Neste
trabalho aborda a
dificuldade das instituições escolares em adaptar-se a condições que
permitam um aprendizado mais amplo e instituam princípios norteadores da
Educação Ambiental.
¹Luziray
Barbosa Graça, Licenciada em Geografia (UEA),
Especialista em Educação Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas
(UEA).
²Marcella
Pereira da Cunha Campos, Orientadora do trabalho. Mestre em Biologia Animal
(UFRRJ), Bióloga (UNIRIO), Coordenadora do Curso de Biologia e docente da
Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
End. para correspondência: Centro de Estudos Superiores de Tabatinga - UEA. Av. da Amizade, n. 74, Centro, Tabatinga-AM. Fone/Fax: (97) 3412-4980. E-mail: mpdacunha@hotmail.com.
O texto aborda a
dificuldade das instituições escolares em adaptar-se a condições que
permitam um aprendizado mais amplo e instituam princípios norteadores da Educação
Ambiental. Não é possível tratar de um dado problema ambiental sem considerar
todas as suas dimensões e, o conhecimento é de grande ajuda nesse sentido.
Ignorar fatores que contemplem princípios de sustentabilidade é deixar de lado
aspectos relevantes capazes de contribuir para a introdução dos temas sociais,
econômicos e culturais na realidade dos docentes, indispensáveis à vida do
ser humano. O estudo descrito neste texto objetiva registrar o verdadeiro olhar
da Educação Ambiental (EA) no contexto escolar, oferecendo meios e
alternativas que oportunizem aos educadores a possibilidade de (re) avaliar seu
cotidiano na busca incessante por mais qualidade nas interações educativas.
Palavras-chave:
Educação Ambiental. Ensino.
Docentes. Meio Ambiente.
A nossa sociedade
carece cada vez mais de oportunidades. Em todos os setores sofremos as conseqüências
da atuação de maus gestores e da falta de políticas públicas que possam
minimizar as mazelas que assolam o país e o seu povo. Ela necessita de chances
nos campos do trabalho, da economia, da saúde e da educação. E a ordem de
importância desses itens para boa parte das pessoas, dependerá de sua posição
e situação social baseando-se na realidade enfrentada diariamente. Somos um
dos campeões deste tipo de desigualdade no mundo e essa “conquista” reflete
bem a realidade nacional. A falta da educação, e em especial a ambiental,
surge como um grande defeito entre aqueles que têm o papel de intervir nos
ambientes naturais em maior ou menor intensidade. A ausência de conhecimento ou
de interesse é gritante, elevando ainda mais os sérios danos causados a
natureza.
A educação pode e
deve ser a vertente da esperança para alcançarmos objetivos comuns ao bem
estar da coletividade. Partindo deste pressuposto, é que se pretende neste
trabalho, oferecer uma reflexão sobre a Educação Ambiental, considerando que
esta é uma alternativa para orientar as atitudes humanas no seu meio natural e
social, pois simboliza a busca de um novo pensamento, na tentativa de fazer com
que os agentes envolvidos percebam a visão da totalidade e não do mero papel
individual dentro de sua cadeia social.
Em linhas gerais,
pode-se dizer que a Educação Ambiental, conforme BRANCO (1998), é todo
processo cultural que objetiva a formação de indivíduos capacitados a
coexistir em equilíbrio com o meio. Processos não formais, informais e formais
já estão conscientizando muitas pessoas e intervindo positivamente, se não
solucionando, despertando para o problema da degradação crescente do meio
ambiente, buscando novos elementos para uma alfabetização ecológica. A
oficialização da Educação Ambiental no Brasil aconteceu através da lei
federal de nº 6.938, sancionada a 31 de agosto de 1981, que criou a Política
Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Apesar do atraso em relação às recomendações
da Conferência de Estocolmo, esta lei foi promulgada graças ao trabalho e
empenho de setores da sociedade.
