PESQUISADORAS BRASILEIRAS RECEBEM PRÊMIOS NO EXTERIOR

Fernanda Abra, Gabriela Resende e Patricia Medici dedicam-se à conservação de espécies da fauna silvestre.

Isabella Baroni



Fernanda Abra, Gabriela Rezende e Patricia Medici: os prêmios recebidos serão utilizados para investir na continuidade dos projetos de conservação

Três pesquisadoras brasileiras são destaques em premiações internacionais que reconhecem e incentivam projetos de conservação da natureza pelo mundo. Gabriela Rezende, que trabalha na conservação dos micos-leões-pretos, Patricia Medici, que atua com antas, e Fernanda Abra, responsável por um projeto de redução de atropelamentos de animais arborícolas em uma rodovia na Amazônia, tiveram seus trabalhos escolhidos por instituições dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido.

Micos-leões-pretos

Em março, a bióloga Gabriela Rezende foi reconhecida como uma das “onze mulheres incríveis que causam impacto positivo” na conservação mundial. A premiação foi concedida pelo Disney Conservation Fund, em comemoração ao Mês Internacional da Mulher.

Gabriela está à frente da coordenação do Programa de Conservação do Mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) desde 2013, atividade que existe desde 1984 e já foi responsável por elevar a situação de conservação da espécie de “criticamente ameaçada” para “em perigo” na lista internacional da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), além de outras descobertas sobre o primata. Desde que coordena o programa, Gabriela já avançou no entendimento da biologia e ecologia da espécie, principalmente sobre o tamanho das populações, sua função ecossistêmica, o papel na dispersão de sementes e muito sobre a ecologia de movimento.

Um grande foco do meu trabalho é compreender como a espécie se movimenta e como a estrutura da floresta está relacionada com isso. As tecnologias disponíveis atualmente auxiliam muito nessa compreensão. O mico-leão-preto é uma espécie elusiva, ou seja, de difícil acompanhamento na natureza, além de ser silenciosa. As tecnologias nos ajudam na geração de dados, como captação de vocalizações, mapeamento do deslocamento”, completou Gabriela.

O mico-leão-preto é endêmico da Mata Atlântica de interior do estado de São Paulo, tendo sua distribuição limitada pelos rios Paranapanema ao sul, Tietê ao norte e Paraná a oeste, além da Serra de Paranapiacaba a leste.

Gabriela já havia sido premiada, em 2020, com o Oscar da Conservação da Natureza, o prêmio britânico Whitley.

Gabriela Rezende também é professora na Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas) – Foto: Katie Garrett

A Disney já é uma grande apoiadora do nosso projeto há muitos anos, até desde antes de eu estar à frente do programa. Esse prêmio chega para apoiar ações de manejo de populações que iremos realizar, implantando indivíduos de uma população viável em outra, que corre grande risco de extinção devido à baixa variabilidade genética e com tamanho extremamente reduzido. Conseguiremos salvar uma população do mico”, celebrou Gabriela, que levou US$ 50 mil para seu trabalho.

Ainda sobre a importância de ver seu trabalho reconhecido, Gabriela destacou que a premiação veio em um momento bastante desafiador de sua carreira.

Alguns prêmios são especiais. E estar sendo reconhecida em meio a tantas mulheres incríveis neste momento, em que me dedico às pesquisas e à maternidade de minhas duas filhas pequenas, me trouxe ainda mais alegria para seguir em frente”.

Anta

Quem também foi premiada foi a coordenadora da Iniciativa Nacional de Conservação da Anta Brasileira (Incab), programa associado ao IPÊ, Patricia Medici.

No último dia 30 de abril, Patricia entrou para o hall da premiação WINGS Women of Discovery Awards, sendo uma das cinco “mulheres extraordinárias contribuindo para a Ciência”, prêmio concedido pela instituição WINGS Worldquest. Ela receberá US$ 20 mil para investir em seus projetos, e haverá o evento de gala promovido pela instituição em outubro, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

Além deste prêmio, Patricia e a Incab estão concorrendo ao prêmio Beauval Nature 2024, idealizado pela Associação Beauval Nature, do ZooParc de Beauval, França. O concurso também tem como tema a questão de gênero na Ciência, com “mulheres em destaque”, homenageando a reconhecendo o impacto das mulheres na conservação de espécies ameaçadas. Patriciaé uma das três brasileiras que concorrem ao prêmio, que está aberto à votação do público até 3 de novembro.

