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       Divulgado
      no grupo Democracia Verde em 28 de maio de 2007 | Carta à Sociedade
      Brasileira | A história nos revela, de maneira inequívoca, o imenso
      desperdício econômico, bem como suas graves conseqüências sociais e
      ambientais, que devem ser computados entre os passivos dos processos de
      redução das florestas brasileiras em índices superiores à 90% na Mata
      Atlântica, 50% no Cerrado e 20% na Amazônia. 
       
      Dois terços de toda madeira consumida no Brasil ainda são provenientes
      de florestas nativas. Em princípio, todos estão muito preocupados com a
      exploração ilegal de madeira. Ironicamente, tal preocupação, por mais
      sincera e legítima que seja, ainda não foi capaz de alterar, em larga
      escala, determinados padrões de consumo. 
       
      Ao comprar um apartamento em construção, quem verifica a origem da
      madeira que serviu para escorar e enformar as lajes, vigas e pilastras do
      prédio? Ao comprar um móvel de madeira maciça, quem identifica na mobília
      aquela árvore que viu sendo derrubada pela televisão? Ao construir uma
      casa, um telhado bem forte e resistente é utilizado
      "madeira-de-lei", quem verifica se a madeireira do bairro
      apresenta certificado de origem dos seus produtos? Quem verifica a origem
      da lenha utilizada nos fornos da padaria? Na pizzaria? Ou no carvão do
      churrasco? 
       
      É esta incoerência cidadã, que reforça, financia e retro-alimenta a
      exploração insustentável de nossas florestas nativas, e neutraliza a
      indignação contra os desmatamentos diante do primeiro hábito de
      consumo. Mais incoerente porém, é a campanha que tem sido levada a cabo
      contra o único setor produtivo que planta 100% das árvores que utiliza. 
       
      Afinal, de onde vem o papel que tem sido utilizado para imprimir os muitos
      manifestos, panfletos, cartazes e até mesmo livros, usados para difamar e
      questionar a atividade florestal no Brasil? De onde são extraídas as
      fibras naturais utilizadas na fabricação de toda a gama de papéis
      utilizados diariamente pelos cidadãos brasileiros, incluindo entre estes
      os críticos dos plantios florestais? Dos livros e jornais aos sanitários
      e embalagens, quem pode dizer que não os usa? 
       
      A silvicultura brasileira tem se desenvolvido de tal maneira que já é
      possível encontrar no mercado madeiras de excelente qualidade
      provenientes de plantios florestais. Estes produtos, resultados do avanço
      tecnológico da indústria florestal brasileira, apresentam-se como
      alternativas viáveis e competitivas às madeiras extraídas das florestas
      nativas do nosso país, contribuindo de maneira significativa para reduzir
      a pressão sobre as mesmas. 
       
      Nenhum outro setor industrial ou agrícola brasileiro tem cumprido tão
      rigorosamente normas e leis ambientais, especialmente o Código Florestal.
      Afinal, que outra atividade rural de larga escala tem averbado
      praticamente 100% das suas Reservas Legais e têm respeitadas as Áreas de
      Preservação Permanente, especialmente as margens dos rios e lagos? 
       
      Segundo dados do Programa Nacional de Florestas, a área total plantada
      com espécies de Eucalyptus e Pinus no Brasil é de 55 mil km2, ou cerca
      de 0,7% do território nacional, distribuídos pelos segmentos produtivos
      de celulose e papel, da siderurgia, moveleiro, energia, construção
      civil, resina, painéis estruturados e uma gama de outros produtos
      oriundos das florestas plantadas. 
       
      Além da área destinada à produção florestal, as empresas do setor têm
      sob seu controle e proteção mais 16 mil km2 destinados à proteção
      ambiental. Isso significa que para cada dez hectares de plantios
      comerciais o setor protege outros 5 hectares de nativas, os quais vêm
      sendo restaurados e protegidos adequadamente, exercendo funções ecológicas
      importantes como a de repositórios de biodiversidade e corredores ecológicos. 
       
      Segundo estudo recente realizado para o Ministério de Ciência e
      Tecnologia, o setor florestal brasileiro compreende cerca de 60 mil
      empresas, com um faturamento total estimado em US$ 21 bilhões,
      correspondendo a 5% do PIB nacional. O setor responde ainda por 14% do
      total arrecadado em divisas com as exportações brasileiras, sendo
      responsável pela geração de 2,5 milhões de empregos diretos e
      indiretos, equivalente a quase 11% da população economicamente ativa do
      país. Contribuiu ainda com US$ 3,8 bilhões anuais na arrecadação de
      impostos. 
       
      Por estar vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, o setor florestal se
      desenvolve sob regras e restrições que na prática não têm sido
      cobradas de outros setores rurais. Ao contrário de ser um problema, esta
      vinculação representa uma vantagem competitiva. Exemplo disso são as
      afirmações da ministra Marina Silva, referência internacional do
      movimento ambientalista, que classificou as florestas plantadas como
      "o plantio de árvores, acrescido de valores ambientais, sociais,
      culturais, tecnológicos e econômicos. É a aplicação da soma de
      conhecimentos gerados pelas universidades, instituições de pesquisas,
      empresas, com investimentos de mais de 500 milhões de dólares, ao longo
      dos últimos 35 anos e que contou com a ativa participação de centenas
      de pesquisadores especializados e milhares de produtores
      determinados". Ainda, segundo a ministra, "plantios de árvore,
      de soja, de milho, de arroz, de feijão e outros são realmente muito
      semelhantes, mas as florestas plantadas se diferenciam pela menor
      intensidade no uso do solo e no uso de defensivos, pelos ciclos mais
      longos, a manutenção de Áreas de Preservação Permanente, a integração
      com as áreas de Reserva Legal, a manutenção as áreas protegidas na
      constituição de corredores ecológicos, a implantação de procedimentos
      de colheita de baixo impacto, a promoção do uso múltiplo dos produtos e
      serviços, o forte investimento na qualificação, segurança e saúde dos
      trabalhadores e a ação integrada e construtiva junto à comunidade do
      entorno através de programas educacionais e de fomento." 
       
