CHARGES COM TEMÁTICA AMBIENTAL: UM RECURSO DIDÁTICO PARA UM ENSINO DE CIÊNCIAS CRÍTICO



Alex Barbosa da Silva1, Patrícia Lopes Romero2, Rafaelle Bonzanini Romero3, Adriano Lopes Romero4



1Mestrando em Ensino de Ciências Humanas, Sociais e da Natureza (PPGEN) pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Professor da Rede Municipal de Ensino de Marilândia do Sul - PR e Mauá da Serra - PR, alex-barbosa@hotmail.com.br

2Mestre em Letras, professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná na cidade de Campo Mourão, patricialopesromero2@gmail.com

3Doutora em Química, professora na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Departamento Acadêmico de Química, campus Campo Mourão, rbromero@utfpr.edu.br

4Doutor em Educação em Ciências, professor na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Departamento Acadêmico de Química, campus Campo Mourão, adrianoromero@utfpr.edu.br



RESUMO: Neste artigo chamamos a atenção para as potencialidades que o gênero textual charge possui como recurso didático, e sua utilização com temas voltados a Educação Ambiental, para promover um ensino de Ciências crítico. Com base nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), selecionamos algumas charges, disponíveis no site da rede social de compartilhamento de fotos Pinterest, que são relacionadas aos dez problemas ambientais que devem ser solucionados até 2030. As charges selecionadas foram descritas e classificadas como “charge de Educação Ambiental com realidade alterada”, “charge de Educação Ambiental com ficção contextualizada” ou “charge de Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável”. Algumas charges apresentam aspectos relacionados à naturalização da poluição e ao racismo ambiental e, assim como as demais com temática ambiental, podem (e devem) ser trabalhadas, de forma contextualizada e crítica, em disciplinas de Ciências em todos os níveis da Educação Básica.

PALAVRAS-CHAVE: Conscientização ambiental. Desenvolvimento sustentável. Educação em Ciências.



ABSTRACT: In this article we draw attention to the potential that the textual genre cartoon has as a teaching resource, and its use with themes related to Environmental Education, to promote a critical science education. Based on the Sustainable Development Goals (SDGs), we selected some cartoons, available on the photo sharing social network site Pinterest, which are related to the ten environmental problems that must be solved by 2030. The selected cartoons were described and classified as "environmental education cartoon with altered reality", "environmental education cartoon with contextualized fiction" or "environmental education and sustainable development cartoon". Some cartoons present aspects related to the naturalization of pollution and environmental racism and, like the others with environmental themes, can (and should) be worked, in a contextualized and critical way, in scientific disciplines at all levels of Basic Education.

KEYWORDS: Environmental awareness. Sustainable development. Science Education.



INTRODUÇÃO

Na medida em que o Homem avança, no seu anunciado objetivo de conquistar a Natureza, êle vem escrevendo uma sequência deprimente de destruição; as destruições não são apenas dirigidas contra a Terra que êle habita, mas também contra a vida que compartilha o Globo com êle (CARSON, 1962, p. 94).

Há 60 anos, a bióloga marinha e ambientalista estadunidense Rachel Carson (1907-1964), a partir da publicação do livro Silent spring (Primavera silenciosa), deu início ao movimento ambientalista moderno (MAIA; FRANCO, 2021). Explorando, desde o título do livro, aspectos sensoriais, a autora entende a natureza com um equilíbrio entre todas as espécies que habitam nosso planeta (SOUZA; MARTINS, 2020). Na citação indicada acima, a autora nos faz refletir sobre as ações do Homem, que está destruindo a vida de todas as espécies, incluindo a nossa, na Natureza. Essa crítica nos remete a um processo, cada vez mais frequente em nosso cotidiano, de naturalização de ações contra o meio ambiente (GOROSTIZA; SAURÍ, 2019; SILVA et al., 2021), uma vez que:

Ao 'naturalizar' com sucesso a poluição - isto é, apresentar um processo induzido pelo homem como natural, fora do controle humano -, os atores podem tentar apagar as lutas socioambientais e obter imunidade ao escrutínio social e político, evitando assim responsabilidades legais emanadas do princípio 'poluidor-pagador' e, portanto, afastando os custos ambientais e sociais (GOROSTIZA; SAURÍ, 2019, p. 2, tradução nossa).

Para ir contrário a esse processo, é necessário desenvolver ações que estimulem reflexões que permitam desnaturalizar e, posteriormente, renaturalizar as ações contra o meio ambiente (LOPES et al., 2000). Para isso, a Educação Ambiental, principalmente a realizada na Educação Básica, pode contribuir, por meio de ações variadas e continuadas, para o desenvolvimento de cidadania ambiental não apenas de sensibilização ambiental (HIGUCHI; AZEVEDO, 2004).

Ao abordarmos a temática Educação Ambiental é fundamental recordarmos que a partir do ano de 2012 a mesma foi inserida como conteúdo obrigatório na Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDBEN), e com a criação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a qual abrange todo o currículo da Educação Básica no Brasil, vieram junto algumas inquietações da superficialidade que a temática foi tratada no documento. A BNCC é dividida por áreas de conhecimentos, assim ao olharmos o documento a Educação Ambiental não é estabelecida como uma área de conhecimento. Oliveira e Neiman (2020) discorrem que, com a implantação da BNCC, alguns temas transversais não são contemplados de maneira explícita, inclusive a Educação Ambiental. Corroborando com os autores Oliveira e Royer (2019), complementam que a base apresenta uma concepção naturalista e reducionista, condensando numa mera ferramenta para gestão de recursos naturais dentro de uma perspectiva a favor do desenvolvimento sustentável.

