ARTE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM RECICLÁVEIS: “AS RAIZEIRAS” - AS GUARDIÃS DOS SABERES ANCESTRAIS E A UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA SUA CONFECÇÃO
Adriana Backes
Vanessa Schweitzer dos Santos
Imagem 1
O projeto das “Raizeiras" (imagem 1) consiste numa proposta de arte-educação ambiental, a partir da confecção de vasos, com a reutilização de garrafas pets, para o cultivo de plantas medicinais e alimentícias. Esses vasos são confeccionados artisticamente, ganhando o formato de bonecas, sendo inspiradas nas “Namoradeiras”, as esculturas de bustos femininos, populares em Minas Gerais, com traços de mulheres negras, esculpidas artesanalmente, em diferentes tamanhos e materiais, sendo utilizadas, em geral, como peças decorativas de janelas ou sacadas, como na imagem abaixo (imagem 2):
Imagem 2
https://pilaomineiro.com.br/o-charme-e-o-encanto-das-namoradeiras-interioranas/
Fazendo uma releitura desses bustos, idealizei as Raizeiras, como sendo uma homenagem às ancestrais, as mulheres negras, tataravoś, bisavós, avós, tias, mães que cultivaram e utlilizaram, ervas medicinais para o seu autocuidado e o cuidado com sua família e a comunidade. Com seus saberes, vindos das heranças culturais e religiosas de matrizes africanas, que foram trazidas ao Brasil e adaptadas à flora brasileira, a partir da troca de conhecimentos com os povos indígenas, elas deixaram um rico legado. E ainda hoje, se observa, principalmente, nas comunidades quilombolas e nas Terreiras, que essa conexão e reverência à natureza, sendo territórios em que a preservação e sustentabilidade, que inclusive, são valiosas contribuição no enfrentamento das mudanças climáticas.
E assim o nome “Raizerias” foi escolhido para homenageá-las por serem as raízes das gerações que as sucederam, e figurativamente, tem enraizado, em si, os saberes e os cuidados com seus descendentes e demais pessoas de seus territórios.
…refletir sobre a rica herança cultural africana que moldou o Brasil. Uma das contribuições mais significativas desse legado é o uso das plantas medicinais, um conhecimento ancestral preservado por comunidades negras e quilombolas que enxergam nas ervas um elo entre o bem-estar físico, espiritual e cultural. Ao longo dos séculos, povos africanos escravizados para o Brasil incorporaram seus saberes sobre as plantas ao contexto local, adaptando-se à flora brasileira e trocando experiências com povos indígenas. Esse intercâmbio gerou práticas de cura que perduram até hoje, especialmente em comunidades quilombolas, onde a medicina tradicional desempenha um papel central na promoção da saúde.
Sempre tive admiração pelos saberes ancestrais da floresta, da nossa flora, das plantas medicinais, das hortas e jardins, E sempre gostei de ler e pesquisar sobre esses assuntos, Mas foi a partir de 2020, que intensifiquei essa pesquisa, quando assisti junto com meu marido, Tiago Barbosa Macedo, diversos documentários e além de cursos sobre plantas medicinais, PANCS e flores comestíveis. E nessa época, tivemos a oportunidade de assistir um que nos chamou muita atenção. Esse documentário, mostrou territórios quilombolas e de religioẽs de matrizes africanas seguem preservando a natureza, cultivando plantas alimentícias e medicinais, para alimentação, cuidados com a saúde e para seus rituais religiosos.. E também nesse vídeo, havia a participação de pesquisadores que comentaram , o fato de que algumas dessas plantas, já não eram mais encontradas em outros lugares, Também falaram na variedade de espécies que ainda não eram conhecidas ou ainda não haviam sido estudadas e que poderiam ter valiosos princípios ativos para serem usados na medicina ou para o enfrentamento e mitigação das causas e efeitos das mudanças climṕaticas. E graças a conservação desses ambientes, essas plantas têm resistido ao risco de extinção que já afetou e ainda afeta muitas espécies de plantas e animais. Ou seja, esses territórios também protegem a biodiversidade da nossa flora e fauna, assim como ocorre com as florestas que estão em pé, graças aos povos indígenas que lutam pela preservação da natureza e de suas próprias vidas que estão sempre em risco, principalmente, pelo avanço do agronegócio, das minerações e interesses diversos sobre essas terras pertencentes aos povos originários.