      Todavia, o que temos visto no caso da campanha contra as florestas
      plantadas no Brasil é uma crítica ferrenha, mas quase sempre carente de
      um mínimo de embasamento técnico-científico, numa atitude que tenta
      demonizar, para a opinião pública, todo um gênero botânico com mais de
      2.000 espécies, e de características distintas entre si. 
       
      Discursos e textos apontam as florestas plantadas como as principais ou,
      em alguns casos, as únicas responsáveis por toda uma gama de problemas sócio-ambientais
      que o país enfrenta, incluindo a falta de uma reforma agrária efetiva e
      eficiente, a política de juros, o modelo de desenvolvimento em curso no
      país e no mundo, a falta de trabalho e o desmatamento das florestas
      tropicais do país. 
       
      Esta campanha, levada por algumas organizações com o apoio de movimentos
      sociais de luta pela terra, e principalmente de entidades internacionais,
      tem apresentado à sociedade termos e expressões que carecem de um mínimo
      de conhecimento científico, de respeito à verdade e à dinâmica dos
      recursos naturais. É evidente que as plantações florestais não se
      comparam, em termos de biodiversidade, em paisagem e em serviços
      ambientais, às florestas tropicais nativas de nosso país. Entretanto, ao
      serem taxadas de "desertos verdes", seus detratores inflamados
      demonstram um enorme abismo de conhecimento, informação e bom senso. Em
      contraponto, os resultados obtidos por uma recente pesquisa feita pelo
      IMAZON, uma das organizações ambientalistas mais respeitadas do país,
      demonstraram que os assentamentos de reforma agrária têm sido responsáveis
      por parcela significativa dos novos desmatamentos na Amazônia. 
       
      As vantagens comparativas e competitivas da atividade florestal brasileira
      são reconhecidas mundialmente e têm sido motivo de grandes preocupações
      entre nossos competidores diretos. O Brasil consolida-se a cada dia como líder
      mundial na produção florestal, agraciado pelas dimensões territoriais e
      condições de solo, luz e água, associados ao conhecimento científico
      gerado pelas universidades, centros de pesquisas e pelos pesquisadores que
      integram o corpo técnico das próprias empresas. 
       
      A exploração de nossas florestas teve início com o descobrimento, e um
      dos recursos mais explorados deu origem ao nome de nosso país: Brasil.
      Hoje, com a soberania da nação e o desenvolvimento tecnológico
      proporcionado pela Ciência Florestal, o Brasil gera empregos e divisas
      através do mercado internacional de produtos de origem florestal,
      passando de detentor de uma fatia de 1% em 1990, para aproximadamente 5%
      em 2005, ao exportar US$ 7,5 bilhões num comércio global que movimentou
      US$ 160 bilhões no ano. Os produtos oriundos das florestas plantadas no
      Brasil contribuíram com mais de 75% dessas exportações. 
       
      Tudo isso, somado a uma vertiginosa capacidade produtiva, a maior segurança
      para os pequenos e médios produtores, e a possibilidade de agregar outros
      valores através de consórcios de culturas, seqüestro de carbono, entre
      outras, de certo a atividade florestal será um dos fatores de
      desenvolvimento sustentável de nosso país, à ser consolidado nas próximas
      décadas. 
       
      Não se pode pôr em risco todo este potencial por não conseguirmos,
      enquanto sociedade democrática, encontrar o caminho do diálogo, do
      entendimento e da responsabilidade social, econômica e ambiental. É
      fundamental a criação de espaços qualificados de diálogo entre os
      diversos setores da sociedade – empresas, governos, ambientalistas e
      movimentos sociais – nos quais os conflitos de interesse, que são
      naturais, possam ser debatidos e mediados de maneira transparente, legítima
      e pró-ativa. É inadmissível e profundamente lamentável que este debate
      seja conduzido de forma atabalhoada, imprecisa e com base em ideologias
      políticas ou em concepções equivocadas. 
       
      Os Engenheiros Florestais têm a convicção que tanto as florestas quanto
      a atividade florestal estarão sempre presentes no cotidiano dos
      brasileiros, no usufruto direto dos bens, produtos e serviços ambientais
      oferecidos pelos plantios homogêneos e pelas florestas naturais manejadas
      de forma sustentável. 
       
      Temos o nome de árvore, e o completo domínio tecnológico no setor
      florestal. Falta-nos, no entanto, construirmos juntos uma nação que se
      orgulhe de sua vocação florestal. 
       
      A Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais - SBEF, congrega
      profissionais com ampla atuação nas mais diversas áreas da Ciência
      Florestal, e que em comum têm a dedicação de anos de suas vidas ao
      estudo, pesquisa e desenvolvimento tecnológico na preservação de nossas
      florestas. Profissionais éticos, isentos, e realmente gabaritados para a
      análise técnica e científica dos plantios de árvores, suas características
      ambientais, econômicas e sociais. Como entidade máxima de representação
      destes profissionais, composta por 31 Associações Regionais de
      Engenheiros Florestais, a SBEF vem publicamente fazer este apelo ao bom
      senso, em prol do meio ambiente, do desenvolvimento e do bem estar social
      da nação. 
       
       
      Eng.º Florestal Glauber Pinheiro 
      Presidente da SBEF 
      Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais 
      www.sbef.org.br 
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