Atividades lúdicas em projeto de educação ambiental- experiência na Escola Nova

Atividades lúdicas em projeto de educação ambiental- experiência na Escola Nova


Rebeca Almeida Marques

Graduando em Ciências Biológicas/ Instituto de Ciências Biológicas/ Universidade Católica do Salvador e Estagiária de educação ambiental do Centro de Ecologia e Conservação Ambiental-ECOA/ICB/UCSAL. Universidade Católica do Salvador, Av. Prof. Pinto de Aguiar, 2589. Pituaçu- Salvador. 41740-090, BA- Brasil. E-mail: bekita87@gmail.com


Anderson Abbehusen Freire de Carvalho

Mestre em Ecologia e Biomonitoramento /Instituto de Biologia/Universidade Federal da Bahia e Especialista em Educação Ambiental/Universidade Católica do Salvador. Coordenador do Centro de Ecologia e Conservação Animal – ECOA / ICB / UCSAL. Email: andersonaf@ucsal.br


Sergio Santana Pinheiro

Graduado em Ciências Biológicas / Instituto de Ciências Biológicas / Universidade Católica do Salvador e Colaborador Trainee do Centro de Ecologia e Conservação Animal – ECOA / ICB / UCSAL. Email: spinheironeto@hotmail.com


Priscila Maria dos Santos Silva

Graduada em Ciências Biológicas / Instituto de Ciências Biológicas / Universidade Católica do Salvador e Colaboradora Trainee do Centro de Ecologia e Conservação Animal – ECOA / ICB / UCSAL. Email: cyllams@yahoo.com.br


Resumo


A educação ambiental é um vocábulo que cada uma das palavras possui sua representatividade, sendo uma de suas finalidades desenvolver uma sociedade em progresso constante. Desta forma, a educação ambiental é um processo educativo, devemos adaptá-la para cada pedagogia estudada. O presente trabalho objetivou investigar a funcionalidade de atividades lúdicas como ferramenta adicional no processo de ensino-aprendizagem, permeando objetivos de Educação Ambiental, junto à metodologia da Escola Nova. Foi realizado um levantamento bibliográfico sobre a metodologia inovadora da Escola Nova e selecionado o centro de ensino, tendo em vista seu interesse no projeto. Assim, foram elaboradas e aplicadas atividades lúdicas com o tema abordado na instituição e sondagem de opiniões por meio de questionários em relação às práticas realizadas. Optou-se pela utilização de kits ambientais - do Centro de Ecologia e Conservação Animal- ECOA; aplicação de jogos; produção de desenhos, cartazes e pinturas; utilização de músicas; demonstração de exemplares de animais vivos; visita ao ECOA e apresentação de vídeos educacionais. Foram coletadas opiniões de 19 crianças, da professora, da pedagoga e de duas mães de estudantes através da aplicação dos questionários. Concluiu-se que é imprescindível a aplicação de jogos, visita a instituições que realizem trabalhos de educação ambiental, utilização de cartazes e de animais vivos. É através das atividades lúdicas que os alunos desenvolvem habilidades e formam sua identidade de forma natural. Sendo assim, o emprego de projetos que auxiliem professores a utilizarem atividades práticas enfocando a educação ambiental é de extrema importância, pois estimula estudantes a se envolverem com as questões ambientais de forma agradável, espontânea e intensa.





1. Introdução


Educação Ambiental – EA é um processo no qual as pessoas aprendem como funciona o ambiente, como dependem dele, como o afetam e como promovem a sua sustentabilidade. É necessário conhecer os objetivos de um projeto de Educação Ambiental, que consiste em: consciência, conhecimento, comportamento, habilidade e participação (sendo estes interligados), para que se consigam bons resultados. (DIAS, 2004).


Para Evangelista e Soares (2008) a EA é um vocábulo em que cada uma das palavras possui sua representatividade: Educação indica os próprios fazeres pedagógicos necessários à prática educativa e Ambiental exprime a motivação da ação pedagógica. Educação Ambiental é, então, o que historicamente acostumou-se chamar de práticas educativas relacionadas ao meio ambiente, este envolvendo o ser humano, a natureza e suas relações.