Ressalta-se a importância
da Educação Ambiental para o desenvolvimento de uma postura crítica diante da
realidade, de informações e valores veiculados pela mídia e daqueles trazidos
de casa pelos alunos, devendo permitir a compreensão da natureza apresentada
nesse estudo, tentando resgatar a necessidade de participação dos educandos na
solução dos problemas ambientais, harmonizando as ações humanas em relação
à sua própria espécie e aos demais seres vivos do planeta, bem como ao
conjunto de fatores que compõem o ambiente. De
acordo com LEFF (2001), falar em uma consciência ambiental implica na busca e
na consolidação de novos valores na forma de ver e viver no mundo, a partir de
uma complexidade ambiental, que possibilita a construção de novos padrões
cognitivos na relação homem/natureza.
A problemática
existente com essa questão sócioambiental tem o seu pilar mestre no processo
educacional e na forma como ele é conduzido dentro dos ambientes escolares. A
educação é parte da solução e também do problema no nosso país. De acordo
com SOFFIATI (2002), a educação, em seu sentido mais amplo, enfrenta
acentuados problemas de qualidade e não alcançou patamares desejáveis de
democratização. Isto pode ser exemplificado pelos altos índices de
analfabetismo, crianças fora das escolas, escolas estruturais e pedagogicamente
falidas, etc. Esses são alguns exemplos, de um país que trata a educação
como custo e não como investimento.
A visão
compartimentada da Educação Ambiental, a pouca integração entre outras ciências,
a própria disciplina curricular nas escolas, faz com que o aluno não se
desperte para o seu papel de cidadão. A falta de preparação e atualização
dos professores, só para citar alguns problemas enfrentados pela nossa rede
educacional, demonstram o quanto temos a caminhar em busca
de dias melhores.. No entanto, percebe-se como é importante ter um ponto
de partida para se chegar a um objetivo, a definição seguinte reflete a
maneira de como deve ser vista e praticada a educação ambiental no país.
DIAS (1993), conceitua
a Educação Ambiental como um conjunto de conteúdos e práticas ambientais,
orientadas para a resolução dos problemas concretos do ambiente, através do
enfoque interdisciplinar e de uma participação ativa e responsável de cada
indivíduo e da comunidade. Assim, pode-se dizer que a Educação Ambiental é o
processo contínuo de capacitação do cidadão para que este participe
ativamente da conservação do Meio Ambiente, contribuindo, portanto, para a sua
qualidade de vida. Em outras palavras, a Educação Ambiental deve configurar-se
numa proposta de questionamento, devendo colaborar neste sentido, a escola como
um todo, de acordo com as relações que se dão no ambiente escolar, a família
e a sociedade de maneira geral.
A EA tem
como função ultrapassar as barreiras dos currículos escolares disciplinados
em conteúdos, muitas vezes sem ligação; devendo transpor a distância social,
adequando-se à realidade local, às necessidades e diferenças. Não é um
trabalho fácil, por isso exige um grande esforço coletivo, mas que pode
oferecer ótimos resultados e grandes benefícios.
Para Leonardo
Boff (2006), se quisermos garantir um futuro comum da Terra e da
humanidade, se impõem duas virtudes: a autolimitação e a justa medida, ambas
expressões da cultura do cuidado. Mas como postular essas virtudes se todo o
sistema está montado em sua negação? Desta vez, porém não há escolha: ou
mudamos ou nos pautamos pelo cuidado, nos autolimitando em nossa voracidade e
vivendo a justa medida, em todas as coisas, ou enfrentaremos uma tragédia
coletiva. A escola deve ter a capacidade de intervir nesse processo a fim de
evitar que nossos docentes façam parte dessa tragédia, não podemos permitir
que situações graves como esta continuem nos aterrorizando e comprometendo
nossas próprias vidas e a do planeta.
As transformações são
necessárias e a escola, acredita-se, deve exercer o seu papel, o que não
significa eximir outras esferas da sociedade de cumpri-lo também.
