Uso
de revistas como material didático alternativo para a Educação Ambiental
AUTOR:
José C. L. Sariego
ADAPTADO POR : Fabiano Villatore Ferreira
1.
INTRODUÇÃO
Com enorme freqüência, quando se fala em pesquisas bibliográficas, a
grande maioria dos docentes pensa nos livros, sobretudo nos livros didáticos.
Isso pode ser explicado como resultado de hábitos adquiridos durante a sua
formação universitária, onde esse vindouro professor baseia seu aprendizado
na leitura de livros e esporadicamente em artigos de periódicos. Porém, os
livros didáticos não são a única, e nem a melhor fonte de informações
sobre questões relacionadas ao meio ambiente, sobretudo as questões
relacionadas a gestão de resíduos urbanos.
PRETTO (1987) diz que o livro didático induz à
memorização dos conceitos, é vazio de informações e apresenta todo o
conhecimento de forma compartimentalizada, estilo conflitante com o caráter
interdisciplinar que distingue a Educação Ambiental. Também FRACALANZA (1992)
e KEIM (1984) destacam, como aspecto negativo dos livros didáticos o fato dos
mesmos desvincularem a natureza da ação humana. KRASILCHIK (1987) também
enfatiza que os livros didáticos servem mais aos interesses comerciais do que
aos objetivos didático-pedagógicos e que estes são “veículos explícitos
ou implícitos de ideologias incoerentes com as propostas de mudanças”.
Em resumo, os livros didáticos reproduzem uma prática
autoritária, descrevem o ambiente de forma abstrata, mascarando os calamitosos
problemas ambientais, tanto por apresentar os seus conhecimentos de forma
compartimentalizada como pela falta de uma proposta unificadora quanto à Educação
Ambiental.
Não são poucos os docentes do Ensino Fundamental
e do Ensino Médio que anseiam submeter aos seus educandos à experiência da
pesquisa bibliográfica com a finalidade de aprofundarem em temas relacionados
ao meio ambiente e, assim, tomarem posse de informações que lhe permitam
refletir. Porém, quando esses docentes pretendem desenvolver um projeto de
Educação Ambiental com seus educandos, escapando da ditadura dos livros didáticos
que, como vimos, padecem de inúmeros entraves, defrontam-se com muitas
dificuldades, tais como: Onde encontrar informações atualizadas sobre o tema
proposto para poderem ensiná-lo? Onde encontrar informações atualizadas para
avaliar os trabalhos dos alunos? Esse episódio tão comum nas nossas escolas, e
que desanima muitos docentes a empregarem a pesquisa bibliográfica como prática
pedagógica, comprova a necessidade de se localizar alternativas que viabilizem
esse trabalho em sala de aula.
Uma alternativa viável aos livros didáticos, como
fonte de informações para pesquisas bibliográficas em Educação Ambiental,
especialmente para os resíduos sólidos urbanos, são as revistas. O seu uso já
é indicado por diversos autores. FRACALANZA, AMARAL e GOUVEIA (1986) aconselham
que “nem sempre um livro didático pode satisfazer as exigências do ensino ou
corresponder aos objetivos que o professor se propõe ao ensinar”. Por isso
eles indicam que o docente leve para sala de aula esses periódicos tão ricos
para que sejam utilizados como material de leitura pelos educandos.
O principal objetivo deste artigo é o de oferecer um precioso serviço
aos docentes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, orientando e facilitando
a pesquisa bibliográfica entre os educandos ao trabalharem com temas
relacionados a Resíduos Sólidos e outros de interesse da Educação Ambiental.
Com o obra desta pesquisa acadêmica seria possível
a montagem, nas bibliotecas escolares, de uma coleção de cópias xerografadas
dos mais significativos artigos publicados pelas revistas trazidas pelos
docentes, o que facilitaria a consulta de toda a comunidade escolar nas mais
diferentes disciplinas do currículo básico, principalmente por aqueles
educandos mais carentes, que encontram dificuldades em adquirir estes periódicos.
Posteriormente esta coleção poderia ser ampliada
com o advento da internet, pois a maioria das revistas, possui uma versão on-line
dos artigos impressos que foram publicados nas mesmas. O que tornaria mais fácil
o trabalho dos docentes, não precisando gastar o seu dinheiro mensalmente em
diversos periódicos, simplesmente levariam seus educandos no laboratório de
informática da escola, quando esta o tiver, acessar as mais diversas home pages das revistas e localizar artigos que se adaptam ao
assunto trabalhado em sala de aula, imprimi-los e arquiva-los na biblioteca da
escola.
