessoas, na perspectiva de responder a seguinte questão: Quais as dificuldades que os pesquisadores encontram para a implementação de uma agricultura sustentável, visando diminuir a degradação excessiva do solo com seu meio ambiente no distrito de Sussundenga? Face a isso, os resultados revelam que a Educação Ambiental não é aplicada no distrito de Sussundenga. Assim, com a incorporação de nova metodologia que permite sensibilizar e conscientizar os camponeses e agricultores, informando sobre a importância em conservar a floresta, poderá resultar em ações que possibilitam recuperar áreas degradadas, deixando de lado as diversas atitudes nocivas que levam a degradação do solo com seu meio ambiente. Logo, sugere-se que a escola busque novas metodologias junto às comunidades locais, a fim de construir conhecimentos que visem à conscientização e reflexão dos aprendizes frente as problemáticas ambientais vivenciadas atualmente no distrito de Sussundenga.

Palavras-chave: Educação Ambiental. Agricultura Itinerante. Agricultura Sustentável.

ABSTRACT: Itinerant agriculture is an activity practiced by peasants and farmers, using the technique of cutting and burning the forest, with the purpose of cleaning the land, contributing negatively to the degradation of the soil with its environment. Thus, the study in question aims to: Investigate the causes that have motivated peasants and farmers to practice itinerant agriculture, presenting the concept of the basic principles of sustainable agriculture in the debates on the contents of Environmental Education, raising awareness so that the community in general understands the fundamental essence of the practice of sustainable environmental development, promoting techniques that do not endanger the physical, chemical and biological regeneration of the soil. For this purpose, the research in question is bibliographic, descriptive, exploratory of a qualitative and quantitative nature, using the semi-direct interview. We worked with a sample of 45 people, in order to answer the following question: What are the difficulties that researchers encounter for the implementation of sustainable agriculture, aiming to reduce the excessive degradation of the soil with its environment in the district of Sussundenga? In light of this, the results reveal that Environmental Education is not applied in the district of Sussundenga. Thus, with the incorporation of a new methodology that allows sensitization and awareness of peasants and farmers, informing about the importance of conserving the forest, it may result in actions that make it possible to recover degraded areas, leaving aside the various harmful attitudes that lead to soil degradation with your environment. Therefore, it is suggested that the school search for new methodologies with the local communities, in order to build knowledge that aims at the awareness and reflection of the apprentices in the face of environmental problems currently experienced in the district of Sussundenga.

Keywords: Environmental education. Itinerant Agriculture. Sustainable Agriculture

1. INTRODUÇÃO

A agricultura itinerante é um tipo de agricultura primitiva praticada sobre o corte e queima da floresta, com longos pousios que podem atingir dez anos ou mais, sempre em regime de sequeiro, usando o método tradicional, transmitindo de geração em geração, objectivando, fundamentalmente, satisfazer necessidades básicas de subsistências e de rendimentos, provocando degradação do solo, promovendo, na sequência: desmatamento acelerado, poluição atmosférica, aquecimento global da superfície planetária, destruição sem controle do habitat de várias espécies animais, bem como o surgimento de muitas doenças respiratórias (JONG et al, 2001).

Assim, na reflexão dos autores: Raintree e Warner (1986, p. 39-54), consideram a agricultura itinerante como:

um tipo de agricultura onde a “a mão-de-obra”, é basicamente familiar e com recurso ao trabalho infantil, impedido o processo de escolaridade. A produção de alimentos é feita por (2 a 3 anos); é uma agricultura nómada, devido ao fato de os agricultures se deslocarem de terreno em terreno, razão pela qual se chama “itinerante”, e posteriormente, essa área é abandonada, tornando-se vulnerável ao processo erosivo.

É neste pressuposto que Fujsaka e Escobar (1997), classificam a agricultura itinerante de acordo com: vegetação inicial (floresta primária, floresta secundária, matos e agro-floresta e prados, pastagens e savanas); utilizadores (comunidades de indígenas, colonos e/ou fazendeiros); vegetação final (floresta secundária, pastagens, culturas permanentes e agro-florestais) e o espaço de tempo no qual um terreno deixa de ser cultivado para que possa descansar (sem descanso ou ciclo contínuo, descanso curto – 1 a 2 anos; descanso médio – 3 a 8 anos, e descanso longo – mais de 8 anos).

