IMPLANTAÇÃO DE UM ARBORETO EM UMA ESCOLA DO INTERIOR PAULISTA: RECUPERAÇÃO DE ÁREA DEGRADADA E FORMAÇÃO DE ESPAÇO DE SENSIBILIZAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL.

Sônia Aparecida de Souza Evangelista¹, Ernesto Pedro Dickfeldt² Marilda Elisa Vergs³ Giovana Cristiane Prevato⁴

¹Pesquisador Científico – Instituto de Pesquisas Ambientais/Parque Estadual de Porto Ferreira

soniasouzanure@sp.gov.br

²Biólogo – Instituto de Pesquisas Ambientais/Parque Estadual de Porto Ferreira

³Professora de Educação Física – EMEF Professor José Gonso

⁴Professora de Ciências – EMEF Professor José Gonso

RESUMO

Quando desenvolvidos com a participação multidisciplinar, projetos de educação ambiental (EA) podem promover a sensibilização dos alunos para mudanças em relação ao ambiente e contribuir com a adoção de práticas que minimizem impactos ambientais. Assim, em comemoração à Semana do Meio Ambiente de 2016, foi realizado um plantio de espécies vegetais arbóreas na EMEF Prof. José Gonso por meio de um processo participativo e colaborativo entre diferentes atores da sociedade e comunidade escolar. A manutenção e a conservação do plantio favoreceram a recuperação da área degradada da escola e a formação do Arboreto, um laboratório vivo de caráter permanente e espaço de práticas pedagógicas extraclasse para a abordagem de temas ambientais locais; uma área voltada para contemplação, sensibilização e educação ambiental, que também provê serviços ecossistêmicos essenciais à qualidade de vida.

Palavras-chave: Parque Estadual de Porto Ferreira, Biodiversidade, Cerrado e Práticas Pedagógicas.

ABSTRACT

The development with multidisciplinary participation in environmental education (EE) projects can promote students’ sensitization of changes about environment and contribute to the adoption of practices that minimize environmental impacts. Thus, in commemoration of the 2016 Environment Week, tree species was planted at EMEF Prof. José Gonso through a participatory and collaborative process between different actors in society and the school community. The maintenance and conservation of the plantation advantaged the recovery of the degraded in school and the formation of the Arboretum, a permanent living laboratory used for outdoor pedagogical practices and space for the approach of local environmental issues; an area for contemplation, sensitization and environmental education, that also provides essential ecosystem services for quality of life.

Keywords: Porto Ferreira State Park, Biodiversity, Brazilian Savanna and Pedagogical Practices.

INTRODUÇÃO

A educação ambiental (EA) surge no Brasil na década de 80, como um campo de saberes e práticas voltados à conservação da natureza. No entanto, sua consolidação se dá apenas em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida como Rio 92 (OTERO e NEIMAN, 2015), tornando-se política específica em 1999, sob a Lei n° 9.795, que a define como sendo o processo pelo qual, o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente (BRASIL, 1999).

Trata-se de um componente essencial e permanente da educação, necessita estar presente de forma articulada e continuada em todos os níveis e modalidades de ensino formal e não-formal, tal como nos processos de gestão ambiental, devendo ser cidadã, responsável, crítica, participativa, integrativa para a construção de uma cidadania voltada para a sustentabilidade socioambiental (SÃO PAULO, 2007; BRASIL, 2013).

Nesta linha de reflexão, é possível compreender a escola como parte integrante do meio ambiente, responsável por formar cidadãos críticos e conscientes; onde a EA pode sensibilizar o educando de acordo com a sua realidade local, abordar problemas concretos, ter caráter interdisciplinar e propiciar reflexões sobre as ações imediatas e futuras em relação à conservação do meio ambiente (UNESCO, 1997).

