CONSCIÊNCIA AMBIENTAL: LEVANTAMENTO EM UMA
ESCOLA DE CURITIBA/PR
Graduada em Bacharelado e Licenciatura em Geografia (UFPR). Especialista
em Educação Ambiental e Sustentabilidade (UNINTER). Professora da SEED/PR.
Colégio Estadual Tiradentes EFM. R. Presidente Faria 625 – CEP: 80020-290.
Curitiba/PR. deboralopes@seed.pr.gov.br
O avanço da
tecnologia e a globalização levaram o homem a alterar sua relação com o meio
ambiente, pensando de forma cada vez mais mecanicista e imediatista, sem
preocupação com as possíveis conseqüências das suas ações. Diversos setores da
sociedade têm se organizado e buscado alternativas para estes problemas e uma
delas é a conscientização. Desta forma, a discussão da temática ambiental na
escola, é uma maneira de oportunizar ao educando uma reflexão crítica da
realidade a qual pertence, desde o nível local ao global. A presente pesquisa
realizou um levantamento com alunos do 9º ano do ensino fundamental em uma
instituição pública do município de Curitiba. O interesse em investigar essas
séries específicas deve-se a intenção de analisar como esses jovens estão
saindo do ensino fundamental, se receberam conhecimentos que os capacitaram ou
formaram com uma consciência ambiental, baseada em uma ética e valores
ambientais. Com a análise dos dados pretende-se apresentar um diagnóstico da
percepção dos educandos a cerca da questão ambiental, nos mostrando a
importância da Educação Ambiental no âmbito escolar.
Palavras-chave:
Educação Ambiental. Consciência Ambiental. Percepção Ambiental.
Introdução
No início da nossa civilização, os povos viviam
em equilíbrio com a natureza. Caçavam, pescavam, colhiam frutos para comer e
bebiam a água dos rios sem nenhuma preocupação com a poluição. Eram nômades,
por isso, quando os recursos de uma área tornavam-se escassos, as tribos
mudavam para outra região; assim, a área ocupada anteriormente podia se
recompor, não havendo, portanto, uma degradação tão intensa. No entanto, esse
quadro começou a mudar com o aumento da população e sua evolução, o homem
começou a degradar a natureza com as novas tecnologias que criou, modificando,
assim, a relação de respeito pelo meio ambiente, o qual também faz parte.
A Educação Ambiental surge como uma necessidade
das sociedades contemporâneas, na medida em que as questões socioambientais têm
sido cada vez mais discutidas e abordadas na sociedade, em decorrência da
gravidade da degradação do meio natural e social. Desta forma, a sistematização
destas discussões na escola, é uma maneira de oportunizar ao educando uma
reflexão crítica da realidade a qual pertence, desde o nível local ao global.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s), publicado em 1997 pelo
Ministério da Educação e Cultura inclui o meio ambiente como um dos temas
transversais nos currículos da Educação Básica, ou seja, como um tema que deve
ser trabalhado pelos professores de diferentes áreas do saber, não se tratando,
portanto de uma disciplina específica.
Segundo Travassos (2001), educar é
uma tarefa de dedicação e envolve criação de planos de ação considerando
conceitos, teorias, reflexões e o uso do bom senso, incluindo também o repensar
dos currículos escolares.
A principal função do trabalho com o tema “Meio
Ambiente” é contribuir para formação de cidadãos conscientes, prontos para
atuarem de modo comprometido em suas realidades sócio-ambientais. Para isso, é
necessário que a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de
valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos que levem
à conscientização sobre a importância do Meio Ambiente (BRASIL, 1997).
Dessa
forma a Educação Ambiental tem papel importante na educação formal,
oportunizando aos alunos e professores, novos olhares sobre o Meio Ambiente,
aproveitando a realidade vivida, os saberes locais, abordando temas que façam sentido,
valorizando a diversidade cultural.
A escola
é um dos locais mais indicados para promover a conscientização ambiental a
partir da conjugação das questões ambientais com as questões sócio-culturais.
As disciplinas são os recursos didáticos através dos quais os conhecimentos
científicos de que a sociedade já dispõe são colocados ao alcance dos alunos
através da interdisciplinaridade (PENTEADO, 2007).
Em termos
gerais pretende-se avaliar o nível de consciência ambiental dos educandos. Para
tanto, objetivo geral desdobra-se nos seguintes objetivos específicos: realizar
pesquisa bibliográfica sobre educação ambiental; Observação do Projeto Político
Pedagógico da escola para o observar a presença da temática ambiental; Apontar
a importância da Educação para a conscientização ambiental.
A pesquisa tem cunho
qualitativo-interpretativa (ERICKSON, 1988; VASCONCELOS, 2002), e para o
levantamento foram aplicados questionários em 39 alunos do 9º ano do ensino
fundamental em uma instituição pública do município de Curitiba (Colégio
Estadual Tiradentes), contendo sete questões entre múltipla escolha e
dissertativas.
