ESPÉCIES DE Aristolochia (ARISTOLOCHIACEAE) USADAS NA MEDICINA POPULAR BRASILEIRA, MAS PROIBIDAS NA COMPOSIÇÃO DE PRODUTOS TRADICIONAIS FITOTERÁPICOS

José Martins Fernandes1

1Docente na Faculdade de Ciências Biológicas e Agrárias, Herbário da Amazônia Meridional, Campus Universitário de Alta Floresta, Universidade do Estado de Mato Grosso; e-mail: jose.martins@unemat.br



Resumo: as espécies de Aristolochia (Aristolochiaceae) são tradicionalmente utilizadas na medicina popular no Brasil, no entanto essas espécies possuem ácidos aristolóquicos, relatados como cancerígenos, mutagênicos e nefrotóxicos. Também estão proibidas na composição de produtos tradicionais fitoterápicos no país pelos riscos à saúde pública. Nesse sentido, a pesquisa teve como objetivo verificar na literatura as espécies do gênero Aristolochia usadas na medicina popular brasileira, com informações sobre a fitogeografia, parte usada, forma de preparo, tipo de uso e doença tratada. A pesquisa foi realizada entre os meses de janeiro e fevereiro de 2022, com a seleção de artigos, teses, dissertações, monografias e livros disponibilizados na internet com espécies usadas na medicina popular. Foi possível verificar que 15 espécies são usadas como medicinais, todas nativas, com vários nomes, dentre eles, cipó-mil-homem, cipó-milhomem, jarrinha, milhome e papo-de-peru. A raiz é a parte preferencial dos usuários em 53% das citações, preparadas principalmente na forma de chá (46%), com uso interno e externo. As espécies são usadas para 40 problemas de saúde, destacando-se, ação antisséptica em ferimentos externos (13 citações), febre e antiofídica (10 citações cada), abrir o apetite e reumatismo (9 citações cada), descer a menstruação e melhorar a digestão (oito citações cada), mas também causam aborto (oito citações). Como sugerido na pesquisa, é mais prudente fazer o uso das espécies apenas externamente, com acompanhamento de um especialista tradicional da comunidade ou profissional acadêmico na área, até porque essas plantas estão proibidas na composição de produtos tradicionais fitoterápicos no Brasil devido a presença dos ácidos aristolóquicos.

Palavras-chave: ácidos aristolóquicos; cipó-milhomem; medicina popular.



Abstract: Aristolochia species (Aristolochiaceae) are traditionally used in folk medicine in Brazil, however these species have aristolochic acids, reported to be carcinogenic, mutagenic and nephrotoxic. They are also prohibited in the composition of traditional herbal products in the country due to the risks to public health. In this sense, the research aimed to verify in the literature the species of the genus Aristolochia used in Brazilian folk medicine, with information on phytogeography, part used, preparation method, type of use and treated disease. The research was carried out between January and February 2022, with the selection of articles, theses, dissertations, monographs and books made available on the internet with species used in folk medicine. It was possible to check that 15 species are used as medicinal, all native, with several names, among them, cipó-mil-homem, cipó-milhomem, jarrinha, milhome and papo-de-peru. The root is the preferred part of users in 53% of the citations, prepared mainly in the form of tea (46%), with internal and external use. The species are used for 40 health problems, highlighting, antiseptic action on external wounds (13 citations), fever and antiophidic (10 citations each), opening appetite and rheumatism (9 citations each), decreasing menstruation and improving digestion (eight citations each), but also cause abortion (eight citations). As suggested in the research, it is more prudent to use the species only externally, with the accompaniment of a traditional specialist from the community or academic professional in the area, because these plants are prohibited in the composition of traditional herbal products in Brazil due to presence of aristolochic acids.

Keywords: aristolochic acids; cipó-milhomem; folk medicine.



INTRODUÇÃO

O gênero Aristolochia está distribuído nas regiões tropicais e subtropicais do mundo, representado por aproximadamente 550 espécies (Capellari-Júnior, 2002; González e Pabón-Mora, 2017), com dois centros de diversidade, na Hispaniola (Haiti e República Dominicana) e no Brasil (González, 2000).