Infelizmente não guardei o link desse vídeo, em meio a uma enxurrada de vídeos, “lives”, “podcasts” e aulas online que participei ou que ministrei. Mas a sementinha foi plantada, e com o tempo ela enraizou, germinou, floresceu e frutificou nessa homenagem através das Raizeiras. E agora sigo pesquisando sobre esse rico legado de conhecimento, proteção e cuidados à saúde planetária. E quando vamos atrás de um conhecimento, parece que ele tambḿ nos procura, e nos encontra, quando saltam aos nossos olhos. E assim me deparo com o post (imagem 3) que segue abaixo, de uma página da rede social do Instagram: @conaquilombos (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas em Defesa dos Direitos Quilombolas e m defesa dos Direitos Quilombolas e de acesso pleno ao Território).
Imagem 3
@conaquilombos
Um estudo publicado na revista Communications Earth & Environment comprova o que os Quilombolas já praticam há séculos: a relação ancestral com a terra é essencial para proteger o planeta. No Brasil, Colômbia, Equador e Suriname, os territórios quilombolas e de comunidades negras legalmente reconhecidas têm desempenhado um papel fundamental na redução do desmatamento, na preservação da biodiversidade e no combate às mudanças climáticas.
Esses territórios — muitos deles quilombolas — reduzem entre 29% e 55% o desmatamento em comparação com áreas vizinhas, destacando-se como verdadeiros refúgios de carbono irreparável e de espécies ameaçadas, especialmente nas regiões da Amazônia e da Mata Atlântica.
No Brasil, comunidades como o Quilombo Kalunga, em Goiás, são exemplos vivos dessa contribuição. Os quilombos, com seu modo de vida coletivo e sustentável, seguem protegendo ecossistemas inteiros mesmo diante de pressões externas.
A ciência confirma o que os Quilombolas sempre souberam: defender os quilombos é proteger o futuro do planeta. (Fonte: Agência Brasil)
E segui lendo sobre o assunto no site indicado pela página :
O post da página e o texto do site acima citados contemplaram um pouco do assunto que havia sido tratado no documentário a que me referi anteriormente. E dando meus primeiros passos nessa trilha de conhecimentos, evidenciou para mim, o que o indígena, escritor e ambientalista Ailton Krenak tem nos alertado: O futuro é ancestral!
Essa citação, me reportou novamente às raízes, que sustentam a vida e o bem viver.
Seguindo a pesquisa encontrei outras referências sobre as comunidades quilombolas e o cuidado com as pessoas, plantas e animais feito especialmente pelas mulheres quilombolas:
Em cada bioma brasileiro, as comunidades quilombolas sabem reconhecer os "remédios do mato", sabem onde buscar e onde cultivar essas plantas. Sabem como preparar um chá, um xarope, um lambedor, um banho de assento. O trabalho da mariscagem é muito importante para o cuidado com a fauna dos mares e dos rios. É um cuidado com as pessoas, com as plantas e os animais, com a terra, com as águas, feito em grande medida pelas mulheres quilombolas.
E ainda, sobre as tradições da cultura africanas em que o uso de plantas medicinais em rituais sagrados colaboram para a prevenção de doenças e na manutenção da saúde:
As tradições religiosas da cultura africana valorizam a conexão entre o físico e o espiritual, tendo o uso das ervas medicinais para cura e proteção como uma de suas práticas mais antigas. Ao preservar essa tradição, é mantida também a memória ancestral de quando os curandeiros e líderes espirituais eram responsáveis pelo conhecimento das propriedades curativas e seu uso em rituais sagrados. Além disso, o uso de plantas medicinais é uma medida complementar e integrativa ao tratamento e prevenção de doenças, o que ajuda na manutenção da saúde.