Assim, considerando que a EA é um processo educativo indispensável à formação da mentalidade dos cidadãos de uma sociedade, deve-se conhecer qual a base pedagógica que orienta nossas ações no cotidiano escolar (ZAKRZEVSKI, 2003; BURNHAM, 1993).


Dentre as tendências pedagógicas, em 1882, surgiu a Pedagogia Tradicional (VEIGA, 1991), na qual a didática era uma disciplina normativa, um conjunto de princípios e regras que regulam o ensino no qual o professor instrui e os alunos “gravam” a matéria para reproduzi-la (LIBÁNEO, 1994). Dando seguimento a esta, surge a Tendência Tecnicista que está baseada na transmissão de conhecimento, de comportamentos éticos, práticas sociais e habilidades básicas para manipulação e o controle do mundo e do ambiente. As relações de ensino-aprendizagem podem ser explicadas de modo rigoroso, sistemático e objetivo (ZAKRZEVSKI, 2003).


De lá para cá, muitos modelos educacionais ganharam espaços no sistema escolar, inclusive a proposta construtivista de educação, que leva em consideração a realidade do aluno, vendo nele o próprio construtor de seu conhecimento, nas diversas relações com o meio. Dentro desta proposta educacional, destacamos o pensamento de Paulo Freire, que vem marcar a educação brasileira e mundial, com uma postura crítica, da função da escola e da formação que a mesma vem oferecendo para os educandos (NERY, 2005). Neste contexto, com a chegada da Pedagogia Renovada, os conhecimentos e a experiência da didática brasileira pautam-se no movimento da ESCOLA NOVA, que visa buscar por si mesmo o conhecimento. O professor passa a apenas orientar e o centro dos objetivos traçados é o aluno. Com esta nova pedagogia surgem atividades em grupo, pesquisas, experimentos, dentre outras técnicas (LIBANEO, 1994).


O método da ESCOLA NOVA não consiste na transmissão do conhecimento do mestre ao aluno e nem na criação de destrezas ou habilidades que eles não possuíam antes. A criança aprende por si mesma, com ênfase na aprendizagem por descoberta, cabe-lhe, pois, a escolha e a formação de técnicas. A missão do mestre se reduz a guiar e estimular o trabalho do aluno. O convívio professor-aluno constitui-se em uma relação não-autoritária, pois o mestre é um facilitador da aprendizagem, além de ser autêntico, aberto, enfatizando a relação pedagógica, participativa e dialógica (ZAKRZEVSKI, 2003; AGUAYO, 1965).

As propostas para a renovação do ensino de Ciências Naturais orientavam-se, então, pela necessidade de o currículo responder ao avanço do conhecimento científico e às demandas pedagógicas geradas por influência do movimento denominado Escola Nova. Essa tendência deslocou o eixo da questão pedagógica dos aspectos puramente lógicos para aspectos psicológicos, valorizando-se a participação ativa do estudante no processo de aprendizagem. Objetivos preponderantemente informativos deram lugar a objetivos também formativos. As atividades práticas passaram a representar importante elemento para a compreensão ativa de conceitos, mesmo que sua implementação prática tenha sido difícil, em escala nacional (PRADO, 1998).


Neste método, a avaliação está voltada à observação cotidiana e à participação dos alunos durante as dinâmicas propostas em classe. Outra ferramenta utilizada é a auto-avaliação (ZAKRZEVSKI, 2003). Assim como a metodologia da Escola Nova, em um programa de educação ambiental é necessária a realização da avaliação, que primeiramente deve considerar os objetivos e o público alvo do projeto, com suas características e contexto (LOUREIRO, 2003).

Desta forma, O jogo , por exemplo, se apresenta como uma ferramenta de avaliação a ser utilizada nos projetos de EA já que está intrinsecamente ligado à aquisição do conhecimento e à aprendizagem, sendo este enquadrado dentro de uma linha pedagógica muito utilizada atualmente, o Construtivismo (TELLES, 2002). A preocupação de desenvolver atividades práticas começou a ter presença marcante nos projetos de nsino e nos cursos de formação de professores, tendo sido produzidos varios materiais didáticos desta tendência (PRADO, 1998). É importante o desenvolvimento de atividades educacionais que visem o incentivo e a busca pelo conhecimento do ambiente em que vivemos. (PADUA e TABANEZ, 1997). Atividade lúdica é todo e qualquer movimento que tem como objetivo produzir prazer quando de sua execução, (MEDEIROS, 2008). Estas vêm sendo aplicadas em várias áreas do conhecimento, inclusive no ensino de Biologia (PADUA e TABANEZ, 1997).