No âmbito do ensino de Ciências, vários recursos didáticos têm sido utilizados para abordar temáticas ambientais, tais como uso de Textos de Divulgação Científica (COSTA; PERTICARRARI, 2020; NASCIMENTO et al., 2021), atividades experimentais (ROCHA; SANTOS, 2010; MARCONDES et al., 2019), jogos didáticos (MULINE et al., 2013; PATRIARCHA-GRACIOLLI; ZANON; SOUZA, 2018), filmes (MATTA; ROCHA, 2017), desenhos animados (CABRAL; NOGUEIRA, 2019; LOVATO; SEPEL, 2021) e charges (PASSOS et al., 2018; TONELLO; WYZYKOWSK; GÜLLICH, 2018; WYZYKOWSKI; FRISON; BIANCH, 2020). Entre esses recursos didáticos, chamamos a atenção para as charges, um gênero textual multimodal (OLIVEIRA; CODINHOTO, 2021) presente no cotidiano das pessoas, que circulam nos meios de comunicação de massa e em redes sociais. Acreditamos que o caráter humorístico das charges torna esse gênero bastante popular, tornando-se, portanto, um espaço alvo para a disseminação de ideias sobre o meio ambiente, inclusive sobre processos de naturalização de ações contra o meio ambiente, que podem ser exploradas como recurso didático para um ensino crítico (ENNIS, 1985; TENREIRO-VIEIRA, 2004) em disciplinas de Ciências.

No contexto apresentado, no presente trabalho exploramos a potencialidade do uso de charges de temática ambiental para abordar tópicos de Educação Ambiental, para promover, de maneira interdisciplinar, um ensino de Ciências crítico.



DESENVOLVIMENTO

Para entendermos a charge enquanto esse gênero textual, devemos considerar que:

A palavra charge é de origem francesa, ‘charger’, que significa carregar ou exagerar, dependendo do contexto em que está inserida [...]. O papel da charge é expor a realidade por meio de um texto-imagem que geralmente aborda um fato histórico ou importante personagem, de forma crítica, opinativa e humorada. Outra característica importante apontada, indica que a charge é de rápida leitura, e, muitas vezes traz consigo inúmeras informações, cabendo ao leitor ter um conhecimento prévio sobre o assunto, para que venha a compreender a criticidade do texto (GONÇALVES, 2019, p. 25).

Complementando, Oliveira, Santos e Borges (2013, p. 179) apresentam outras características sobre as charges:

Desde o século XIX é possível encontrar charges nos jornais e, atualmente [...] o texto humorístico encontrado nas charges é indispensável aos órgãos de imprensa de largo público. A charge não é somente um desenho que ilustra a notícia. É um texto crítico, com traços humorísticos, que atrai a atenção do leitor e promove a reflexão sobre as temáticas problematizadas na imagem. A ironia, o humor e a sátira são recursos estilísticos que possibilitam ao leitor uma leitura crítica.

As características pontuadas por Gonçalves, 2019 e Oliveira, Santos e Borges (2013) indicam que as charges possuem grande potencial para serem utilizadas no contexto educacional. No contexto do ensino de Ciências existem vários relatados acerca do uso de charges (PASSOS et al., 2018; TONELLO; WYZYKOWSK; GÜLLICH, 2018; WYZYKOWSKI; FRISON; BIANCH, 2020). Tonello, Wyzykowsk e Güllich (2018), por exemplo, relataram que o uso de charges e quadrinhos contribuíram para que os estudantes desenvolvessem um pensamento crítico e uma sensibilização sobre questões ambientais.

Como indicado anteriormente, Rachel Carson iniciou um movimento para refletir sobre problemas ambientais, decorrentes da ação do ser humano, que colocam em perigo tanto a saúde do planeta quanto a nossa. Fazendo um grande recorte histórico, a preocupação com temas ambientais reaparece, em 2015, com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que compõem a Agenda 2030, um documento assinado por 193 países, incluindo o Brasil, membros das Nações Unidas (ONU). Esse documento apresenta 17 objetivos e 169 metas - relacionados a quatro dimensões (social, econômica, ambiental e institucional) - que identificam as prioridades globais de desenvolvimento sustentável (DANTAS; FONTGALLAND, 2021).

Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável relacionados a dimensão ambiental são: ODS 6, cujo objetivo é garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para todos; ODS 11, cujo objetivo é tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; ODS 13, cujo objetivo é tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos; ODS 14, cujo objetivo é a conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável; ODS 15, cujo objetivo é proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter à degradação da terra e deter a perda de biodiversidade (ONU, 2015; DANTAS; FONTGALLAND, 2021).

A seguir apresentamos, 10 problemas ambientais, que devem ser resolvidos até 2030, que estão relacionados aos cinco ODS indicados anteriormente. Para cada um dos problemas ambientais indicados foram selecionadas charges, para as quais apresentamos uma descrição e relação com o contexto ambiental. As charges foram selecionadas a partir da rede social de compartilhamento de fotos Pinterest (acessível em: br.pinterest.com).

As charges selecionadas foram classificadas em três categorias: (1) Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada, que “é composta por charges que ilustram situações que acontecem em nosso contexto social” (WYZYKOWSKI; FRISON; BIANCHI, 2020, p. 297); (2) Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada, que são charges “em que os autores recorreram à imaginação para informar os leitores sobre problemas ambientais e suas consequências para todos os ecossistemas” (WYZYKOWSKI; FRISON; BIANCHI, 2020, p. 299); e (3) Charge de Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, que são charges “que destacam o homem como integrante do Planeta, assim como os outros seres vivos” (WYZYKOWSKI; FRISON; BIANCHI, 2020, p. 302).



Adaptação e mitigação às mudanças climáticas

O aquecimento global induzido pelas emissões de gás carbônico (CO2), que aumentaram segundo a ONU em 50% desde 1990, está acelerando as mudanças climáticas e ameaça a sobrevivência de milhões de pessoas, animais e plantas, pois provoca episódios meteorológicos, tais como secas, incêndios e inundações, cada vez mais frequentes e extremos. A ocorrência do fenômeno mudanças climáticas nos obriga a tomar medidas que atenuem seus efeitos e ajudem a nos adaptarmos às consequências que, inclusive contendo o aumento do termômetro terrestre abaixo de 2 ºC como exigem o Acordo de Paris (um compromisso mundial, firmado em 2015, sobre as alterações climáticas que prevê metas para a redução da emissão de gases do efeito estufa), permanecerão durante séculos (IBERDROLA, c2022). As charges 1-4, relacionadas ao problema de adaptação e mitigação às mudanças climáticas, são apresentadas na Figura 1.

Figura 1: Charges relacionadas ao problema de adaptação e mitigação às mudanças climáticas.

Fonte: Charges 1 (www.pinterest.es/pin/535998793147602800), 2 (www.pinterest.es/pin/73253931427287758/), 3 (www.pinterest.es/pin/410672059777955424/), 4 (www.pinterest.es/pin/470063279856579483/).