https://www.destaquenoticias.com.br/catalogo-traz-plantas-usadas-pelas-religioes-de-matriz-africana/)
No catálogo : “Plantas e ervas medicinais utilizadas nos rituais de religiões de matriz africana” (CALÁBRIA, p. 20) é feita a constatação de que:
Historicamente a medicina popular brasileira foi moldada sob influência de matrizes africana, indígena e portuguesa, através da troca de saberes durante a colonização. (https://drive.google.com/file/d/1FCM-_AdYqJbRTzPmvYYwIEHG4nBROqtw/view)
E por hora, finalizo com a citação do papel exercido pelas comunidades quilombolas quanto às práticas sustentáveis e cuidado com a biodiversidade:
As comunidades quilombolas desempenham um papel vital na preservação do meio ambiente, utilizando práticas sustentáveis e conhecimento tradicional para cuidar da biodiversidade. (https://www.gov.br/igualdaderacial/pt-br/assuntos/copy2_of_noticias/proteger-territorios-quilombolas-e-preservar-o-meio-ambiente)
Confecção das Raizeiras e a reutilização de garrafas pets.
Quando confeccionei as “Raizeiras” com garrafas pets, para apresentar para professores e crianças, como uma proposta possível na escola, fiz muitas reflexões para decidir se seguiria utilizando as garrafas como matéria prima, pois, depois de utilizadas dessa forma, elas não poderão ser mais utilizadas nas usinas de reciclagem, se algum dia forem colocadas “fora”.
E também me veio à mente todas as artes e os artesanatos em que são utilizados as latas de e os lacres de alumínio, e demais embalagens que poderiam ser diretamente destinadas para a reciclagem.
E assim me fiz muitos questionamentos: Vamos deixar de usar algum desses materiais para esses fins? Eles não vão durar para sempre, verdade. E que em algum momento vão se danificar, desgastar, ou o dono vai enjoar, se mudar, vai descartar, isso também é verdade. Mas qual material não passa por isso? E no montante de materiais que são descartados todos os dias, toneladas deles, reutilizar algumas garrafas pets, lacres e latas de alumínio para fins de artes e artesanatos, deve ser recomendado? Todos os resíduos de garrafas e tampinhas de plástico, latas e lacres de alumínio, têm sido encaminhados para a reciclagem?
Gosto muito de trocar idéias e refletir junto com a professora, bióloga, educadora ambiental, doutora Vanessa Schweitzer dos Santos, minha colega professora na Rede Municipal de Ensino de Novo Hamburgo, sobre a questão da gestão dos resíduos, de todas as espécies - que tem sido um imenso desafio. Ela tem um rica experiência nesse assunto por ter trabalhado como educadora ambiental no Programa de Gestão Municipal de Resíduos, Catavida, replicando esse conhecimento em muitas escolas e espaços. Também é autora do blog Agir Localmente (https://agirlocalmente.wixsite.com/agirlocalmente/blog), que convido a conhecer e ler. Gosto muito dos seus textos. E , juntas temos refletido que tudo causa impacto, e que temos que fazer escolhas sobre o que causa menos impacto. E às vezes a decisão é bem complexa, pois envolve muitas questões.
Por isso a convidei para contribuir com essa reflexão e diálogo. E pra minha alegria ela aceitou! Então, nos próximos parágrafos, teremos o conteúdo de nossas reflexões.
Nas ciências e na educação estamos sempre em constante pesquisas e formações. Na educação ambiental não seria diferente. Este diálogo , é um diálogo de saberes, pesquisas, reflexões, debates. E ao longo dos anos vamos nos transformando conforme os desafios vão se modificando e avolumando. A Ciência é uma área do conhecimento em constante atualização, onde não existem verdades absolutas - aliás, a dúvida e o questionamento são marcas importantes do conhecimento científico e relacionam-se com o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo, imprescindível quando se pensa em atividades de educação ambiental.
O reaproveitamento de garrafas PET para a confecção de raizeiras se mostra uma opção viável para aumentar a vida útil desses itens. É importante considerar essa opção, quando pensamos no adequado destino para os nossos resíduos. Se pararmos para refletir, essa é uma das indicações da Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010). Vemos, nessa legislação, a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento e, por último, disposição final ambientalmente adequada de tudo aquilo que não pode ser aproveitado de outra maneira. Assim, as raizeiras aumentam a vida útil dos materiais envolvidos.