Algumas importâncias do lúdico no ensino-aprendizagem são: facilitar a aprendizagem; ajudar no desenvolvimento pessoal, social e cultural; colaborar para uma boa saúde mental, preparar para um estado interior fértil; facilitar o processo de socialização; propiciar uma aprendizagem espontânea e natural e estimular a crítica e a criatividade (TESSARO, 2009). É uma pratica que privilegia a aplicação da educação que visa o desenvolvimento pessoal e a atuação cooperativa na sociedade,além de ser também instrumento motivador, atraente e estimulante do processo de construção do conhecimento (PATRIARCHA-GRACIOLLI, 2008) . A atividade lúdica em termos de educação ambiental vem se mostrando uma ótima alternativa de trabalho de formação docente, considerando-se o prazer e o divertimento na atividade, além do aprofundamento conceitual por meio da diversão (EVANGELISTA, 2008).

Dessa forma, o presente trabalho objetivou investigar a funcionalidade de atividades lúdicas como ferramenta adicional no processo de ensino-aprendizagem, permeando objetivos de Educação Ambiental, junto à metodologia da Escola Nova.

2. DESENVOLVIMENTO


2.1 Contextualizando o projeto


Inicialmente, foi realizado um levantamento bibliográfico e de colégios de Salvador que utilizam a metodologia da ESCOLA NOVA, com posterior seleção da instituição, tendo como critério o contato direto com profissionais do centro de ensino e o interesse em participar do projeto.

No bairro da Pituba, há uma instituição de ensino que utiliza o método da Escola Nova. Esta, surgiu em 1989 e tem como objetivos: levar o aluno a compreender o mundo em que vive; conquistar a autonomia; desenvolver a auto-estima e o equilíbrio pessoal; criar vínculos para uma interação social; reconhecer o outro, respeitando as diversidades; acessar o saber historicamente construído pela humanidade; manter o interesse pela aprendizagem, fortalecendo a capacidade de aprender a aprender e ampliar o conhecimento, bem como construir competências e habilidades específicas.

A escola atende aos níveis de educação infantil e ensino fundamental I. A turma que participou do estudo é 2º ano do ensino fundamental I (com idade entre 7 e 8 anos). O trabalho pedagógico da instituição é organizado por trimestre e apresentado às famílias através de reuniões, cartas informativas dos projetos e das seqüências didáticas desenvolvidas, bem como da socialização dos portfólios individuais e de grupo.

A referência teórica escolhida para a organização didática da escola é a Pedagogia por Projetos, cujos fundamentos podem ser encontrados nas obras de diversos educadores como Frenet e Dewey (LIBANEO, 1994), e, aqui no Brasil, nas idéias e ações de Anísio Teixeira (VEIGA, 1991). A Escola criou vínculos com o Centro de Ecologia e Conservação Animal – ECOA, grupo de pesquisa do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Católica do Salvador – UCSAL, cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) desde 2001 e que coordena programas de monitoramento de comunidades de animais em várias regiões do Estado da Bahia.


Dentre suas diversas linhas de trabalho, o ECOA tem dado importância significativa ao atendimento de escolas, principalmente as da rede pública, com o intuito de oferecer aos alunos e professores conhecimento específico e contato com a fauna e ecossistemas regionais, acreditando na contribuição para a formação de multiplicadores da proposta do ECOA. O atendimento ocorre todas as terças e quintas feiras, com duas linhas de trabalho: a escola vem ao ECOA, ou o ECOA vai à escola. São oferecidas palestras e exposições, a depender da solicitação ou expectativa da instituição de ensino.


Após a escolha da escola, foi realizada uma reunião com a diretora do colégio, coordenadora da turma e professora da série para expandir o conhecimento sobre a metodologia utilizada e a possibilidade da execução das atividades propostas.

