FOGÃO
SOLAR:
UMA
FERRAMENTA NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Osiris Ashton Vital Brazil
Osiris
Ashton Vital Brazil, Administrador, Mestre em Regulação da Indústria Energética,
Professor da Faculdade São Luis, E-mail: osiris.vital@sergipetec.org.br
Ana
Claudia Andrade Leão, Assistente Social, Especialista em Educação Ambiental,
E-mail: claudia@vital.srv.br
Mary
Barreto Dória, Pedagoga, Musicista, Email: barretodoria@hotmail.com
RESUMO
O fogão solar do tipo caixa é uma tecnologia de fácil manufatura, possível de ser construído com caixas de papelão. A realização de oficinas de construção e cocção de alimentos com fogão do tipo caixa são atividades praticas que podem ser desenvolvidas dentro do contexto da educação ambiental para demonstrar e exemplificar, questões da relação direta do homem com o uso da energia para cocção promovendo uma reflexão holística das inter-relações entre energia, ambiente e desenvolvimento. Este trabalho foi motivado pela busca de identificação de questões ambientais que podem ser trabalhadas em oficinas de construção e cocção com fogão solar do tipo caixa. O objetivo é discutir a utilização do Fogão Solar como ferramenta na Educação Ambiental não-formal. A discussão está fundamentada em uma pesquisa bibliográfica confrontada com a vivência em três oficinas tecnológicas de construção de fogões e transferência de tecnologia para públicos diferentes no Estado de Sergipe no nordeste do Brasil. A analise da realidade vivenciada nas oficinas confrontada com a teoria possibilitou a identificação de questões ambientais que podem ser abordadas em oficinas de fogão solar contribuindo na difusão do sol como energia que pode ser apropriada diretamente pela população.
1.
INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é discutir a utilização do Fogão Solar como ferramenta na Educação Ambiental não-formal. O trabalho foi motivado pela busca da identificação de questões ambientais que podem ser trabalhadas em oficinas de construção e cocção com fogão solar do tipo caixa. O fogão solar do tipo caixa é uma tecnologia de fácil manufatura, possível de ser construído com caixas de papelão.
A discussão está fundamentada em uma pesquisa bibliográfica confrontada com a vivência em três oficinas tecnológicas de construção de fogões e transferência de tecnologia para públicos diferentes. A realização de oficinas de construção e cocção com fogão solar são atividades praticas que podem ser desenvolvidas dentro do contexto da Educação Ambiental para demonstrar questões da relação direta do homem com o uso da energia para cocção e promover uma reflexão holística das inter-relações entre energia, ambiente e desenvolvimento.
As oficinas acompanhadas neste trabalho foram realizadas na comunidade do Robalo e Faculdade São Luis em Aracaju e no conjunto Habitacional Luis Alves I no município de São Cristóvão, todas no Estado de Sergipe no nordeste do Brasil. A analise da realidade vivenciada nas oficinas confrontada com a teoria possibilitou a identificação de questões ambientais que podem ser abordadas em oficinas de fogão solar contribuindo na difusão do sol como energia que pode ser apropriada diretamente pela população.
Este artigo é composto de três seções alem desta introdutória. Na seção 2 São descritas as oficinas nas comunidades. Na seção 3 destacam-se temas ambientais que podem ser trabalhados a partir da utilização do fogão solar do tipo caixa dentro do contexto da educação Ambiental Não-Formal. Na seção 4 são feitas as considerações finais
2. OFICINAS DE FOGÃO SOLAR DO TIPO CAIXA
As oficinas realizadas nas comunidades foram partes de um trabalha de pesquisa mais global: “Projeto de desenvolvimento e adaptação de fogões solares aplicados à comunidade” com o objetivo central de estudar e desenvolver tecnologias alternativas para produção e adaptação de um fogão solar de baixo custo para sua utilização doméstica em comunidades populares, visando à complementação na cocção de alimentos dos fogões tradicionais (gás ou lenha). Iniciado em agosto de 2005, o projeto se estenderá por um período de dois anos.
As oficinas realizadas tiveram como roteiro básico: A Formação em Tecnologia Social: “Cozinhando com Energia Solar” onde os pontos chaves trabalhados nas oficinas de fogão solar foram:
As oficinas objetivam o desenvolvimento de tecnologia social de cocção e não exatamente uma discussão sobre os temas ambientais. Embora dentro do roteiro das oficinas possam ser percebidos temas comuns a Educação Ambiental.