No âmbito escolar, diversas são as estratégias utilizadas nos diferentes projetos de EA, como por exemplo as oficinas de reciclagem, hortas (FONSECA et al., 2017), plantios de mudas em datas comemorativas (SILVA et al., 2021), a formação de arboretos (SGAMATE e MORAIS, 2015) e as visitas a museus e parques (SOUZA-EVANGELISTA et al., 2018). Quando desenvolvidos com a participação multidisciplinar, projetos de educação ambiental (EA) podem promover a sensibilização dos alunos para mudanças em relação ao ambiente e contribuir com a adoção de práticas que minimizem impactos ambientais.

No contexto dos Parques, o Parque Estadual de Porto Ferreira (PEPF) é uma unidade de conservação da natureza (UC) gerenciada pela Fundação Florestal que desenvolve ao longo do ano letivo e em datas comemorativas, atividades de EA em sua área de uso público e em unidades escolares do município de Porto Ferreira (SILVA et al., 2021) conforme previsto em seu Plano de Manejo.

Entre os diversos espaços pedagógicos utilizados em projetos de EA, destacam-se também os formados para conservação da natureza, como os arboretos, que são coleções vivas de árvores, arbustos, plantas medicinais, ornamentais e outras, documentadas e identificadas com finalidades diversas, principalmente científica e educativa (BAZARETTI et al., 2011).

SOUZA et al. (2015) verificaram que os arboretos formados com a participação da comunidade favorecem a recuperação de áreas degradadas, o desenvolvimento de processos educativos, a conservação da biodiversidade e a provisão de serviços ecossistêmicos além de serem espaços de vivências e contemplação da natureza.

Nesse sentido, o presente trabalho teve o objetivo de recuperar uma área degradada no interior da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Prof. José Gonso, no município de Porto Ferreira – SP, em comemoração à Semana do Meio Ambiente, sob a perspectiva de promover a sensibilização e a EA de alunos de 6º a 9º ano, apresentar as diferentes fases de implantação e manutenção de um arboreto, bem como compartilhar as práticas pedagógicas desenvolvidas nesse espaço educador.

MATERIAIS E MÉTODOS

O primeiro contato para execução do presente projeto, deu-se por parte da diretoria da EMEF Prof. José Gonso, que convidou o PEPF para realizar atividades em comemoração à Semana do Meio Ambiente, no ano de 2016, entre elas, o plantio de árvores para recuperar uma área livre sem vegetação e sem prédios.

A área da EMEF Prof. José Gonso, localizada no município de Porto Ferreira – SP, já fora ocupada por vegetação de Cerrado e após intensos processos de urbanização, deu lugar a um depósito de resíduos de cerâmica, matéria-prima básica que há décadas movimenta a economia local. No entanto, o município apresentava originalmente áreas não somente de Cerrado, mas também de Floresta Estacional Semidecidual ou Mata Atlântica de Interior e vegetação ciliar (SÃO PAULO, 2003).

Assim, a equipe do PEPF elaborou uma lista com espécies das diferentes formações vegetais do município e outras duas espécies exóticas (Calicarpa e Ipê-de-El-Salvador), cujas mudas foram providenciadas e adquiridas pela empresa BRK Ambiental – Serviços de Água e Esgoto.

A limpeza da área ficou a cargo da Prefeitura Municipal de Porto Ferreira e equipe operacional do PEPF. Em seguida, os técnicos do Parque providenciaram com arranjo espacial amplo, os berços de 30cm x 40cm, aplicaram calcário como corretivo de ph do solo, fertilizaram com NPK (adubo químico) em pequena proporção e com cama de galinha (adubo orgânico) em maior proporção, uma vez que, o terreno encontrava-se bastante impactado e degradado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No dia 06 de junho de 2016, foram plantadas 64 mudas de 21 espécies pertencentes a 11 famílias botânicas na EMEF Prof. José Gonso (Quadro 1) com a participação e colaboração de professores, alunos do 6º ao 9ºano e demais atores da escola em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente. O evento contou com a participação da Diretora do Departamento Municipal de Educação de Porto Ferreira, representantes do PEPF e da BRK Ambiental.