As espécies de Aristolochia são caracterizadas por serem trepadeiras, às vezes ervas, subarbustos ou arbustos, habitualmente com raízes ou rizomas espessados; caules geralmente suberificados quando maduros; folhas alternas, simples, frequentemente pecioladas e inteiras, com 3–7 nervuras partindo-se da base; às vezes com pseudoestípulas amplexicaules; flores vistosas, monoclamídeas, com perigônio monosimétrico, reto ou curvado, diferenciado em utrículo, tubo e limbo, 1–3-lobado, raras vezes plurilobado ou sem lobos; ginostêmio com 5–6 anteras, 3, 5 ou 6 lóbulos estigmáticos; ovário ínfero, 5–6-carpelar, 5–6-locular; fruto do tipo cápsula, cilíndrico, fusiforme ou subgloboso; sementes numerosas, às vezes aladas (González, 1990; Souza e Lorenzi, 2008).

No Brasil, o gênero está representado por 84 espécies, destacando-se, a Floresta Atlântica, com 39 espécies, o Cerrado e a Amazônia, com 36 espécies cada (Freitas, et al., 2020; Fernandes et al., 2021). A importância das espécies do gênero no Brasil está relacionada, principalmente, ao uso medicinal e ornamental (Fernandes et al., 2021). Algumas espécies são tradicionalmente utilizadas como medicinal no país, dentre elas: Aristolochia arcuata Mast., A. cymbifera Mart. & Zucc., A. esperanzae Kuntze, A. gigantea Mart. & Zucc., A. labiata Willd. e A. triangularis Cham. & Schltdl. (Lorenzi e Abreu-Matos, 2008).

Vários trabalhos realizados no país citam diversas espécies do gênero usadas na medicina popular, geralmente preparadas com a raiz e o caule para uso externo e interno (Grandi et al., 1989; Rodrigues e Carvalho, 2001; Fernandes, 2002; França et al., 2005; Fenner et al., 2006; Vendruscolo e Mentz, 2006; Agra et al., 2007; Bevilaqua et al., 2007; Alves et al., 2008; Nogueira et al., 2013; Larocca, 2016; Neto e Gomes, 2018; Magalhães, 2019; Moreno et al., 2020; Reis, 2020; Souza et al., 2021).

As espécies de Aristolochia, consideradas medicinais até a década de 90, são fontes de mais de 688 compostos fisiologicamente ativos como os ácidos aristolóquicos, quinolinas, alcaloides, terpenoides, lignanas e flavonoides, no entanto os estudos farmacológicos recentes tem testemunhado uma reviravolta devido à descoberta dos aspectos negativos dos ácidos aristolóquicos que reconhecidamente causam nefrotoxidade, principalmente com uso regular, mas que a população brasileira possui pouco conhecimento sobre os riscos na utilização dessas espécies medicinais que podem provocar mutações, podendo levar ao câncer (Paulert et al., 2017).

Os ácidos aristolóquicos (AA) são fitoquímicos encontrados em plantas do gênero Aristolochia, esses compostos possuem um esqueleto de ácido nitrofenantrenocarboxílico e são relatados como cancerígenos, mutagênicos e nefrotóxicos (Moreno et al., 2020). Outros trabalhos também apresentam os efeitos negativos de espécies medicinais desse grupo taxonômico, como potentes carcinógenos (Souza et al., 2020; Alegransi et al., 2021).

O uso das espécies de Aristolochia na medicina popular não é proibido, mas segundo Paulert et al. (2017), deveria ser apenas para uso externo, nunca interno, devido ao perigo a saúde humana. Nesse sentido, à Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil (ANVISA, 2014) apresenta uma lista com espécies e gêneros proibidos na composição de produtos tradicionais fitoterápicos conforme a Resolução da Diretoria Colegiada – RDC N° 26, de 13 de maio de 2014, que dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos e o registro e a notificação de produtos tradicionais fitoterápicos, com a inclusão do gênero Aristolochia. Como várias espécies de aristolóquias são usadas na medicina popular, os órgãos governamentais e não governamentais, até mesmo os consumidores com fácil acesso à informação, precisam ficar atentos se a resolução de 2014 está sendo atendida.

