O ENSINO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E FITOSSANIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA- UM DESAFIO.
1 Eng. Florestal, MSc Ciências Ambientais e Florestais, PhD Agronomia – Ciências do Solo, Tecnologista do Responsabilidade Socioambiental do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e-mail: marcia@jbrj.gov.br.
2 Granduanda em Ciencias Biológicas da Universidade Estadual do Norte Fluminense, estagiária do JBRJ;
3 Pedagogo e MSc. em Avaliação pela Cesgranrio, Coordenador do Centro de Responsabilidade Socioambiental do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Fomos pegos de surpresa em 2020, todos os planos previamente estudados tiveram que ser refeitos. Docentes tiveram que se reinventar diante de câmeras e equipamentos improvisados e se transformarem em mestres de Ensino Remoto. No Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro o quadro não foi diferente. A Instituição que abriga desde 2016 o Projeto Florescer, onde jovens em situação de risco social e vulnerabilidade econômica recebem alimentação, ajuda financeira e aulas sobre diversos temas no formato de módulos presenciais e práticos. Entre os módulos está a Responsabilidade Socioambiental II, que é abordada dentro da Educação Ambiental, o uso de Recursos Ambientais e Fitossanitários. Todo esse contexto, assim como o que ocorreu no resto do mundo, teve que ser adequado para o formato on line. Neste trabalho descrevemos o processo de ensino de educação ambiental e fitossanidade em tempos de pandemia no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Palavras-chave: Educação Ambiental, inclusão social, ensino on line.
O mundo que conhecemos foi drasticamente modificado no início do ano de 2020. Um vírus se tornou uma grande ameaça, transformou hábitos, ameaçou populações inteiras e passou do imaginário científico para o mundo real. Passamos a usar máscaras a fim nos proteger e de proteger o outro, os cuidados com assepsia foram redobrados, o isolamento social foi imposto como forma de sobrevivência. O primeiro país a ser atingido foi a China, mais precisamente a cidade de Wuhan no final do ano de 2019. Depois foi uma sequência de relato de casos em todo o planeta, fazendo com que em 11 de março de 2020, Tedros Adhanom, diretor geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), declarasse que estávamos vivendo uma contaminação pandêmica de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) (Figura 1) (UNASUS, 2020).
(https://www.unasus.gov.br/noticia/organizacao-mundial-de-saude-declara- pandemia-de-coronavirus).
Figura 1 – Países atingidos pelo Sars-Cov-2 em 11 de março de 2020. Fonte: https://segredosdomundo.r7.com/pandemias/
Esse estado de coisas totalmente desconhecido causou uma ruptura no sistema que havia sido estabelecido para o processo de aprendizagem. Docentes tiveram que, em questão de meses ou até mesmo dias, se adaptar e se reinventar para um sistema de ensinos remoto e a distância devido às novas condições sanitárias impostas (LIMEIRA et al, 2020).
O mundo já viveu outras pandemias como a “Peste Bubônica”, que tomou conta da Europa no século 14, matando cerca de 75 a 200 milhões de pessoas, reduzindo drasticamente a população mundial; a “Gripe Espanhola”, que em 1918 matou cerca de 40 a 50 milhões de pessoas; a varíola, que já foi erradicada mas que por mais de 3 mil anos aterrorizou o planeta. Também se enquadram na definição de pandemia o Tifo, que entre 1918 e 1922, matou mais de 3 milhões de pessoas e a cólera, a primeira das pandemias. Essa doença em 1817, matou centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo. Seu agente de transmissão, a bactéria Vibrio cholerae sofreu mutações e continua provocando novos surtos epidêmicos, principalmente em países com problemas de saneamento. Em 2019 morreram mais de 40 mil pessoas no Iêmen. A tuberculose surgiu pouco depois, em 1850, e chegou a matar 1 bilhão de pessoas até a descoberta da penicilina por Alexander Fleming em 1928. Em tempos mais recentes duas pandemias antecederam o Covid 19, a AIDS, que desde a década de 1980 já causou a morte de mais de 20 milhões de pessoas e a Gripe Suína causada pelo H1N1, que foi a primeira pandemia registrada no século 21. Surgida em 2009, o vírus apareceu em porcos do México e rapidamente se espalhou, causando a morte de cerca de 16 mil pessoas. Entretanto, para essa população que nos tempos atuais vive a realidade docente/discente, essa condição é totalmente nova (segredos do mundo,
Esse estado de coisa atingiu de sobremaneira as instituições de ensino e educação, assim como órgãos que abrigam projetos de cunho social como o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
O Jardim Botânico do Rio de Janeiro, localizado na zona sul da cidade de mesmo nome, abriga dentre outros setores o Centro de Responsabilidade Socioambiental – CRS. No Centro são desenvolvidos vários projetos, e dentre estes o Florescer. Um projeto criado em 1997, onde atualmente 54 jovens recebem formação pré-profissionalizante com o objetivo de desenvolver as habilidades intelectuais, culturais, sociais e ambientais que facilitem sua inserção no mercado de trabalho (SILVA et al., 2015).