Caracterização da área de estudo e
da metodologia
O levantamento de dados foi
realizado com 39 alunos do 9º do ensino do fundamental, do turno da manhã, do
Colégio Estadual Tiradentes, durante o mês de novembro de 2012.
A escolha da série se deve a
intenção de analisar como esses jovens estão saindo do ensino fundamental, se
receberam conhecimentos que os capacitaram ou formaram com uma consciência
ambiental.
A escolha
da instituição de ensino deve-se a sua localização (na região central de
Curitiba) e que atrai alunos de vários bairros de Curitiba e municípios da
região metropolitana. Segundo dados do Projeto Político-Pedagógico a maioria
dos alunos é oriunda da região metropolitana de Curitiba (Gráfico 1).
(FONTE: Projeto Político-Pedagógico, 2010)
A metodologia de pesquisa utilizada
foi de cunho qualitativo-interpretativa (ERICKSON, 1988; VASCONCELOS, 2002). Na
primeira etapa foi realizado levantamento através do Projeto
Político-Pedagógico com o intuito de observar a presença da temática ambiental
no mesmo.
Na segunda etapa da pesquisa
realizamos as observações em salas de aula (durante o mês de Outubro), para
analisar as atitudes dos alunos frete as questões ambientais presentes nos
conteúdos trabalhadas durantes as aulas de Geografia. As observações foram
facilitadas já que a pesquisadora é docente das turmas analisadas.
Na terceira etapa foram aplicados em sala de aula questionários com os
39 alunos do 9ª ano do turno da manhã do Colégio Estadual Tiradentes. O
questionário era composto de sete questões entre múltipla escolha e
dissertativas sobre a temática ambiental.
Os instrumentos utilizados foram
fundamentais durante a pesquisa de campo, pois proporcionaram não só o contato
com a realidade da Educação Ambiental no âmbito escolar, como também, o
conhecimento sobre o nível de consciência ambiental dos alunos e pais de
alunos. A seguir apresentaremos o resultado dos instrumentos.
Análise
dos resultados
Através da análise do Projeto Político-Pedagógico, a temática ambiental
aparece em um único momento como “Desafio contemporâneo – Meta: se organizar
para separar males das novas configurações do capital (inclusão, sustentabilidade,
cidadania e meio ambiente)”. (Projeto Político-Pedagógico, 2010). Em entrevista
com os professores das turmas de 9º sobre projetos na área de educação
ambiental foi relatado não existir nenhum em execução.
Durante as observações em salas de
aula foi possível perceber um certo desinteresse pela temática ambiental aliado
a falta de informação e da não relação entre a causa e a consequência dos
problemas ambientais. Outra prática comumente observada é o ato de jogar o lixo
no chão ou pela janela da sala.
O questionário aplicado com os alunos era composto de duas partes a
primeira com dados sócio-econômicos e a segunda composta por sete questões
entre múltipla escolha e dissertativas sobre a temática ambiental.
Analisando
os dados do questionário sócio-econômico podemos observar que a maioria do sexo
Masculino (Gráfico 2), tem 14 anos (Gráfico 3), mora com os pais (Gráfico 4) e
tem renda familiar entre R$1000,00 e R$2000,00 (Gráfico 5).
Partimos agora para a analise das questões sobre a consciência ambiental
dos alunos. O questionário era composto por sete questões das quais a primeira
e a sexta possuíam somente uma resposta a ser assinalada, as questões 2 à 5
podiam ser assinaladas com mais de uma resposta e a questão sete era
dissertativa.
A primeira questão era: As questões ambientais
ocupam cada vez mais espaço nas pautas de discussão da sociedade; mas o que
VOCÊ acha a respeito do assunto?
A maioria
dos alunos demonstrou interesse e noção da importância das questões ambientais
(Gráfico 5).
Gráfico 5 - Interesse sobre as questões
ambientais
A segunda
questão era: Que tipo de problemas ambientais você percebe que existem na rua
ou no bairro onde você mora?
Nesta questão os entrevistados podiam assinar mais de uma alternativa e
três alunos assinaram não existir nenhum problema ambiental no bairro onde
moram o que demonstra um desconhecimento das questões ambientais (Gráfico 6).
Gráfico 6 – Problemas Ambientais no seu bairro
Os problemas ambientais mais
assinalados pelos alunos são o acúmulo de lixo e a poluição das águas.
A terceira questão era: Assinale,
entre os problemas abaixo, aqueles que você acha que têm relação com o meio
ambiente/ questões ambientais.
Percebe-se uma relação imediata dos alunos da poluição e problemas
ambientais, os principais problemas assinados são a poluição do ar, as
queimadas e o lixo doméstico.
Outro
fator importante a ser observado é o fato que os alunos não conseguem
relacionar a superpopulação com o aumento da utilização dos recursos naturais e
a maior poluição (Gráfico 7).
Gráfico 7 – Problemas relacionados às questões
ambientais
A quarta questão era: Quais são os
tipos de poluição que você considera que seja prejudicial para animais, plantas
e seres humanos?