São considerados produtos tradicionais fitoterápicos os obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais cuja segurança e efetividade sejam baseadas em dados de uso seguro e efetivo publicados na literatura técnico-científica e concebidos para serem utilizados sem a vigilância de um médico para fins de diagnóstico, de prescrição ou de monitorização (ANVISA, 2014; Brasil, 2016). No geral, os produtos tradicionais fitoterápicos são fiscalizados pelo governo, mas é comum, por exemplo, a produção artesanal de “garrafadas”, nesse caso, praticamente não existe fiscalização, podendo colocar em risco o usuário.

A pesquisa teve como objetivo verificar na literatura as espécies de Aristolochia (Aristolochiaceae) usadas na medicina popular brasileira, que automaticamente estão proibidas na composição de produtos tradicionais fitoterápicos no país, bem como alertar aos usuários de plantas medicinais sobre os riscos após o uso interno dessas espécies.



MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada entre os meses de janeiro e fevereiro de 2022, utilizando-se, como base, a RDC N° 26, de 13 de maio de 2014 (ANVISA, 2014), que proíbe o uso dos órgãos vegetativos e reprodutivos das espécies de Aristolochia na composição de produtos tradicionais fitoterápicos no Brasil. Nesse período, foram obtidos artigos, teses, dissertações, monografias e livros disponibilizados na internet com espécies do gênero usadas na medicina popular, totalizando 21 trabalhos selecionados para o estudo. As informações sobre distribuição geográfica, domínio fitogeográfico e nome popular de cada espécie foram obtidas no site da Flora do Brasil (Freitas et al., 2020).



RESULTADOS E DISCUSSÃO

O trabalho apresenta 15 espécies do gênero Aristolochia utilizadas na medicina popular no Brasil, chamadas popularmente por vários nomes, dentre eles, cipó-mil-homem, cipó-milhomem, jarrinha, milhome e papo-de-peru. São todas nativas, como Aristolochia chiquitensis Duch. (Figura 1a-b) e Aristolochia hoehneana O.C.Schmidt (Figura 1c-d), enquanto que A. arcuata, A. birostris e A. melastoma só ocorrem no Brasil. Fotos das outras espécies podem ser observadas no site da Flora do Brasil, na monografia apresentada por Freitas et al. (2020).

Na medicina popular, a raiz é a parte preferencial dos usuários em 53% das citações, seguida por folha (16%), caule e planta inteira (13% cada), preparadas principalmente na forma de chá (46%). Foi possível verificar que as espécies estão sendo amplamente usadas para 40 problemas de saúde, destacando-se, a função antisséptica em ferimentos externos (13 citações), febre e antiofídica (10 citações cada), abrir o apetite e para reumatismo (9 citações cada), descer a menstruação e melhorar a digestão (oito citações cada). Alguns trabalhos também relataram que existem malefícios associados ao uso de algumas espécies de Aristolochia, como a função abortiva (oito citações) e o surgimento de doenças congênitas (uma citação).



Figura 1: Órgãos vegetativos e reprodutivos das espécies Aristolochia chiquitensis (a-b) e Aristolochia hoehneana (c-d). Fonte: J.M. Fernandes.



No geral, observa-se que as espécies estão sendo usadas para uso interno e externo. No entanto, a literatura mostra que as espécies de Aristolochia possuem os ácidos aristolóquicos, relatados como cancerígenos, mutagênicos e nefrotóxicos (Moreno et al., 2020; Souza et al., 2020; Alegransi et al., 2021). Nesse sentido, Paulert et al. (2017) alertam que Aristolochia não é planta medicinal para uso interno. Para fazer uso medicinal dessas espécies precisa ter o acompanhamento de um conhecedor tradicional ou um especialista acadêmico (médico, farmacêutico) que entenda sobre os riscos à saúde.

