ENTREVISTA COM LUANA ROSA PARA A 79ª EDIÇÃO DA REVISTA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO

Por Bere Adams

Luana Rosa – imagem de arquivo pessoal da entrevistada



Apresentação: Para esta edição comemorativa de 20 anos da revista, temos a honra e a alegria de apresentar Luana Rosa, que é Bióloga, estuda Doutorado em Desenvolvimento Rural na UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e fez Mestrado Profissional em Ambiente e Sustentabilidade na instituição de ensino Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS. Atualmente, Luana é presidente licenciada da ONG Movimento Roessler para Defesa Ambiental, de Novo Hamburgo, uma das mais antigas organizações ambientalistas do estado, e desenvolve pesquisas sobre Mudanças Climáticas, juntamente com seu Grupo de Pesquisa em Tecnologia, Meio Ambiente e Sociedade – TEMAS da UFRGS.

Vamos conhecê-la um pouco mais?

Bere – Prezada Luana, é uma grata satisfação tê-la como nossa entrevistada desta edição comemorativa de 20 anos de revista. Muito obrigada por aceitar a este convite! A primeira questão que abordo com meus entrevistados e minhas entrevistadas é sobre como surgiu o desejo para se dedicar as questões ambientais e desde quando. Algo específico te despertou este interesse?

Luana – Desde criança sou fascinada pela natureza. Tanto que aos 8 anos de idade me integrei ao grupo de Monitores Ecológicos da Escola Municipal Tancredo Neves, em Novo Hamburgo. Nessa época, cuidávamos da horta da escola, mantínhamos uma composteira, fazíamos visitas ao Horto Municipal e plantios de mudas em diversos pontos da cidade. Me recordo com muito carinho desses momentos. Quando cresci, a vida foi tomando outros rumos, mas depois de migrar por algumas áreas, me dei conta de que nasci para proteger a vida em todas as suas formas e resolvi estudar Biologia. Nesse momento minha vida se transformou! Principalmente quando recebi o convite do Arno Kayser de participar de uma reunião do Movimento Roessler. Passei a fazer parte ativamente da ONG em 2015, e de lá pra cá a militância na área ambiental se intensificou ainda mais, assim como meu interesse pela pesquisa acadêmica. O Movimento Roessler foi fundamental na minha história, pois foi através da ONG e de seus militantes mais ativos que pude resgatar aquela Luana criança que queria mudar o mundo.

Bere – A Educação Ambiental (EA) já fazia parte da sua formação quando você frequentou a educação básica? Você considera que a EA faz diferença - de forma concreta - na vida educacional das crianças?

Luana – A Educação Ambiental faz parte da minha formação pelo contexto no qual me inseri ao fazer parte do grupo de Monitores Ecológicos. E ela foi fundamental na construção da pessoa que sou hoje. Hoje, sou uma cientista da área ambiental, e a Educação Ambiental teve grande relevância nesse processo. Graças à Educação Ambiental aprendi a valorizar e respeitar a vida em todas as suas formas. A Educação Ambiental foi e é fundamental na construção de uma sociedade capaz de respeitar a natureza, contemplando os humanos e não humanos que fazem parte dela.

Bere – Você se lembra de alguma prática de EA da qual tenha participado e que tenha sido mais significativa para destacar?

Luana – Me recordo de algumas situações que foram muito marcantes pra mim: uma delas foi o mutirão que os Monitores Ecológicos de todas as escolas municipais fizeram para coletar papel com a finalidade de vender esse papel para reciclagem e possibilitar o lançamento da 2ª edição do livro “Árvores de Novo Hamburgo”. Nessa experiência, vivenciamos a importância de trabalhar a questão da reciclagem, assim como nos sentimos parte dessa publicação, que até hoje me causa imensa satisfação em ter participado desse processo.

Outra atividade que me causava imensa alegria como monitora ecológica, além do contato com as hortas escolares, eram as frequentes visitas ao Horto Municipal, no qual sempre saíamos de lá com mudas e com a missão de tornar Novo Hamburgo mais verde. Até hoje, quando ando pela minha cidade gosto de recordar que há cerca de 30 anos atrás minhas mãos plantaram árvores que abrigam vida até os dias atuais.

Bere – Luana, eu tenho a 2ª edição deste livro. Realmente deve ter sido uma experiência gratificante, e para fins de registro, coloco aqui as imagens da capa e da apresentação da 2ª Edição com destaque ao trabalho dos Monitores Ecológicos de Novo Hamburgo. Muito legal saber que você fez parte deste trabalho quando criança!

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Bere – E o que, para você, é mais importante de ser trabalhado na EA nas escolas, que vai além de fazer hortas, plantar árvores, separar os resíduos, realizar eventos de datas comemorativas, e outras atividades pontuais (que são importantes, porém, carecem de continuidade)?

Luana – É fundamental o senso de pertencimento dessas crianças em tais atividades, plantar a semente da consciência ambiental, para que a Educação Ambiental que eles aprendem nas escolas possa ultrapassar os muros da educação formal e atingir a sociedade no qual elas fazem parte. Eu me sentia parte daquele processo quando criança. Sentia que podia mudar o mundo com minhas ações, e hoje, com 38 anos, sigo tendo o mesmo pensamento de que pessoas podem mudar o mundo através de suas ações.