A charge 1 representa uma criança que, ao assistir televisão, fica perplexa ao perceber a ocorrência de várias situações provocadas pelo Homem que afetam a saúde do planeta. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir sobre as ações do Homem na Natureza, assim como o futuro de nosso planeta.

A charge 2 representa um grupo de pinguins, adaptados a condições de extremo calor, tal como de regiões desérticas, transpirando e nostálgicos com saudade de andar sobre o gelo. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir as consequências do aquecimento global, não apenas para nossa espécie, mas para todo o ecossistema.

A charge 3 representa um diálogo entre um adulto e uma criança, na qual o adulto percebe uma alteração climática e o classifica como “louco”. A criança, por outro lado, de forma irônica, concorda com o adulto, mas observa de longe, e com feição de insatisfeita, os reais motivos que provocaram essa mudança. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir sobre a naturalização da poluição, do descarte inadequado de lixo, do desmatamento das florestas provocadas pelas pessoas e grandes indústrias.

A charge 4 representa o diálogo de dois animais que habitam o Ártico sobre a ação dos humanos em minimizar o aquecimento do planeta. Localizados sobre dois pequenos blocos de gelo e sem nenhuma grande geleira no cenário, a percepção é a de que parte dos humanos não acreditam no aquecimento global. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir quais ações humanas têm contribuído para o aquecimento global, assim como atitudes sustentáveis para combater o aquecimento global.



Os problemas de poluição e seu impacto na saúde

A Organização Mundial da Saúde estima que 90% da humanidade respira ar poluído e, consequentemente, demanda uma redução da contaminação para reduzir o índice de doenças respiratórias, evitando assim sete milhões de óbitos/ano. A água contaminada também causa problemas importantes de saúde, além de cinco milhões de mortes anuais. A ONU defende eliminar as descargas de resíduos, minimizar o uso de produtos químicos e depurar mais quantidade de águas residuais, entre outras medidas (IBERDROLA, c2022). As charges 5-8, relacionadas ao problema de poluição e seu impacto na saúde, são apresentadas na Figura 2.

Figura 2: Charges relacionadas ao problema de poluição e seu impacto na saúde.

Fonte: Charges 5 (www.pinterest.es/pin/535998793146043684/), 6 (www.pinterest.es/pin/535998793151657079/), 7 (www.pinterest.es/pin/535998793155067518/), 8 (www.pinterest.es/pin/73253931427287759/).

A charge 5 apresenta duas casas, uma com quintal limpo e outra com uma grande quantidade de lixo, que é jogado intencionalmente por um homem de idade. A quantidade de objetos que acumulam água, de insetos e roedores é grande, ainda assim o homem parece não se importar com a situação observada. Em contrapartida, a criança ao observar a quantidade de lixo na casa ao lado imagina que aquela situação poderá adoecê-lo. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir como as ações humanas sobre a Natureza têm contribuído para o adoecimento da população.

A charge 6 apresenta um homem de idade segurando uma plaquinha, com o seguinte dizer: Mais saúde. Enquanto no chão há uma grande quantidade de objetos jogados na calçada e na rua. Ao fundo podem-se ver diversas indústrias com várias chaminés soltando uma fumaça escura, na atmosfera. E no meio deste cenário uma árvore segurando uma plaquinha escrita: Salve, com uma ilustração do planeta terra. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para abordar temas relacionados ao descarte de lixo de forma correta, poluição e seus impactos na saúde.

A charge 7 apresenta um rapaz e uma criança sentados em um sofá em frente a uma televisão e um pequeno cachorro, todos fazem uso de máscaras de proteção respiratória. Nota-se que a imagem está toda acinzentada representando a poluição. Ao olharmos pela janela da sala tem várias chaminés de indústrias com muita fumaça e congestionamento de carros na rua. Na televisão passa a imagem de um lugar diferente, uma zona rural, sendo este um local com muita cor, com árvores, rio, um gramado e um céu azul. O menino diz ao pai: quero morar naquele lugar. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para trabalhar a diferença entre campo e cidade, os impactos da poluição na vida em sociedade.

A charge 8 apresenta dois homens conversando. Ao fundo nota-se muitos carros, com muita fumaça saindo de seus escapamentos, o que traz a imagem um tom acinzentado representando poluição. Na calçada onde os dois estão conversando tem uma pequena muda árvore murcha, devido à poluição. Quando um dos homens vai acender um cigarro para fumar, o outro com olhar de desespero fala; Pare! Não fume. O cigarro vai destruir seus pulmões. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para trabalhar sobre a poluição ocasionada pelas indústrias e pela combustão de combustíveis fósseis, tais como os usados em automóveis. O contexto retratado nos remete, ainda, ao crescimento populacional e ao consumismo, que gera poluição e seus impactos para saúde pública.



A proteção dos oceanos

Os mares se tornaram os grandes aterros de plástico do planeta. Além disso, existem outros graves problemas ecológicos relacionados com os oceanos, como a deterioração dos ecossistemas pelo aquecimento global, os efluentes contaminantes, as águas residuais e o derramamento de combustíveis. A ONU advoga pela melhoria da administração dos espaços protegidos, defendendo que os mesmos tenham recursos suficientes, e pela redução da pesca, da poluição e da acidificação dos oceanos causada pelo aumento da temperatura terrestre (IBERDROLA, c2022). As charges 9-12, relacionadas ao problema de proteção dos oceanos, são apresentadas na Figura 3.

Figura 3: Charges relacionadas ao problema de proteção dos oceanos.

Fonte: Charges 9 (www.pinterest.es/pin/438538082464609901/), 10 (www.pinterest.es/pin/122160208632285964/), 11 (www.pinterest.es/pin/803962970986796145/), 12 (www.pinterest.es/pin/237001999131953175/).

A charge 9 apresenta uma cidade ao fundo da imagem, com uma jovem sob um gramado a beira de um rio com um botijão de gás oxigênio se aproximando com a máscara perto de vários peixes com a cabeça fora da água tentando respirar. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para abordar temas relacionados aos impactos da ação humana no ambiente aquático, em especial a vida marinha.

