RELATO DE EXPERIÊNCIA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM

AULAS DE CAMPO DE GEOGRAFIA. TEMÁTICA: SOBRE A ÁGUA



Alfranio Gonsaga Ferreira da Rosa1, Carlos Eduardo Fortes Gonzalez2

Mestrando, Mestrado Profissional do Programa de Pós-Graduação em Formação Científica, Educacional e Tecnológica, Universidade Tecnológica Federal do Paraná- UTFPR. E-mail:professor-alfranio@hotmail.com

2 Doutor, Programa de Pós-Graduação em Formação Científica, Educacional e Tecnológica, Universidade Tecnológica Federal do Paraná- UTFPR. E-mail: cefortes@yahoo.com



Resumo

O presente artigo corresponde a um relato de experiência onde foi observada sistematicamente a relevância da aula de campo de Geografia na construção de conhecimentos socioambientais. Consistiu em uma atividade desenvolvida em uma Escola Municipal de São José dos Pinhais – PR em 2019. A atividade desenvolvida pela equipe pedagógica e docentes dos 5º anos compreendeu ações relacionadas à proteção do meio ambiente com foco na água como um bem universal. Desta forma, as atividades propostas em sala de aula puderam ser observadas in loco na aula de campo na forma de visita guiada à Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), Estação de Tratamento de Água Miringuava, em São José dos Pinhais. A partir da aula de campo, os alunos envolvidos tiveram subsídios para reproduzir, em escala menor (maquetes), as fases de tratamento para a obtenção de água potável distribuída pela empresa, desde a captação até a distribuição.

Palavras-chave: Água. Saneamento. Aula de campo. Sustentabilidade. Educação Ambiental.



Abstract

This article corresponds to an experience report where the relevance of the Geography field class in the construction of socio-environmental knowledge was systematically observed. It consisted of an activity carried out at a Municipal School in São José dos Pinhais - PR in 2019. The activity carried out by the pedagogical team and teachers of the 5th grade comprised actions related to the protection of the environment with a focus on water as a universal good. In this way, the activities proposed in the classroom could be observed in loco in the field class in the form of a guided visit to the Paraná Sanitation Company (Sanepar), Miringuava Water Treatment Station, in São José dos Pinhais. From the field class, the students involved received subsidies to reproduce, on a smaller scale (models), the treatment phases to obtain drinking water distributed by the company, from capture to distribution.

Keywords: Water. Sanitation. Field class. Sustainability. Environmental Education.



Introdução



Este relato de experiência baseado em uma aula de campo, no Ensino de Geografia de 5º ano da Escola Municipal Prefeito Francisco Ferreira Claudino, em São José dos Pinhais-PR, em novembro de 2019. Tem como objetivo descrever a relevância da aula de campo para o ensino da Geografia relacionado à Educação Ambiental. Suertegaray (2002, p.01) descreve o trabalho de campo como “instrumento de análise geográfica que permite o reconhecimento do objeto e que, fazendo parte de um método de investigação, permite a inserção do pesquisador no movimento da sociedade como um todo”

Este procedimento, como sabemos, não é exclusivo da pesquisa em Geografia, dele se apossam as mais diferentes áreas do conhecimento, sejam classificadas como exatas, da terra ou social. No entanto, consideramos necessário resgatar a discussão sob a óptica da produção do conhecimento, está sem dúvida já iniciada. Desnecessário seria falar da fundamental importância do trabalho de campo na pesquisa geográfica. (SUERTEGARAY, 2002, p.01).

A aula de campo está diretamente ligada ao ensino de geografia e todas as suas particularidades (COMPIANI; CARNEIRO, 1993; LACOSTE, 1989). O professor de Geografia pode desenvolver as suas atividades pedagógicas em vários espaços e diversos ambientes, o que gera a “possibilidade de pensar, fazer e ensinar a partir de uma determinada maneira de analisar a realidade social, a partir de sua dinâmica espacial, para além de suas possibilidades circunstanciais de intervir no mercado de trabalho” (CAVALCANTI, 2002, p. 103). O docente, ao ofertar essa modalidade de ensino em espaços não formais, agrega valor à sua ação pedagógica e o discente vivencia in loco todas as discussões desenvolvidas em sala de aula. Na concepção de Serpa (2006, p.9-10), “o trabalho de campo é instrumento chave para a superação dessas ambiguidades, não priorizando nem a análise dos chamados fatores naturais nem dos fatores humanos”. Ao sair do espaço escolar, o discente tem outra leitura de mundo capaz de construir análises críticas relacionadas ao tema estudado. Segundo Cavalcanti (1998, p. 25), “a leitura do mundo do ponto de vista de sua espacialidade demanda a apropriação (..) de um conjunto de instrumentos conceituais de interpretação e de questionamento da realidade socioespacial”. Para a Geografia, a aula de campo é um recurso pedagógico que não deve ser ignorado por permitir um processo de aprendizagem mais próximo à realidade. A aula de campo é um sistema complexo de um processo de planejamento que tem como finalidade conduzir, interagir. Todavia, o processo todo tem de ser avaliado pelo professor no pós-campo (CORRÊA FILHO, 2018).