Na comunidade do Robalo fica em uma área com características rurais da cidade de Aracaju, a oficina foi realizado em três encontros, com 20 alunos da 8ª série da Escola Estadual Paulino Marcelino e foi ministrada pelos alunos do 6° período do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Tiradentes. (UNIT). Durante a oficina foi proposta reflexão sobre o tema: uma possível utilização da energia solar na cocção do alimento cotidiano de forma a produz uma melhoria da qualidade de vida da população do Robalo? A discussão sobre a possibilidade de utilização do sol desencadeou os temas específicos: i) processo de degradação ambiental provocado pela atuando diretamente das famílias por lenha e carvão; ii) redução dos problemas de saúde nas famílias, principalmente em crianças e mulheres, que são decorrentes da utilização do fogão à lenha no interior das residências (Poluição do ar dentro de casa); iii) melhorar a gestão do trabalho familiar e a qualidade de vida das famílias, economizando o tempo gasto na coleta de lenha; iv) melhoria na renda familiar, diminuindo os gastos de compra de lenha, carvão e mesmo do gás de cozinha.
A oficina Luis Alves I no município de São Cristóvão, teve por objetivo estudar e desenvolver tecnologias para a produção e adaptação de um fogão solar de baixo custo para sua utilização doméstica em comunidades de baixa renda, visando à complementação na cocção dos alimentos nos fogões tradicionais (gás ou lenha). O conjunto habitacional Luiz Alves I foi construído no inicio dos anos de 1990 e caracteriza-se com um bairro periférico de um conjunto habitacional maior do município o Conjunto Eduardo Gomes. Sendo que este cumpre o papel de dormitório da capital do Estado Aracaju.
Diferente da oficina no Robalo, onde a oficina concentrou-se na escola da comunidade, no Luiz Alves a mobilização da comunidade foi feita por uma associação comunitária. Que convidou moradores da circunvizinhança. Trazendo para a oficina um público formado por mulheres e crianças. É importante destacar que as expectativas dos participantes foi a de resolver problemas imediatos com a falta de recursos para cozinhar com o gás, e a necessidade de mulheres e crianças terem que dedicar parte do seu tempo para catar lenha. Durante a oficina, principalmente na reunião de sensibilização foram abordados os problemas ambientais e de saúde ligados ao uso da lenha. O que pode ser percebido foi que diante de necessidades mais urgentes as questões ambientais ficam relegadas ao segundo plano nas discussões. Porem é considerado que como processo de conscientização da comunidade como parte de um sistema universal na qual está inserida, por si só o uso do fogão solar impacta a formação dos novos paradigmas.
A oficina realizada na Faculdade São Luis teve o objetivo de motivar a discussão sobre os paradigmas do desenvolvimento e da reprodução do conhecimento humano. A oficina foi realizada com 20 os alunos do 3º período do curso de administração em três momentos todos pela manha. No primeiro encontro foi proposta a questão: é possível cozinhar sem fogo, usando uma caixa de papelão? A partir desta questão foi debatido o conceito de paradigma, conhecimento formal, modelo de desenvolvimento, energia e meio ambiente, e o papel do aluno do ensino superior. O fato de a oficina ser realização a ao ar livre possibilitou a inclusão na discussão de questões sobre como o homem moderno urbano esta se distanciando da natureza e deixa de olhar para o céu para racionalizar sobre o tempo. Também foi abordado o que é natural e artificial e como é visto ambiente ao entorno e o modelo de desenvolvimento adotado baseado em energias fosse. Contudo não houve a utilização ferramentas específicas nem dinâmicas ligadas à metodologia de educação ambiental.
Os projetos do Robalo e do Luis Alves foram dirigidos para a população de baixa renda usando o fogão solar como mais uma opção de cozimento de alimentos no seu dia-a-dia. De forma a contribuir com a diminuição da sua situação de pobreza, proporcionando a economia com a compra de combustível e melhor a utilização da renda familiar, proporcionando uma vida mais saudável para as mulheres e crianças e preservando o ambiente. A oficina na Faculdade São Luis foi dirigida ao público acadêmico, bem diferente dos de baixa renda e baixa escolaridade, alem disto o propósito da oficina foi motivar discussões. O que ficou bem claro ao observar as tentativas de inserção de questões ambientais nas oficinas foi a falta de um instrumental teórico sob o ponto de vista da Educação Ambiental e pratico quanto aos processos pedagógicos.