Após a aceitação do projeto na escola, foi selecionada uma turma com 20 alunos do turno vespertino e realizado um encontro com os pais dos alunos, visando apresentar o projeto e coletar assinaturas do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seguindo a resolução CNS 196/96, documentando desta forma, a autorização da participação dos filhos no projeto e na divulgação da pesquisa. Na turma selecionada ocorreu a oportunidade de trabalhar com uma aluna autista que conta com o acompanhamento de uma pedagoga.

Após a escolha da turma, iniciaram-se as atividades lúdicas com os alunos. Foram observadas aulas de Ciências por um período de duas semanas sem fazer nenhuma intervenção, apenas integrando com os alunos, analisando e aprendendo a metodologia.

Com o auxílio da professora, foram selecionados livros relacionados ao tema do Projeto da Escola (Ciclos de Vida) e materiais lúdicos foram elaborados visando o desenvolvimento de atividades práticas envolvendo o meio ambiente. Assim, optou-se pela utilização de kits ambientais do ECOA; aplicação de jogos; produção de desenhos, cartazes e pinturas; utilização de músicas; demonstração de exemplares de animais vivos; visita ao ECOA e apresentação de vídeos educacionais. Além dessas atividades, foi realizada uma visita ao Centro ECOA para ampliar os conhecimentos aprendidos dentro da sala de aula e obter uma atividade na qual os alunos pudessem interagir com o meio ambiente.

As atividades foram realizadas no período de dois meses, uma vez por semana, no total de sete encontros na escola e um no Centro ECOA. Todos os encontros práticos foram realizados no Colégio com o tema: Ciclos de Vida, abordado pela professora na aula de Ciências. Com duração de duas horas por dia, o embasamento prático foi desenvolvido através do conceito de DIAS (2004) no qual os alunos aprenderam como funciona o ambiente, como dependem dele, como o afetam e como promover mudanças. A seguir estão descritos os jogos elaborados:



JOGO 01: Ciclo de Vida das Borboletas e Mariposas.

Materiais: Piloto preto, régua, confecção de cartelas tipo bingo (tamanho 3X3) com duplex colorido, em cujos quadrantes eram escritas as respostas às perguntas feitas e algo com que o aluno pudesse marcar na cartela sem danificá-la (ex: semente).

Métodos: Com este tema foi realizado um BINGO AMBIENTAL, com uma pessoa se encarregando de fazer as perguntas. Caso a resposta estivesse na cartela o aluno deveria marcar com a semente. Para vencer era preciso preencher três itens em seqüência vertical, horizontal ou diagonal. Para tornar o jogo mais divertido, ele foi realizado como um show de TV, cheio de prêmios divertidos. Antes de começar o jogo os alunos puderam dar sugestões.

JOGO 02: Ciclo de Vida dos Camundongos

Materiais: exemplares vivos de camundongos em diferentes estágios do ciclo de vida (animais procedentes do Centro ECOA), luvas, um estudo dirigido e gravuras da cadeia ecológica na qual os camundongos estão inseridos.

Métodos: Nesta atividade foi feito um estudo dirigido sobre o tema. Objetivou-se BRINCAR DE CIENTISTA. O animal foi colocado no meio da sala e os alunos ficaram em volta, com uma folha de papel, anotando as características observadas. Desta maneira, os estudantes desenvolveram uma atividade com caráter lúdico, utilizando a imaginação. No fim da observação discute-se a importância dos camundongos no meio ambiente. Termina-se a atividade mostrando o papel desses animais na cadeia ecológica, através de gravuras.

JOGO 03: O que interrompe o ciclo de vida dos animais?

Materiais: Nessa atividade só há necessidade de papel, caneta e criatividade, além da disposição do educador.

Métodos: Este jogo é popularmente conhecido por MORTO-VIVO, que nesta brincadeira chamaremos do ERRADO-CERTO. Pede-se para que os alunos escrevam atitudes certas e erradas que atinjam o ciclo de vida dos animais. Além das respostas deles, o educador também deve escrever algumas atitudes para melhorar a brincadeira. (Ex: desmatamento). Depois disto, recolhem-se os papéis dos alunos e pede-se que eles se levantem e espalhem-se na sala. O educador deve falar cada quesito, e quando a resposta estiver certa o aluno deve ficar em pé (vivo); caso contrário deve abaixar (morto). Caso algum aluno erre sairá da brincadeira, mas tem a possibilidade de entrar novamente se um amigo quiser responder alguma pergunta sozinho e acertar. É importante ressaltar que, ao final da atividade, se todos (ou a maioria) estiverem ainda brincando, é imprescindível o elogio. Após a brincadeira, o educador deve falar, de maneira coerente, sobre o significado do jogo, esclarecendo que se as atividades abordadas (as que não prejudicam o ciclo de vida dos animais) não forem realmente realizadas no dia-a-dia é bem capaz que em um futuro não muito distante todos estejam mesmo “abaixados”, com risco de não continuarem mais vivos.