Referencial teórico

O trabalho de campo representa um momento do “processo de produção do conhecimento que não pode prescindir da teoria, sob pena de tornar-se vazio de conteúdo, incapaz de contribuir para revelar a essência dos fenômenos geográficos” (ALENTEJANO; ROCHA-LEÃO, 2006, p.53). Embora os livros didáticos tenham a sua importância, o discente, ao se deparar com os assuntos abordados em sala de aula, compreende com mais significado a relação entre a teoria e a prática.

O trabalho de campo para não ser somente um empirismo, deve articular-se à formação teórica que é ela também, indispensável. Saber pensar o espaço não é colocar somente os problemas no quadro local, é também articulá-los eficazmente aos fenômenos que se desenvolvem sobre extensões muito mais amplas (LACOSTE, 1985, p. 20).

Valéria de Marcos, por sua vez, pensa

[...] que a maior parte dos geógrafos concorde com o fato de que a ida a campo seja um instrumento didático e de pesquisa de fundamental importância para o ensino e pesquisa da/na Geografia. Enquanto recurso didático, o trabalho de campo é o momento em que podemos visualizar tudo o que foi discutido em sala de aula, em que a teoria se torna realidade, se ‘materializa’ diante dos olhos estarrecidos dos estudantes, daí a importância de planejá-lo o máximo possível, de modo a que ele não se transforme numa ‘excursão recreativa’ sobre o território, e possa ser um momento a mais no processo ensino/aprendizagem/produção do conhecimento (MARCOS, 2006, p.02).

A Geografia está inserida na Educação ambiental, pois ambas estão relacionadas ao espaço geográfico, que está em constante transformação. Exemplificando o tema abordado em sala de aula, a água que consumimos. O percurso da água até o consumidor final requer alterações do espaço geográfico, situação percebida na modificação dos ambientes físicos em torno de um rio. A aula de campo permite essas abordagens, menos perceptíveis em sala de aula.

Durante o trabalho de campo, educadores e educandos devem submergir no cotidiano do espaço a ser pesquisado, buscando estabelecer um rico diálogo com o espaço e, na condição de pesquisadores, com eles mesmos. É o momento de descobrir que o meio ou o espaço, na inter-relação de processos naturais e sociais, é uma Geografia viva. (LOPES; PONTUSCHKA, 2010, p. 30).

A Educação Ambiental tem como uma das suas intencionalidades o diálogo permanente com as demais Ciências, visando interpor recursos para uma ação pedagógica que consista em promover a consciência de sua realidade. (CAVALCANTI, 2002). Para Telles, a Educação Ambiental é:

Um processo permanente na qual o indivíduo e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tornam aptos a agir individual e coletivamente – e resolver problemas ambientais (TELLES, 2002, p. 34).

Neste espaço cria-se um vínculo que deve estar exposto nas práxis do educador visando à construção de um sujeito (educando) consciente de sua realidade, enquanto inserido no espaço e, ao docente, a intencionalidade da ação pedagógica reflexiva, ou seja, a teoria e a prática entrelaçadas na ação docente de ensino das questões socioambientais, propositalmente endereçada às questões cotidianas, relacionando com a vivência dos educandos enquanto ocupantes de um espaço geográfico.

Segundo Candiotto,

(...) Os Estudos do Meio e Trabalhos de Campo são duas atividades extra sala de aula muito utilizadas em geografia e que podem ter resultados bastante satisfatórios. (...) os alunos têm a oportunidade de associar a observação ao que é trabalhado em sala de aula. (CANDIOTTO, 2001, p. 40).