Partindo-se da comprovação de que os livros didáticos
não apresentam-se como a mais perfeita fonte de informações para pesquisas
bibliográficas em Educação Ambiental deve-se constatar a hipótese de que as
revistas possuam características que as qualificam como material didático
alternativo para ser utilizado em sala de aula pelos educandos. São elas:
·
As revistas são fontes de
conhecimento sobre questões ambientais mais atualizadas do que os livros didáticos,
o que significa que determinados fatos de relevante interesse estão presentes
nos textos das revistas antes de serem abordados nos livros didáticos;
·
As revistas
abordam temas extremamente específicos, porém de interesse para a Educação
Ambiental, ausentes dos livros didáticos;
·
As revistas
adotam uma abordagem interdisciplinar na forma de apresentação das
reportagens, o que não ocorre com freqüência entre os livros didáticos;
·
As revistas
podem ser diferenciadas em função das correntes do pensamento ambientalista,
retratando cada uma delas de forma clara e precisa.
A despeito da tradição do corpo docente, de se usar os livros didáticos
como fonte praticamente única de informações, deve-se cogitar na praticidade
e até mesmo na superioridade das revistas. A importância dos aspectos característicos
das revistas apresentados acima servem como argumento para confirmar o real
valor desses recursos didático.
Para a preparação da coleção de textos em Educação Ambiental devem
ser selecionadas revistas de divulgação científica com ampla distribuição,
encontradas em bancas de jornais e/ou de revistas de todo o Brasil ou aquelas
revistas que possuam site na internet. Nem todas as revistas adotam um estilo
estritamente científico, para o propósito desta pesquisa devem-se adotar
revistas que abordam artigos referentes à questões ambientais.
Dentre as mais diversas revistas publicadas pelas
editoras brasileiras as que mais se enquadram para serem trabalhadas em sala de
aula com os educandos e que possuem uma grande variedade de artigos relacionados
à questões ambientais são: Supereinteressante
publicada pela Editora Abril, National Geographic Brasil publicada pela
Editora Abril, Galileu publicada pela Editora Globo, Ciência Hoje
publicada pela Editora SBPC e Scientific American Brasil publicada pela
Editora Duetto.
Foram excluídas as publicações cuja linguagem
fosse de difícil compreensão por parte dos educando do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio, a exemplo das publicações técnicas.
A Educação Ambiental é envolvida por diversas
concepções filosóficas, que são expressas por distintas correntes do
pensamento ambientalista. Essas correntes influenciam a forma de exercer a Educação
Ambiental no âmbito escolar, assim como a seleção de conteúdos e a abordagem
dos mesmos em sala de aula. Segundo LAGO e PÁDUA (1985), o pensamento
ambientalista pode ser distinguido em quatro áreas de pensamento, são elas: Ecologia
Natural, Ecologia Social, Conservacionismo e Ecologismo.
A Ecologia Natural é a corrente que possui um
estilo mais técnico-científico. Preocupa-se em descrever e entender os
mecanismos naturais que regulam o funcionamento dos sistemas biológicos, para
tal apropria-se de conceitos e termos da Biologia, Química, Física e
Geografia. Surgiu na segunda metade do século XIX a partir dos estudos de
Enerst Haeckel e posteriormente aprofundados por inúmeros cientistas.
A Ecologia Social trata-se de uma corrente do
pensamento também intimamente atrelada ao pensamento científico-positivista.
No entanto, possui uma abordagem multidisciplinar.
Como acontece com a maioria das correntes, esta também é fruto de determinado
período histórico, marcado pelo desenvolvimento do industrialismo na segunda
metade do século XX, gerador de impactos ambientais, essa corrente começou a
ser formulada nos anos vinte pela Escola de Chicago.
O Conservacionismo pode ser qualificado como uma
corrente de pensamento que não se ocupa de procurar um embasamento científico.
Seu propósito básico é a conservação da natureza tal como o homem a
encontrou, ignorando as necessidades das populações humanas. O progresso
tecnológico é encarado com desconfiança e a abordagem
das questões ambientais é cheia de motivações emocionais. As raízes
deste pensamento são muito antigas, remontando a concepções panteístas brâmares
e hinduístas que identificam Deus com a Natureza, o que faz com que a Natureza
assuma um caráter “sagrado”.
O Ecologismo é uma corrente que se apresenta como
um projeto de transformação social, calcado em princípios ecológicos, esta
linha serve de divisor de águas para distingui-lo do conservacionismo, que até
pode criticar o modelo vigente, mas sem propor nenhum projeto alternativo. Por
outro lado, o Ecologismo parte do princípio
de que não basta lamentar as mazelas ambientais. Propõe, ao contrário,
uma ampla mudança na economia, nos valores éticos e culturais. Representa uma
percepção de que a crise ambiental não resulta de pequenas disfunções do
sistema dominante, mas, ao contrário, é causada por um modelo ecologicamente
insustentável. O pensamento marxista, vinculado a pensadores independentes como
Marcuse e outros é um dos principais caudatários do Ecologismo.
