PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO LGBTQIAP+ SOBRE A REALIZAÇÃO DOS TESTES RÁPIDOS PARA PREVENÇÃO DE INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSIVEIS (IST)

Stephanie Rodrigues Fernandes1

Andréia Valéria de Souza Miranda2

Magali Maria Tagliari Graf2

RESUMO

Esse estudo tem como tema a percepção da população LGBTQIAP+ sobre a realização dos testes rápidos para a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (IST). O objetivo geral foi compreender a percepção da população LGBTQIAP+ sobre a realização dos testes rápidos para a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (IST). A escolha desse tema se deu pela alta importância desse assunto já que é pouco mencionado e discutido, o tipo de pesquisa é qualitativa onde o método utilizado é a pesquisa de campo tendo como técnica aplicada SnowBall com questionário estruturado, o presente estudo foi aprovado pelo comitê de ética do Centro Universitário Unifacvest. Participaram do estudo o grupo de pessoas do ciclo de convívio da pesquisadora. A população LGBTQIAP+ tornou-se uma população-chave pois apresenta desigualdade quando comparadas a população em geral, ou seja, quanto mais rápido acontecer uma educação continuada sobre assunto, incentivar a busca frequente pelos testes, o uso correto do preservativo, criar estratégias para um ambiente inclusivo e livre de julgamentos, maiores as chances de prevenção, identificação e tratamento das necessidades desse público.

Palavras-chave: Teste rápido. Infecções Sexualmente transmissíveis. LGBTQIAP+. Percepção. Enfermeiro.

ABSTRACT

This study focuses on the perception of the LGBTQIAP+ population regarding rapid tests to prevent sexually transmitted infections (STIs). The general objective was to understand the perception of the LGBTQIAP+ population about carrying out rapid tests to prevent sexually transmitted infections (STIs), and as a specific objective, to identify the possible strengths and weaknesses for the LGBTQIAP+ group in carrying out rapid tests. The choice of this topic is due to the high importance of this subject as it is little mentioned and discussed, the type of research is qualitative where the method used is field research using SnowBall as the applied technique with a structured questionnaire, the present study was approved by the committee of ethics at the Unifacvest University Center. The study was attended by a group of people from the researcher's life cycle. The LGBTQIAP+ population has become a key population as it presents inequality when compared to the general population, that is, the faster continued education on the subject takes place, encourages the frequent search for tests, the correct use of condoms, and creates strategies for a inclusive and judgement-free environment, the greater the chances of preventing, identifying and addressing the needs of this public.

Keywords: Quick test. Sexually transmitted infections. LGBTQIAP+. Perception. Nurse.



INTRODUÇÃO

A vida sexual influência diretamente na saúde, podendo gerar desconforto de ser discutido. A sexualidade é uma dimensão importante e traz liberdade, independência e autonomia.

A diversidade sexual designa formas da sexualidade humana, nesse contexto encontra se a identidade de gênero, maneira de sentir e se apresentar para outras pessoas na condição de homem ou mulher, ou também como uma mescla de ambos e isso não está relacionado com o sexo biológico ou com a genitália da pessoa. Já a identidade sexual é a forma como a pessoa se percebe sexualmente e vive sua sexualidade, seus sentimentos, orientação sexual ou atitudes em relação ao sexo (BRASIL, 2023).

O conceito de orientação sexual e identidade de gênero vem sofrendo mudanças e adequações a atual realidade. A pouco foi designado o termo LGBTQIAP+, que de acordo com o Manual de Comunicação LGBTI+ (2018) cada sigla significa: L- (Lésbicas) orientação sexual e diz respeito a mulheres (cisgênero ou transgênero) que se sentem atraídas afetiva e sexualmente por outras mulheres (também cis ou trans). G- (Gays) orientação sexual e se refere a homens (cisgênero ou transgênero) que se sentem atraídos por outros homens (também cis ou trans). B- (bissexuais) são pessoas que se relacionam afetiva e sexualmente tanto com pessoas do mesmo gênero. Quanto do gênero oposto (sejam essas pessoas cis ou trans). T- (Transexuais, Transgêneros, Travestis). Este é um conceito relacionado à identidade de gênero e não à sexualidade, remetendo à pessoa que possui uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento. As pessoas transgênero podem ser homens ou mulheres, que procuram se adequar à identidade de gênero. As travestis, por sua vez, são mulheres trans que preferem ser chamadas dessa maneira por motivos políticos, de resistência, já que este termo está atrelado à marginalização das mulheres trans, que tinham como única alternativa a prostituição como modo de sobrevivência. Muitas mulheres trans se identificam atualmente como travestis justamente para tirar o estigma da palavra.