A charge 10 apresenta uma encosta à beira mar. Há vários objetos de plásticos retirados do mar pelas aves. Uma ave presa em um pneu, que diz: Plástico de novo? E a outra responde: Pois é, o mar não está pra peixe. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para abordar como a falta de consciência em relação ao descarte inadequado de lixo pode trazer danos prejudiciais a vida dos animais.

A charge 11 contém três animais, um urso polar, um pinguim e uma foca. Há dois navios ao fundo e vários objetos, que nos remetem a algumas grandes empresas, jogados no cenário (mar), enquanto dois dos animais ficam presos em pequenos blocos de gelo. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir sobre a importância da criação e fiscalização de leis que protejam os oceanos contra a poluição; a extinção de algumas espécies de animais devido à falta de conscientização, que leva a poluição dos variados ecossistemas.

A charge 12 representa um mar com um navio cargueiro com vários containers coloridos. Desse navio está sendo lançado ao mar um líquido escuro que forma a imagem de uma caveira, geralmente associada ao conceito de toxicidade, sobre a água. Ao lado da mancha formada sob a água, aparecem alguns animais com olhares de assustados. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir sobre a poluição dos oceanos, ocasionada pelo derramamento de petróleo, que pode ocasionar a morte dos organismos vivos desse ambiente.



A transição energética e as energias renováveis

Ao mesmo tempo que a energia significa 60% de todas as emissões mundiais de gases de efeito estufa, a ONU calcula que 13% da humanidade não tem eletricidade e que 3 bilhões de pessoas dependem dos combustíveis fósseis para cozinhar. Esta situação exige uma transição energética para um modelo mais limpo, acessível, eficiente e baseado no uso de fontes renováveis para formar comunidades mais sustentáveis, inclusivas e resistentes aos problemas ambientais, como as mudanças climáticas (IBERDROLA, c2022). As charges 13-16, relacionadas ao problema de transição energética e as energias renováveis, são apresentadas na Figura 4.

Figura 4: Charges relacionadas ao problema de transição energética e as energias renováveis.

Fonte: Charges 13 (www.pinterest.es/pin/31947478595451678/), 14 (www.pinterest.es/pin/5840674505864497/), 15 (www.pinterest.es/pin/733172014336548189/), 16 (www.pinterest.es/pin/498140408788889727/).

A charge 13 representa um coletivo de pessoas desenrolando um “tapete” contendo uma grande área verde (com árvores, casas utilizando energias eólica e solar) sob uma cidade grande e industrializada. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável”, pode ser utilizada para trabalhar temas voltados a necessidade de substituição de energias não-renováreis, tais como a gerada a partir de combustíveis fósseis, para energias renováveis, tais como a eólica e solar.

A charge 14 representa um homem com dois cenários possíveis em termos de uso de energia. No cenário de cima, as ações humanas não impactam o meio ambiente, as fontes de energia utilizadas são renováveis (eólica, solar e hidrelétrica). No cenário de baixo, as ações humanas impactam diretamente o meio ambiente (causando a morte da fauna e flora), as fontes de energia utilizadas são não-renováveis (carvão e combustíveis fósseis). Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável”, pode ser utilizada para abordar as consequências do uso de energias não-renováveis e as alternativas energéticas mais sustentáveis.

A charge 15 representa uma comparação entre dois tipos de emissores de gases poluentes. Ao longe uma cidade industrializada, onde carros e indústrias (emissores inanimados) poluem a atmosfera com emissão de gases, tais como o CO2, provenientes do uso de combustíveis fósseis. Em contraste, um emissor animado, uma vaca que emite gás metano, que também polui a atmosfera. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir sobre a poluição causada pela pecuária (PEDREIRA; PRIMAVESI, 2006), que não é discutida, portanto já se encontra naturalizada.

A charge 16, publicada no dia 13/04/2020 no site Sputnik Brasil, representa um barril de petróleo em uma unidade de terapia intensiva, cujo soro/medicamento é indicado como OPEC++ (sigla em inglês para Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados). Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir sobre a produção, comercialização e interesses econômicos relacionados ao petróleo.



Um modelo alimentar sustentável

A produção intensiva de alimentos tem consequências nefastas para o meio ambiente ao empobrecer o solo e os ecossistemas marinhos. Além disso, a exploração excessiva dos recursos naturais colocou em perigo a segurança alimentar e o abastecimento de água potável. A ONU considera imprescindível uma mudança do modelo produtivo e de nossos hábitos alimentares, apostando em uma dieta mais vegetariana e com alimentos locais para poupar energia e emissões de CO2 (IBERDROLA, c2022). As charges 17-20, relacionadas ao problema de modelo alimentar sustentável, são apresentadas na Figura 5.

Figura 5: Charges relacionadas ao problema de modelo alimentar sustentável.

Fonte: Charges 17 (www.pinterest.es/pin/296533956689324568/), 18 (www.pinterest.es/pin/145170787975826870/), 19 (www.pinterest.es/pin/591238257306842753/), 20 (www.pinterest.es/pin/178455203963501061/).

A charge 17 representa um homem fazendo uso de uma máscara de proteção respiratória, com uma bomba de pulverizar “pesticida” nas costas. Enquanto o homem pulveriza as hortaliças, uma toupeira assustada pergunta: Você também come isto com a máscara? Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para abordar, por exemplo, temas relacionados a alimentação sustentável e os benefícios do consumo de alimentos orgânicos. Ao questionar sobre o uso da máscara, a toupeira nos faz refletir para o fato de que os “pesticidas” são, assim como Rachel Carson pontuava há 60 anos, “biocidas” devido às consequências nocivas a todos os seres vivos, inclusive nossa espécie.

A charge 18 representa um avião fazendo a pulverização de agrotóxico em uma plantação. O agrotóxico que sai do avião forma a imagem de uma caveira, que representa o conceito de toxicidade. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir sobre o "insustentável" sistema produtivo alimentar, que tem utilizado uma grande quantidade de agrotóxicos para controlar diferentes tipos de organismos indesejáveis em culturas agrícolas.

A charge 19 representa três pessoas. Um “grande agricultor” (em posição de destaque e com vestimentas indicando um maior status social) pisando em algumas hortaliças dentro de um recipiente no chão e com um tambor na mão, possivelmente contendo agrotóxico, despejando com um funil na boca do rapaz que está sentado à mesa para fazer sua refeição. Ao lado tem um “pequeno agricultor”, possivelmente de produtos orgânicos, desesperado, vendo sua produção sendo desprezada pelo “grande agricultor”. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir temas relacionados ao uso de agrotóxicos em culturas agrícolas, presença de agrotóxicos nos alimentos que consumimos e dificuldades de inserção mercadológica de produtos orgânicos.