É relevante que o aluno vá a campo e conheça na realidade os contextos analisados em sala de aula e se insira no espaço, pois, “sabe-se que os conteúdos, o conhecimento, só adquirem significado se vinculados à realidade existencial dos alunos, se voltados para a resolução dos problemas colocados pela prática social” (VEIGA,1991, p. 76). Lefebvre denomina de espaço concebido ou de representação do espaço a dimensão espacial que corresponde às relações de produção, ao conhecimento, ao planejamento. Para Venturi (2006, p.75-76), o trabalho de campo:

[...] representa o contato imediato do cientista com a realidade, ainda que possa fazer uso de instrumentos; é o momento de conhecê-la melhor por meio de técnicas de observação e interpretação (dois aspectos do mesmo processo, já que quem observa é o sujeito, não seus órgãos sensoriais), instrumentalizadas ou não. O contato direto com a realidade em campo não significa que se tenha o mesmo controle dos processos que se pode ter em laboratório. No campo, o cientista está submetido às dinâmicas da realidade que elegeu estudar. Sendo assim, é comum que o que se planejou no laboratório ou gabinete não ocorra exatamente como se esperava. Isto significa que o planejamento do campo da pesquisa requer certa flexibilidade por parte do pesquisador.

A Educação Ambiental constrói um referencial, quando busca na Geografia reavaliar questões ambientais nos espaços no processo de ensino-aprendizagem, possibilitando a aprendizagem de educandos aptos a exercer a sua cidadania, compondo a realização de práticas ambientais subsidiadas pelo docente nos anos iniciais do ensino fundamental. Entre outras temáticas, há atividades voltadas para a água (FABER, 2011). A história do desenvolvimento dos seres humanos no Planeta Terra conta com a necessidade da água para o seu desenvolvimento.

Atualmente, vivemos na época dos avanços tecnológicos, globalização, crescimento da economia, explosão populacional e, com isto, há degradação contínua do meio ambiente. Consequentemente, o planeta passa por diversos eventos climáticos extremos. Observando-se as previsões de Thomas (2003, p.1), de que “Até 2025, a agricultura irrigada terá de produzir 70 por cento dos alimentos do mundo para alimentar dois bilhões de pessoas a mais do que hoje”, as necessidades hídricas mundiais devem dobrar nos próximos 25 anos, sendo que quatro bilhões de pessoas poderão enfrentar a escassez de água até o ano 2025. O início das primeiras civilizações já foi marcado pelas águas, em que os homens procuravam habitar em regiões próximas aos rios, pois existia abundância de água potável para os membros das tribos e para os seus animais. Algumas civilizações formadas às margens dos rios: Rio Nilo, Egito; Jordão, Israel e Palestina; Tigre e Eufrates, Mesopotâmia, atual Iraque e Kuwait; Indo e Ganges, na Índia e Amarelo e Azul, na China, dentre outras (MAIA, 2015). Segundo Martins,

Desde o surgimento da vida na Terra, a água é o elemento mais importante para a sobrevivência de todos os seres vivos. Sem ela, o planeta seria desabitado. Mesmo assim, a humanidade tem desperdiçado este recurso. Dados da ONU de 2006 revelam que até 2050 mais de 45% da população mundial não terá acesso à água potável. (MARTINS, 2014, p. 12).

Para Costa,

O consumo de grande quantidade de água potável não se dá exclusivamente nos grandes centros urbanos; a agricultura e as indústrias também são as grandes responsáveis por grande fatia desse consumo, a agricultura para suprir a demanda de alimentos para a população e a indústria respondendo aos anseios do consumismo exagerado atrelado ao capitalismo globalizado. (COSTA, 2014, p. 10).

A falta de água se deve basicamente à má administração dos recursos hídricos e não somente à falta de chuvas. O uso incorreto da água potável, o desperdício, a abundância em algumas regiões e a escassez em determinadas regiões do planeta (dois terços da superfície da terra são cobertos por água) não nos livram de um grave problema, segundo Angelotti e Tiepole:

De toda a água da superfície apenas 3% não é salgada, mas desse percentual 68,7% encontram- se indisponíveis, por estarem em geleiras e capas de gelo. Acrescente-se que a maior parte da água doce restante superficial (30,1%) está em reservatórios subterrâneos. Pode-se dizer, portanto, que, de toda a água doce líquida (ou seja, toda a água que potencialmente serviria para o consumo), 99,01% são subterrâneas e apenas 0,99% são superficiais. (...). A água como recurso, ou seja, aquela que pode ser explorada economicamente é bem mais restrita e representa apenas uma ínfima parte do total de água do planeta: 0.007%. (ANGELLOTI; TIEPOLE, 2012, p. 20).