Além disso, oferecem a possibilidade de desenvolver um trabalho artístico ambiental com as crianças, que por vezes têm cada vez menos espaço, tempo e oportunidades de estar com e na natureza. Imaginemos uma criança que mora em apartamento, portanto, tem um espaço ao natural bastante restrito, em sua moradia. Potencializar uma sacada, a soleira de uma janela ou até mesmo uma mesa com a presença de uma raizeira, produzida com ela, pode ser uma experiência incrível!
Mexer na terra, observar sua textura, componentes, se há invertebrados presentes. Refletir sobre o plástico utilizado (reutilizado, na verdade), seus potenciais, matéria prima. Desenvolver habilidades relacionadas à confecção da raizeira, como o corte, montagem e decoração. Sem falar na escolha da planta que será utilizada: uma aula de botânica! Qual espécie? É ornamental? Comestível? Tem propriedades medicinais? Onde será colocada - precisa de luz, calor, água todos os dias? Observar seu crescimento e o surgimento de brotos, folhas, flores e frutinhos - tudo isso são vivências riquíssimas!
Se pensarmos que o Brasil ainda recicla uma parte ínfima dos materiais que têm potencial para isso, aumentar a vida útil desses resíduos, reaproveitando-os para fins artísticos e artesanais pode ser uma boa alternativa. Especialmente, quando a ABORDAGEM feita pelo professor ou mediador que conduz a atividade envolve, apresenta e problematiza as questões ambientais envolvidas. Isso significa promover e desenvolver com o público alvo a reflexão crítica a respeito das alternativas possíveis, as viáveis (nem todas as possíveis são viáveis, em todas as situações ou localidades) e das escolhas que fazemos, individual e coletivamente.
Apesar de as garrafas PET terem um percentual alto de reciclagem, é importante estar atento à alguns detalhes. Por exemplo, garrafas coloridas, como as marrons, azuis e vermelhas, possuem um percentual menor de reciclabilidade, embora seja possível efetuar a reciclagem desses itens, a coloração dificulta tanto o processo de separação, quanto a eficiência da transformação em nova matéria prima. Isso porque os pigmentos presentes nas garrafas limitam a variedade de novos produtos que a matéria prima resultante da reciclagem poderia gerar, além da dificuldade encontrada para se reunir um volume relativamente grande de garrafas dessas cores diferenciadas. Por isso, é interessante que o consumidor escolha (prefira) garrafas PET transparentes ou verdes (UNIVASF Sustentável, 2019). Diante dessa informação, elaborar raizeiras com as garrafas PET coloridas pode ser uma alternativa de aumento da vida útil das mesmas, já que a sua reciclagem completa pode ser difícil ou inviável.
No mundo ideal nem teríamos mais materiais como plástico que vem do petróleo que contamina na origem e na destinação final do produto. A produção e o final do ciclo de um produto, para ser sustentável, já deve ser pensado no momento do da produção e do design para a destinação final, de forma sustentável, e não simplesmente largando a responsabilidade total dessa enxurrada de produtos industrializados que contaminam a natureza. A indústria e o comércio devem investir em tecnologia, pensando no descarte do produto. Vemos muitos estudantes em projetos de pesquisa de ciências, produzindo embalagens sustentáveis e biodegradáveis. Por que não investir? Também ocorre de existirem algumas opções sustentáveis ou biodegradáveis, mas a um preço ainda muito alto, não sendo acessível para a maioria do povo brasileiro, como escovas de dente de bambu, ao invés de plástico, para exemplificar, entre outros.
Também muita coisa é plastificada para durar mais tempo, mas em algum momento, vão fora: papéis, cartões, documentos. O plástico está por tudo: embalagens de remédios, de alimentos das tele-entregas ou que levamos para comer em casa, das compras que fizemos de perto ou de longe, que chegam em nossas casas. Ou seja, sozinhos, os consumidores jamais darão conta, novamente as indústrias e os governos, devem fazer a sua parte. É certo que temos que diminuir o consumo e fazer escolhas conscientes. Mas diante de todo esse montante de resíduos, sozinhos, os consumidores jamais darão conta. Sim , eles tem que fazer sua parte Mas as empresas têm que se responsabilizar pelo que produzem. Como por exemplo, produzir pets que não podem ser reciclados... Na Europa estão tentando trazer à tona a responsabilidade pelo excesso de roupas de plástico produzido e que toneladas delas acabam indo para aterros e até descartados em desertos....
