O ENSINO DA
DIVERSIDADE ANIMAL NO ENSINO FUNDAMENTAL
Édison
Cardoso Teixeira1,2
1.
VIDA
SILVESTRE – Grupo de Pesquisas em Ecologia e Conservação da Vida Silvestre. Rua
Arthur Bernardes, 43, Bom Sucesso, Gravataí, RS. E-mail: grupovidasilvestre@gmail.com
2.
Professor
do Município de São Leopoldo.
O mundo animal é hoje
descrito em mais de um milhão de espécies, porém estimativas apontam para um
montante três, ou até, cinco vezes maior que o número descrito. Adaptados a uma
diversificada gama de estilos de vida e habitats - além de apresentarem uma
variedade muito grande de modificações estruturais e funcionais - estão
presentes por toda superfície terrestre (Villee et al 1988; Pough et al 1999).
Dados,
que sofrem atualmente mudanças devido a criação de novos critérios usados no
reconhecimento de grupos naturais de organismos, incluindo aí a cladística,
apontam para a existência de 35 Filos dentro do
Reino Animal (Amabis e Martho, 1997; Machado, 2003). Inserido nestes,
calcula-se que do total de espécies descritas, 95% são de invertebrados.
Um exemplo clássico de toda esta grandeza é encontrado no grupo dos insetos. Os
insetos formam um grupo muito diverso, tanto taxonômica como ecologicamente.
Esses organismos formam o maior grupo do Reino Animal, sendo mais numerosos que
todos os outros, pois estão descritas pelo menos 800.000 espécies (três vezes
mais espécies do que todos os outros grupos de animais juntos). Estão
distribuídos por todo o mundo, das regiões polares aos trópicos e englobam
espécies que vivem em terra firme, águas doces, salgadas e termais. Além disso,
os insetos são responsáveis por inúmeras interações ecológicas, fundamentais
para a conservação e a preservação dos ecossistemas.
O
estudo do Reino animal (Metazoa), dependendo da maneira como é realizado,
apresenta-se como uma tarefa entediante se for direcionada a simples
memorização de listas de características de um grupo após o outro (Villee et al
1988).
No
âmbito escolar, costuma-se padronizar o estudo do Reino Animal, concentrando-se
nos Filos tidos como mais expressivos em tratando-se do número de espécies e da
adaptação a diversos ambientes. Neste contexto o mundo escolar aborda nove
Filos, dos quais apenas um representa espécies de animais vertebrados. Este
último grupo, por sua vez, é o grupo mais lembrado quando o assunto é o Reino
Animal. Isto se deve, em parte, a má abordagem do tema na sala de aula em
séries anteriores e mesmo a vivência direta do aluno fora de sala, onde observa
nos vertebrados os “verdadeiros” animais que aparecem a sua volta.
O
estudo do fascinante mundo animal torna-se mais prazeroso e instigante se
abordado com ênfase nas relações entre o organismo como um todo (morfologia,
fisiologia,
etologia)
para com o meio físico e para com a comunidade
biológica em que se insere, bem como levando em conta a adaptação
(aí novamente abordando a morfologia, fisiologia e etologia) refletindo a sua
origem evolutiva (tendo em vista que toda diversidade animal é o resultado
direto da evolução), comparando este com os demais grupos (Villee et al
1988; Pough et al 1999).
Dados
de Biogeografia
e Zoogeografia
são essenciais para instigar o aluno a buscar entender a diversificação animal
em diferentes pontos do globo. A ênfase na diversidade
local, associado aos biomas e a formação da paisagem
onde se insere o alunado em questão, também é uma ferramenta que deve ser bem
explorada. Desta maneira fica mais fácil e “real” o estudo do grupo animal,
tendo como vista a vivência dos alunos com os organismos estudados na escola.
Tendo
em vista uma abordagem que absorva estas premissas, foram lecionadas aulas de
ecologia para diferentes turmas de duas escolas estaduais do Estado do Rio
Grande do Sul, no município de Novo Hamburgo: uma sexta série do ensino
fundamental e um terceiro ano do ensino médio.
Para
o desenvolvimento das atividades planejou-se e seguiu-se um cronograma de
etapas pré elaborados:
·
Em um primeiro momento foram
lançadas as seguintes questões aos alunos:
1- Procurar conceituar e com isso discutir o
significado das palavras grifadas que aparecem no texto;
2- Fazer uma lista dos 20 organismos que “venham a
cabeça” quando se fala em Reino Animal, descrevendo para cada um o ambiente em
que pensem que estes vivam, e com que outros organismos se relacionam;
3- Buscar classificar estes organismos listados em
vertebrados e invertebrados. Discutir o resultado.
·
Em um segundo momento, após análise
das respostas e debates coletivos, foram lançados textos e endereços
eletrônicos para que os alunos pesquisassem a distribuição da diversidade
animal em nosso estado, bem como entendessem a classificação destes organismos.
·
No terceiro momento (o mais
aguardado pelas turmas!) foi efetuado uma saída a campo onde a turma de ensino
fundamental foi levada a uma praça de fronte a escola (desta forma trabalhou-se
uma área inserida no dia a dia do aluno pela área ser parte da paisagem social
onde se encontra a escola) e o ensino médio a uma Unidade de Conservação
(Parque Nacional dos Aparados da Serra – visando discutir aspectos
biogeográficos do estado).
Em campo os alunos desenharam, fotografaram e
anotaram dados diversos sobre as diferentes espécies animais avistadas: local
de avistamento, características físicas, comportamento, entre outros (Anexo 1).
Todos dados foram então analisados e estudados em sala de aula.
·
Por fim, em um momento póstumo os
dados coletados foram filtrados e apresentados em seminários ofertados pelos
alunos, mediante orientação do professor.
O resultado do trabalho foi surpreendente. Muitos
alunos solicitaram que outras disciplinas se envolvessem em trabalhos
semelhantes, ou mesmo como implementação deste modelo. Com isso percebesse que
alternativas simples acabam conquistando a atenção do aluno mesclando isso a um
melhor desenvolvimento do processo de ensino aprendisagem.
Referências
Bibliográficas
Amabis, J.M. & Martho,
G.R. Fundamentos da Biologia Moderna. Segunda Edição Rev. São Paulo, Editora Moderna, 1997.
662pg.
Machado, S. Biologia
Para o Ensino Médio: Volume Único. Primeira
Edição. São Paulo, Editora Scipione, Coleção De Olho no Mundo do Trabalho 2003.
536pg.
Pough, F.H.; Heiser, J.B.
& Mcfarland, W.N. A Vida dos Vertebrados. Segunda Edição. São Paulo, Editora Atheneu, 1999. 799pg.
ANEXO I
Modelo utilizado no projeto como planilha de
campo
N° do Grupo |
Componentes |
Área |
Data |
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Animal |
Filo |
Hora |
Atividade |
Local |
Anotações |
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N°
do Grupo = número determinado pelo professor para cada grupo de seis alunos;
·
Componentes
= nome dos integrantes de cada grupo;
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Área
= local da saída de campo;
·
Data
= dia, mês e ano da saída;
·
Animal
= descrição ou nome do animal avistado;
·
Filo
= classificação básica do animal (em sala de aula esta classificação será
avaliada e determinada);
·
Hora
= hora do avistamento do animal;
·
Atividade
= comportamento do animal avistado;
·
Local
= descrição detalhada do local de avistamento (ex: sobrevoando uma figueira;
embaixo de folhiços em um solo úmido próximo a um declive de mais ou menos
40°);
·
Anotações
= campo livre para o aluno anotar questões diversas sobre o avistamento e local
de avistamento.