A charge 20 representa a briga entre o sistema de cultivo agroecológico, que busca a sustentabilidade da agricultura familiar, com três grandes oponentes: agrotóxico, desmatamento e transgênicos. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir as vantagens do sistema de cultivo agroecológico em comparação aos sistemas de cultivos que utilizam agrotóxicos para o controle de organismos indesejáveis.



Proteção da biodiversidade

Oito por cento das espécies animais conhecidas já desapareceram e 22% estão em perigo de extinção devido especialmente, à destruição de seus habitats naturais, à caça furtiva e à introdução de espécies invasoras. A ONU cobrou ações contundentes para terminar com estes indícios e preservar o nosso patrimônio natural, como é o caso das florestas que estão cada vez mais ameaçadas (IBERDROLA, c2022). As charges 21-24, relacionadas ao problema de proteção da biodiversidade, são apresentadas na Figura 6.

Figura 6: Charges relacionadas ao problema de proteção da biodiversidade.

Fonte: Charges 21 (www.pinterest.es/pin/718324209296328113/), 22 (www.pinterest.es/pin/718324209296328113/), 23 (www.pinterest.es/pin/86694361566550512/), 24 (www.pinterest.es/pin/470063279846170969/).

A charge 21 nos remete a uma reflexão sobre o especismo, que “pode ser definido como qualquer forma de discriminação praticada pelos seres humanos contra outras espécies” (BRÜGGER, 2009, p. 201). Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir “[...] essa crença de que somos superiores às outras espécies e podemos fazer com elas o que quisermos - e passemos a ver os animais não-humanos como nossos companheiros de jornada no planeta Terra” (BRÜGGER, 2009, p. 209).

A charge 22 apresenta uma grande área, onde há diversos troncos de árvores que foram cortadas. Em um dos troncos há uma ave segurando um ninho com dois ovos. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir sobre como o desmatamento tem contribuído para a perda da biodiversidade brasileira.

A charge 23 apresenta duas imagens. No lado esquerdo há duas aves amarelas em um céu azul colorido, dialogando que as queimadas estão controladas. No lado direito, a imagem é escura, tudo aparece queimado e com vestígios de fumaça, e as mesmas aves dizem que a queimada está sob controle, pois não há mais o que ser queimado. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir sobre as queimadas, muitas vezes intencionais, e as consequências para a fauna e flora.

A charge 24 produzida ao ser divulgado a descoberta de Micos-leões-dourados na Mata Atlântica, na cidade do Rio de Janeiro. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir as ações humanas, tais como destruição de seus habitats naturais e caça furtiva, que levaram a extinção de animais.



O desenvolvimento urbano e a mobilidade sustentável

O crescimento das cidades, que terão de acolher cerca de 5 bilhões de pessoas em 2030, será outro dos grandes desafios ambientais da década. As metrópoles do futuro deverão ser compactas, seguras, inclusivas, ecológicas e eficientes em termos energéticos, com mais áreas verdes, construções ecológicas e meios de transporte mais sustentáveis que deixem o trânsito em segundo plano, dando prioridade aos pedestres (IBERDROLA, c2022). As charges 25-28, relacionadas ao problema de desenvolvimento urbano e a mobilidade sustentável, são apresentadas na Figura 7.

Figura 7: Charges relacionadas ao problema de desenvolvimento urbano e a mobilidade sustentável.

Fonte: Charges 25 (www.pinterest.es/pin/504825439454442192/), 26 (www.pinterest.es/pin/55450639149733007/), 27 (www.pinterest.es/pin/30399366223002563/), 28 (www.pinterest.es/pin/535998793146043530/).

A charge 25 representa uma cena caótica, com acidentes de trânsito e pessoas alteradas, causada por vários problemas, tais como ausência de sinalização, grande quantidade de automóveis e buracos no asfalto. Um senhor tenta justificar que um planejamento para o trânsito da cidade está sendo feito. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir temas relacionados ao crescimento populacional, aumento da frota de veículos e a necessidade de planejamentos urbanos.

A charge 26 representa um casal que reside em um campo ao lado de uma cidade de grande porte, aparentemente sem vegetação. A cidade está crescendo e avançado cada vez mais para a área do campo. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir sobre a importância das cidades realizarem planejamentos urbanos sustentáveis.

A charge 27 representa que um homem planejando fazer exercício físico (corrida), na cidade, imaginando que será benéfico para sua saúde. Porém, o homem acaba ficando sufocado pela poluição produzida pelos automóveis e indústrias. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir sobre a importância de um planejamento urbano sustentável, que leve em consideração, por exemplo, áreas de arborização distribuídas ao longo da cidade.

A charge 28 representa uma área verde com diversos troncos de árvores que foram cortadas e ao fundo uma grande cidade industrializada. Tubulações de rede de esgoto partem da cidade até um pequeno riacho, com vários objetos descartados de maneira incorreta. Em uma das beiras do riacho há três peixes sentados olhando para a situação com muita tristeza. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir temas relacionados ao tratamento de esgoto, poluição de rios, reciclagem de lixo, entre outros.



O estresse hídrico e a escassez de água

A falta deste recurso, vital para a sobrevivência humana, animal e vegetal, afeta mais de 40% da população mundial e, segundo o Fórum Econômico da Água, a agricultura representa mais de 70% da água utilizada nos países mais áridos do planeta. Um uso responsável dos recursos hídricos melhorará a produção alimentar e energética, além de proteger a biodiversidade dos nossos ecossistemas hídricos e ajudar-nos a frear as mudanças climáticas (IBERDROLA, c2022). As charges 29-32, relacionadas ao problema de estresse hídrico e a escassez de água, são apresentadas na Figura 8.

Figura 8: Charges relacionadas ao problema de estresse hídrico e a escassez de água.

Fonte: Charges 29 (www.pinterest.es/pin/599049187936195044/), 30 (www.pinterest.es/pin/30328997480763169/), 31 (www.pinterest.es/pin/535998793152980469/), 32 (www.pinterest.es/pin/470063279846537994/).