Portanto, a partir desta contextualização, de acordo com o nosso constato pessoal e com a experiência vivida em contacto com o campo da pesquisa, junto a comunidade local, sobretudo, professores, enquanto militar da justiça e disciplina militar das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), percebeu-se que a agricultura do distrito de Sussundenga carateriza-se por ser itinerante e extensiva, ocorrendo durante o período colonial, e passou por muitas experiências que foram transmitidas de geração em geração.

Hoje, esta agricultura praticada é a de subsistência, com rotações de culturas, produzindo milho, feijão, mapira, entre muitos outros produtos específicos de cada região, existindo, em alguns casos, tendências para a sua redução, devido a progressiva diminuição dos espaços férteis, por causa do aumento populacional verificado entre (2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015), (tabela 1), e consequentemente a sobrecarga das zonas baixas localizadas, principalmente ao longo dos rios Munhinga, Mussapa, Révue, dentre outras zonas, que, por sinal, apresentam solos mais férteis, (Idem).

Tabela 1: Distribuição total da população do distrito de Sussundenga (homens e mulheres), a partir de 2009-2015.

Fonte: Adaptado do INE, 2010

Nota: Os dados da tabela 1 mostram que, de 2009-2015, há uma evolução significativa da população feminina, o que poderá garantir que a demografia do distrito em estudo suba de forma acentuada, podendo haver um desenvolvimento considerável, pois a realidade mostra que quanto maior for o índice demográfico, mais massa laboral poderão existir mais educandos. Porém, na vertente ambiental, no que concerne a ocupação de espaço, pode contribuir para a degradação ambiental, dada a maior procura de melhores condições, desbravamento da flora para construções de habitações, prática agrícola, pastagem, exploração da madeira, entre várias atitudes negativas ao nível ambiental, daí a necessidade de desenvolver esta pesquisa, visando garantir a conscientização da população. O aumento das mulheres em relação aos homens, conforme a tabela acima, é sustentado por vários factores a destacar: a guerra civil que assolou o País de 1977-1992, onde grande parte dos homens morreram durante os combates em ambas partes entre as Forças Armadas de Defesa de Moçambique e as Forças de Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO).

A situação torna-se mais preocupante ainda com a introdução da Política das aldeias comunais em 1978, após a independência no País em 1975. As comunidades do distrito foram reordenadas e obrigadas - nalguns casos em aldeias comunais como é o caso de Muzoriua, Buapwa, Nhamatiquite entre outras - a praticar o cultivo demasiado com o uso incorrecto de biocidas e fertilizantes, corte indiscriminado das diversas espécies florestais com a sua fauna-bravia e o abandono dos agricultores e camponeses, particularmente nos arredores da vila de Sussundenga, tornando vulneráveis aos agentes erosivos, (Idem).

Perante esta situação, surgem-nos o seguinte problema de investigação: Quais as dificuldades que os pesquisadores encontram para a implementação de uma agricultura sustentável, visando diminuir a prática de agricultura itinerante que geralmente leva a degradação excessiva do solo com o seu meio ambiente no distrito de Sussundenga? Nesta ordem de ideia, tendo em conta o problema de estudo levantado, o objeto de estudo é o uso da agricultura sustentável, partindo da conscientização e sensibilização da comunidade local em geral.

Assim, o presente artigo tem como objetivo: Investigar a causa que tem motivado os agricultores, camponeses e a população em geral a praticarem a agricultura itinerante usando a técnica de corte e queima da floresta, procurando sensibilizar, na perspectiva de que compreendam a essência fundamental do uso de uma agricultura sustentável, que não periga a regeneração da estrutura física, química e biológica do solo.

Portanto, existe a necessidade urgente do governo local, sobretudo, professores, adoptarem um conjunto de elementos metodológicos sustentáveis, incluindo todas técnicas que favorecem o melhoramento da fertilidade do solo com a sua fauna microbiana.

Para isso, é necessário implantar um projeto de desenvolvimento no qual a Educação Ambiental tem a função fundamental de desenvolver uma consciência ambiental na qual os cidadãos se comprometam pela transformação da agricultura itinerante para uma agricultura sustentável, promovendo, também, mudanças nos hábitos de consumo através de uma metodologia renovada que interfira nos modos de pensar, de agir, na busca de conservar e administrar diferentes recursos para, assim, não mais degradar o meio ambiente (Fetraf‐Sul/Cut, 2007).