Conforme Ribeiro:

Com 70% da superfície da Terra coberta por água, imagina-se que ela estaria acessível a todos. Mas, deste total de água da superfície, 97% é formado por águas salgadas e apenas 3% por água doce. Deste volume de água doce, 71% são de difícil extração, pois estão localizadas nas geleiras. Os outros 29% restantes de água potável no mundo estão distribuídos em águas subterrâneas (18%), rios e lagos (7%) e umidade do ar (4%). De toda a água doce acessível, apenas 8% dela é destinada para os domicílios, pois 70% da água consumida no mundo são utilizadas na agricultura e 22% nas indústrias (RIBEIRO, 2008, p.25-29).

Embora haja aparente abundância em toda a superfície terrestre, há escassez de água potável. Como descreve Faria (2013, p. 01), “A água é o constituinte mais característico da terra. Ingrediente essencial da vida, a água é talvez o recurso mais precioso que a terra fornece à humanidade”. Conforme o mesmo autor, “a água potável é um recurso cada vez mais escasso no planeta”. Em 2007, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que cerca de 1,1 bilhão de pessoas em todo o mundo não têm acesso à água potável e estima-se que dois milhões de crianças morrem todos os anos pela falta dela ou de saneamento básico. A grande extensão geográfica do nosso Planeta contribui para a escassez de água potável em determinadas regiões (FARIA, 2013).



Processo metodológico

A primeira etapa das atividades didático-pedagógicas com os estudantes envolveu uma palestra com pedagogo e geografo escolar Alfranio da Rosa, especialista em Educação Ambiental em espaços educadores sustentáveis (ROSA, 2014), abordando temas introdutórios relacionados à temática em forma de rodas de conversas com os alunos dos 5° anos do ensino fundamental I (turma A e B). Os principais tópicos foram: O ensino da Geografia relacionado à Educação Ambiental; A história do desenvolvimento dos seres humanos no Planeta Terra sempre contou com a abundância de águas; A água potável é um recurso cada vez mais escasso no planeta; A guerra pela água; O percurso da água da captação à chegada ao consumidor. Exposição do vídeo Carta da água 2070 extraído do texto publicado na revista "Crónicas de los Tiempos“, de abril de 2002 (CARTA ESCRITA EN EL 2070, 2002). Houve muitas perguntas e questionamentos sobre o impacto da falta de água no planeta e suas consequências à continuação da vida como nós conhecemos hoje. Os alunos contribuíram com alternativas para evitar o desperdício da água em escala doméstica.

A segunda etapa, a aula de campo, teve como público-alvo alunos dos 5° anos do ensino fundamental I (turmas A e B). A aula de campo foi planejada previamente entre a equipe docente e a equipe pedagógica e, antes da saída de campo, houve um planejamento pedagógico do docente de Geografia. Sendo que neste processo de experiência e vivência do aprendizado.

Instiga a aula em campo, antes de tudo, compreender as diferenciações entre as paisagens dos livros didáticos e as paisagens vivenciadas in loco. Estas são movidas e vivificadas pela relação dos alunos com as configurações óticas apreciadas sem recortes. São vistas juntamente com os movimentos das relações sociais, seus diferentes tipos de uso e seu entorno, a combinação de objetos naturais e artificiais um instante da relação sociedade-natureza, ou melhor, das naturezas mais ou menos humanas num verdadeiro conjunto de processos e objetos (OLIVEIRA; ASSIS, 2009)

É de se concordar que:

[...] Além da fuga das paredes escolares (fundamental, sadia e necessária), que já serve como uma motivação para o trabalho e para o surgimento de interesse, o estudo de caso específico tem como retorno imediato a atribuição de significado ao conteúdo que esta sendo estudado (FARINA & GUADAGNIN, 2007, p. 118).

Houve muita interação entre os alunos e a equipe docente desde o trajeto até a chegada no local a mudança de paisagem, ocasionou várias trocas e questionamentos que não estavam inclusos na temática do trabalho de campo, todavia questionamentos sobre moradia, infraestrutura, planejamento urbano e políticas públicas foram questionados e discutidos no transito até a estação de tratamento Estação de Tratamento de Água Miringuava, em São José dos Pinhais(foto 01) “os professores, nas diferentes paradas que previam no percurso, fazem um discurso diante dos estudantes passivos” (LACOSTE, 2006, p. 85).