A charge 29 representa dois lugares distintos. A esquerda, em um sertão, um homem está frente à sua casa, em um dia ensolarado, pensando quando irá chover, para acabar com a seca. Enquanto a imagem à direita traz um homem, também em frente à sua casa, agora em uma área urbana, lavando a calçada com uma mangueira. É possível ver que o mesmo está varrendo folhas com a força da água para jogar em um bueiro. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir sobre temas relacionados à importância de não desperdiçar água, conscientização, racionamento, entre outros.

A charge 30 representa uma área rural, onde há muito verde, um dia ensolarado, uma casa ao fundo e um homem, com uma lixeira, fazendo o descarte de lixo de maneira incorreta. Enquanto o homem joga os resíduos em um riacho, aparece um peixe com uma plaquinha com nota zero para a atitude do homem. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir temas relacionados à contaminação dos rios, a escassez de água doce no mundo e racionamento.

A charge 31 representa duas imagens. Dois homens estão conversando e um deles segura um copo de água em sua mão. Um deles diz: Amigo, estou cheio de sede, posso beber essa água mineral? E logo o outro responde: Não! Essa água é para eu tomar banho quando chegar em casa. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir temas relacionados à escassez de água doce no mundo, a importância de água de qualidade para a manutenção da vida, entre outros.

A charge 32 nos faz refletir sobre a escassez de água potável em várias regiões do planeta, representando uma região seca, sem vegetação, onde uma mulher e uma criança caminham, provavelmente por uma longa distância, para buscar água. A criança imagina estar em um local com muita água para banhar-se. No topo da charge, está presente a informação que mais de 1 bilhão de pessoas não tem acesso à água potável. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir o acesso à agua potável em diferentes regiões do Brasil e do mundo.



Os fenômenos meteorológicos extremos

O aumento da temperatura terrestre está propiciando eventos climáticos cada vez mais frequentes, intensos e devastadores, como secas, furacões e ondas de calor. Manter o termômetro sob controle, como está sendo solicitado nas negociações de mais alto nível, e melhorar a nossa capacidade de resposta no caso de emergências climáticas são as chaves para minimizar o número dessas catástrofes e aprender a nos adaptar e defender das mesmas (IBERDROLA, c2022). As charges 33-36, relacionadas ao problema de fenômenos meteorológicos extremos, são apresentadas na Figura 9.

Figura 9: Charges relacionadas ao problema de fenômenos meteorológicos extremos.

Fonte: Charge 33 (www.pinterest.es/pin/78813062207051123/), 34 (www.pinterest.es/pin/535998793149141218/), 35 (www.pinterest.es/pin/470063279860837112/), 36 (www.pinterest.es/pin/97953360617923761/).

A charge 33 representa um grupo de pessoas, em um prédio com ar-condicionado, participando da 21ª Conferência do Clima (COP 21), que foi realizada em Paris em dezembro de 2015. De forma irônica, o cartunista representa um clima agradável dentro do prédio, enquanto o planeta sofre com o calor causado pela poluição. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir sobre os fenômenos meteorológicos, assim como o novo acordo firmado entre os países para diminuir a emissão de gases causadores do efeito estufa, diminuindo o aquecimento global e em consequência limitar o aumento da temperatura global em 2 ºC até 2100.

A charge 34 remete a duas imagens. A esquerda um homem sentado em um sofá, com ventilador ligado em sua direção, pés imersos dentro de uma bacia com água, um leque em sua mão e suando muito devido ao calor. O mesmo pensou em ir até a praia para se refrescar. A imagem da direita mostra o mesmo sujeito deitado sob a areia da praia, usando uma bermuda e saindo vapor e seu corpo e suando muito. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir temas relacionados ao calor extremo, cuidado com doenças causados pela exposição ao sol, entre outros.

A charge 35 representa um cenário ártico, sem as geleiras características, com um urso polar sobre um pequeno bloco de gelo, que continua derretendo. O urso desolado reage à informação de que mudanças climáticas podem extinguir sua espécie em menos de 80 anos. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada”, pode ser utilizada para discutir sobre as mudanças climáticas que, a médio prazo, podem causar, por exemplo, a extinção de ursos polares.

A charge 36 remete uma imagem do sertão nordestino, onde dois homens conversam. Para representar a intensidade do calor, o cartunista representa, ao fundo, um grande sol e lágrimas na forma de vapor. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir sobre o aquecimento global e racismo ambiental (ABREU, 2013). Segundo Pereira (2018, p. 44) “a seca no Nordeste costuma ser estereotipada em charges que, geralmente, desempoderam os nordestinos e os representam como a caricatura da miséria, da ignorância e do atraso social”.



O excesso de população e a gestão dos resíduos

A ONU prevê que a população mundial passe de 8,5 bilhões de pessoas em 2030, obrigando-nos a reduzir consideravelmente a geração de resíduos por meio de atividades de prevenção, redução, reciclagem e reutilização próprias da conhecida como economia circular, com o objetivo de minimizar seu impacto na saúde e no meio ambiente (IBERDROLA, c2022). As charges 37-40, relacionadas ao problema de excesso de população e a gestão dos resíduos, são apresentadas na Figura 10.

Figura 10: Charges relacionadas ao problema de excesso de população e a gestão dos resíduos.

Fonte: Charge 37 (www.pinterest.es/pin/349310514853174138/), 38 (www.pinterest.es/pin/94294185938265588/), 39 (www.pinterest.es/pin/353814114454817307/), 40 (www.pinterest.es/pin/806707352003684956/).

A charge 37 apresenta duas mulheres, uma bem vestida, com um bebê no carrinho, e ao lado uma mulher com quatro crianças com roupas sujas e remendadas. Ela pede esmola à outra mulher, que lhe entrega uma cartela com anticoncepcional. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir sobre o crescimento populacional e as consequências para a saúde do planeta.

A charge 38 apresenta um rapaz sentado em uma poltrona em frente a uma televisão, que transmite a publicidade sobre um novo aparelho de telefone celular. O homem joga seu aparelho em uma pilha atrás da poltrona, onde há vários aparelhos celulares usados, e manifesta a necessidade de adquirir o novo aparelho para estar na moda. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir sobre o consumo de aparelhos eletroeletrônicos e a necessidade de efetivar a logística reversa para minimizar os impactos negativos sobre o meio ambiente.