Assim, sendo a escola um local apropriado para a socialização ambiental, deve-se elaborar um programa curricular que compreenda o desenvolvimento sustentável e a construção do conhecimento, que englobe todas as ações e reflexões, criando condições favoráveis para a formação do carácter social, promovendo o despertar da sociedade para a responsabilidade ambiental e, assim, gerar a consciência de preservação, de reflorestamento, de melhorias na fertilidade dos solos, no uso consciente da água e para a contenção dos efeitos danosos das mudanças climáticas (SORRENTINO, 2004).

2. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA AGRICULTURA ITINERANTE

Frente às problemáticas ambientais, principalmente a partir da revolução industrial no século XVIII, houve maior pressão sobre meio ambiente verde, devido o derrube e queima da floresta, visando à prática da agricultura itinerante, com uso excessivo dos fertilizantes, obtenção da madeira, pastagem. Consequentemente foi possível observar que a baixa produtividade agrícola ocorre, também, pelo desaparecimento de algumas espécies animais selvagens, bem como de plantas medicinais e do enfraquecimento do solo. (MOURA, 2004).

Foi a partir desta contextualização, concretamente no início do século XX, ocorreu a segunda revolução agrícola incorporado tecnologia que supera grandemente a capacidade de suporte do meio ambiente, intensificando o uso de insumos e de agrotóxicos, visando aumentar a produtividade agrícola (EHLERS, 1994a, p.231-262).

Com a preocupação de encontrar alternativas viáveis que proporcionam o desenvolvimento sustentável do meio ambiente, garantindo a segurança alimentar da população em geral, no presente e no futuro, aliando alguns posicionamentos, começou-se a considerar a segunda revolução agrícola como uma questão de competição humana, segundo Estefanell, 1997 apud Lima (2000, p.214), ao afirmar que:

a segunda revolução agrícola do século XX, constitui uma atividade que impôs no campo agrícola a mecanização, os insumos industriais, o uso intensivo da terra e a alteração das características físicas, químicas e biológicas do solo. Este padrão produtivo aumentou grandemente a produtividade agrícola, causando a degradação do meio ambiente, intensificando à problemática da pobreza, fome, miséria. Pois, este modelo somente beneficiou os grandes e médios produtores, principalmente nos países em desenvolvimento, contribuindo efetivamente para a concentração da renda, aumentando a pobreza […].

Diante deste facto, em 1973 pela primeira vez começou a se falar em uso sustentável do meio ambiente, pouco tempo depois da Conferência da Organização das Nações Unidas de Estocolmo, ocorrida em 1972, na capital da Suécia. Esta conferência teve enorme reconhecimento mundial por se tratar de um dos maiores eventos ambientais da época, no qual se chamou a atenção sobre a sustentabilidade ambiental planetária. A partir dela surgem as primeiras políticas de gestão para o meio ambiente como o Programa Internacional de Educação Ambiental. (DIAS, 2004)

Assim, em 1975 foi realizado a Conferência de Belgrado, que reuniu especialistas de 65 Países, promovido pela UNESCO, na qual aprovou um documento que ficou conhecido mundialmente como “Carta de Belgrado”, onde estão patente os objetivos da Educação Ambiental no âmbito de desenvolvimento da formação multidisciplinar dos aprendizes integrados dentro da comunidade local, regional e internacional, voltada para a preservação e o uso sustentável do meio ambiente e centrada na avaliação dos impactos ambientais de acordo o tipo de atividade a ser desenvolvida na superfície planetária (LIMA, 1984, p.18).

Portanto, após a Con­ferência Intergovernamental de Tbilisi, em 1977, a Educação Ambiental foi introduzida como instrumento estratégico para conduzir o desenvolvimento de uma agricultura sustentável e social [...] (SORRENTINO et al., 2005, p. 285-289).

Neste pressuposto, a partir da década de 1980, o conceito de desenvolvimento da agricultura sustentável popularizou-se pelo mundo inteiro, atuando diretamente sobre a comunidade em geral, abrindo caminho para uma educação formal e informal que procura incentivar o uso racional sem utilizar recursos renováveis acima da capacidade de regeneração natural da floresta com a sua fauna-bravia, evitando a degradação do meio ambiente (GUIMARÃES, 1995).

Foi em 1987 que o desenvolvimento da agricultura sustentável a nível mundial teve sua maior projeção com a publicação do Relatório Brundtland (WCED, 1987), que disseminou as directrizes aprovadas na Conferência de Estocolmo, estabelecendo normas que possibilitem o desenvolvimento humano e o atendimento às necessidades básicas das populações, no presente, sem comprometer os padrões de vida das gerações vindouras.