Q- (Queer) termo da língua inglesa usado para qualquer pessoa que não se encaixe na heterocisnormatividade, ou seja, que não se identifica com o padrão binário de gênero, tampouco se sente contemplada com outra letra da sigla referente a orientação sexual, pois entendem que estes rótulos podem restringir a amplitude e a vivência da sexualidade. I- (Intersexo) é uma pessoa que nasceu com a genética diferente do XX ou XY e tem a genitália ou sistema reprodutivo fora do sistema binário homem/mulher. A- (Assexual) é um indivíduo que não sente nenhuma atração sexual por qualquer gênero. Isso não significa que não possam ter relacionamentos ou desenvolver sentimentos amorosos e afetivos por outras pessoas. P- (Pansexualidade) orientação sexual em que as pessoas desenvolvem atração física, amor e desejo sexual por outras pessoas independentemente de sua identidade de gênero. + - Demais orientações sexuais e identidades de gênero. O símbolo de soma no final da sigla é para que todos compreendam que a diversidade de gênero e sexualidade é fluida e pode mudar a qualquer momento, retirando o “ponto final” que as siglas anteriores carregavam, mesmo que implicitamente. Os estudos de gênero e sexualidade mudam e vão continuar se modificando e evoluindo, assim como qualquer outro campo das ciências.

Justamente para a vida sexual ativa e com segurança, existem métodos a prevenção de Infecções sexualmente transmissível (IST) a serem utilizados, afim de precaver e não disseminar. O Programa Conjunto das Nações Unidas Sobre IHV/Aids (Unaids) aponta que em 2021, profissionais do sexo, sua clientela, gays, pessoas que usam drogas injetáveis, pessoas trans e suas parcerias sexuais contabilizavam 70% das infecções por HIV mundialmente, sendo: 94% das novas infecções por HIV fora da África Subsaariana estão entre a populações-chave e 51% das novas infecções por HIV na África Subsaariana estão entre a populações-chave. De acordo com a Cartilha De Saúde LGBTI+ no ano de 2018, o Ministério da Saúde notificou 158.051 casos de sífilis adquirida, o que representou um aumento de 28,3% em comparação ao ano anterior (BRASIL, 2020).

A saúde é um direito de todos, mas para esse público existe uma enorme fragilidade em procurar o Sistema Único de saúde (SUS), pelo medo do preconceito, pela forma que poderá ocorrer o atendimento. Esse distanciamento da busca pelos serviços de saúde ocorre mesmo que o Ministério da Saúde (MS) tenha em sua pauta a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), instituída pela Portaria nº 2.836, de 1° de dezembro de 2011, conforme Resolução n° 2 do dia 6 de dezembro de 2011, que orienta o Plano Operativo de Saúde Integral LGBT.

Em 2004, com a participação da sociedade civil, o governo institui o “Brasil sem Homofobia – Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB e de Promoção da Cidadania Homossexual” (BRASIL, 2004). Esse programa constituiu-se de amplas recomendações aos distintos setores do governo, no intuito de assegurar políticas, programas e ações contra a discriminação e que promovam equidade de acesso a ações qualificadas aos serviços públicos. (BRASIL, 2013)

Vale ressaltar que nem todo transgênero é profissional do sexo. A prostituição quando exercida, para as travestis significa não apenas sua sobrevivência financeira, mas também a possibilidade de pertencimento social, que lhes é negado em outros espaços.

Atualmente as orientações sexuais vem ganhando mais visibilidade, temos a possibilidade de um maior acesso as informações referentes ao público LGBTQIAP+, ainda assim é pouco discutido ou mencionado questões relacionadas a sua saúde sexual, principalmente em relação a prevenção e detecção precoce das ISTs.