A charge 39 representa um homem de idade e seu filho em frente a um grande monte de entulhos. Enquanto admiram o grande volume de lixo, o pai aponta para a criança qual será sua herança. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir sobre a importância da reciclagem, da coleta seletiva, da logística reversa. Além disso, por remeter ao futuro da nova geração, essa charge pode contribuir para explorar a definição mais comum de desenvolvimento sustentável: “o desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”, que foi apresentado no Relatório Brundtland publicado em 1987.

A charge 40 apresenta dois homens em frente a uma casa. Enquanto um deles descarta seu lixo de maneira incorreta, jogando vários objetos entre a calçada e a rua, assoviando de maneira tranquila, o outro descarta seu lixo de maneira correta, em uma lixeira, olhando o outro com olhar de espanto. Esta charge, que é classificada como “Charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, pode ser utilizada para discutir sobre a importância da separação e da coleta seletiva do lixo.



Evidências de naturalização da poluição em charges

Podemos observar em várias das charges apresentadas (charges 3, 5, 6, 8, 17, 30, 39 e 40) evidências do processo de naturalização da poluição, cuja dinâmica de naturalização ocorre pela “[...] difusão da ideia de que somos todos responsáveis pela degradação do meio ambiente” (ACSELRAD et al., 2012, p. 167). Esse processo pode ser entendido historicamente, retornando ao contexto dos primórdios do capitalismo, ao considerar que:

[...] vigorou desde os primórdios da cidade capitalista, um processo de naturalização da poluição. [...] toda a ansiedade associada aos supostos males dos miasmas e emanações humanas contrasta com a tolerância dos peritos frente às emanações industriais. Teria sido grande o otimismo dos sábios e sua confiança na capacidade do progresso técnico limitar os efeitos indesejáveis das fábricas e manter as indústrias no centro das cidades. O único limite a esta localização foi a relutância dos proprietários imobiliários ante o risco de desvalorização de seus imóveis. A missão dos conselhos de salubridade era a de tranquilizar as ansiedades provocadas pelas pestilências fabris, propiciar quietude às vizinhanças das indústrias. Os peritos higienistas que recebiam delegação das autoridades para equacionar as novas condições socioespaciais das cidades desempenhavam mais o papel de árbitros do que de inspetores. Eram lentos, desqualificavam a denúncia de incômodos, davam o consentimento e praticavam uma “propedêutica do progresso técnico” (ACSELRAD, 2015, p. 59-60, grifos do autor)

Esse processo de naturalização da poluição, relatada por Acselrad (2015), é retratado, por exemplo, em cenas nas quais pessoas jogam lixo na rua (charges 6 e 40), rios (charge 30) ou quintal (charge 5) como algo natural, como se essa ação fosse correta, não provocasse nenhum impacto ao meio ambiente. Segundo Lopes et al. (2000, p. 183).

[...] a incorporação da fonte poluidora ao cotidiano, com a atribuição de uma funcionalidade, e também de uma utilidade, para o risco e a poluição. A naturalização é geralmente imposta por condições socioeconômicas adversas ou pela presença mais forte de uma ideologia desenvolvimentista, que resulta na ausência de “movimentos sociais” contrários. O risco e a poluição podem ser até reconhecidos, mas não são problematizados.

As atitudes naturalizadas de descarte inadequado de lixo, observadas em várias das charges mencionadas anteriormente, são próximas a relatadas por Hayden (2020, p. 119), ao estudar alguns trechos das margens de bacias urbanas em Belém:

[...] a naturalização do lixo por partes dos cidadãos, em conjunto com a falta de postura política dos gestores para a manutenção e valorização das áreas periféricas/baixadas, contribui para a manutenção e ampliação dos depósitos irregulares de lixo, pois não há ou pouco acontece de mobilização popular (individual ou comunitária) em busca da extinção e/ou redução das áreas irregulares.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observamos que existe uma grande variedade de charges com temática ambiental disponíveis na Internet. Para todos os 10 problemas ambientais, que devem ser resolvidos até 2030, que estão relacionados aos cinco ODS de dimensão ambiental, foram encontradas várias charges que permitem promover a reflexão e a conscientização sobre os temas retratados.

Para uma melhor interpretação, as charges ora apresentadas foram classificadas como “charge de Educação Ambiental com Realidade Alterada”, “charge de Educação Ambiental com Ficção Contextualizada” ou “charge de Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável”. Observamos que, algumas das charges selecionadas apresentam aspectos relacionados à naturalização da poluição e ao racismo ambiental e, assim como as demais, podem (e devem) ser trabalhadas, de forma contextualizada e crítica, em disciplinas de Ciências em todos os níveis da Educação Básica.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, I. S. Biopolítica e racismo ambiental no Brasil: a exclusão ambiental dos cidadãos. Opinión Jurídica, v. 12, n. 24, p. 87-99, 2013.

ACSELRAD, H. et al. Desigualdade ambiental e acumulação por espoliação: o que está em jogo na questão ambiental?. e-cadernos CES, n. 17, p. 164-183, 2012.

ACSELRAD, H. Vulnerabilidade social, conflitos ambientais e regulação urbana. O social em Questão, n. 33, p. 57-67, 2015.

BRÜGGER, P. Nós e os outros animais: especismo, veganismo e educação ambiental. Linhas Críticas, v. 15, n. 29, p. 197-214, 2009.

CABRAL, M. I. A.; NOGUEIRA, E. M. S. Diálogo entre cinema e Educação Ambiental. Revista Brasileira de Educação Ambiental, v. 14, n. 4, p. 106-119, 2019.

CARSON, R. Primavera silenciosa. São Paulo: Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1962.

COSTA, W. M.; PERTICARRARI, A. A contribuição do Texto de Divulgação Científica no processo de ensino e aprendizagem dos ciclos biogeoquímicos. Revista Prática Docente, v. 5, n. 2, p. 922-943, 2020.

DANTAS, N. S.; FONTGALLAND, I. L. Análise das leis ambientais brasileiras e sua interface com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável-ODS. Research, Society and Development, v. 10, n. 4, p. e32010414248-e32010414248, 2021.

ENNIS, R. H. Critical thinking and the curriculum. National Forum, v.65, n. 1 p. 24-27, 1985.