Desta forma, a Educação Ambiental no contexto da mitigação da agricultura itinerante, constitui-se como um instrumento indispensável no processo da construção de conhecimento, valores, atitudes e aptidão, capaz de interferir com maior segurança na avaliação dos impactos da sustentabilidade de um sistema de produção, que permite programar alternativas aceitáveis de manejo de ocupação do espaço, criando esforço de prever e resolver problemas da degradação do meio ambiente no distrito de Sussundenga.

3. RESULTADOS

Para atingir os resultados deste estudo, pautamos pela pesquisa bibliográfica, na tentativa de aprofundar cada vez mais a percepção sobre a importância da Educação Ambiental no contexto da mitigação da agricultura itinerante, desenvolvendo agricultura sustentável, explicando o problema a partir de “referências teóricas publicadas, analisadas e discutidas as várias contribuições científicas, permitindo o pesquisador realizar um planejamento sistemático do processo de pesquisa, compreendendo desde a definição temática, passando pela construção lógica do trabalho até a decisão da sua forma de comunicação e divulgação” (BOCCATO, 2006, p. 266).

Nesta contextualização, a investigação feita no campo da pesquisa e análise de conteúdo, segundo Bardin (1977, p. 42), permitiu obter registros orais e escritos, a escolha dos softwares, objetivando realizar a pesquisa bibliográfica, descritiva, exploratória, de natureza qualitativa e quantitativa, através da entrevista semidirecta junto à comunidade local, aprendizes, sobretudo, professores e outros intervenientes, visando identificar quais as causas que motivam os agricultores, camponeses e a comunidade em geral, praticarem a agricultura itinerante, usando a técnica de corte e queima da floresta e quais os problemas que os professores deparam para à inclusão da Educação Ambiental no contexto da mitigação da agricultura itinerante nos programas curriculares, desenvolvendo a consciência ambiental sustentável.

No entanto, a partir desta constatação, trabalhamos com uma amostra de 45 pessoas, divididas em quatro grupos:12 camponeses, 10 agricultores, 8 professores e 15 aprendizes. A coleta de dados foi analisada e separada de acordo com cada grupo-alvo (Camponeses, agricultores, professores e aprendizes).

Após análise, os dados foram agrupados, e os resultados obtidos foram apresentados em uma palestra realizada na escola secundária do primeiro ciclo (ESG1) de Munhinga, com a presença de todos participantes da pesquisa. Foram distribuídos panfletos informativos que reflectem sobre a importância do uso da agricultura sustentável, explicando os cuidados que devemos ter com o solo com o seu meio ambiente, que é constantemente destruído pelos camponeses, agricultores e a comunidade em geral, para a prática da agricultura itinerante e outras atividades, usando a técnica de corte e queima da floresta. Houve variações de respostas conforme o Gráfico 1.

Gráfico 1 – O gráfico ilustra variações de respostas dos camponeses, agricultores, professores e aprendizes pesquisados. 27% dos Camponeses e 22% dos agricultores, afirmam que praticam a agricultura itinerante, com a finalidade de produzir alimentos para o sustento dos agregados familiares, comercializando no mercado os produtos excedentes. O que justificou o facto de os homens realizarem o derrube e queima da floresta com seu meio ambiente. Terminado o trabalho dos homens, as restantes atividades agrícolas estão a cargo das mulheres e crianças. Enquanto que os homens voltam às ocupações das construções das habitações, caça, pesca, etc; 18% dos Professores pesquisados, apresentam lacunas na sua formação inicial para leccionarem os conteúdos de Educação Ambiental no âmbito da mitigação da agricultura itinerante. O que justificou o facto de a criança pensar que para obtenção de rendimento agrícola, seria necessário realizar o trabalho de corte e queima da floresta, influenciando negativamente sobre os bens e serviços produzidos pelas florestas, modificando o sistema hidrológico, alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos, redução da fauna microbiana, alimentos e mudanças climáticas. Os 33% dos aprendizes pesquisados reconhecem a importância de se trabalhar às questões ambientais dentro do contexto da mitigação da agricultura itinerante, desenvolvendo a agricultura sustentável. A resolução dessa problemática ambiental, o professor deve ensinar na sala de aula as práticas educativas ambientalmente sustentáveis, desenvolvendo materiais/imagens de divulgação, propaganda de aspectos ambientais degradados, com vista à mudança de comportamento e atitudes, trazendo novas questões que possibilitem os aprendizes construírem conhecimentos interdisciplinares que sejam levados adiante, fundamentados pela cooperação, participação dos aprendizes como agentes ativos do processo. Fonte: Acervo próprio, 2019.