O interesse pelo tema se deu quando em conversa informal com um grupo de amigos, surge o tema e a importância dos testes rápidos. Algumas pessoas desse grupo comunicaram nunca ter realizado, o que ficou o questionamento sobre o motivo, uma das respostas foi: “por ser lésbica e me relacionar apenas com mulheres, acreditei não precisar fazer os testes”. Essa resposta foi a que mais chamou atenção, assim foi possível detectar a fragilidade nas informações sobre este assunto, evidenciando os problemas que podem acarretar isso pode trazer uma falsa segurança, por deduzirem que a relação sexual desprotegida com pessoas do mesmo sexo não corre risco da contaminação de DSTs, o que pode levar a doenças se transmitirem sem tratamento, deixando uma infecção agravar e trazer complicações.

A cisnormatividade, que diz respeito a uma norma que naturaliza o sexo designado ao nascer como único legítimo (WORTHEN, 2016) também foi percebido. Isto pode impedir e dificultar a luta pelos direitos de igualdade e pode ocasionar que este público não procure os serviços de saúde, mas é algo que não pode ser ignorado já que existe uma alta taxa de contaminação de doenças sexualmente transmissíveis e uma exposição maior do público LGBTQIAP+ ao vírus HIV. Segundo o Ministério da Saúde os homens gays e bissexuais estão inseridos entre os grupos considerados “populações-chave” para o controle da epidemia de HIV/Aids, no Brasil. Eles fazem parte do grupo de homens que fazem sexo com outros homens (HSH), que apresentam taxas de prevalência de HIV/Aids da ordem de 10,5%; este cenário fortalece a importância e relevância do tema (BRASIL, 2016).

Sendo assim, o objetivo geral deste estudo foi compreender a percepção da população LGBTQIAP+ sobre a realização dos testes rápidos para a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (IST), e como objetivo específico, identificar as possíveis potencialidades e fragilidades para o grupo LGBTQIAP+ na realização dos testes rápidos.

METODOLOGIA

Este estudo teve como base a pesquisa qualitativa, onde o método utilizado foi a pesquisa de campo. O estudo foi realizado com pessoas de diferentes regiões, tendo como instrumento um questionário estruturado aplicado utilizando a plataforma Google Forms.

O público foi selecionado de acordo com a sua orientação sexual, identidade de gênero e sexual. O acesso a esse grupo se deu a partir do círculo de convivência das pesquisadoras, os critérios utilizados para a inclusão foi a orientação sexual dos participantes e a exclusão dada pelas pessoas que não atenderam os requisitos necessários ou não responderam ao questionário no tempo estabelecido pela pesquisadora.

Bockorni e Gomes (2021), destacam que a técnica de SnowBall, é útil para pesquisar grupos difíceis de serem estudados ou acessados, ou ainda quando não se conhece o universo da pesquisa. A pesquisa motivou a técnica em SnowBall, pois permite que haja interação dos participantes, além da colaboração por se tratar de um assunto do seu cotidiano.

Para a pesquisa ter sido realizada tornou-se necessário respeitar os limites do público alvo, suas orientações e crenças, o cuidado foi redobrado para que não tivesse algo que pudesse ferir suas escolhas, o foco desse estudo foi justamente inclui-los, fazer com que se sintam ouvidos, mostrar que a saúde tem o dever de acolhe-los. Os que aceitaram, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) sendo garantido o total sigilo e anonimato, bem como a desistência de sua participação, a qualquer momento e sem prejuízo. Considerando que a ética em pesquisa implica o respeito pela dignidade humana e a proteção devida aos participantes das pesquisas científicas envolvendo seres humanos; como mostra a resolução 510/2016 do Concelho Nacional de Saúde. O estudo foi apresentado e aprovado pelo Comitê de ética do Centro Universitário Unifacvest sob o parecer número 71106323.7.0000.5616.

Os riscos dessa pesquisa foram considerados mínimos, já que se tratou de relatos e percepções do próprio participante, porem pode ocasionar um desconforto psicológico, invasão de privacidade por responder a questões sensíveis, tais como sexualidade. Pode ocorrer também medo de discriminação e estigmatização de acordo com a tabela de riscos. Nas situações que indicassem constrangimento dos participantes, seriam encaminhados a Unifacvest Cidadania para acompanhamento psicológico.