No Brasil, todas as espécies de Aristolochia estão proibidas na composição de produtos tradicionais fitoterápicos no Brasil, como forma de proteger os usuários que não têm o acompanhamento de um médico. Mesmo assim, ainda observa-se o uso desse grupo taxonômico na composição de bebidas como relatado por Moreno et al. (2020). Segue, abaixo, informações sobre distribuição geográfica, domínios fitogeográficos, nomes populares e usos das 15 espécies na medicina popular.



Aristolochia arcuata Mast.

Distribuição e nome popular no Brasil: a espécie ocorre nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso (Centro-Oeste) Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo (Sudeste) e Paraná (Sul), nos domínios fitogeográficos do Cerrado e da Mata Atlântica, conhecida como jarrinha-preta, jarrinha-do-campo e urubuzinho (Freitas et al., 2020).

Uso na medicina popular: o chá da raiz é usado como aperiente, depurativo e para derrame (Brandão, 1991 apud Vieira e Martins, 2000). O pó da raiz para azia, má digestão, diabetes e depurativo do sangue (Nogueira et al., 2013).



Aristolochia birostris Duch.

Distribuição e nome popular no Brasil: ocorre nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe (Nordeste), na Caatinga e na Mata Atlântica (Freitas et al., 2020), conhecida como angelicó (Magalhães, 2019).

Uso na medicina popular: o chá da raiz é antiofídico, sudorífico, anticatarral e abortivo (França et al., 2005), amenorreia e para descer a menstruação (Agra et al., 2007). O sumo da planta inteira é usado contra picada de cobra (Agra et al., 2007). Uso da folha in natura ou o chá do caule para reumatismo, epilepsia, falta de apetite e clorose (Magalhães, 2019).



Aristolochia chiquitensis Duch.

Distribuição no Brasil: ocorre nos estados do Amazonas, Pará (Norte) Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí (Nordeste) e Mato Grosso (Centro-Oeste), no Cerrado e na Amazônia (Freitas et al., 2020; Fernandes et al., 2021), conhecida como jarrinha e angelicó (Agra et al., 2007).

Uso na medicina popular: o chá da raiz é usado para descer menstruação, enquanto que o sumo da planta inteira é usado contra picada de cobra (Agra et al., 2007). O chá das folhas é usado para problemas estomacais (Souza et al., 2021).



Aristolochia claussenii Duch.

Distribuição e nome popular no Brasil: ocorre no Tocantins (Norte), Bahia (Nordeste), Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso (Centro-Oeste), Minas Gerais e Rio de Janeiro (Sudeste), no Cerrado e na Mata Atlântica, chamada de jarrinha-do-campo, jarrinha-rasteira (Freitas et al., 2020) e jarrinha-do-mato (Macêdo et al., 2015).

Uso na medicina popular: chá da raiz para aborto (Vieira et al., 1998 apud Vieira e Martins, 2000). A infusão da raiz é usada para inflamação em geral, ferimento, gastrite, febre e diarreia (Macêdo et al., 2015).



Aristolochia cymbifera Mart. & Zucc.

Distribuição e nome popular no Brasil: ocorre nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo (Sudeste), no Cerrado e na Mata Atlântica, conhecida como ambaiá-caá, angelicó, crista-de-galo, milhome, papo-de-peru e urubu-caá (Freitas et al., 2020).

Uso na medicina popular: o chá da planta como anti-séptico nas gangrenas e anti-séptico em geral (Fenner et al., 2006). A infusão de toda a planta é usada para reumatismo (Grandi et al., 1989).



Aristolochia esperanzae Kuntze

Distribuição e nome popular no Brasil: ocorre no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso (Centro-Oeste), Minas Gerais e São Paulo (Sudeste), no domínio do Cerrado, conhecida como cachimbo-de-turco, jarrinha-do-cerrado, milhomes e papo-de-perú (Freitas et al., 2020).

