Entrevista com 
Declev Reynier Dib-Ferreira, para a 35ª Edição da Educação Ambiental em Ação 
Por Bere Adams
 
Declev – Às vezes 
sim, muitas vezes não. A escola não é feita para nada mais do que manter as 
crianças sentadas em sala de aula, olhando para um quadro. Qualquer coisa que 
você tenta fazer fora disso, dá muito trabalho, dor de cabeça e te faz trabalhar 
mais do que você ganha. Mas, mesmo assim, há professores que tentam, que fazem. 
Eu já desenvolvi alguns projetos de EA nas escolas com muito sucesso, quando as 
condições deixaram. Mas um processo contínuo, sistemático, eu não vejo. São mais 
comuns ações isoladas. Gostaria de um dia poder quebrar esse gesso que imobiliza 
a escola, desfazendo salas de aulas, unindo professores de diversas disciplinas, 
flexibilizando o horário...
Declev – Foram 
algumas, mas posso destacar um projeto que desenvolvi por quatro anos na escola 
de Niterói, quando desenvolvemos diversas atividades no contra-turno: estudo da 
geografia e maquete do bairro; teatro; arte; poesias; pesquisa da história da 
escola; passeios a locais turísticos e naturais da cidade, dentre outras.
REAEA – A EA se 
fundamenta na interdisciplinaridade, porém, muitos professores não conseguem 
efetivá-la de forma conjunta por falta de um ponto integrador que favoreça o 
planejamento de ações de EA em todas as disciplinas. Como você vê essa questão e 
o que você sugere para os docentes que buscam trabalhar a EA abrindo um leque da 
sua para as outras disciplinas? 
Declev – Pois é, 
como eu disse, a escola de hoje é tão “cimentada” que é difícil mexer em 
qualquer coisa que a mude. É muito difícil para o professor, por exemplo, sair 
de sua “matéria” quando ele entra na escola e tem que entrar em sala de aula e 
dar conta de uma turma de 25-30-40 ou até mais alunos. Tenho conhecimento de 
turmas com 70 alunos em escolas do Estado! O professor sai de uma sala e entra 
em outra ininterruptamente, até que chega a hora dele ir embora. Aí ele tem que 
ir a outra escola e fazer o mesmo: pular de sala em sala “ensinando” sua 
disciplina. Não há tempo para se encontrar, para planejar, para pesquisar, para 
desenvolver nada diferente. Quando há tempo de planejamento – que é o caso de 
Niterói, em que tempos 2 tempos semanais juntos – nem sempre ele é bem 
aproveitado. Ademais, se quisermos fazer algo integrado será quando? Quando 
estamos na escola estamos um em uma sala, outro em outra, outro em outra... Cada 
um tendo que dar conta de sua turma, até que bata o sinal e troquemos... Parece 
insano, e é. Se quisermos fazer algo diferente, temos que ir além do nosso tempo 
de trabalho, aí muitas vezes é impossível ou não é interessante para nós como 
profissionais. O que eu sugiro é muita criatividade, muita pesquisa, muita 
insistência. Eu sempre penso em desistir, mas estou sempre, por outro lado, 
pensando em como posso fazer. Daí surgem ideias e eu busco aqueles professores 
que eu sei que pensam parecido comigo, que sei que gostariam de ajudar em um 
trabalho conjunto e é neles que eu me apoio. Desta parceria pode surgir algo 
novo, algo em que vários profissionais participem. Nunca serão todos, então 
trabalhamos com quem quer.
Declev – 
Participação em primeiro lugar. Educar ambientalmente é educar para a 
participação, para a luta, para a política, para a mudança. E isso nunca é só. 
Outro conceito pode ser a outridade, o pensamento no outro, enquanto nós mesmos.
REAEA – e quais os 
principais autores (e obras) que você considera fundamentais para a compreensão 
da EA? Fale-nos um pouco sobre eles. 
Declev – Há hoje, 
no Brasil, muitos bons autores em EA, cada um deixando sua marca e sua mensagem. 
Alguns nos fazem pensar sobre nossas ações e nos ajudam a elaborá-las, outros 
nos ajudam a definir melhores caminhos. Lembro que Philippe Layrargues, por 
exemplo, ajudou a moldar minha visão de educação ambiental relacionada a 
resíduos sólidos, quando li “O cinismo da reciclagem...”. Lembro que fui a ele, 
meio confuso, e perguntei se ele era contra a reciclagem. Hoje em dia, vêm a mim 
com a mesma pergunta... Mas não é uma questão de ser contra ou a favor, mas sim 
o uso político, ideológico e mercadológico que se faz da reciclagem. Uma longa 
discussão. Outro autor que me mostra caminhos é o Mauro Guimarães, mas também 
posso citar o Frederico Loureiro, o Marcos Sorrentino, a Rachel Trajber (estes 
dois últimos também mostraram na prática, ele no MMA, ela no MEC, como 
pensamentos podem se tornar ações, o que muitas vezes não vemos em outros 
autores). O Genebaldo Dias tem uma obra importante, pois compila muitas 
informações necessárias ao entendimento da história da EA. O Alexandre Pedrini 
caminha por diversas trilhas diferentes, buscando o aprofundamento teórico da EA. 
Enfim, são muitos autores e autoras importantes no Brasil. É até um pouco 
injusto não falar de todos, peço desculpas aos que eu não citei, mas a lista 
seria muito extensa. 
REAEA – É, por 
vezes, difícil de fazer uma seleção de autores e obras, pois temos uma turma 
grande dando sua contribuição para a EA brasileira, mas os que você destacou 
certamente abrirão caminho para que as pessoas busquem mais referências para a 
sua ação educacional.  E sobre as ações governamentais dos últimos anos, o que 
você destaca, que evidencia avanços e/ou retrocessos  para a EA no País?