JOGO 04: - Ciclos de Vida e Coleta Seletiva

Materiais: Para essa prática foram utilizadas cartolinas coloridas, desenhos, caixas representando a coleta seletiva, barbante e outros materiais. É necessário um ambiente amplo.

Métodos Para realizar essa atividade e alcançar seus objetivos será necessária a criatividade do educador. Chama-se CAÇA AO TESOURO. Primeiramente separa-se o grupo em quatro equipes. A verde representa a rã-vidro, a azul representa os seres humanos-papel, a vermelha as borboletas-plástico e a amarela o camundongo-alumínio. Cada equipe só se responsabilizará por recolher o material que tiver, em cima da caixa, o desenho do seu grupo. Neste trabalho é bom estabelecer regras (como o cuidado na corrida e a delimitação do espaço). Feitas as perguntas abordando o tema, o grupo terá que se deslocar até a placa da resposta onde encontrará a próxima pergunta dentro da caixa (ex: a primeira pergunta refere-se ao local onde os filhotes de seu grupo estão antes de nascer; a equipe azul acerta a pergunta e irá andar até a placa da resposta “dentro do útero”, porém deverá levar o material da caixa). Sendo assim cada equipe estará, sem perceber, recolhendo o lixo e separando-o para coleta seletiva. Ao final da atividade, o tesouro foi um pacote com sementes. O educador conclui a atividade passando para o aluno a responsabilidade de não jogar lixo no chão, pois este é um grande passo para se encontrar o “tesouro”, isto é, a conservação do ciclo de vida de todos os indivíduos.

Como ferramenta de avaliação do projeto, foram utilizados questionários, a atividade avaliativa da escola em estudo, análise das atividades lúdicas realizadas e produção de um manual para servir de material didático complementar aos professores. No presente estudo, tratamos dos resultados obtidos com a aplicação do questionário.


Finalizando o projeto com os alunos, foi realizada uma reunião com a orientadora da turma, a professora, a pedagoga, estudantes e pais, com o objetivo de fazer uma retrospectiva das atividades desenvolvidas e colher opiniões com a utilização de um questionário. Nessa reunião, foi feita uma apresentação oral, narrando as atividades que as crianças realizaram, e ao fim, expondo os trabalhos feitos pelos alunos, como cartazes, desenhos, pinturas e atividades lúdicas.


Os entrevistados receberam uma folha de papel com duas perguntas: “Qual a atividade realizada de que eu mais gostei?” e “De qual atividade eu assimilei melhor o assunto?”. Abaixo havia lacunas com as 11 atividades: utilização de animais vivos, observação de vídeo educativo, pintura de borboleta e mariposa, jogo 01; bingo ambiental, jogo 02; brincando de cientista, utilização de música, plantio de feijão, jogo 03; morto-vivo, criação de cartazes, visita ao Centro ECOA e jogo 04; Caça ao tesouro. Foram selecionadas com o numero 1, 2 e 3 a preferência.


No caso da professora regente e da pedagoga que acompanhou o projeto, elas deviam responder as perguntas analisando o proveito da atividade para a criança. Foi elaborado outro questionário para os pais, com a finalidade de saber se os alunos foram agentes multiplicadores.



2.2 Análise do questionário.


O questionário é um instrumento de recolha de informações, utilizado numa sondagem ou inquérito. Sua aplicação possibilita uma maior sistematização dos resultados obtidos, permite uma maior facilidade de análise bem como reduz o tempo que é necessário despender para recolher e analisar os dados (AMARO, 2005).