Uso na medicina popular: a decocto da raiz como antisséptico, sedativo, inapetência, dispepsia, emenagoga, orquite, antifebril, diurético, clorose e contra veneno de cobra; o decocto das folhas para hipertensão arterial; a infusão da planta toda para reumatismo (Rodrigues e Carvalho, 2001). O chá do cipó (caule) e das folhas é indica no tratamento de cólera, disenteria, reumatismo, febre e malária (Alves et al., 2008). O chá do cipó para verminose (Neto e Gomes, 2018). A decocção da raiz é usada para desinfetar machucados e feridas, facilitar a digestão, falta de apetite, picadas de cobra, abortivas, regulam as regras menstruais, febres, diarreias, convulsões epiléticas e histéricas; a infusão da planta toda serve para reumatismo (Rodrigues, 2007).



Aristolochia gigantea Mart. & Zucc.

Distribuição e nome popular no Brasil: ocorre nos estados da Bahia (Nordeste) Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo (Sudeste) e Paraná (Sul), na Caatinga, Cerrado e na Mata Atlântica, conhecida pelos brasileiros como cipó-de-cobra, milhome-gigante, milhomens, papo-de-peru, papo-de-peru-do-grande (Freitas et al., 2020) e cipó-mil-homem (Manosso et al., 2021).

Uso na medicina popular: anti-séptica nas gangrenas (Fenner et al., 2006). A infusão das folhas é usada para dor estomacal, dor no rim, bexiga, hemorroida, dor de barriga, dengue, malária e verme (Manosso et al, 2021).



Aristolochia gilbertti Hook

Distribuição e nome popular no Brasil: ocorre nos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso (Centro-Oeste), Minas Gerais e Rio de Janeiro (Sudeste), no Cerrado e na Mata Atlântica, chamada no país como papo-de-peru-do-miúdo (Freitas et al., 2020).

Uso na medicina popular: o decocto da raiz como antisséptico, sedativo, inapetência, dispepsia, emenagoga, orquite, antifebril, diurético, clorose e contra veneno de cobras; decocto das folhas para hipertensão arterial; a infusão da planta toda é usada para reumatismo (Rodrigues e Carvalho, 2001). A decocção da raiz é usada para desinfetar machucados e feridas, facilitar a digestão, falta de apetite, picadas de cobra, abortivas, regulam as regras menstruais, febres, diarreias, convulsões epiléticas e histéricas; a infusão da planta toda serve para reumatismo (Rodrigues, 2007).



Aristolochia hoehneana O.C.Schmidt

Distribuição e nome popular no Brasil: ocorre nos estados do Acre (Norte) e Mato Grosso (Centro-Oeste), na Amazônia, conhecida na medicina popular como cipó-milhomem (Freitas et al., 2020; Fernandes et al., 2021).

Uso na medicina popular: a decocção da raiz e do caule é usada para febres intermitentes, convulsões epiléticas e falta de apetite (Fernandes, 2002; Fernandes 2022).



Aristolochia labiata Willd.

Distribuição e nome popular no Brasil: ocorre no Tocantins (Norte), Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe (Nordeste), Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul (Centro-Oeste), Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo (Sudeste), Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Sul), na Caatinga, Cerrado e na Mata Atlântica, conhecida como angelicó, buta, crista-de-galo, milhomens, papo-de-peru e peru-bosta (Freitas et al., 2020).

Uso na medicina popular: o chá da raiz como anti-séptico em úlceras (Fenner et al., 2006). Chá da raiz e do caule serve para “evitar filho” e possui efeito abortivo (Magalhães, 2019).



Aristolochia melastoma Manso ex. Duchtra

Distribuição e nome popular no Brasil: a espécie ocorre no Pará (Norte), Bahia (Nordeste), Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso (Centro-Oeste), Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo (Sudeste) e Paraná (Sul), na Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, popularmente chamada de caçaú, capitãozinho, jarrinha, jarrinha-da-beira-da-estrada e jarrinha-das-barrancas (Freitas et al., 2020).

Uso na medicina popular: o decocto da folha e da raiz é usado como antifebril, antisséptico, sedativo e emenagoga (Rodrigues e Carvalho, 2001). A decocção da raiz é usada para desinfetar machucados e feridas, facilitar a digestão, falta de apetite, picadas de cobra, abortivas, regulam as regras menstruais, febres, diarreias, convulsões epiléticas e histéricas; a infusão da planta toda serve para reumatismo (Rodrigues, 2007).