É nesse contexto que
a EA constitui-se em possibilidades de contribuir para uma educação de
qualidade, garantindo o respeito à singularidade de seus sujeitos. Nas palavras
de Reigota (2002, p.82), a partir da educação ambiental, “a escola, os conteúdos,
e o papel do professor e dos alunos são colocados em uma nova situação, não
apenas relacionada com o conhecimento, mas sim com o uso que fazemos dele e a
sua importância para a nossa participação política cotidiana.” O espaço
escolar pode oferecer, aos sujeitos envolvidos no fazer pedagógico diário, a
interlocução com os pressupostos da EA, como forma de contribuir para a reflexão
do modo de vida na sociedade contemporânea.
BARCELOS (2003, p.30)
acredita que: várias são as possibilidades de intervenção sobre os problemas
ecológicos que afetam nossa sociedade. Elas vão desde uma visão tecnicista
tipicamente moderna, que acredita na capacidade ilimitada da ciência de
resolver todos os problemas, até outra que procura entender esses problemas
como intrínsecos ao modo de vida de homens e mulheres e que, em função disso,
obriga-nos a reavaliar nossos modelos de pensar e agir em um mundo cada vez mais
interligado.
Analisando o exposto,
considerando as dificuldades em introduzir de forma satisfatória os parâmetros
de educação ambiental no sistema de ensino brasileiro é que se apresenta, a
seguir, meios e alternativas que consigam minimizar os problemas e modificando o
real quadro encontrado atualmente.
A Educação Ambiental é uma práxis educativa e
social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades
e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida
e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente. Nesse
sentido, contribui para a tentativa de implementação de um padrão
civilizacional e societário distinto do vigente, pautado numa nova ética da
relação sociedade-natureza (LOUREIRO, 2002).
A preocupação ambiental inserida nas várias áreas
do saber é decisiva. Na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais,
esses devem apontar a relação de seus conteúdos com o tema Meio Ambiente e
alguns destacar um bloco de conteúdos ou eixo temático que trate diretamente
da relação sociedade/natureza ou vida e ambiente. Isso retrata a dimensão do
trabalho que se deseja com essa questão, diante das necessidades impostas pela
realidade sócio-ambiental. É necessário um Projeto Curricular que seja
mediador entre uma determinada intencionalidade educativa e social e os
processos práticos de introdução da dimensão ambiental na rotina das aulas e
na escola como um todo (BONAFÉ, 1997), sugere
um projeto que inclua a dimensão ambiental de
um modelo escolar numa forma de entender, selecionar e valorizar
processos e produtos culturais, através de uma dinâmica organizativa da escola
.
Segundo BRASIL (1998),
cada professor, dentro da especificidade de sua área deve adequar o tratamento
dos conteúdos para contemplar o Tema Meio Ambiente. Essa adequação pressupõe
um compromisso com as relações interpessoais no âmbito da escola, para haver
explicitação dos valores que se quer transmitir e coerência entre esses e os
experimentados na vivência escolar, buscando desenvolver a capacidade de todos
para intervir na realidade e transformá-la. É fundamental trabalhar a partir
da visão que cada grupo social tem do significado “Meio Ambiente” e,
principalmente, de como cada grupo percebe sua economia, o seu ambiente e os
ambientes mais abrangentes em que está inserido. Para DIAS (1994, p. 8)
“[...] a Educação Ambiental se caracteriza por incorporar as dimensões
sociais, políticas, econômicas, culturais, ecológicas e éticas”, devendo
contemplar a sociedade como um todo, conseqüentemente, o planeta.
O trabalho pedagógico
com a questão ambiental requer empenho e, principalmente uma interação da
escola com os demais setores sociais. As atividades a ser desenvolvidas demandam
aspectos interdisciplinares que contribuirão para que a compreensão dos alunos
ocorra de maneira mais fácil, favorecendo o seu entrosamento e atuação junto
aos temas ambientais, passando assim, a fazer parte importante de um processo de
conhecimento e cooperação com o seu bem estar, dos outros, do meio ambiente e,
é claro, do planeta, permitindo que as próximas gerações também possam
usufruir dos enormes benefícios que a natureza é capaz de proporcionar.