Existem dois tipos de questões: as de resposta aberta e as de resposta fechada. A primeira permite ao inquirido construir a resposta com as suas próprias palavras, permitindo deste modo a liberdade de expressão. E a segunda são aquelas nas quais o inquirido apenas seleciona a opção (dentre as apresentadas), que mais se adequa à sua opinião (AMARO, 2005).

Embora nem todos os projetos de pesquisa utilizem o questionário como instrumento de (recolha) e avaliação de dados, este é muito importante na pesquisa científica, especialmente nas ciências da educação (AMARO, 2005).

Foram coletadas opiniões de 19 crianças, da professora, da pedagoga da aluna autista e de duas mães de estudantes, através da utilização de questionários mistos (com questões abertas e fechadas).



- Alunos:

Com os alunos, obtiveram-se os seguintes resultados: em relação às atividades de melhor aprendizado destacaram-se a visita ao centro ECOA, a realização do jogo 04 e a confecção de cartazes. Segue abaixo quadro explicativo.


- Quadro 01: Retorno de aprendizagem X Opinião de alunos.


APRENDER

1ª opção

2ª opção

3ª opção

TOTAL

Animais vivos

0

4

4

8

Vídeo

0

1

1

2

Pintura

0

1

0

1

Jogo 01

0

3

1

4

Jogo 02

1

0

2

3

Música

0

0

1

1

Plantar Feijão

1

2

2

5

Jogo 03

0

2

1

3

Cartaz

1

4

4

9

Visita ao ECOA

10

0

1

11

Jogo 04

6

2

2

10


Quanto ao interesse dos alunos enfatizaram-se o jogo 04, a visita ao ECOA e os animais vivos. Segue abaixo quadro explicativo.


- Quadro 02: Atividade de maior afeição X Opinião dos alunos.


AFEIÇÃO

1ª opção

2ª opção

3ª opção

TOTAL

Animais vivos

4

4

0

8

Vídeo

0

0

0

0

Pintura

0

0

1

1

Jogo 01

1

2

3

6

Jogo 02

1

2

0

3

Música

0

0

0

0

Plantar Feijão

1

0

3

4

Jogo 03

0

3

2

5

Cartaz

0

0

0

0

Visita ao ECOA

3

4

5

12

Jogo 04

9

4

5

18


COSTA (2004) afirma que os zoológicos de hoje buscam técnicas eficazes para a preservação da fauna silvestre e, ao mesmo tempo, realizam trabalhos de Educação Ambiental que, nos dias atuais, está incluída entre os principais objetivos dessas instituições. Assim como o zoológico, o Centro de Ecologia e Conservação Animal desenvolve atividades de educação ambiental de extrema importância para a conscientização das pessoas, mostrando a importância da conservação da biodiversidade.


Analisando que aproximadamente 57% da turma descreve que a visita ao ECOA, traz melhor retorno de aprendizado e 63 % relata que esta atividade acarreta maior afeição, comprova-se o interesse dos alunos em visitar instituições que promovam contato com o meio ambiente.

Com relação ao jogo, TESSARO (2009) acredita que toda a atividade de caráter lúdico pode trazer aprendizagem, ele é essencial na vida da criança. Sendo que as intervenções lúdicas são fundamentais no papel do educador que precisa estar em sintonia com os alunos (BAIA, 2009). Transformando o ato de brincar um caminho natural, pois brincando aprende a socializar-se com outras crianças, desenvolve motricidade, criatividade, sem medo ou cobrança, mas sim com prazer. (CUNHA, 20010.


Observando-se as resposta dos alunos, vê-se que 18 dos 19 estudantes, aproximadamente 94%, marcaram que o jogo 04 (Caça ao Tesouro) foi a atividade de maior afeição e 52% da turma descreve esta como a que apresenta melhor retorno de aprendizado.


Analisando os jogos realizados podemos observar três características importantes para seu desenvolvimento: movimentação corporal e de espaço, raciocínio lógico e recebimento de brinde. No bingo ambiental, os alunos ficavam restritos a seus assentos, no jogo 02 (brincado de cientista) não ocorreu movimentação de espaço e não obtiveram brindes, no morto-vivo não havia brindes enquanto o caça ao tesouro teve as três características. Conclui-se que um jogo requer dinâmicas importantes para ganhar satisfação de quem realiza.