3. QUESTÕES AMBIENTAIS E O FOGÃO SOLAR TIPO CAIXA
O fogão solar do tipo caixa é um equipamento simples que possibilita a cocção de alimentos que fazem parte dos hábitos alimentares do brasileiro. O uso da tecnologia solar para a cocção está associado a questões culturais, políticas, econômicas e ambientais. Nesta seção pretende-se destacar temas ambientais que podem ser trabalhados a partir da utilização do fogão solar do tipo caixa dentro do contexto da educação Ambiental Não-Formal.
Educação Ambiental é uma ferramenta de um processo pedagógico participativo que tem como objetivo educar de forma crítica sobre a problemática ambiental. Philippi Junior e Peliconi (2000) definem educação ambiental como: “os processos de educação política que possibilita a aquisição de conhecimentos e habilidades, bem como a formação de atitudes que se transformam necessariamente em práticas de cidadania que garantam uma sociedade sustentável”. A necessidade de uma abordagem política da educação ambiental deve-se ao foto do meio ambiente que percebemos ser resultado de abstrações sobre o que é real, natural, ou artificial. Segundo Santos (2000, p. 20), o que é comumente concebido como recursos naturais “se são recursos, não é natural, é social”. Seguindo esta lógica percebe-se que a noção da importância da natureza e do ambiente, gira em torno da importância que é dada pela sociedade a cada elemento do seu entorno. Tanto em condições locais, regionais e globais. Assim a percepção da importância de cada elemento em cada nível para a sua própria sobrevivência e bem-estar faz com que as populações vejam no entorno uma questão ambiental positiva ou negativa pontualmente ou de forma sistêmica. “A teoria dos sistemas envolve uma nova maneira de ver o mundo e uma nova forma de pensar”. (CAPRA, 2003)
O papel que desempenha a educação nas novas gerações afeta na manutenção
e no uso sustentável do que são considerados recursos naturais. Neste sentido,
a Educação Ambiental vem assumindo um papel importante na consolidação de
uma linguagem comum coletivizada, sobre questões ambientais. O que favorecem
diferentes setores e os mais variados grupos de interesses e representações
relativamente articuladas, como é comentado por Casiano (2000). Porem como é
esclarecido por Berna (2001) “para a
população, especialmente a mais carente, as questões ecológicas devem ser
associadas à qualidade de vida”.
A educação ambiental não-formal pode ser entendida, segundo Leite e Medina (2000), como “o processo que se destina à comunidade como um todo”. Contemplando desde aquela parte da população cuja faixa etária obrigaria estar no processo formal de educação, até a outra parte que não está envolvida. Em geral, são atividades educacionais que estão voltadas mais para tecnologias. Já a aprendizagem de qualquer conceito ou informação, segundo o mesmo autor, dar-se-á quando forem atingidos os três domínios básicos, ou esferas, do processo educacional: i) cognitivo; ii)afetivo; iii)técnico.
Para Guimarães (2005), “o despertar da consciência ecológica, princípio e fim de uma educação ambiental, é substanciada por uma razão crítica, que percebe as relações de poder de caráter dominador e explorador, que desestruturam, que rompem laços, produzem cisão, que degradam homem e natureza”. Neste sentido a educação ambiental deve substanciar-se pela promoção do sentimento de pertencimento solidário, o que interconecta o que integra unidade e multiplicidade. Essa educação ambiental, que visa a sustentabilidade da vida do planeta, se estabelece no movimento que provoca rupturas e re-ligações fundastes de um novo paradigma. (CAPRA, já citado)
O
paradigma do meio ambiente e sua problemática são os conteúdos básicos da
educação ambiental, que apresenta á interdisciplinaridade como um dos
tratamentos adequados ao seu processo pedagógico. A interdisciplinaridade,
segundo Guimarães (já citado), “é a
construção de um conhecimento complexo, busca superar a disciplinaridade e se
aproximar mais adequadamente de uma realidade complexa”.