Bere – Há uma antiga discussão entre tornar a EA (formal) uma disciplina específica X EA em todas as disciplinas (conforme está disposto na Lei 9.795/99 que institui a EA no País). Como você se posiciona diante desta questão?

Luana – Eu adoraria que a lei que institui a EA no Brasil fosse cumprida, e que de fato pudéssemos falar de Educação Ambiental em todas as disciplinas do currículo, pois ela é fundamental em todos os segmentos da educação. Porém, infelizmente a prática da EA nas escolas não tem sido integrada de forma interdisciplinar como gostaríamos. Nesse caso, defendo a Educação Ambiental como disciplina específica da grade curricular, dada sua importância e ampla necessidade de debate.

Bere – Há mais de dois anos estamos vivendo momentos ímpares devido a pandemia da COVID-19. Qual é a relação entre a pandemia e o meio ambiente?

Luana – Infelizmente muitas pessoas veem a questão ambiental como secundária. No entanto, ela é o pilar de todas as demais questões que nos afligem atualmente. Se não fosse o descaso com as políticas ambientais, e a falta de proteção e respeito aos habitats da vida silvestre não estaríamos nessa calamitosa emergência sanitária mundial. A pandemia da Covid-19 nos mostrou que a degradação ambiental é capaz de trazer sérios riscos à saúde. O ser humano está invadindo e ocupando todos os espaços possíveis, desmatando e retirando dos animais silvestres seu ambiente natural. Com isso, o desequilíbrio ambiental se agrava e novas epidemias se tornam possíveis.

Bere – O que é, para você, ser uma pessoa ambientalista?

Luana – Para mim, qualquer pessoa que ame a vida e a coloque em primeiro lugar, seja a vida dos humanos ou dos não humanos - como animais e plantas - já pode ser considerado(a) um(a) ambientalista. Quando me formei em Biologia fiz um juramento de proteger a vida, e é isso que tenho feito desde então. Desde criança, sou fascinada pela natureza, e aprendi ao longo da vida e de minha formação acadêmica que é necessário amor e respeito para que possamos preservá-la.

Bere – Quais são os principais desafios a serem enfrentados?

Luana – Como mencionei anteriormente, para preservar a natureza é imprescindível que exista amor e respeito. Infelizmente não tem existido respeito ao meio ambiente por parte daqueles que governam este país. E além da falta de respeito e o descaso com o meio ambiente, as crianças estão cada vez mais distantes do ambiente natural. As brincadeiras ao ar livre foram substituídas por aparelhos eletrônicos, o que distancia ainda mais as crianças da natureza. Se a base para a conservação é justamente amor e respeito, como as crianças irão amar aquilo que não conhecem? Por isso, ressalto aqui, mais uma vez, a importância fundamental da Educação Ambiental. Afinal, é preciso conhecer para preservar!

Bere – Qual é a sua opinião sobre a atual política ambiental?

Luana – A atual política ambiental no Brasil está regredindo a passos largos. Desde a entrada do governo Bolsonaro em 2018, e consequentemente do ex-Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, tivemos inúmeros retrocessos como privatização de parques e áreas de proteção integral, áreas de preservação permanente sendo liberadas para a extração de minérios, liberação de dezenas de agrotóxicos proibidos em seus países de origem, aumento recorde do desmatamento no Brasil, queimadas na Amazônia e no Pantanal sem as devidas políticas mitigadoras e a redução de investimentos em meio ambiente e educação. Ou seja, a receita perfeita para um colapso ambiental.

Bere – Fale-nos sobre seus projetos futuros.

Luana – Meu maior projeto para o futuro é continuar seguindo meu juramento de defender a vida! A vida dos humanos e a vida dos animais e plantas que habitam esse planeta tão rico, mas tão horrendamente explorado e desigual. Sempre defenderei o direito a um ambiente justo e equilibrado, e farei isso dentro de todas as instâncias que me couberem, seja no ativismo, na política ou na vida acadêmica. Me espelho nos grandes mestres como Henrique Roessler e José Lutzenberger, que nunca desistiram de lutar por um mundo melhor, e hoje estamos aqui, defensores desse legado em prol de um ambiente saudável e uma sociedade mais justa.

Bere – Oh! Chegando ao final! Deixa um recado para quem lerá essa nossa entrevista. Pode ser um pensamento, uma dica, uma ideia...

Luana – Gostaria de ressaltar ao final dessa entrevista o quanto é importante sonhar. Quando criança eu sonhava em ser cientista, e o que mais me tirava do centro eram as injustiças do mundo. Hoje sou adulta, cientista, defensora do Meio Ambiente e dos Direitos Humanos. Aquela criança ainda vive em mim e ela nunca perdeu o ímpeto de lutar.

Bere – Luana, em nome de toda equipe da revista, te agradeço pela disponibilidade em compartilhar um pouco da tua trajetória de vida, o teu envolvimento com as questões ambientais, evidenciando sempre este senso de justiça que se faz presente nas tuas ações. O teu exemplo certamente é um enorme incentivo para todos nós, que buscamos fazer as necessárias mudanças através da Educação Ambiental, para que possamos direcionar cada vez mais o nosso pensar, agir e o nosso viver, conscientes de que o ambiente é a base de toda vida, e cabe a cada um de nós contribuir para repararmos e minimizarmos os impactos que a ele provocamos. Muito obrigada e sucesso!



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