Os benefícios envolveram conscientização, inclusão, conhecimento e vantagens para os participantes e para o sistema de saúde, já que aborda um assunto de extrema importância e pouco discutido. Foi algo pensado a longo prazo, doenças sexualmente transmissíveis se tratadas inicialmente tem grandes chances de melhora, como existe uma exposição maior desse grupo, tratar e controlar seria algo benéfico para todos.

Analise de dados foi feita por categorização segundo Bardin, sendo neste trabalho:

Percepção da população LGBTQIAP+ sobre a realização os testes rápidos para a prevenção de IST, fragilidades e potencialidades para o grupo LGBTQIAP+ sobre a realização dos testes rápidos para prevenção de IST.

ANÁLISE E DISCUSSÃO

De acordo com o que foi planejado na metodologia, os questionários online foram enviados para vinte pessoas, na data vinte e dois de agosto de dois mil e vinte e três até o dia vinte e cinco. Ficando aberta para recebimento das respostas até o dia trinta de agosto, foram inclusos os questionários em que os participantes aceitaram participar da pesquisa com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido devidamente assinado digitalmente, bem como os questionários enviados até o dia do encerramento do prazo previamente determinado. Foram aceitos e validados onze dos questionários respondidos. A seguir as respostas serão apresentadas e analisadas de acordo com os dados discutidos com as categorias previamente elencadas.

PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO LGBTQIAP+ SOBRE A REALIZAÇÃO DOS TESTES RÁPIDOS PARA PREVENÇÃO DE IST

A ampliação do acesso ao diagnóstico de doenças infectocontagiosas é um desafio aos programas de saúde pública. Os testes laboratoriais convencionais são operacionalmente mais complexos, requerem profissionais especializados em laboratório e infraestrutura física e de máquinas apropriadas, sendo que o prazo para entrega dos resultados desses testes pode ser longo, levando o indivíduo a se desinteressar pelo resultado do teste e à consequente perda deste pelo sistema de saúde.

Os testes rápidos podem ser realizados no consultório médico, unidades de pronto atendimento, farmácias, locações temporárias ambulantes como tendas de saúde, entre outros. São os exames cuja execução, leitura e interpretação dos resultados são feitas em no máximo 30 minutos, sendo de fácil execução e não necessitam de estrutura laboratorial. Está agilidade na resposta aos indivíduos é uma importante ferramenta de diagnóstico da infecção pelo HIV, sífilis e Hepatites Virais, proporcionando um rápido encaminhamento para assistência médica, consequentemente um tratamento precoce de doenças. É importante que a população esteja ciente dos benefícios do teste rápido, efetivando assim uma busca mais significativa.

Dentre os participantes com idades de 22 a 31 anos em relação a questão sobre qual sua orientação sexual/ identidade sexual/ identidade de gênero? Onde predominou 45,5% bissexual; 27,3% gay; 18,2% lésbica e 9,1% transgênero. Em relação ao questionamento sobre você sabe o que é teste rápido? 90,9% afirmam saber o que são testes rápidos ficando apenas 9,1% sem saber do que se trata, quando questionados se já realizou teste rápido 72,7% declaram já ter realizado e somente 27,3% nunca realizaram. Como resposta a esse cenário o Ministério da Saúde e várias organizações e setores governamentais responsáveis pela temática de HIV/AIDS, ISTs e hepatites virais passaram a adotar o termo de prevenção combinada para se referir à estratégia adotada por uma pessoa “para se prevenir do HIV, associando diferentes ferramentas ou métodos (ao mesmo tempo ou em sequência), conforme situação, risco e escolhas” (UNAIDS, 2018, p. 2)

A resposta sobre essa questão mostra uma certa familiaridade dos participantes sobre os testes, já que a maioria afirma saber do que se trata o que sugere uma conscientização relevante sobre o tema, o fato de 72,7% dos participantes declararem já ter realizado os testes também fortalece essa perspectiva. Os 27,3% que nunca realizaram, pode indicar falta de acesso a informação correta, desconfiança e medo do preconceito por procurar, local de acesso para realização dos testes, entre outros.