A realidade da educação
em nosso país ainda não é a que sonhamos graves problemas ainda impedem um
bom desempenho escolar e resultados positivos do sistema de ensino. Esses
empecilhos repercutem no próprio desenvolvimento brasileiro, porém não
podemos esquecer que os danos ambientais aumentam assustadoramente, em conseqüência
da ausência de cuidados e do descaso provenientes da ação humana.
As escolas ainda não
disponibilizam do ensino baseado em temas transversais e/ou possibilitam que a
interdisciplinaridade faça parte de seus currículos escolares.
Muitas tragédias
naturais poderiam e poderão ser evitadas, só dependem do esforço e dedicação
de cada um de nós. Temos sido durante milhares de anos capazes de modificar o
meio em que vivemos para benefício próprio, mas não percebíamos o perigo que
estávamos correndo. Hoje, enfrentamos a resposta do que causamos. È hora de
“modificar” também, porém o que deve ser mudado são nossas atitudes e
pensamento em relação ao planeta, trabalhamos tanto para destruir, chegou a
hora de trabalharmos para reverter este triste quadro, antes que seja tarde
demais...
"Hoje nos encontramos numa fase nova na
humanidade. Todos estamos regressando à Casa Comum, a Terra: os povos, as
sociedades, as culturas e as religiões. Todos trocamos experiências e valores.
Todos nos enriquecemos e nos completamos mutuamente. (...)
(...) Vamos rir,
chorar e aprender. Aprender especialmente como casar Céu e Terra, vale dizer,
como combinar o cotidiano com o surpreendente, a imanência opaca dos dias com a
transcendência radiosa do espírito, a vida na plena liberdade com a morte
simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a felicidade discreta nesse mundo
com a grande promessa na eternidade. E, ao final, teremos descoberto mil razões
para viver mais e melhor, todos juntos, como uma grande família, na mesma
Aldeia Comum, generosa e bela, o planeta Terra” (Leonardo Boff, 2001).
BARCELOS, Valdo. Infância,
Imaginação e Ecologia: que lugar ocupam na formação de professores e
professoras? II Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental. Itajaí,
SC: 2003.
BOFF, Leonardo.
Casamento entre o céu e a terra. Salamandra,
Rio de Janeiro, 2001.
BOFF, Leonardo.Virtudes
para outro mundo possível II: convivência, respeito e tolerância. Petrópolis,
Vozes, 2006.
BONAFÉ, Jaume M. Proyectos Curriculares y Práctica Docente. Sevilla
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BRANCO, S. M. O meio
ambiente em debate. São Paulo: Moderna, 1998.
BRASIL,
Ministério da Educação.Políticas de melhoria da qualidade da educação:
um balanço institucional/Secretaria da Educação Fundamental. Brasília:
MEC/SEF, 2002.
BRASIL, Secretaria de Educação
Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio ambiente e saúde.
Brasília, MEC/ SEEF, 1997.
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interdisciplinares de educação ambiental. São Paulo: Global, 1994.
DIAS,G. F. Educação
ambiental: princípios e práticas. São Paulo:Gaia, 1993.
LEFF, E. Saber
Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis:
Vozes, 2001.
LOUREIRO, C.F.B. Educação
ambiental e movimentos sociais na construção da cidadania ecológica e planetária.
Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo:
Cortez Editora, 2002, cap. 3, p.69-107.
REIGOTA, Marcos. A
Floresta e a escola: por uma educação ambiental pós-moderna. 2ª
ed. São Paulo: Cortez, 2002.
SOFFIATI, A. Fundamentos
filosóficos e históricos para o exercício da ecocidadania e da educação.
Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez
Editora, 2002, cap. 2, p.23-67.
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