PONTE

Cláudio Loes

Forma1

Estamos passando por um período com menos chuvas e tudo vai minguando, colheitas se perdem, áreas extensas são reduzidas a cinzas, os animais procuram fugir e aparecem em locais que não são seu habitat. Perguntar de quem é a culpa ou saber em detalhes tudo o que provoca essa situação, penso não vá servir muito no momento.

Quero, humildemente, fazer uma reflexão a partir da observação de uma ponte. Pode ser uma bem pequena, de madeira, numa estrada de terra. Ficar ali vendo as águas do rio dá para correr no tempo.

As águas muito baixas deixam ver os fundamentos da ponte. Alguém menos avisado, e que não conhecesse a dinâmica do rio, poderia dizer que foi gasto muito concreto para uma ponte tão pequena.

Outro diria que deveriam ter construído bem mais alto por causa do período de chuvas e seus alagamentos. Também não adiantaria muito, nessa ponte em particular. Toda a região inunda e não faria sentido ter só a ponte fora da água.

Enfim, uma ponte, uma ligação entre dois lados, entre os extremos. Ela está ali, recebe alguma manutenção de tempos em tempos para cumprir sua função de conexão. Cada ponte de acordo com o tipo de tráfego, capacidade de carga e recursos disponíveis. E nós? Poderíamos ser como a ponte?

Tudo seria muito melhor se fôssemos mais como uma ponte. Abertos ao diálogo, unindo-nos às pessoas em propósitos mais amplos do que o umbigo de cada um. Dois lados sempre podem ser unidos se cada um ceder um pouco, se cada um se dispuser a fazer sua metade.

Assim como na ponte, uma construção conjunta em cima de fundamentos de vida terá mais chances de resistir aos momentos de dificuldades e de incertezas. A ponte não luta contra o rio, ela resiste para poder continuar dando passagem a quem dela precisar.

Aqui não é intenção explorar todas as comparações, mas, sim, deixar em aberto para que cada um encontre outras mais. Afinal, uma ponte não se constrói sozinha, ela é uma realização conjunta de pessoas interessadas em melhorar a condição de vida.

Voltando para nosso período de seca, podemos nos perguntar em que momentos seríamos ponte? Quais ações que poderíamos ter em conjunto para aprender a sobreviver melhor como um todo?

Perguntas não faltam e ações são necessárias. Se cada um ficar em sua margem, na vista do seu ponto, nada irá mudar. Só criticar não servirá se não forem pensadas e apresentadas possibilidades novas dentro do contexto da falta de água.

De nada também servirá aquele que tem mais recursos querer acumular mais para si em detrimento aos outros. Só esticará um pouco mais a corda da sobrevivência e um dia ela também arrebentará. Basta um pouco de pesquisa histórica para saber sobre nossos grandes erros do passado para lidar com a falta de água.

Eis o desafio, sermos ponte para continuarmos a existir como espécie humana.