ENTREVISTA: O MEIO AMBIENTE, A SAÚDE MENTAL E O APRENDIZADO DAS CRIANÇAS COM A SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA

Por Luciana Ribeiro

Dr. Joel Bressa da Cunha, presidente do Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria


Com muita honra, convidei o Dr. Joel Bressa da Cunha, presidente do Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria para conceder uma entrevista, a fim de que ele esclareça a relevância de se implementar ou propor atividades sobre o meio ambiente dentro e fora do contexto escolar.

Neste contexto pedagógico, os educadores, as crianças e os problemas educacionais precisam do amparo de uma equipe multidisciplinar que auxilie e acompanhe o processo de ensino e aprendizado nas escolas brasileiras.

Segue a entrevista com Dr. Joel Bressa da Cunha:


Luciana Ribeiro - Qual o papel da natureza para a saúde mental da criança e do adolescente?




Há milênios, a espécie humana vem evoluindo em contato íntimo com a natureza, não apenas de uma forma contemplativa, mas em intensas interações, que envolvem atividade física, solução de problemas, criatividade, colaboração entre as pessoas. É uma necessidade da criança e do adolescente para o desenvolvimento de variadas habilidades e para o controle do estresse.

Não faltam estudos que associam a falta de brincar, especialmente por meio atividades físicas praticadas ao ar livre, em ambiente natural, com estresse tóxico, ansiedade, depressão, irritabilidade e outros agravos. O tempo de isolamento em casa imposto pela pandemia de Covid-19 colocou isso em evidência, desde crianças pequenas, que tiveram regressão de comportamento, até adolescentes, que referem preocupação, nervosismo ou mau humor.

O contato com a natureza tem o potencial de beneficiar tanto a saúde física quanto a saúde mental de crianças e adolescentes.



Luciana Ribeiro - Como o pedagogo pode abordar a importância da conscientização das atividades ao ar livre para evitar doenças (seja obesidade, seja ansiedade) durante o período da infância/adolescência?


Para o educador conscientizar seus estudantes da importância das atividades ao ar livre, é fundamental que ele próprio se conscientize antes! Muitos adultos cresceram privados de uma intimidade maior com a natureza e precisam também vivenciar esse contato para melhor ensinar. Meio ambiente é tema transversal na educação, mas não deve ser entendido apenas do ponto de vista cognitivo: a escola deve proporcionar atividades que favoreçam o gosto pelos espaços naturais, criando vínculos afetivos, por meio de vivências diretas, em brincadeiras e interações variadas. Quem gosta, cuida. O processo educacional deve prover as oportunidades para que isso aconteça, desde as brincadeiras no pátio, no recreio, até o aproveitamento desse mesmo pátio (com seu relevo, vegetação e, eventualmente, animais) para enriquecer os conteúdos das aulas mais formais. Recomenda-se que as aulas-passeio, as excursões e as visitas a espaços naturais fora das escolas sejam frequentes.

O plantio de pequenas hortas nas escolas costuma ser uma experiência exitosa, com impacto nos hábitos saudáveis de alimentação. A partir de tais vivências e experiências torna-se eficaz abordar a importância da natureza para evitar doenças, tanto as físicas quanto as mentais. Também é papel do educador envolver e motivar as famílias nessa conscientização tão importante.


Agradeço as recomendações do Dr. Joel Bressa da Cunha, as quais preconizam, de fato, o zelo pela saúde infantil por meio das atividades socioambientais inseridas nas escolas e, além disso, espero que sirvam de ponte para novas discussões entre os educadores e os gestores escolares responsáveis por melhorar a qualidade do ensino público no Brasil.


Fonte da entrevista: https://jornalanafolha.wixsite.com/jornal/post/entrevista-o-meio-ambiente-a-sa%C3%BAde-mental-e-o-aprendizado-das-crian%C3%A7as-com-a-sociedade-brasileira