A tecnologia de cocção termo-solar, com o uso de “fogão solar do tipo caixa” é simples. O que é denominado de fogão é uma estufa estanque construída com material que promove o isolamento térmico, em relação ao ambiente, revestido com “papel laminado”, com uma face transparente que permite a entrada da luz do sol. A luz (radiação solar) entra na estufa através da face transparente, aquece uma superfície metálica preta, aumentando a temperatura interna da estufa. A face transparente, geralmente de vidro provoca o efeito estufa impedido que o calor interno saia da caixa. Neste sentido pode-se dizer que o efeito estufa do fogão solar, tipo caixa, pode ser comparado ao efeito estufa causador do provável aquecimento global.
O aquecimento Global provocado pelo efeito estufa, resultado do aumenta de gases denominados de gases do efeito estufa está relacionado diretamente com a forma que a humanidade vem usando a energia desde a revolução industrial. Assim, o fogão solar do tipo caixa pode ser motivador de discussões sobre o efeito estufa.
A utilização do fogão solar do tipo caixa para demonstrar o efeito estufa pode incentivar a reflexão sobre as formas e usos da energia disponíveis no planeta, dos impactos sobre os usos da energia, as desigualdades no uso da energia entre nações ricas e as em desenvolvimento. A reflexão sobe as desigualdades entre os estágios de desenvolvimento abrem espaço para a discussão sobre o que é desenvolvimento e sustentabilidade. Esta abordagem pode ser estendida a temas específicos com desmatamento, poluição, uso do solo, uso da energia, uso da água, biodiversidade e tantos outros.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fogão solar do tipo caixa é uma tecnologia de fácil manufatura, possível de ser construído com caixas de papelão.
Tendo assumido que a educação ambiental não-formal é um processo que se destina à comunidade como um todo com o objetivo de desenvolver competência para a vida. Que as competências são desenvolvidas em três esferas básicas: cognitivo, afetivo e técnico dentro da percepção sistêmica e uma visão holística, onde o todo é formado por partes e as partes são maiores que o todo, por nela conter o todo.
Conclui-se que o fogão solar do tipo caixa representa em escalas perceptíveis, os elementos necessários para a demonstração da complexidade e do inter-relacionamento entre as questões ambientais globais, locais e regionais que podem ser didaticamente representados como:
BIBLIOGRAFIA
LEITE, A L. T., MEDINA N. M.. Educação ambiental: curso básico à distância: educação e educação ambiental I. Brasília: MMA, 2001. 5V., ed. Ampliada.
LEITE, A L. T., MEDINA N. M.. Educação ambiental: curso básico à distância: questões ambientais: conceitos, história, problemas e alternativas. Brasília: MMA, 2001. 5V., ed. Ampliada.
UNESCO. Educação ambiental: as Grandes Orientações da Conferência de Tbilisi. Brasília: IBAMA. 1997.
GÓMEZ, J.A D. et.al. Serviço social e meio ambiente.São Paulo:Cortez. 2005.
PHILIPPI, A. J , PELICONI M C F. Educação ambiental – desenvolvimento de cursos e projetos. São Paulo: Signus. 2000.
BERNA, Vilma. Como fazer educação ambiental. São Paulo: Paulos. 2001.
CASCINO, Fábio. Educação ambiental: princípios, história, formação de professores.São Paulo:Senac. 1999.
RUSSO, Célia R.Educação ambiental: Origens.São Paulo:Cortez. 2000.
GUIMARÃES, M. Sustentabilidade e educação ambiental. In: CUNHA, S. B. et. al. A Questão Ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2005
LAYRARGUES, P. P. O cinismos da reciclagem das latinhas: o significado da reciclagem de latinhas de alumínio e sua implicação para a educação ambiental. In BOETA, et. al. Educação: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez. 2005
DA SILVA, A V. Concentradores solares de baixo custo: fogões solares. Rio de Janeiro: UFRJ. 2004.
MASLOW, A H. Diário de negócios de Maslow. Rio de Janeiro: Qualitymark. 2003.
KEGLEVICH, E.e PARREIRA I. Práticas de educação ambiental.Gioânia:Brasil.2004.
SANTOS, M.. Teoria e sociedade:entrevista. São Paulo.Hucitec.2000.
MACHADO, P. A L. Direito ambiental.São Paulo:Malheiros, 1996.
CAPRA, F. Alfabetização ecológica:o desafio para a educação do século 21. In: TRIGUEIRO A. Meio Ambiente no século 21.Rio de Janeiro: Sextante. 2003.
DIAS, G.F. Ecos de um projeto de educação ambiental.Brasília: UCB.2005.