Portanto, é urgente a necessidade da intervenção pedagógica que promova a percepção da relevância de trazer a Educação Ambiental no âmbito de desenvolvimento da agricultura sustentável, que pode ser realizada no meio rural, dentro ou fora do contexto escolar, diminuindo mão-de-obra, melhorando a produtividade e a fertilidade do solo a longo prazo, facilitando os camponeses e agricultores do distrito a sua pré-disposição para aceitarem mudanças na sua forma de fazer a agricultura tradicional, sem perigar a vida dos outros seres vivos, certamente que dessas mudanças não colocam em perigo a sobrevivência do seu agregado familiar e a vida das novas gerações vindouras.

É a partir da contribuição de Viegas (2003), enfatiza-se que, na alguns casos, a agricultura itinerante, desde que praticada num nível próximo da realidade de subsistência, pode ser ecologicamente estável e relevante na conservação ambiental.

Neste pressuposto, Cavalcanti (1998. p. 156), sustenta que:

é urgente a necessidade de desenvolver o conceito da agricultura sustentável, buscando tecnologias agrícolas e acumulação de capital que possibilite estabelecer políticas ambientais, que exigem a melhoria de qualidade das condições de vida da população, mudanças de hábitos e costumes, não provocando o esgotamento de recursos naturais

Fica claro, então, que a Educação Ambiental, no âmbito da mitigação da agricultura itinerante, deve ser trabalhada convictamente na escola, pois acreditamos que é “na escola onde o aprendiz dará sequência ao seu processo de socialização, iniciado em casa, com seus familiares" (PONTALTI, 2005, p. 213-229).

Para isso, pais e encarregados de educação, escola, ONG (Organização Não Governamental), devem-se envolver efetivamente na prática da Educação Ambiental no âmbito da transformação da agricultura itinerante em agricultura sustentável, ensinando os aprendizes que “nós, seres humanos, não somos os únicos habitantes deste planeta terra, que não temos o direito de destruí-lo, pois da mesma forma que herdamos a terra dos nossos antepassados, deveremos deixá-la intácta para as novas gerações vindouras” (PONTALTI, 2005, p. 213-229).

Assim, é urgente a inserção da Educação Ambiental no âmbito da mitigação da agricultura itinerante nas escolas, a fim de conscientizar nossos aprendizes e ensiná-los, desde cedo, as boas maneiras de convivências ambientalmente correctas, de tal forma que possam fazer parte do seu dia-a-dia no processo de formação, tanto social quanto ambiental, onde o professor desempenha suas atividades de facilitador, colocando o aprendiz como agente ativo no ensino-aprendizagem, mitigando certos comportamentos nocivos que levam a degradação dos recursos naturais.

Desde modo, as escolas de EP1 e EP2 (escola primária do primeiro e segundo grau); ESG1 e ESG2 (escola secundária do primeiro e segundo ciclo), localizadas no distrito, ao propor a elaboração dos programas curriculares devem proporcionar a participação das comunidades locais, de tal maneira que a transformação da agricultura itinerante para o desenvolvimento da agricultura sustentável possa ser entendida como uma relevante aliada do currículo escolar, buscando novas metodologias que possibilitem a integração da educação formal e não formal onde “todo o cidadão tem direito de viver num meio ambiente equilibrado assim como o dever de o defender” (Lei do meio ambiente 20/97, de 1 de outubro).

A materialização deste direito passa, necessariamente, por uma gestão correcta do meio ambiente e dos seus componentes, na qual seriam expostas aos agricultores e camponeses todas as opções de práticas sustentáveis, de acordo com a realidade moçambicana. Tais como: Manejo ecológico dos solos; Reflorestamento dos locais com maior degradação; Criação e inserção de um sistema de gestão e fiscalização dos recursos naturais; Nunca praticar ações nocivas que conduzam a degradação ambiental e capacitação ambiental, etc.