Compreendemos que quando se pensa no desenvolvimento sustentável, há demandas individuais e outras coletivas. Isso se mostra ainda mais evidente quando se pensa na gestão dos resíduos sólidos e, inclusive, na ordem de prioridade apontada para a mesma, no Brasil. Há iniciativas que podem ser realizadas somente no âmbito individual, e estas incluem as escolhas melhores, mais eficientes. Aqui entra também a diminuição do consumo. E, há demandas de ordem ou responsabilidade coletiva/governamental/institucional.
Neste âmbito podemos citar a preferência por matéria prima mais eficiente e por processos produtivos mais sustentáveis, que resultem em produtos de menor impacto ambiental, oferecidos e disponibilizados para o consumidor final (este, atuando em seu plano individual), Entra aqui também o estabelecimento de uma coleta seletiva abrangente e eficiente, por parte do poder público.
Em relação à esta última instância, percebe-se mais uma vez a necessidade do envolvimento individual, pois é no seu cotidiano doméstico individual que o cidadão vai aderir e participar da coleta seletiva, encaminhando seus resíduos de modo adequado, dentro da coletiva seletiva municipal. Santos (2022) corrobora com essas reflexões e afirma que, quando se pensa nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, “há decisões, ações e iniciativas que são da coletividade - dos gestores, dos empreendedores, das políticas públicas, das organizações civis, por exemplo. Outras, são individuais - no âmbito local, nas residências, na atividade profissional, nas escolhas cotidianas. Nenhuma dessas ações ou iniciativas isenta as outras da sua responsabilidade!”
Em relação às bonecas não será incentivado uma produção em série. Cada criança fará uma “Raizeira” , que depois, do trabalho em sala de aula, de contextualização desse projeto de arte-educação-ambiental, com a confecção artística, trocas de saberes, de orientação e práticas de plantio, cultivo e cuidados das plantas medicinais que serão devidamente identificadas e com a pesquisa sobre seus usos na medicina popular, de sensibilização afetiva, para com elas, que podem ser nomeadas pelas crianças, com nomes de origem africanas. E, no final do ano, elas poderão levar para casa, para sua família. Ou seja, pode se tornar uma aprendizagem muito, significativa e afetiva, envolvendo muitas habilidades e conceitos. E ainda dentro dessa proposta, podemos iniciar um estudo, pesquisa, diálogos sobre os resíduos e os destinos corretos para os mesmos.
Também gostaria de deixar registrado uma experiência pessoal da nossa família: Minha mãe fez um plantio em garrafas pet (imagem 4) há mais de 20 anos, e estão inteiras... Essas garrafas pets ficam expostas ao sol, chuva, vento, calor, frio, geada, têm tido mais durabilidade que as floreiras compradas na floricultura e já foram trocadas diversas vezes. Eles racharam, quase se esfarelando...
Imagem 4
Esses pequenos fragmentos plásticos podem acabar se tornando microlixo, ou microplásticos. Pedaços tão pequenos de materiais degradados pela ação do tempo e das condições climáticas, que se tornam inviáveis de recolhimento e, consequentemente, da reciclagem. Além disso, contaminam o solo, os corpos hídricos e, inclusive, os seres vivos. Há estudos que mostram o acúmulo desses microplásticos em animais aquáticos, o que acende o alerta para a bioacumulação. Alguns desses estudos foram conduzidos pela bióloga Jenifer Panizzon, da Universidade FEEVALE (2022), durante seu doutorado, pesquisa que encontrou microplásticos no Rio dos Sinos, responsável pelo fornecimento de água para toda a população da região.
Sabemos, que ao longo dos anos as floreiras e vasos de plástico têm sido muito utilizados, principalmente por quem tem espaços pequenos. Essas em algum momento poderão ser “jogadas fora" também. Sabendo que o fora não existe, fica tudo no nosso planeta, vemos o tamanho gigantesco desse desafio de gerenciamento de resíduos.