A criação de cartazes desenvolveu a criatividade do aluno a expressar determinado contexto. Dado o assunto, o aluno pesquisou sobre o tema, expôs suas idéias na cartolina e as apresentou para a turma. Observa-se que 47% dos alunos acreditam que a utilização de cartazes acarreta melhor aprendizado. Esta atividade propôs ao estudante assimilar dados, transformá-los em conhecimento e assim possuir domínio para transmitir informações.


Com relação à utilização de animais, Abbehusen e Tinoco (2000) relatam que estes podem dar grande suporte ao processo educativo. O estudante cria respeito, carisma e sentimento de reflexão para a vida selvagem. Observou-se que os alunos, ao entrar em contato com a lagarta ou a fêmea do camundongo, no primeiro momento tiveram rejeição pela aparência do animal.


No desenvolver do projeto surgiram especulações sobre os acontecimentos, e assim preocupação e vínculo com o ser vivo. Situação que podemos observar se analisarmos que 8 dos 19 estudantes, 42% dos alunos, indicaram esta atividade como a mais interessante e de melhor proveito pedagógico. A oportunidade de observar o ciclo de vida dos animais com situações reais trouxe êxito, pois colheu valores e atitudes positivas rompendo paradigmas.


- A Professora e a Pedagoga:


De acordo com a professora regente, as atividades mais interessantes foram os animais vivos, a visita ao Centro ECOA e o jogo 01 (Bingo Ambiental). Justificou-se enfatizando suas diversidades lúdicas, a possibilidade da observação e o contato com ricos materiais, além da presença de uma pesquisadora no grupo, esclarecendo todas as dúvidas.


Analisando o aprendizado dos alunos, a professora destaca a visita ao Centro ECOA o vídeo educativo e os animais vivos. Diz ela: “Não é exatamente nesta seqüência, analiso do ponto de vista de um adulto, pois acredito que para as crianças os jogos foram mais significativos, devido à sua ludicidade”. Finalizando o questionário a professora acrescenta que gostou de todas as atividades, só lamenta o tempo curto para realizar observação e registro.


Na opinião da pedagoga, o contato com os animais vivos, plantar feijão e o jogo 04 (Caça ao Tesouro) foram às atividades mais interessantes. Justificou esclarecendo que essas atividades são desenvolvidas de maneira prática, deixando um pouco a teoria de lado, concluindo que a matéria de Ciências Naturais deveria ser elaborada dessa forma. Deve-se acrescentar que ela não visitou o ECOA.


Relacionando as atividades com o aprendizado destacou o contato com animais vivos, jogo 02 (Brincando de Cientista), Plantar Feijão e o jogo 04 (Caça ao Tesouro). Diz ela: “Através da pesquisa de campo se desenvolve melhor a aprendizagem, principalmente para Ticiana (aluna autista), pois pode colaborar com as atividades de forma mais participativa”. Concluiu que as experiências realizadas foram ótimas, desenvolvidas de maneira bastante clara e simplificada, e, assim como a professora regente, questionou apenas o tempo curto.


- Familiares maternos


Foi elaborado outro questionário com mesmo embasamento teórico. A primeira pergunta estava relacionada com as atividades realizadas: “Seu filho comentou algo relacionado com as atividades abaixo?”. Segue abaixo quadro explicativo.


- Quadro 03: atividade comentada X opinião das mães.



Mãe 01

Mãe 02

Animais vivos

X

X

Vídeo

X


Pintura



Jogo 01

X


Jogo 02

X


Música



Plantar Feijão

X

X

Jogo 03

X


Cartaz

X

X

Visita ao ECOA

X

X

Jogo 04




Logo após indaga: “Qual comentário seu filho relatou sobre as atividades?”. A mãe 01 descreve: “Léo falava sempre das visitas de Rebeca com muito entusiasmo, a manipulação de camundongos e contava um pouco de cada atividade marcada”. Já a mãe 02 ressalta que o filho gostou muito da visita ao ECOA. No terceiro quesito, o questionário pergunta: “Você observou alguma mudança no seu filho relacionada à preocupação com o meio ambiente, no período de outubro e novembro?”. A mãe 01 narra: “Neste período passaram muitas reportagens na televisão sobre o assunto e Léo se mostrava muito interessado. Observei que Léo domina muita coisa sobre o tema”. A mãe 02 diz: “Algumas poucas mudanças, discreta, mais acontece”.

