QUINTAL CIPOZINHO: CONHEÇA O PROJETO QUE MOSTRA O POTENCIAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Projeto se inspira num movimento mundial para 'desemparedar' a infância
13 de janeiro de 2025
Juliana Perdigão
Diretora do Projeto Preserva, plataforma com foco em meio ambiente e cultura. Jornalista e doutora em Ciência da Informação pela UFMG.
Nas nossas viagens em busca de iniciativas para o Mapa de Soluções Ambientais, chegamos à Serra do Cipó, em Minas Gerais, conhecida pela riqueza de águas e milhares de espécies endêmicas do Cerrado, ou seja, relíquias que só existem ali. Foi lá que encontramos o Quintal Cipozinho, um projeto de educação não formal voltado para crianças, baseado na real conexão com a natureza.
O
espaço tem uma mata bem cuidada e é debaixo das árvores
que os meninos e meninas passam a maior parte do tempo. O projeto se
inspira num movimento mundial para “desemparedar” a
infância, diferente do modelo tradicional de arquitetura
escolar, em que as crianças ficam muito tempo em espaços
fechados.
A
educação ambiental é parte natural desse
trabalho: as crianças aprendem sobre a flora do bioma em que a
Serra do Cipó está, elas conhecem frutos e sementes,
sabem os nomes de algumas árvores e se conscientizam da
importância do Cerrado.
Pais e professores das escolas da região também recebem formação específica com aprofundamento para adultos. Os encontros são organizados na mesma mata, mas para difundir conceitos, abordar as questões climáticas, os direitos e deveres de cada cidadão.
Esse projeto é inspirador porque mostra o potencial transformador do conhecimento quando oferecido de forma sistemática, profunda e alcançando todas as camadas de uma comunidade.
O
Brasil tem uma Política Nacional de Educação
Ambiental, mas precisa avançar em programas que cheguem a
todas as crianças, adolescentes e jovens, levando informação
qualificada e
específica
para cada idade. De maneira continuada.
É
curioso notar que a educação ambiental já
constava na Declaração de Estocolmo em 1972, quando
houve a primeira grande conferência da ONU sobre meio ambiente.
O compromisso foi reafirmado na Agenda 2030 da ONU, que, no ODS 4,
destaca a necessidade de formar cidadãos preparados para lidar
com a crise climática. Mas a maior prova que o mundo também
falhou na implementação da educação
ambiental é o ponto a que chegamos: produzimos
sociedades
alienadas, alheias à dependência que temos dos
ecossistemas. Sociedades que naturalizam a exploração
predatória de recursos, como a única possível.
Sem educação ambiental, nos tornamos adultos que não se reconhecem como parte da natureza e essa desconexão, principalmente agora, revela um profundo distanciamento do real. Para além disso, a falta de uma educação aprofundada não produz cidadãos ativos. Como efeito, há um desconhecimento geral sobre as leis ambientais, as formas de agir para proteger os recursos e garantir a justiça socioambiental. E, mais que nunca, precisamos nos educar e conhecer os direitos ambientais garantidos pela Constituição para exigir o cumprimento das leis.
Já
sabemos que a crise climática não será resolvida
com mudanças individuais isoladas, mas a ação
social coletiva, organizada e estratégica pode ser
transformadora e garantir, ao
menos,
um pouco de justiça em meio ao caos.