Para isso, deve ocorrer um planejamento comum com as comunidades locais quanto aos sistemas da prática de produção em suas atividades cotidianas, podendo essa atividade ser do tipo agrícola ou pecuária, exploração da madeira ou caça, possibilitando a “utilização efetiva dos recursos naturais, a necessidade de adopção de tecnologias apropriadas às condições de Moçambique, bem como o profundo reconhecimento das dinâmicas sociais, constituem premissas fundamentais em que assentam a presente política, dada a sua insuperabilidade no processo de desenvolvimento nacional” (Resolução n05/95 de 6 de dezembro de 1996).

Assim, a Educação Ambiental na mitigação da agricultura itinerante no âmbito escolar, não pode se limitar a aquisição de conhecimento, mas deverá, também, promover mudança de comportamentos e atitudes, procurando junto com os aprendizes, informações relevantes, com o objetivo de disseminar entre eles conhecimentos pertinentes sobre realidade ambiental da região em estudo, ao ponto de assumirem posições adequadas que levem em conta os valores necessários para a proteção ambiental e uso sustentável (VICTORINO, 2000).

É nesta contextualização que a Educação Ambiental, no âmbito da mitigação da agricultura itinerante na região em estudo, deve constituir instrumento de maior relevância que possa sensibilizar os camponeses, agricultores, na perspectiva da transformação da agricultura itinerante para um modelo agroecológico, onde as árvores não são cortadas, a terra não é lavrada, não tem corte e queima, regenerando a fertilidade do solo, mantendo as condições favoráveis para o desenvolvimento das plantas com o seu meio ambiente, promovendo uma maior biodiversidade através da rotação e/ou consorciação com diferentes plantas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos dados da pesquisa do campo, junto à comunidade local, conclui-se que a Educação Ambiental, no âmbito da mitigação da agricultura itinerante, desenvolvendo a agricultura sustentável, não é aplicada no distrito de Sussundenga. O que justificou este facto é que não há incorporação de novas metodologias para a valorização das diversas formas de conhecimentos, que contribuam para o desenvolvimento da consciência ambiental local e para a promoção de uma visão sobre o que implica a sustentabilidade do planeta terra.

É de fundamental importância que todas as comunidades locais percebam que o uso da agricultura itinerante com a técnica de corte e queima da floresta é algo que precisa, com urgência, ser eliminada para promover a sustentabilidade ambiental.

Logo, sugere-se que a alfabetização ecológica, proferida também por Boff (1999), vai contribuir na concretização de comportamentos, atitudes, e na formação de valores que evidenciem boas maneiras, regidas pela lógica da responsabilidade ambiental, capacitando as pessoas, tanto de forma individual quanto de forma coletiva, a fazerem um uso mais racional do meio ambiente.

Assim, a escola tem a responsabilidade de estabelecer diálogo permanente com as estruturas tradicionais, administrativas, sobretudo, com agricultores e camponeses, informando-os sobre a importância em preservar os recursos florestais com o seu meio ambiente, o que poderá resultar em ações que permitam a participação da comunidade local na tomada das decisões, que possibilitam a implementação dos princípios básicos que orientam o desenvolvimento da fertilidade do solo. Como afirma Swaminathan (1992, p. 147-167.):

Distúrbio mínimo possível do solo, que compreende não remover o solo ou não lavrar; Manter o solo coberto, que consiste em cobrir o solo o máximo que possível, se possível durante todo o ano; Cobrir o solo com restos de culturas (cobertura morta) ou cobertura viva (plantas leguminosas, cereais, capim) e misturar ou consorciar culturas e fazer a rotação das culturas (Figura 1).

Figura 1 – A figura ilustra o solo não lavrado, coberto de capim morto, se possível durante todo o ano, prevenindo o solo de formar crostas, proteção do solo do sol intenso e o aumento da humidade, minimizando o processo da evaporação e os efeitos de estiagem ou seca .

Portanto, faz-se necessário a implantação de uma Educação Ambiental no contexto da mitigação de agricultura itinerante, de tal forma que seja possível “alcançar o avanço tecnológico que previne a erosão, reduzindo nitrogênio a curto prazo por causa da falta de arejamento do solo e o aumento da atividade biológica pelos organismos que utilizam o nitrogênio” (GILLER et al. 2009).

Diante dos factos, faz-se necessário e urgente “o desenvolvimento de programas de formação de cidadãos conscientes e capazes de aceitarem uma mudança profunda, progressiva e apto a tomarem decisões coletivas sobre questões ambientais para o desenvolvimento ecológico e sustentado por projeto democrático com justiça ambiental” (OLIVEIRA; MILIOLI, 2013, p. 161).

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