Esses jovens pertencem a famílias em situação de vulnerabilidade econômica e risco social, moradores de comunidades próximas ao Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. No CRS são ensinadas especializações técnicas que os capacitam em Jardinagem, Parataxonomia, Agente de Desenvolvimento Socioambiental ou Assistente Administrativo nos contratempos de aulas escolares. O Projeto conta com um espaço físico de 800 m2 que abriga salas de aula, áreas comuns, biblioteca, cozinha, refeitório e uma horta orgânica que serve como elemento de convívio e integração, fornece alimento e sedia aulas práticas (Figura 2 e 3) (AQUINO & ASSIS, 2005). Além do espaço físico do CRS, os educandos têm acesso a toda estrutura do Jardim Botânico, que em uma versão bastante resumida se traduz em 54 ha de um Arboreto cuidadosamente cultivado, orquidário, cactário, herbário, diversas coleções e laboratórios de pesquisa científica.
O tema principal abordado no presente trabalho foi a dificuldade de despertar o interesse de docentes e discentes desse grupo específico no ensino a distância da educação ambiental no Projeto Florescer do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (OLIVEIRA, 2020). A forma encontrada para tratar os múltiplos aspectos que envolveram o longo período de quarentena onde havia a dificuldade de transmissão de conteúdo, a ausência de presença física tão importante em se tratando de menores em situação de vulnerabilidade social, são alguns dos aspectos também abordados.
Figura 2 – Horta orgânica cultivada no Projeto Florescer.
Figura 3: Hall de entrada do Projeto Florescer.
Relatar a experiência e os resultados alcançados no processo de ensino remoto de educação ambiental e fitossanidade em tempos de pandemia no Centro de Responsabilidade Socioambiental do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Relatar essa primeira experiência do ensino remoto de educação ambiental e fitossanidade em tempos de pandemia no CRS;
Verificar o aprendizado e o interesse de jovens para o tema através do ensino remoto;
Aprimorar e adaptar os recursos disponíveis visando atender a diversidade do público discente no ensino de educação ambiental e fitossanidade;
Aprimorar o modelo para que possa ser aplicado extramuros do projeto Florescer.
O projeto abriga 04 cursos de capacitação que são: Jardinagem com ênfase em agroecologia, Monitoria de Espaços de Ciência e Cultura, Parataxonomia e Manejo de Coleções Biológicas, Assistente Administrativo com Ênfase em Sustentabilidade. A grade acadêmica dos cursos é organizada em módulos que versam sobre educação, cidadania, ecologia, cursos de jardinagem, parataxonomia e oficinas de arte. A Educação Ambiental permeia por toda a grade de forma trans e interdisciplinar, buscando fundamentar uma consciência ecológica e crítica acerca do meio ambiente em cada educando.
O tema Recursos Ambientais e Fitossanidade ministrado dentro do módulo acima versa sobre aspectos que envolvem o mundo físico em que vivemos e as interferências provocadas pelo homem. Esse tema é tratado dentro dos diferentes cursos que compõem o Projeto Florescer. Nele tratamos a Biosfera e os recursos ambientais, ar água, solo; Seres vivos, animais, vegetais, microscópicos que nele habitam. O início da Agricultura, os desmatamentos inerentes ao crescimento populacional e expansão das cidades. O surgimento de pragas e doenças próprias de monocultivos. As primeiras tentativas de controle, a descoberta dos agrotóxicos e os métodos alternativos como controle biológico e defensivos botânicos (BETTIOL & CAMPANHOLA, 2003; LOPES. & ALBUQUERQUE, 2018). O curso, quando presencial, envolve o uso de equipamentos como lupas, microscópios e visitas a campo para observação direta de sintomas e sinais de patógenos vegetais (Figura 4)
O grande desafio nesse mundo pandêmico foi transmitir esse conteúdo, mantendo o interesse dos discentes utilizando para isso apenas recursos virtuais (VIDAL et al, 2010).