PERPETUAÇÃO DA ESPÉCIE
(Cláudio Loes)



O cardume tinha uma tradição milenar e, vez ou outra, sofria alguma baixa, quando era atacado pelos tubarões. Alguns decidiram procurar uma solução definitiva contra os tubarões e foram consultar o molusco emplumado. Como ele, o molusco, era solitário e nunca ter sido atacado pelos tubarões, seria boa referência, pensavam.

O molusco emplumado disse que deveriam enfrentar os tubarões, ao invés de fugir quando atacassem. O cardume seguiu o conselho e teve êxito com o primeiro tubarão, com o segundo e com outros mais. Os tubarões ficaram sem condições e foram explorar outras águas. O cardume foi crescendo sempre mais, necessitando cada vez mais fontes de alimentos, que também cessaram.

Com a falta de alimento começaram as lutas internas e alguns foram reclamar com o molusco emplumado. Afinal, foi ele quem deu a ideia de enfrentar os tubarões. O molusco nem tomou conhecimento e ficou escondido, alimentando-se de restos do cardume.

Sobraram algumas centenas e o cardume se reorganizou. Voltando a ter que fugir dos tubarões, que logo descobriram a diminuição do tamanho do cardume. Eles nunca mais viram o molusco emplumado. Pelos mares diziam que havia sido vítima de um ataque de peixes que tinham ficado descontes com seus conselhos.

A vida do cardume não era fácil. Passados muitos anos, alguém se lembrou e dos tempos áureos, do cardume enorme. E tudo havia sido graças ao conselho do molusco. Quiseram se organizar e enfrentar os tubarões como haviam feito no passado. Alguns membros do cardume, fortes e robustos gritaram alto “nada de seguir conselhos moles, vamos estudar novas estratégicas e modos mais eficientes para fugir dos tubarões”.

Um deles sugeriu “vamos conservar nossas estratégias enquanto vamos estudando outras mais eficientes. As novas serão conservadas no futuro se mostrarem ser eficientes. É melhor conservar o que aprendemos e darmos liberdade para novas descobertas. Quando deixamos de ser um cardume perdemos nossa identidade e nosso propósito de perpetuação da espécie”.

Do centro alguém gritou, “formação de cachalote, lá vem mais um tubarão”.