Com isso, podemos analisar que os alunos transmitiram o conhecimento aprendido através do diálogo com os parentes e o incentivo da busca de maiores informações sobre o tema.

De acordo com CARDOSO (2009), pela linguagem nos tornamos homens sociáveis, permitindo o dialogo e a transmissão de conhecimentos, costumes e tradições às gerações seguintes. Nesse sentido, coube à educação escolar a tarefa de transmitir a cultura, os códigos sociais e o conhecimento adquirido até então. Visto que, sem essa comunicação a criança não terá como se apropriar dos instrumentos à sua frente, logicamente a educação e o conhecimento fazem a humanidade evoluir pelo simples fato de darmos continuidade às aptidões históricas já construídas.



3. Considerações finais


Partindo do pressuposto de que a Didática tradicional está defasada e desconectada da realidade atual, ou seja, não valoriza os conhecimentos trazidos pelos alunos nem a forma peculiar que cada um tem de aprender (BORGES e ORLEANS, 2009), a Escola Nova surge como uma excelente proposta pedagógica já que esta visa o processo de aprendizagem por descoberta, em que os alunos aprendem fundamentalmente pela experiência e o descobrimento por si mesmo (ZAKRZEVSKI, 2003).


De acordo com esta tendência, a atividade do professor implica no bom domínio de um conjunto de estratégias de atuação que auxiliem a motivação de estudar dos alunos. Desta forma, as atividades lúdicas aparecem como tática a educadores que se interessam em promover aulas dinâmicas, pois estas constroem uma base sólida para toda vida, sendo capazes de atuar no desenvolvimento cognitivo e emocional de forma natural e harmônica.


Conforme TESSARO (2007) o educador deve observar com mais atenção o que pretende ensinar aos estudantes, que tipo de cidadãos pretende-se formar, por que é através de jogos e brincadeiras que cada um se desenvolve e forma sua identidade. As crianças aprendem brincando e jogando! Esta afirmação é incontestável. Observa-se o grau superior de desenvolvimento da criança que brinca, médicos diagnosticam o efeito devastador de uma infância reduzida sem tempo para atividades lúdicas e recreativas.


No presente estudo, vale ressaltar que a realização dos jogos possibilita um desenvolvimento maior no grau de aprendizado da criança. Estas conseguiram assimilar claramente o assunto abordado pela professora e mostraram melhor sensibilização as questões ambientais. Desta forma, para efeito de finalização do estudo abordado, concluí-se que o desenvolvimento do projeto apresenta como alternativa eficiente na utilização de atividades lúdicas enfocando educação ambiental tanto na pedagogia da Escola Nova como em diversas tendências pedagógicas, já que o ato de brincar é o caminho natural do desenvolvimento humano.

4. Referências


ABBEHUSEN, A.F.C. TINOCO, M. A utilização de animais em programas de educação ambiental. Salvador: Programa de educação Ambiental, 2000.


AGUAYO, A. M. Didática da escola Nova. São Paulo: Editora Nacional, 1965.


AMARO, A. et Al. A arte de fazer questionários. Porto: Faculdade de Ciências da Universidade de Porto, 2005.


BAIA, M.C.F. “Ludicidade: aprendendo a conservar o parque ambiental de Belém para não acabar”. Revista eletrônica Educação Ambiental em ação, n. 30, ano VIII, Dezembro/2009-Fevereiro/2010.


BORGES, J.M.S. ORLEANS, R. A evasão escolar e a falta de motivação em sala de aula: o papel da didática aplicada. Salvador: Universidade federal da Bahia, 2009.


BURNHAM, F.T. “Educação Ambiental e construção do currículo escolar”. Caderno Cedes, São Paulo, V.29, 1993, p.21-30.


CARDOSO, C.C. “Educação ambiental crítica: contribuições para uma mente e um sistema sócio-econômico menos degradante”. Revista eletrônica Educação Ambiental em ação, n.27, ano VII, março/2009.


COSTA, G.O. “Educação Ambiental – Experiências dos Zoológicos Brasileiros”. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient., v. 13, 2004.


CUNHA, N.H.S. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. São Paulo: Vetor, 2001.


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