Quadro 1. Lista das espécies escolhidas para compor o Arboreto da EMEF Prof. José Gonso.

*Espécies vegetais não nativas do Brasil.

As espécies Callicarpa reevesii ou calicarpa, e Tabebuia pentaphylla ou Ipê-de-El Salvador, embora não sejam nativas, foram utilizadas no plantio por serem de rápido crescimento e favorecerem o sombreamento da área, além de serem extremamente ornamentais e fornecerem recursos alimentares para a fauna ali presente.

A cooperação entre equipe do PEPF, Escola e Prefeitura resultaram na limpeza e preparo da área, na abertura dos berços, tal como no plantio de mudas realizado pelos estudantes, conforme consta na Figura 1.

Figura 1. De A a F, preparação do solo, berços e plantio de mudas no Arboreto da EMEF Prof. José Gonso, em junho de 2016.

Manutenção do plantio

Durante o período de estiagem nos primeiros anos após o plantio, a irrigação das mudas foi realizada por professores de Ciências e de Educação Física que envolveram os alunos em uma prática pedagógica extraclasse de sensibilização e EA, capaz de promover a aprendizagem ativa, a complementação do currículo escolar, o cuidado para com esse espaço e a formação do Arboreto, conforme ilustra a Figura 2.

Figura 2. A e B.

Nos dois primeiros anos, o cuidado para com o Arboreto também contou com a participação da equipe técnica do PEPF, que visitou a área para avaliação do desenvolvimento das mudas, controle de gramíneas, de formigas com isca granulada e manejo/poda de galhos sempre que necessário, além da substituição de algumas mudas em função do ataque de formigas.

Passados três anos após o plantio, constatou-se a formação do Arboreto da EMEF Prof. José Gonso, um espaço destinado à contemplação, recreação, vivência extraclasse e sensibilização ambiental.

Em anos subsequentes, foram plantadas pela comunidade escolar as espécies frutíferas exóticas Malpighia emarginata (acerola) e Morus nigra (amora), assim como a espécie nativa Eugenia uniflora (pitanga) com a intenção de enriquecer o fornecimento de flores e frutos para a entomofauna e para a avifauna.

O Arboreto como espaço educador na Semana da Árvore 2021

Em 2021, com a fase de estudo híbrido visando a contenção da disseminação da Covid-19 em curso, utilizou-se o Arboreto como espaço de sensibilização e EA durante as comemorações da Semana da Árvore, na segunda etapa do Projeto Conhecendo o Ambiente III, realizada no mês de setembro do mesmo ano, com as seguintes atividades:

Estudo do meio – realizado com aos alunos do 6º ano, com visita à parte externa da escola e ao Arboreto que preencheram um roteiro elaborado pela Profa. de Ciências.

Explanação oral – sobre a família Bignoniaceae – Ipês, visando incentivar o interesse pelas diferentes espécies plantadas no arboreto e em outros espaços da escola.

Identificação das espécies – com o uso de guia ilustrado e fixação de placas com nome popular e científico das espécies (Figura 3).

Produção de GIFs durante as aulas de Arte – com fotos de árvores tiradas na escola, fora e em bancos de dados da internet para

Figura 3. Orientações e atividades realizadas, como a identificação de espécies da vegetação, no arboreto da Escola no ano de 2021.

Sugere-se então, que o Arboreto da EMEF Prof. José Gonso possa ser compreendido como um espaço de sensibilização e EA por abordar a diversidade de espécies vegetais locais, de modo a considerar que a maioria dos livros didáticos exibe imagens de plantas e ecossistemas exóticos (PINHEIRO DA SILVA e CAVASSAM, 2002), não compatíveis com a biodiversidade local.