Percebe-se
a ligação entre derramamento de petróleo e poluição marinha, deixando um pouco
de lado a vida marinha (Gráfico 8).
Gráfico 8 – Tipos de poluição
A quinta questão era: Quem você
acredita que sejam os maiores responsáveis pela poluição do ar?
A maioria
dos alunos apontam os gases como responsável pela poluição e não o homem que é
que lança estes gases (Gráfico 9).
Gráfico 9 – Responsável pela poluição do ar
A sexta questão era: Você gostaria
de receber mais informações sobre preservação e conservação do meio ambiente,
em sua escola?
Esta
questão demonstra o desinteresse de boa parte dos alunos pela temática
ambiental (Gráfico 10).
Gráfico 10 – Informações Meio Ambiente
A sétima
questão era dissertativa e perguntava: De que maneira você pode contribuir para
a preservação de meio ambiente?
A maioria
dos alunos respondeu que não jogar lixo na rua seria uma maneira de preservar o
meio ambiente, mas durante a observação em sala de aula foi possível ver muitos
jogando lixo no chão ou atirando pela janela, o que retrata a falta de
consciência dos mesmos (Gráfico 11).
Gráfico 11: Como você pode contribuir com o
Meio Ambiente?
Analisando
as questões verificamos que os mesmos acreditam estar vivendo uma crise
ambiental e apontam como a principal causa a poluição dos rios e do ar, as
queimadas e o desmatamento, seguida pela falta de consciência das pessoas.
Podemos perceber que os mesmos confundem causa com conseqüência. Como solução à
maioria indicou a conscientização da população e ações que evitem a poluição do
meio ambiente.
Conclusão
Vivemos em um momento marcado pela
preocupação mundial acerca das questões relacionadas ao ambiente e a própria
manutenção da vida. Diversos setores da sociedade têm se organizado e buscado
alternativas para estes problemas e uma delas é a conscientização.
Como pudemos observar durante a
pesquisa a maioria dos alunos estão cientes da crise ambiental, mas não agem.
De acordo
com Sariego (2002, p.08), “Um ponto importante nesta nova consciência é o de
que cada um de nós - e não apenas governos e indústrias - tem um importante
papel na preservação da vida no planeta e pode assumir pequenas, mas eficazes
atitudes em prol dessa causa.”
Os mesmos, na maioria, afirmaram que
têm consciência que suas ações interferem, principalmente ao poluírem o meio
ambiente. Mesmo detectando a presença da consciência ambiental, pudemos
verificar durante as observações em sala de aula que ainda não há a adoção de
atitudes corretas, pois muitos jogavam lixo no chão e riscavam as carteiras.
Consideramos assim, que não basta e não adianta apenas os alunos terem
consciência, é necessário que passem a praticar.
Outro problema encontrado foi a
ausência da temática ambiental no Projeto Político - Pedagógico da temática
ambiental (presente somente em um momento como meta). Percebe-se que a temática
ambiental é atribuída somente aos professores de Ciências e. A transversalidade
da temática é imprescindível na prática de todos os professores de todas as
disciplinas, para que possamos sensibilizar os alunos e formar nestes uma
consciência ambiental capaz de tomas atitudes ambientalmente corretas.
Acreditamos que será através da
educação e com a Educação Ambiental que poderemos criar condições sustentáveis
para que possamos reverter e reduzir o excesso de consumo, pensando qual será a
herança que deixaremos para o futuro e nos levando a começar a agir.
Referências
BRASIL.
Parâmetros Curriculares Nacionais. Apresentação dos temas transversais e
ética. Brasília, v. 8, p. 61, 1997.
ERICKSON, F.
Métodos cualitativos de investigación sobre la enseñanza. In:
WITTROCK, M.C. (org.) La investigación de la enseñanza. II. Métodos
cualitativos y de observación. Buenos Aires: Paidós, 1988, p. 195-301.
PENTEADO, H.
D. Meio Ambiente e Formação de Professores. 6 ed. São Paulo: Cortez,
2007.
PROJETO
POLÍTICO-PEDAGOGICO. Colégio Estadual Tiradentes. Disponível em <http://www.ctatiradentes.seed.pr.gov.br/redeescola/escolas/9/690/312/arquivos/File/PROJETOPOLICOEDAGICO2ETMARO07.pdf>
Acesso em 12 nov. 2012.
SARIEGO,
J. C. Educação ambiental: as ameaças ao planeta azul. São Paulo:
Scipione, 2002.
TRAVASSOS,
E. G. A educação ambiental nos currículos: dificuldades e desafios. Revista
de Biologia e Ciências da Terra, v. 1, n.1, p 1-11. 2001.
VASCONCELOS, S.I.C.C. de. Pesquisas qualitativas e formação de professores de português. In: BASTOS, N.M. (org.) Língua Portuguesa: uma visão em mosaico. São Paulo: Cortez I.P. . PUC/SP/EDUC, 2002, p. 277-297.