Conforme Alentejano e Rocha-Leão:

[...] se estas excursões forem previamente preparadas, instigando-se os alunos a problematizar o que vão ver, a preparar o que vão perguntar e refletir acerca do que vão observar, pode representar uma importante contribuição para o processo de formação destes como pesquisadores (ALENTEJANO;ROCHA-LEÃO, 2006, p. 63).

A seguir, relatamos a saída de campo propriamente dita e a análise e discussões sobre o conhecimento adquirido na atividadeAula de campo na Companhia de Saneamento do Paraná”. Os alunos do 5º ano fizeram uma visita guiada à Sanepar – Estação de Tratamento de Água Miringuava, em São José dos Pinhais.

Foto 01- Estação de Tratamento de Água Miringuava

Fonte:https://www.vemprafabrica.com.br/empresa/sanepar-estacao-de-tratamento-de-agua- Miringuava.

Nesta ocasião foi ministrada uma palestra pela equipe técnica do órgão, sobre o processo de captação e tratamento da água e agentes utilizados para melhorar a qualidade da água distribuída à população e uma visita técnica guiada pelas instalações para conferir todo o processo, desde a captação ao tratamento e distribuição da água. Informações referentes a saneamento ambiental, bacias hidrográficas e seus impactos ambientais. Os alunos ficaram interessados por todas as etapas do processo, realizando questionamentos sobre o funcionamento e as fases e o tratamento da água.

A terceira fase, pós-campo, compreendeu a reprodução em sala de aula das observações da aula de campo, por meio de maquetes e projetos. Os alunos captaram a intencionalidade pedagógica da iniciativa realizando atividades ricas em detalhes.

Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED, 2008), a aula de campo como recurso pedagógico:

É um importante encaminhamento metodológico para analisar a área em estudo (urbana ou rural), de modo que o aluno poderá diferenciar, por exemplo, paisagem de espaço geográfico. Parte-se de uma realidade local Geografia bem delimitada para investigar a sua constituição histórica e realizar comparações com os outros lugares, próximos ou distantes. Assim, a aula de campo jamais será apenas um passeio, porque terá importante papel pedagógico no ensino de Geografia (PARANÁ, 2008).

Realizamos uma mostra dos trabalhos como maquete, com sistemas de captação, sistemas de tratamento da água do rio, distribuição da água aos domicílios. E realizamos atividade matemática, calculando o total de metros cúbicos de água e a média mensal do consumo da escola. O término do planejamento contou com teatro, tendo os alunos do 5º ano como atores, representando todas as fases do tratamento de água à distribuição, apresentado a todos os demais anos da unidade de ensino.



Considerações Finais

A Geografia comporta também as ciências naturais, permitindo que seus temas se relacionem com o cotidiano e a vivência do discente, contribuindo para a percepção do educando e seu papel no meio em que vive. Para isso, ela participa da Educação Ambiental com parâmetros de ação docente voltados a uma leitura de mundo, da consciência ecológica e da capacidade do sujeito de intervir em seu espaço. A aula de campo proposta em ambiente não formal permite ao educando visualizar os ensinamentos prévios realizados em sala de aula e o aluno assume também o papel investigativo dentro do processo de ensino-aprendizagem. Ao educador, as aulas práticas oportunizam possibilidades de melhoria nos processos de aprendizado discente “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 22).

O processo de aprender e ensinar torna-se mais dinâmico, cooperativo e interativo, permitindo a troca de conhecimentos. A aula de campo no ensino de Geografia permite que o aluno tenha um novo canal de aprendizagem que não seja o tradicional, pois a ação de ir a campo permite a ele uma nova visão do objeto de estudo e ao docente um dinamismo em sua ação docente. O aluno em campo obtém o conhecimento permitindo que a expressão do aprender fuja ao tradicionalismo ainda vigente nos espaços escolares e crie uma Educação Ambiental e Geográfica mais contemporânea, interativa, critica e reflexiva.



Referências



ALENTEJANO, P. R.; DE ROCHA-LEÃO, O. Trabalho de campo: uma ferramenta essencial para os geógrafos ou um instrumento banalizado? Boletim Paulista de Geografia, n. 84, p. 51-68, 2006.

ANGELOTTI, R.; TIEPOLO, E. V. Curso de especialização em educação ambiental com ênfase em espaços educadores sustentáveis. Curitiba: UFPR, 2012.

CAVALCANTI, L. S. Geografia e práticas de ensino. Goiânia: Alternativa, 2002.