Quando questionados sobre o motivo que levou a fazer os testes rápidos? Destaca-se as respostas onde P1, P2 e P3 afirmam ter realizado por precaução/rotina e P4; P5 sexo sem proteção, P6 realizou pelo fato da transição. De acordo com SOUZA, et al 2019 no Brasil, houve mais de 1 bilhão e meio de casos diagnosticados de sífilis adquirida, hepatites virais e síndrome da imunodeficiência adquirida (aids) desde 2010, e a atividade sexual desprotegida na última relação tem se mostrado positivamente associada à prevalência desses desfechos. SOUZA, et al 2019 diz que em 2020, a gestão pública brasileira gastou quase R$ 2 bilhões com medicamentos para tratamento das ISTs,o que representa um aumento de 16% em relação aos custos registrados no ano anterior. O uso do preservativo é o principal meio, e, também, o mais eficaz na prevenção das ISTs.

O sexo desprotegido é o maior indicativo para contaminações das doenças sexualmente transmissíveis, um sério problema global de saúde pública e o que mais chama atenção ao analisar as respostas, onde mostra também motivações variadas ao dizer o que levou a realizar os testes. Isso identifica necessidades e preocupações individuais em relação a saúde, P1, P2 e P3 parecem adotar uma medida de precaução ao procurar por rotina e prevenção, sugerindo um autocuidado, P4 e P5 demonstram uma certa desmotivação ao não se proteger contra ISTs, deixando um descuido impactar diretamente na sua saúde. Já o P6 envolve um contexto de acompanhamento, já que os testes rápidos são necessários durante esse processo.

Quando questionados sobre quais são as doenças identificadas nos testes? A maioria dos participantes souberam responder, ficando apenas P1; P2; P3 informando que desconhecem essa informação ou responderam que nenhuma, P4 e P5 informaram apenas doenças sexualmente transmissíveis, não respondendo com objetividade. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza testes rápidos imunocromatográficos para a detecção de infecções como HIV, sífilis, hepatites B e C. Esses testes são, primariamente, recomendados para testagens presenciais. A maioria responde estar ciente das doenças identificadas nos testes, mas percebese uma fragilidade quando P1; P2 e P3 falam que desconhecem ou respondem que nenhuma o que indica uma lacuna de conhecimento, pois essa informação o SUS mesmo fornece, como também traz recomendações das testagens presenciais, isso ressalta a necessidade de educação e conscientização sobre o tema.

FRAGILIDADES E POTENCIALIDADES PARA O GRUPO LGBTQIAP+ SOBRE A REALIZAÇÃO DOS TESTES RÁPIDOS PARA PREVENÇÃO DE IST

Destacamos como fragilidades, um dos pontos que foi questionado sobre como é o acesso aos testes rápidos em suas cidades? P1 afirma não fazer a mínima ideia de onde os mesmos estão disponíveis, P2 coloca como acessíveis em postinho 24 horas, P6 não sabe, P8 não tem essa informação, bem como não tem conhecimento sobre os testes. A testagem regular para o HIV, pode ser feita de forma gratuita nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) ou em unidades da rede pública de saúde; a utilização de preservativos internos e externos, bem como de gel lubrificante; a prevenção da transmissão vertical; o tratamento de ISTs e das hepatites virais; a imunização para as hepatites A e B; a adoção de programas de redução de danos para usuários de álcool e outras substâncias; o uso da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP)22 e da Profilaxia Pós-Exposição (PEP)23; e o tratamento de pessoas que já vivem com HIV (BRASIL, n.d.; UNAIDS, 2018).

Alguns dos participantes destacam como fragilidade o acesso aos testes rápidos na sua cidade, afirmam não fazerem a menor ideia de onde estão disponíveis, não sabem sobre essa informação ou quando sabem, responderam de forma rasa. Isso deixa implícito a falta de divulgação e informações sobre os locais de testagem, não adianta publicar as informações se não possuir estratégias para que chegue até o público em questão.