Aristolochia silvatica Barb.Rodr.

Distribuição e nome popular no Brasil: está distribuída nos estados do Amazonas (Norte) e Mato Grosso (Centro-Oeste), no domínio da Amazônia, conhecida apenas como urubu-caá (Freitas et al., 2020).

Uso na medicina popular: é usada como medicinal entre os ribeirinhos do Rio Negro (Silva et al, 2007).



Aristolochia triangularis Cham. & Schltdl.

Distribuição e nome popular no Brasil: ocorre nos estados de Rondônia (Norte), Mato Grosso do Sul, Mato Grosso (Centro-Oeste), Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo (Sudeste), Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Sul), na Amazônia, Cerrado e na Mata Atlântica, com os nomes cassaú, cipó-cassaú, cipó-milhomens, cipó-milome, cipózinho-prá-diabete, jarrinha-concha e jarrinha-triangular (Freitas et al., 2020).

Uso na medicina popular: o uso das folhas para problemas no fígado, má digestão (Reis, 2020). As folhas servem para contusão, diabetes, gripe, infecções, mordida de bicho e para parar de fumar (Vendruscolo e Mentz, 2006). O chá da raiz e o como anti-séptico nas úlceras malignas nos pés (Fenner et al., 2006). Eficiente com antídoto de veneno de cobra e usada como cicatrizante em feridas; internamente é utilizada em úlceras gástricas, infecções, tumores e como afrodisíaco; as folhas da planta têm ação bactericida, cicatrizante e anti-inflamatória; é contraindicada para mulheres grávidas, durante a amamentação e para crianças, por ser abortiva e causar problemas congênitos (Bevilaqua et al., 2007). A decocção da raiz é usada para desinfetar machucado e ferida, facilitar a digestão, falta de apetite, picada de cobra, abortiva, regula a regra menstrual, febre, diarreia, convulsão epilética e histérica; a infusão da planta toda serve para reumatismo (Rodrigues, 2007).



Aristolochia trilabiata Glaz.

Distribuição e nome popular no Brasil: ocorre nos estados do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia (Norte) e Mato Grosso (Centro-Oeste), no domínio da Amazônia, popularmente chamada de jarrinha-cabeça-de-burro e sangue-de-cristo (Ferreira et al., 2017; Freitas et al., 2020).

Uso na medicina popular: é uma espécie medicinal (Ferreira et al., 2017) e usada pelos moradores do Baixo Tocantins (Lima et al., 2021).



Aristolochia trilobata L.

Distribuição e nome popular no Brasil: a espécie ocorre nos estados do Pará (Norte), Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Sergipe (Nordeste), Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo (Sudeste), Paraná e Santa Catarina (Sul), na Amazônia, Caatinga e na Mata Atlântica, com os nomes cipó-de-cobra, cipó-milhomens-da-praia, cipó-milhomens-rabudo, jarrinha-da-praia, jarrinha-de-cauda e milhomes (Freitas et al., 2020).

Uso na medicina popular: o chá das folhas como anti-séptico nas gangrenas e úlceras atônicas (Fenner et al., 2006). O chá da casca e da flor é usado para malária (Larocca, 2016).



CONSIDERAÇÕES FINAIS

É evidente que os brasileiros possuem ampla interação com as espécies de Aristolochia, todas nativas, como fonte de recursos para o tratamento de diversas enfermidades. Fazem uso, principalmente, da raiz preparada na forma de chá, para uso interno e externo. No entanto, essas espécies possuem ácidos aristolóquicos, relatados como cancerígenos, mutagênicos e nefrotóxicos, ou seja, podem causar problemas graves aos usuários a curto ou a longo prazo, dependendo da duração e intensidade de uso, além da concentração dos chás.

Como sugerido no trabalho, é mais prudente fazer o uso das espécies apenas externamente, até porque essas plantas estão proibidas na composição de produtos tradicionais fitoterápicos no Brasil, em decorrência dos compostos químicos mencionados. O trabalho não visa esgotar o assunto, apenas alertar sobre os riscos à saúde dependendo da forma de uso.



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