Para a escolha de um artigo publicado em uma
revista científica que satisfaça as necessidades em relação à questões
ambientais, faz-se necessário a observação das corrente do pensamento
ambientalista no mesmo para que se possa atingir o objetivo
Quadro 1: Quatro correntes do
pensamento ambientalista e sua relação com a Educação Ambiental.
|
Ecologia
Natural |
Ecologia Social |
Conservacionismo |
Ecologismo |
Fundamentação
Filosófica |
Positivismo |
Positivismo |
Racionalismo |
Marxismo |
Conteúdos |
Conceitos
Científicos da Ecologia |
Conceitos
Científicos da Ecologia, Problemas Ambientais e Desenvolvimento
Sustentado |
Preservação
de Áreas Naturais e sua Biodiversidade. |
Reciclagem
e Fontes Alternativas de
Energias. |
Práticas
Pedagógicas |
Aula
expositiva |
Aula
expositiva |
Excursão
a Áreas Preservadas e Atividades de Conscientização |
Hortas
Comunitárias, Coleta Seletiva e Uso
de Sucatas. |
Uma revista que siga a Ecologia Natural não precisa, necessariamente,
adotar uma linguagem estritamente técnica. Basta descrever superficialmente
ambientes naturais, abordar a historia natural de animais e plantas ou destacar
as "leis da natureza", ignorando a atuação humana e os impactos
ambientais daí decorrentes.
A Educação Ambiental praticada segundo as concepções
da Ecologia Social pode ser associada à tendência critico-social dos conteúdos,
que valoriza o conhecimento teórico, porém unindo-o à prática pela reflexão
da vivência do aluno face às suas realidades sociais.
A Educação Ambiental praticada de acordo com a
abordagem Conservacionista prioriza a autogestão, rejeita qualquer forma de
poder e de autoridade e considera secundário os conteúdos formais. Isso
determina uma metodologia baseada na vivência grupal da autogestão, pela qual
o grupo de educandos decidem o que estudar, cabendo ao professor um papel de
conselheiro. Em termos concretos, essa metodologia promove as atividades de
conscientização e denúncia, tais como passeatas, debates, júris simulados,
organização de ONGs e elaboração de jornais e boletins.
A Educação Ambiental desenvolvida segundo os
princípios do Ecologismo reflete um forte caráter político, volta-se
primordialmente à ação educativa por canais não-formais e institucionais,
como ONGs e movimentos populares, onde o educador assume o papel de animador e
facilitador. Deste modo estimula-se o aluno para a pesquisa e a descoberta autônoma
da verdade, valendo-se também do estudo do meio e do estudo de caso com vistas
a resolução de problemas concretos.
Para facilitar a compreensão da importância do
uso das revistas científicas em sala de aula pelos docentes, foram retirados
dois trechos de artigos de revistas diferentes. O primeiro trecho foi retirado
de um artigo publicado pela revista Superinteressante, do mês de
setembro deste mesmo ano, intitulado “Da margem à arte”.
Analisando a matéria reproduzida acima o docente
pode observar a importância de se trabalhar com os educando em Educação
Ambiental a problemática do lixo, aquele lixo que é “jogado” indevidamente
no meio ambiente. Os docente tem em mãos um excelente material para trabalhar a
produção de lixo pela sociedade, a trajetória do lixo doméstico, os
diferentes tipos de destino do lixo, a reciclagem e consequentemente a produção
de sucatas, como foi a idéia deste projeto, que transforma lixo em obras de
arte, como mostra bem a figura. Sendo um artigo que pode ser utilizado por
docentes de diferentes disciplinas, como por exemplo, Ciências, Biologia,
Artes, Geografia etc.
O segundo trecho foi retirado de um artigo
publicado pela revista Ciência Hoje, do mês de setembro deste mesmo
ano, intitulado “Plástico amigo do meio ambiente”.
Analisando a matéria reproduzida na revista o
docente pode observar a importância de se trabalhar com os educando em Educação
Ambiental novamente a problemática do lixo, porém com um enfoque diferente. Os
docente podem trabalhar a produção de produtos alternativos que agridam menos
o meio ambiente, o tempo de decomposição dos diferentes tipos de materiais e a
reciclagem. Sendo um artigo que pode ser utilizado por docentes de diferentes
disciplinas, como por exemplo, Ciências, Biologia, Química, Física, Geografia
etc.
Sendo assim, pode-se concluir que as revistas de
divulgação científica procuram adotar uma abordagem eclética ante as questões
ambientais, sendo tão diversificadas - tanto na forma como no conteúdo -
quanto seu público leitor. Não se deve perder de vista que todas as revistas têm
sua existência determinada pelas leis de mercado, até mais do que os livros
didáticos. Mas essa influência, na verdade, não cria limitações ao seu
conteúdo, como ocorre com os livros didáticos, nos quais o Estado interfere na
determinação dos conteúdos, tanto por meio de suas propostas curriculares
como diretamente no sucesso comercial dessas obras, por ser o principal
comprador.