Ainda nas fragilidades, as questões que mais se apresentaram foram a falta de divulgação sobre o tema, destacando como principais as seguintes: P3 Sendo um profissional da saúde, os testes rápidos deveriam ser mais divulgados para que mais pessoas tenham acesso, algo tão simples e poucos sabem P4 Falta incentivo nas UBS. P7 A assertividade P8 Não sabe. P10 Constrangimento. P11 Possibilidade de falso positivo ou negativo.

A Portaria nº 34, de 28 de julho de 2005 regulamenta os testes rápidos para HIV, sífilis e hepatites virais. Foram traçadas estratégias para a qualificação e ampliação do acesso da população brasileira ao diagnóstico precoce do HIV e detecção da sífilis, através da implantação dos testes rápidos. (BRASIL, 2005)

A criação da Portaria, foi um passo importante para regulamentação do acesso aos testes rápidos, a preocupação que os participantes trazem é que mesmo com a implementação de programas, leis e estratégias do governo ainda existe uma fragilidade na divulgação eficaz, incentivos nos serviços de saúde, precisão na realização dos testes e preocupações com questões emocionais, além de educação contínua por parte dos profissionais.

Na questão se já sofreu algum tipo de preconceito por profissionais de saúde, ao realizar os testes rápidos? É preciso destacar duas respostas P3 diz não ter sofrido diretamente, mas como trabalha em um ambiente de urgência e emergência, viu diversos profissionais subjugando e P6 aponta que sim.

Um estudo realizado pela UNAIDS em 2019 aponta que 15,3% das pessoas entrevistadas afirmaram ter sofrido algum tipo de discriminação por parte de profissionais da saúde pelo fato de viverem com HIV ou com AIDS, incluindo atitudes como o esquivamento do contato físico (6,8%) e a quebra de sigilo sem consentimento (5,8%). Estes dados contrastam com qualquer diretiva de atendimento humanizado preconizada no Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar de os relatos terem vindo de uma minoria participante do estudo, é importante ressaltar que os protocolos e as leis garantem que ninguém deveria passar por este tipo de constrangimento ou agressão.

As respostas dos participantes no estudo trazem perspectivas diferentes, uma presenciou colegas de trabalho enquanto outro sofreu diretamente, ambas trazem preocupações pois ferem diretamente os princípios do SUS, as leis e protocolos existem justamente para garantir um atendimento digno e livre de preconceito. Os dados apontados pela UNAIDS confirmam as experiências ao relatar que uma quantia significativa de pessoas afirma ter sofrido discriminação por parte dos profissionais de saúde.

As potencialidades encontradas pelos participantes nesse estudo foram o fácil acesso, testes sem complicações para realiza-los e que são úteis e precisos. P1 responde acreditar nos testes rápidos, pensa que são excelentes instrumentos para o auxílio no tratamento e até mesmo prevenções de doenças, P2 diz ser muito necessário realizar de três em três meses.

O Ministério da Saúde informa que os testes rápidos são aqueles cuja execução, leitura e interpretação dos resultados são feitas em no máximo 30 minutos. Eles são de fácil realização e não necessitam de estrutura laboratorial. Essa opção de testagem permite aumentar a agilidade de resposta aos usuários, encaminhar com brevidade para assistência médica e início de tratamento, além de ampliar o acesso ao diagnóstico para pessoas que vivem em locais remotos (BRASIL, 2022).

As potencialidades encontradas pelos participantes alinham-se com as informações do Ministério da Saúde, destaca a agilidade e interpretação rápida dos testes, essa praticidade facilita diagnóstico e tratamento das doenças, o fácil acesso é uma vantagem garantindo uma acessibilidade maior pela população.

No questionamento sobre como gostaria do acesso na realização dos testes rápidos e o que gostariam de acrescentar? P4 justifica que gostaria de propagandas e cartazes para testes rápidos para este público, P5 O acesso aos testes nas minhas experiências foram ótimas, consegui fazer em posto de saúde do meu bairro. Gostaria de acrescentar que fosse mais sigiloso, eu sei que é super sigiloso, mas tem lugares que não passam essa segurança pra gente, por isso muitas pessoas ficam com medo de ir procurar fazer o teste rápido. P7 gostaria que fosse possível liberação de testes mais eficiente (como o da Covid que vendem em farmácias) onde o paciente pode levar para casa e realizar, de forma que possa procurar ajuda ao identificar alguma doença. Observando que independente de ele estar ou não na unidade de saúde ele pode negar o atendimento após o teste também, então isso facilitaria as pessoas irem atrás sem receios ou vergonha do resultado, P11mais empatia ou respeito dos profissionais que realizam tais serviços.

