EDITORIAL
86ª Edição
Março/Maio - 2024
É com muita alegria que lançamos mais uma edição da revista Educação Ambiental em Ação, que foi inspirada pelas palavras do indígena Ailton Krenak: “Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre”. Esta frase apresenta, de forma muito clara, que somos seres finitos e frágeis. Cabe destacar outra frase. Desta vez, a de William Golding (Prêmio Nobel de Literatura) que diz que: “As melhores ideias são as mais simples”. E nada do que estas curtas – mas profundas - frases trazem é novidade, mas é preciso nos lembrar disto sempre.
A crise ambiental que vivenciamos se instalou como “produto” das formas de cultura criadas ao longo do processo civilizatório pela busca do “desenvolvimento”, e acreditamos que a forma de reverter a situação está em esforços multidisciplinares, coletivos e individuais, onde cada grupo e/ou cada um, na medida em que for encontrando soluções, compartilha-as com outros, ações que podem ser replicadas nos mais diversos ambientes de aprendizagem, dispostos nos tecidos social e educacional.
A Educação Ambiental em Ação compreende a EA (ancorando-se em importantes documentos referência que a legitimam) como um processo de educação permanente, que deve estar presente em todos os contextos da atuação humana, alcançando desde as crianças até os mais velhos, cientes de que este processo pode ser inserido, com sucesso, mesmo em meio às contradições da sociedade do consumo, através das práticas que apresentamos em cada edição. É por esta razão que temos orgulho de divulgar, desde práticas muito simples até projetos grandes e bem estruturados.
Incentivar a mudança e o desenvolvimento de uma consciência ambiental não se trata de tarefa fácil e, por esta razão, é preciso de muita resistência e persistência, diante das discordâncias que se sobressaem nesta caminhada.
Se por um lado a EA busca conscientizar e sensibilizar para o consumo sustentável, por outro, se não mudarmos os modos de produção e consumo, sabe-se que, se o consumo diminui, o sistema econômico entra em crise.
Se por um lado a EA promove atividades que incentivam a reciclagem através de diferentes atividades didático-pedagógicas, por outro, podemos incentivar o consumo. Certa vez uma menina do interior passou a comprar diariamente litros de refrigerante para a família, e ao questioná-la sobre o "novo" hábito, ela disse que sua escola fazia uma competição de quem arrecadasse mais garrafas PET, ou seja, sem perceber, atividades educacionais, com as melhores das intenções, acabam por incentivar o inverso.
Se por um lado a EA busca sensibilizar para o respeito ao meio ambiente, por outro vemos estampado em jornais e informativos diversos, absurdos cometidos por nossos representantes, no governo, que burlam leis e derrubam, em segundos, anos a anos de lutas para a criação de leis e estratégias que minimizam impactos ambientais, articuladas por diferentes coletivos. Sorrateiramente derrubam uma floresta de suor e até "sangue", pois sabemos que ambientalistas são alvos constantes de ameaças.
Aliás, propõem-se a seguinte pergunta: por que deve existir um partido verde quando, a esta altura do campeonato, todos os partidos deveriam ser verdes?
Diante destas e de tantas outras contradições, cobranças, indagações, divagações e indignações, como os educadores se sentem? Qual é a perspectiva dos educadores ao tentarem trabalhar a EA do jeito que sabem, pois muitos - para não dizer a maioria - não tiveram ninguém que se preocupasse em prepará-los, capacitá-los, efetivamente?
E, finalizando, não podemos deixar de apontar que a crise ambiental agrega uma crise social de âmbito mundial. As pessoas estão perdendo sua saúde, seus valores, suas referências essenciais... E o que se pode dizer das crises pelas quais passam os demais seres sencientes?
Nesta sinuosa trajetória da humanidade, a revista Educação Ambiental em Ação pretende ser um caminho pelo qual será possível o resgate de hábitos saudáveis, de valores como fraternidade, caridade, justiça, equidade, para melhorar as relações humanas e, consequentemente, melhorar suas relações com o meio ambiente, através dos exemplos expostos em seu menu, as práticas e ações, coletivas ou individuais, que revelam que sim, é possível mudar!
Berenice Gehlen Adams e
Equipe da revista Educação Ambiental em Ação