ESCREVO PARA LEMBRAR
Cláudio Loes
De tempos em tempos, gosto de retomar algumas ideias e pensar sobre as consequências que havia imaginado em caso de concretização ou não. Uma delas relacionada com a educação de crianças.
Em primeiro lugar, existe uma irresponsabilidade generalizada de delegar tudo para o Estado. Precisamos de mais creches, precisamos de mais escolas para educar nossas crianças, isto é, muitas atividades para manter o dia todo a criança ocupada.
No tempo em que tivemos nosso filho, não existia internet com material tão farto e procuramos livros para saber sobre o desenvolvimento da criança. Entender quais são as fases e ter uma noção de como educa-lo para um bom desenvolvimento. Isso incluía ficar atento para não trazer coisas de adulto para ele, e estar com ele sem nos tornarmos crianças. Afinal, os pais são pais e os filhos são filhos! Esse limite sempre foi claro e pelos resultados alcançados penso que educamos bem o nosso filho.
Em segundo lugar, apontaria que a falta de responsabilidade dos pais sobre ter ou não filhos é um outro agravante, porque, se é exigida a responsabilidade do Estado para cuidar de tudo, a irresponsabilidade dos progenitores só aumenta. Aqui, existe um enorme problema que eu observo, e conversando não tinha como mostrar o problema e o que deveria ser diferente.
A criança pequena, numa família que tem condições financeiras, tem uma babá. As famílias que conheci não se importavam com a formação da babá, e sim só com o custo; se ficaria mais em conta com essa ou aquela.
Lembro-me de algumas críticas, porque o nosso filho foi cedo para a creche. O nosso raciocínio era o seguinte: se ele ficar com uma babá, ele terá somente uma referência; se ele ficar numa creche, no mínimo, as chances de diversidade de pessoas serão maiores. E foi o que aconteceu.
Na creche, tínhamos assinalado que não queríamos a alfabetização dele antes da idade escolar. A ideia era viver bem como criança, na sua idade. Isso não foi difícil, porque a parte pedagógica também seguia essa linha. Todas as crianças tinham as rotinas em comum, os tempos livres e tantos outros momentos, como seria numa grande família.
E sempre há algum fato marcante. Um dia, lendo em casa... fico agora na dúvida se o jornal impresso ou a revista semanal... descobrimos que o filho sabia ler uma palavra inteira.
No retorno para a creche, descobrimos que, ao meio-dia, ele não tinha o hábito de dormir e ficava com uma das funcionárias, Lourdes, uma senhora negra que era apaixonada por ele e que lia o jornal impresso. Ele ficava perto dela observando. Claro que deve ter saído alguma pergunta e ela respondeu. Pronto! Ele associou as letras com o som e a palavra.
E assim, de tempos em tempos, vou revendo minhas memórias, traduzindo em palavras, frases e sentidos para, de maneira bem discreta, apontar algum outro caminho, nesses tempos quando quase todos esquecemos o que aconteceu ontem.
Escrevo para lembrar, e sugiro essa prática para todos, porque, se esquecermos, temos a grande chance de repetir erros e, se lembramos do que acertamos, podemos fazer melhor ainda na próxima vez.