Tendo em vista a parte sobre o sigilo dos profissionais de enfermagem e mais empatia, o próprio manual de capacitação para profissionais de saúde para a realização dos testes rápidos traz como obrigatoriedade manter sua ética enquanto profissionais. Como mostra o parecer normativo COFEN n° 001/2013 trata do acolhimento como estabelecimento de vínculo, mapeamento de situações de vulnerabilidade e orientação sobre o tema. Ainda que é responsabilidade dos serviços de saúde realizar o aconselhamento, informar sobre os procedimentos a serem realizados e os possíveis resultados e garantir o sigilo e a confidencialidade (BRASIL, 2013).

As sugestões dos participantes estão alinhadas com as diretrizes e regulamentações, a necessidade da privacidade, sigilo e um ambiente acolhedor são cruciais para a saúde pública, as respostas sugerem campanhas e informações mais amplas e assertivas quando se trata de teste rápido, a ética profissional é um dos principais pilares para passar confiança, uma orientação e acolhimento fortalece o vínculo do profissional com o paciente.

CONSIDERAÇÕES

A partir da percepção deste público sobre os testes rápidos para a prevenção de IST, podemos identificar questões como a acessibilidade aos testes, a qualidade e eficiência dos profissionais de saúde ao atendimento, a educação e políticas governamentais sobre a saúde sexual da população LGBTQIAP+.

Ao decorrer do desenvolvimento da pesquisa e concluindo os seus objetivos, foi possível identificar e destacar como percepção o sexo desprotegido, a falta de informação sobre a funcionalidade e importância dos testes bem como o local de acesso onde estão disponíveis. Seguindo os objetivos, a maior fragilidade continua sendo a falta de informação, campanhas e estudos atualizados sobre o tema, foi citado por participantes em suas respostas a falta do sigilo por profissionais de saúde assim como constrangimento e incentivos. É notório que não se tem assertividade ao se direcionar a essa população, além disso o profissional ainda utiliza da discriminação e estigma o que acaba inibindo a busca das pessoas LGBTQIAP+ a procurar pelos testes.

Nos resultados obtidos ainda podemos destacar a visão dos participantes sobre como gostariam do acesso e o que acrescentariam, ou seja, cartazes e propagandas direcionadas a esse público, segurança por parte dos profissionais, liberação de testes mais eficiente, empatia e respeito de quem realiza esses serviços.

A educação continuada para os profissionais acertaria na atualização dos dados e como prestar um bom atendimento a esse público, traria mais para perto pessoas que são como todas as outras e merecem ter respeito e cuidado ao lidar com sua identidade sexual. Produzir um plano para garantir cuidados psicológicos focados a receber diagnósticos positivos para uma IST pois como mostrado ao decorrer desse trabalho esse público é a maioria quando se trata de doenças sexualmente transmissíveis.

Garantir autonomia e segurança quando procurarem o sistema de saúde, ir para meios de comunicações utilizados por esse público, tendo certeza que a informação chegaria até eles, montar ações resolutivas, ir para as ruas mostrar que eles e a saúde sexual deles importam, procurar a mídia em busca de alcançar um público maior. A comunidade vive em constante evolução e mudança e se não partir de nós que lutamos para garantir o direito a saúde, então não vamos conseguir encontrar soluções para qualquer que seja o problema.

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1 Bacharel em Enfermagem Unifacvest. E-mail stephane.srf@hotmail.com

2 Doutora em Educação. Enfermeira, docente coordenadora do curso de Enfermagem do Centro Universitário Unifacvest, e orientadora deste artigo. E-mail:prof.andreia.miranda@unifacvest.edu.br

2 Mestre em educação. Enfermeira, docente do Centro Universitário Unifacvest. Coorientadora deste artigo. Email:prof.magali.graf@unifacvest.edu.br