GONÇALVES, Í. B. P. As contribuições da charge para o ensino de História. Multidebates, v. 3, n. 1, p. 24-35, 2019.

GOROSTIZA, S.; SAURÍ, D. Naturalizing pollution: a critical social science view on the link between potash mining and salinization in the Llobregat river basin, northeast Spain. Philosophical Transactions of the Royal Society B, v. 374, n. 1764, p. 20180006, 2019.

HAYDEN, D. A. Distribuição espacial de depósitos irregulares de lixo em Belém: estudo de alguns trechos das margens de bacias urbanas. Geografia, v. 29, n. 2, p. 105-121, 2020.

HIGUCHI, M. I. G.; AZEVEDO, G. C. Educação como processo na construção da cidadania ambiental. Revista Brasileira de Educação Ambiental, n. 0, p. 63-70, 2004.

IBERDROLA. Os grandes problemas ambientais a nível mundial que devem ser resolvidos até 2030. Disponível em: https://www.iberdrola.com/sustentabilidade/principais-problemas-ambientais. Acesso em: 01 fev. 2022.

LOPES, J. S. L.; ANTONAZ, D.; PRADO, R.; SILVA, G. Naturalização e Estranhamento: alguns aspectos da construção social. Cadernos IPPUR, v. XIV, n. 1, p. 181-196, 2000.

LOVATO, F. L.; SEPEL, L. M. N. Utilização de Desenho Animado como Contexto Gerador de Atividades para o Ensino de Ciências. Ensino, Saúde e Ambiente, v. 14, n. 1, p. 1-27, 2021.

MAIA, J. C.; FRANCO, J. L. A. De naturalista a militante: a trajetória de Rachel Carson. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 56, p. 1-21, 2021.

MARCONDES, D. L. Z. et al. Simulando a toxicidade de pilhas e baterias por meio de um bioensaio simples e de baixo custo. Educação Química en Punto de Vista, v. 3, n. 1, p. 1-13, 2019.

MATTA, R. R.; ROCHA, M. B. Divulgação Cientifica e Educação Ambiental: trabalhando as Unidades de Conservação na Educação Básica através de um documentário. Revista Práxis, v. 9, n. 17, p. 113-129, 2017.

MULINE, L. S. et al. Jogo da “trilha ecológica capixaba”: uma proposta pedagógica para o ensino de Ciências e a Educação Ambiental através da ludicidade. Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia, v. 6, n. 2, p. 183-195, 2013.

NASCIMENTO, V. N. et al. Construindo saberes: leitura interpretativa e crítica de Textos de Divulgação Científica (TDC) no ensino de Biologia. Revista de Extensão da URCA, v. 1, n. 1, p. 284-290, 2021.

OLIVEIRA, A. S. C.; CODINHOTO, G. M. O. O gênero multimodal charge: um instrumento de disseminação de discursos e esteriótipos sobre o Acre. Tropos: Comunicação, Sociedade e Cultura, v. 10, n. 2, p. 1-25, 2021.

OLIVEIRA, E. T.; ROYER, M. R. A Educação Ambiental no contexto da Base Nacional Comum Curricular para o Ensino Médio. Interfaces da Educação, v. 10, n. 30, p. 57-78, 2019.

OLIVEIRA, E.; SANTOS, R. P.; BORGES, R. S. Identidades e representações nos sistemas midiáticos (in)formativos: a charge e a construção da imagem do Outro. RuMoRes, v. 7, n. 14, p. 177-195, 2013.

OLIVEIRA, L.; NEIMAN, Z. Educação Ambiental no Âmbito Escolar: Análise do Processo de Elaboração e Aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Revista Brasileira de Educação Ambiental, v. 15, n. 3, p. 36-52, 2020.

ONU - Organização das Nações Unidas. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. 2015. Disponível em: https://sustainabledevelopment.un.org/sdgs.

PASSOS, M. M.; MAISTRO, V. I. A.; CARAIOLA, V.; ARRUDA, S. M. Charges e suas contribuições para o ensino de ciências naturais. Revista Ciências & Ideias, v. 8, n. 2, p. 165-176, 2018.

PATRIARCHA-GRACIOLLI, S. R.; ZANON, Â. M.; SOUZA, P. R. “Jogo dos predadores”: uma proposta lúdica para favorecer a aprendizagem em ensino de Ciências e Educação Ambiental. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 20, p. 202-216, 2008.

PEDREIRA, M. S.; PRIMAVESI, O. Impacto da produção animal sobre o ambiente. Embrapa Pecuária Sudeste. In: BERCHIELLI, T. T.; PIRES, A. V.; OLIVEIRA, S. G. (Ed.). Nutrição de ruminantes. Jaboticabal: Funep, 2006.

PEREIRA, A. S. P. S. O redesenho de charges sobre a seca no nordeste. Revista Docentes, v. 3, n. 5, p. 44-55, 2018.

ROCHA, E. F.; SANTOS, E. D. Ensino de ciências e educação ambiental: atividades experimentais no ensino fundamental. Ciências em Foco, v. 3, n. 1, p. 1-5, 2010.

SILVA, A. P. S.; MARTINS, R. A.; RUAS, A. A.; SOARES, N. S. Um olhar sobre a educação ambiental crítica na educação básica. Brazilian Journal of Development, v.7, n.7, p. 73025-73040, 2021.

SOUZA, A. T. F.; MARTINS, A. F. P. Pós-verdade e a potência dos afetos: um resgate da vida e obra de Rachel Carson para um saber sobre ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 37, n. 3, p. 1147-1172, 2020.

TENREIRO-VIEIRA, C. Formação em pensamento crítico de professores de ciências: impacte nas práticas de sala de aula e no nível de pensamento crítico dos alunos. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, v. 3, n. 3, p. 228-256, 2004.

TONELLO, L. P.; WYZYKOWSK, T.; GÜLLICH, R. I. C. O uso de charges e histórias em quadrinhos para potencializar a educação ambiental no ensino de ciências. Ambiente & Educação, v. 23, n. 2, p. 369-381, 2018.

WYZYKOWSKI, T.; FRISON, M. D.; BIANCHI, V. Compreensões de educação ambiental a partir de charges do Facebook. Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática, v. 8, n. 2, p. 290-307, 2020.