Então sigo pensando que neste momento, destinar alguns recicláveis para artes e artesanatos (que sejamos francos, é ínfima em relação ao volume de garrafas, tampinhas, latas e lacres, para exemplificar que são consumidas no mundo) e encaminhar todo o restante do gigantesco volume de garrafas pets restante para a reciclagem é uma atitude sustentável. E quem dera, assim fosse, e não encontrássemos mais esses recicláveis jogados de qualquer forma em qualquer lugar. Em qualquer lugar mesmo, calçadas, ruas, terrenos, praças, parques, trilhas, arroios, rios, lagos, mares,,, E que não encontrássemos resíduos secos e orgânicos misturados….
O ideal, obviamente, seria que todo fosse descartado corretamente. O fato real, todavia, muitas vezes é o descarte irregular.
Diante das reflexões que trouxemos até aqui, e da experiência com a confecção de raizeiras com garrafas PET, numa proposta de arte educação ambiental, compreendemos que elas podem ser uma alternativa para o reaproveitamento de resíduos. Fazê-las ou não, faz parte das “escolhas melhores” que podemos realizar, individual ou coletivamente. O termo “escolhas melhores” vem sendo utilizado pela WWF em diferentes documentos, especialmente aqueles relacionados ao consumo consciente, e se organiza a partir de opções mais sustentáveis, ou menos impactantes.
Cabe aos cidadãos informarem-se, buscarem conhecimentos e dados confiáveis, para eleger quais produtos, serviços, destinos finais e práticas são “melhores” para si e para o planeta. A WWF, organização não governamental internacional dedicada à conservação da natureza e redução da degradação ambiental, reitera que “seja no uso de água, roupas, alimentos, produtos de higiene, transporte e eletrônicos, todas as nossas escolhas têm impactos ambientais, sociais, culturais e econômicos. Se queremos reverter esse cenário, precisamos fazer escolhas mais sustentáveis. Quando praticamos o consumo consciente, refletimos sobre a origem, a durabilidade, as possibilidades de reutilização e o descarte adequado dos produtos que adquirimos”. Por isso, concordamos que é urgente fazer o que se pode, com o que se tem.
O ideal, o impacto zero, não teremos. E nem todas as “soluções” cabem em qualquer espaço. Por isso, acreditamos que propostas descentralizadas, como as raizeiras, são alternativas interessantes. A arte educação ambiental pode ser uma “escolha melhor”, quando pensamos no descarte irregular de resíduos como as garrafas PET. É muito comum encontrarmos elas, e outros resíduos passíveis de reciclagem, descartados irregularmente no espaço urbano. Reforçamos que as propostas precisam fazer sentido para quem e por quem são aplicadas, dentro de uma educação ambiental que promova o pensamento crítico e a possibilidade de realizar escolhas melhores, individual e coletivamente!
Imagem 5
Foto autoral da “Namoradeira”, (imagem 5) que está no auditório do Parcão, adquirida por mim de uma artesã, a Janaina Jana (imagem 6), para que as crianças possam ter contato próximo com a arte que nos inspirou!
Imagem 6 - @janainajana273
Referências bibliográficas:
BRASIL. Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>.
FEEVALE. Microplásticos são encontrados em três pontos do Rio dos Sinos. 2022. Disponível em <https://www.feevale.br/acontece/noticias/microplasticos-sao-encontrados-em-tres-pontos-do-rio-dos-sinos>.
SANTOS, Vanessa Schweitzer dos. O individual e o coletivo diante dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Blog Agir Localmente. 2022. Disponível em <https://agirlocalmente.wixsite.com/agirlocalmente/post/o-individual-e-o-coletivo-diante-dos-objetivos-do-desenvolvimento-sustent%C3%A1vel>.
UNIVASF Sustentável. A cor da garrafa PET importa? 2019. Disponível em <https://portais.univasf.edu.br/sustentabilidade/noticias-sustentaveis/a-cor-da-garrafa-pet-importa>.
WWF. CONSUMO CONSCIENTE. <https://www.wwf.org.br/nossosconteudos/conceitos_/consumo_consciente/>.