Configura-se ainda como um espaço pedagógico a ser utilizado por professores de diversas disciplinas, em datas comemorativas ou de acordo com os temas do currículo, uma vez que, as espécies identificadas compõem um material paradidático para práticas relacionadas aos conteúdos biodiversidade, vegetação local, solos, fenologia, interações ecológicas, microclima e restauração ecológica.

No decorrer da Semana da Árvore de 2021, cinco anos após o plantio, a equipe do PEPF, professores e alunos estimaram a altura das árvores do Arboreto, cujos tamanhos variaram entre 2 a 6 metros. E constataram a redução da área degradada, desde a fase do plantio das mudas, ao desenvolvimento e estabelecimento das mesmas (Figura 4).

Figura 4. Vista do plantio de mudas realizado em 06 de junho de 2016 e mesma área com o Arboreto, ao fundo, em 2021.

O Arboreto como espaço educador em 2022

A convite dos Professores de Ciências foram realizadas atividades comemorativas durante a Semana do Meio Ambiente no mês de junho na EMEF Prof. José Gonso e o Arboreto foi utilizado como espaço de integração dos alunos com espécies vegetais representantes dos ambientes naturais do município. Além disso, banners sobre a biodiversidade paulista, frutos e sementes das diferentes formações vegetais locais, práticas de identificação, busca pelas espécies no Arboreto (Figura 5) e o plantio de mudas de Handroanthus chrysotrichus (Ipê-amarelo) e Cariniana legalis (Jequitibá-rosa), complementaram as atividades realizadas.

Figura 5. A e B.

Em setembro de 2022 os alunos visitaram a florada dos Ipês brancos, conforme apresenta a Figura 6.

Figura 6.

Ao longo dos anos, utilizou-se também o Arboreto no desenvolvimento de atividades esportivas e recreativas, durante as aulas de Educação Física; bem como na realização do café literário durante a aula de Língua Portuguesa, corroborando com a proposta transversal e multidisciplinar da EA e desse espaço educador.

Assim, por sua estrutura e configuração, o Arboreto composto atualmente por 58 indivíduos (árvores/arvoretas) permite o desenvolvimento de diferentes práticas pedagógicas em complementação do currículo do 7º ano ao enfatizar a temática “Biomas – impactos e conservação” e ainda para os demais anos do ensino fundamental.

CONSIDERAÇÕES

O trabalho participativo e colaborativo entre escola, PEPF, BRK Ambiental e Prefeitura Municipal favoreceu as comemorações das Semanas do Meio Ambiente e da Árvore, em 2016 e em anos subsequentes.

O cuidado e a manutenção do plantio contribuíram com a recuperação de uma área degradada e com a formação do Arboreto no interior da EMEF Prof. José Gonso.

Desta forma, sugere-se que o arboreto implantado possa ser considerado um recurso pedagógico, por atualmente se configurar como um laboratório vivo de caráter permanente, composto em sua maioria por espécies vegetais nativas de Cerrado, Floresta Estacional Semidecidual ou Mata Atlântica de Interior, e vegetação ciliar.

Além de ser um espaço de (con)vivência, contemplação e sensibilização ambiental, o arboreto pode ser compreendido como material paradidático, capaz de subsidiar práticas pedagógicas interdisciplinares com abordagem contextualizada de temas ambientais locais, conforme apresentado ao longo deste estudo.

Inferimos que a implantação do Arboreto na EMEF Prof. José Gonso é um exercício de solução baseada na natureza, com recuperação de área degradada e provisão de serviços ecossistêmicos.

AGRADECIMENTOS

À EMEF Prof. José Gonso, ao Departamento Municipal de Educação, BRK Ambiental e a todos os servidores do Parque Estadual de Porto Ferreira com destaque ao Sr. Osvaldo Pedro da Silva (in memoriam), pelo fundamental apoio no plantio e manutenção das mudas que formaram o Arboreto.

REFERÊNCIAS

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