CANDIOTTO, L. Z. P. Interdisciplinaridade em estudos do meio e trabalhos de campo: Uma prática possível. In: Olhares e Trilhas, ano 2, n.2, p.33-46. 2001.

CARTA ESCRITA EN EL 2070. Documento publicado en la revista "Crónica de los Tiempos". Disponível em: http://www.szpilman.com/noticias/carta2070.pdf. Acesso em: 10 out. 2021.

COSTA, A. Atividade de intervenção de educação ambiental: projeto na escola, olhando para dentro de casa. Disponível em: encurtador.com.br/lsJK0. Acesso em: 10 out. 2021.

CORRÊA FILHO, J. J. Aula de Campo: Como Planejar, Conduzir e Avaliar? São Paulo: Vozes Limitada, 2018.

FABER, M. A importância dos rios para as primeiras civilizações. História ilustrada, v. 2, 2011.

FARIA, C. Escassez de Água Potável. Disponível em: http://www.infoescola.com/hidrografia/escassez-de-agua-potavel/. Acesso em: 19 mar. 2015.

FARINA, B.C.; GUADAGNIN, F. Atividades práticas como elementos de motivação para a aprendizagem em geografia ou aprendendo na prática. In: REGO, Nelson; CASTROGIOVANNI, A, C; KAERCHER, N, A. Geografia: práticas pedagógicas para o ensino médio. Porto Alegre: Artmed, 2007.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e terra, 1996. (Coleção Leitura).

LACOSTE, Y. A pesquisa e o trabalho de campo: um problema político para os pesquisadores, estudantes e cidadãos. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, n. 84, p.7-92, jul./2006. Disponível em: http://www.agbsaopaulo.org.br/node/156 Acesso em 21 abril 2010.

LACOSTE, Y. A Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Tradução de Maria Cecília França. Campinas, SP: Papirus, 1989.

LOPES, C. S.; PONTUSCHKA, N. Estudo do meio: teoria e prática. Geografia (Londrina), v. 18, n. 2, p. 173-191, 2009.

MAIA, A. A. Memórias de uma trajetória inesquecível. Revista Crioula, n. 15, 2015.

MARCOS, V. Trabalho de Campo em Geografia: Reflexões sobre uma Experiência de Pesquisa Participante. In: Boletim Paulista de Geografia. São Paulo: AGB, n. 84, p, 105-136, 2006.

MARTINS, M, H. P. Qualidade da água e preservação do manancial córrego Barreirinho no município de Mozarlândia–Goiás. 2014.

RIBEIRO, W. C. Geografia Política da Água. São Paulo: Annablume, 2008.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Geografia. Secretaria do Estado da Educação do Paraná. Curitiba, 2008. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/dce_geo.pdf. Acesso em: 20 maio 2009.

ROSA, A. G. F. D. Projeto de intervenção: educação ambiental apoiado na didática do método de Paulo Freire. Disponível em: https://www.acervodigital.ufpr.br/handle/1884/50116. Acesso em: 20 maio 2009.

OLIVEIRA, C. D. M.; ASSIS, R. J. S. Travessias da aula em campo na geografia escolar: a necessidade convertida para além da fábula. In: Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 35, n.1, p. 195-209, jan, 2009.

SUERTEGARAY, D. M. A. Geografia e trabalho de Campo. In: Geografia Física Geomorfologia: uma (re)leitura. Ijuí: Editora da UNIJUI, 2022.

SUERTEGARAY, D. M. A. Pesquisa de campo em Geografia In: Geografia, ano IV, n.7 jan/jun. 2002. Disponível em: http://www.uff.br/geographia/rev_07qedição7.htm. Acesso em: 20 maio 2009.

TELLES, M. Q. Vivências integradas com o meio ambiente. São Paulo: Sá Editora, 2002.

THOMAS, V. O desafio da água. O Globo, Rio de Janeiro, 24 de março de 2003. Disponível em: http://www.recicloteca.org.br/images/info/24.pdf. Acesso em: 11 set. 2003.

THOMAS, V. Sustentabilidade econômica e ambiental. O Estado de São Paulo, São Paulo, 18 ago. 2004. Disponível em: encurtador.com.br/uBV36. Acesso em: 11 set. 2003.

VEIGA, I. P. A. Repensando a didática. 5 ed. Campinas, SP: Papiros, 1991.

VENTURI, L. A. B. Geografia: práticas de campo, laboratório e sala de aula. São Paulo: Sarandi, 2011.