Declev – Hoje 
temos leis federais e estaduais de educação ambiental. Isso é um avanço, mas 
sabemos que muitas leis se tornam letra morta no Brasil, o que pode ser 
perigoso. Por isso, avanços reais são as ações que buscam fazer as leis saírem 
do papel. A implementação do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação 
Ambiental e o Comitê Assessor, por exemplo, foi um avanço neste sentido. Muita 
coisa se fez, especialmente na gestão do Sorrentino (MMA) e Rachel (MEC). A 
implementação, pelos Estados, das Comissões Interinstitucionais de Educação 
Ambiental (CIEAs) é outro avanço, especialmente nos Estados em que elas são, de 
fato, fortalecidas. As Conferências Infanto-Juvenis pelo Meio Ambiente tenho 
certeza de que plantaram algumas sementes em muitas escolas. A Sala-Verde foi 
outro projeto importante, que espalhou locais de pesquisa e implementação de 
projetos pelo Brasil. Pena que muitas ações não têm continuidade quando mudam os 
gestores – isso faz parte dos retrocessos...
REAEA – Em relação 
ao meio ambiente propriamente dito, você considera a EA como promissora para a 
reversão necessária dos problemas ambientais que enfrentamos?
Declev – Depende 
de que EA estamos falando. Se estamos falando, por exemplo, daquela que manda 
“fechar a torneira” para economizar água ou “fazer xixi no banho”, não. Se 
falamos daquela que problematiza a questão da água, da sua captação, que faz 
relação com as nascentes e rios e com a importância de sua preservação, 
relacionando, por sua vez, esta questão com a agricultura, o plantio de 
eucalipto e o êxodo rural, que busca uma discussão política sobre a cobrança 
pelo uso da água, relativizando as responsabilidades de cada um – cidadão comum, 
poder público, grandes empresas, pequeno agricultor, grande latifundiário..., 
sim.
REAEA – Sua 
brilhante resposta ilustra de forma bem simples e clara a Educação Ambiental 
interdisciplinar, crítica, que envolve não só ações estanques. E sobre os 
adolescentes, você acha que as ações de EA têm conseguido sensibilizá-los? 
Declev – Sim e 
não. Fala-se hoje em dia muito mais destas questões, o que é reflexo também da 
mídia, mas, muitas vezes, a EA que prepondera é aquela primeira citada acima. E, 
com ela, o nosso alcance é muito limitado. Quer dizer, a pessoa sabe, mas só faz 
se lhe interessa, se tem algum ganho. Não é uma educação que seja internalizada, 
que seja desinteressada, que seja pelo coletivo. Basta dar uma olhada nas 
pesquisas, que apontam o conhecimento maior das questões e problemas ambientais, 
mas um limite da participação das pessoas. Se ela tiver algum ganho direto, faz, 
participa, ajuda; se não tiver, não faz.
REAEA – E como é a 
participação deles nos Coletivos Jovens (CJ)? Você acompanha esse trabalho?
Declev – Não tenho 
acompanhado diretamente, mas sei que a entrada em um Coletivo Jovem é muito 
importante para a inserção do jovem nos processos participativos. Em conjunto 
temos mais força, temos mais ideias, temos mais ações. Vejo, nos trabalhos que 
desenvolvo, jovens ficando muito empolgados com a perspectiva de participarem do 
CJ. É uma questão de fazer parte de algo, de se unir e se sentir útil e mais 
forte. E o CJ acaba sendo uma escola muito importante para a continuidade das 
ações que a pessoa fará no futuro. 
REAEA – Bem, antes 
da última pergunta, fale-me o que você acha dos programas Sala Verde e Coletivos 
Educadores do Ministério do Meio Ambiente (MMA) . Qual é, para você, a 
contribuição destes projetos para a Educação Ambiental do País?
Declev – Já citei 
a Sala Verde acima, e a acho um programa muito interessante. Espalha informações 
e “chancelas” do MMA por todo o Brasil. Isso fortalece instituições para 
desenvolverem seus próprios projetos, une as pessoas por um mesmo ideal, troca 
informações, enfim, há uma série de benefícios diretos ou indiretos. Acho que o 
programa deve ser fortalecido, o que infelizmente não foi feito depois da saída 
do Sorrentino. Vamos torcer agora com a nova mudança. Quanto ao Coletivos 
Educadores, não tenho uma opinião totalmente formada. Acho o conceito também 
muito interessante, a ideia é fantástica. Mas não sei ao certo onde e o quanto 
este programa, de fato, funcionou. Talvez tenha que ser remodelado e/ou buscado 
novas e eficazes estratégias para sua implementação. Isso faz parte do caminho. 
O simples abandono dele, não.
REAEA - Tem 
previsão de quando sairá o VII Fórum de EA?
Declev – Não tenho 
previsão. Ficou definido que a Bahia sediará o próximo Fórum, organizado pela 
REABA (Rede de Educação Ambiental da Bahia). Falou-se em 2011, mas para este ano 
é improvável, então, quem sabe em 2012? Precisamos de novas parcerias...
REAEA - Com 
certeza! Prezado Declev, encerrando nossa entrevista deixo-lhe nossos profundos 
agradecimentos pelo compartilhamento de suas ideias e sua valiosa experiência em 
Educação Ambiental, que certamente inspira reflexão e ação pelo seu exemplo de 
exercício da cidadania ambiental. Deixo link de seus blogs para que 
interessados(as) possam lhe conhecer melhor, e até fazer contato: 
http://declev.com/. 
Muito obrigada!