Patricia dedica-se há mais de 30 anos à conservação da anta-brasileira (Tapirus terrestris) e, recentemente, em suas expedições pelo Brasil, comprovou que a espécie não está extinta na Caatinga, conforme havia relatos desde 2012.

Atropelamentos de fauna

A bióloga Fernanda Abra, pesquisadora associada do IPÊ, recebeu ontem, o prêmio Whitley, da organização britância Whitley Fund for Nature (WFN), premiação que é considerada o Oscar da Conservação da Natureza, concedendo a ela 40 mil libras esterlinas.

Fernanda teve reconhecido seu trabalho no Projeto Reconecta, que desenvolve na rodovia BR-174, que corta um trecho da floresta Amazônica. O projeto constrói pontes de dossel de baixo custo e monitora mamíferos arborícolas sobre a rodovia, juntamente com o apoio do povo Waimiri-Atroari, que participa ativamente das atividades. Os indígenas têm sido peça-chave no sucesso do projeto, pois conhecem a fauna local e seus hábitos. Do total de primatas que vivem no Brasil, 40% das espécies estão ameaçadas de extinção, sendo que o atropelamento em rodovias está entre os principais impactos que enfrentam.

O apoio e contribuição do povo indígena Waimiri-Atroari tem sido essencial para o sucesso do projeto – Foto: Smithsonian´s National Zoo and Conservation Biology Institute

Fiquei muito honrada por esse prêmio, primeiro porque vou poder ampliar as ações na Amazônia e, segundo, porque eu pude contar com apoiadores super comprometidos, como a população indígena, o Ibama, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), o IPÊ, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o Smithsonian. Precisamos de mais instituições e órgãos interessados em criar modelos de rodovias mais sustentáveis para a fauna”, disse. Assista ao trailer de sua pesquisa, narrada por Sir David Attenborough.

Fernanda Abra recebeu a premiação em Londres diretamente das mãos da princesa Anne – Foto: Ruben Besureis

Valorização das mulheres na Ciência

Para a cofundadora e presidente do IPÊ, Suzana Padua, ver o reconhecimento destas mulheres é gratificante. “Desde o início, nestes mais de 30 anos de IPÊ, sempre prezamos pelo bem-estar e por dar oportunidades às mulheres seguirem se desenvolvendo profissionalmente”. Suzana reforçou que sempre priorizou a equidade de gênero, para que os talentos das mulheres frente às pesquisas pudessem sobressair.

A Fernanda é nossa pesquisadora parceira há alguns anos e professora da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas). Vê-la ser a terceira mulher a levar o prêmio é muito importante para nós”, celebrou Suzana, que esteve em Londres durante a entrega do prêmio.

Suzana foi surpreendida por uma homenagem da instituição ao IPÊ, como “parceiro de longo prazo”. “O Fundo Whitley pela Natureza (FWN) é nosso parceiro nestes mais de 30 anos de caminhada pela conservação. Receber esse reconhecimento em meu nome e do Claudio Padua, meu marido e cofundador do IPÊ, foi uma grande sensação de que estamos no caminho certo”, contou Suzana.

IPÊ recebeu um reconhecimento pela parceria com a WFN – Imagem: reprodução

Sobre o autor / Isabella Baroni

Nascida em Jundiaí (SP), é bióloga pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e estudante de Jornalismo pela Universidade Cruzeiro do Sul, o que permite integrar seus trabalhos em educação ambiental com a comunicação. Atuou em projetos voltados à conservação do mocho-dos-banhados no município de Americana (SP), da onça-pintada no Contínuo do Paranapiacaba (SP), da […]

Fonte: https://faunanews.com.br/pesquisadoras-brasileiras-recebem-premios-no-exterior/