![]()
A
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL COLÔNIA: RELATOS PARA REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS Nilton
Manoel Lacerda Adão. niltonadao@hotmail.com (Geógrafo;
Especialista em Sociologia Política e Cultura;
em História do Brasil; e Planejamento
e Educação Ambiental) RESUMO O homem
sempre viveu no decorrer da história uma relação de dominação com a
natureza. Na história da colonização do Brasil este fato é pertinente. A
relevância da abordagem deste assunto não reside na insignificante acusação
aos fatos passados ou repasse da culpa da degradação ambiental para os
colonizadores e colonizados do país. Estes viveram em realidades sociais e
culturais diferentes. No entanto, a
descrição dos relatos de um passado distante pode favorecer o enriquecimento
dos argumentos nas discussões e reflexões sobre a relação sociedade-natureza
no tempo e no espaço buscando impedir a devastação de toda forma de
vida no planeta, busca contemporânea. Palavras
chaves:
sociedade, história, degradação ambiental. ABSTRACT The
man always lived in elapsing of history a relation of domination with the
nature. In the history of the settling of Brazil this fact is pertinent. The
relevance of the boarding of this subject does not inhabit in the insignificant
accusation to the last or to repass of the guilt of the ambient degradation for
colonist and colonized facts of the country. These had lived in different social
and cultural realities. However, the description of the stories of a distant
past can favor the enrichment of the arguments in the quarrels and reflections
on the relation society-nature in the time and the space searching to hinder the
degradation of all form of life in the planet, search contemporary. Key
Words:
society, history, environmental degradation. Relevância
do tema para Educação Ambiental
A
Educação Ambiental (EA) consiste numa prática educativa para
promoção da reflexão, discussão e ação na busca de uma rota sustentável
para a humanidade no planeta. Na recomendação
número cinco da Conferência de Tbilisi (1977) afirmou-se a necessidade
“considerar-se a dimensão temporal (passada, presente e futura) própria de
cada meio ambiente” ( DIAS, 127:2003). Daí a contribuição
da análise historiográfica e do trabalho do historiador para o
desenvolvimento das discussões em EA. Resgatar os fatos históricos pode
favorecer a compreensão da realidade ambiental vigente. Em nossa História há
episódios desastrosos que contribuíram para a construção do paradigma de
sociedade atual. Estes fatos fundamentam a afirmação que toda ação do homem
no espaço deixa marcas boas ou ruins que
podem ser observadas no tempo. É
fato que não se pode exigir posturas ambientalistas das ações passadas. No
entanto, resgatar de forma ancestral a relação de dominação que sempre
existiu entre sociedade e natureza pode ser uma das fontes de discussão para a
busca de um desenvolvimento harmônico e sustentável. Narrativas
do Brasil Colonial
A
construção da sociedade brasileira ergueu-se em um regime agrícola monocultor
e latifundiário, entretanto, a primeira mostra de exploração das riquezas
naturais consiste no tráfico,
realizado por portugueses e franceses, do pau-brasil, que para desgosto de Frei
Vicente do Salvador ─ autor do primeiro livro sobre a história do Brasil
─ o “pau que servia para
tingir panos” passou a denominar
a nova terra substituindo Santa Cruz, denominação anterior do Brasil. De
acordo com Caio Prado Junior a exploração do pau Brasil era realizada de forma
“rudimentar que não deixou traços apreciáveis, a não ser na destruição
impiedosa e em larga escala das florestas nativas donde se
extraía a preciosa madeira” ( JUNIOR, 25:1985). Havia não só a
exploração da mata litorânea como também das tribos nativas que traziam a
madeira, de lucro apreciável para os estrangeiros, e trocavam por qualquer
quinquilharia, peças de pequeno valor na Europa como canivetes, espelhos, pedaços
de tecidos, entre outros. A coroa portuguesa passou a cobrar os direitos da
exploração sendo o primeiro explorador a receber a concessão para usufruir
deste recurso, em 1501, Fernando de Noronha que por ironia, denomina a belo
arquipélago do território brasileiro. No
entanto, a exploração do pau-brasil não foi duradoura. Iniciou-se a partir de
1530 a ocupação do território brasileiro fomentando a transformação das
paisagens e destruindo as culturas locais, resultando na matança de indígenas
ou a extinção de suas crenças em nome do “cristianismo colonizador”. O
primeiro grande cultivo consiste na plantação da cana de açúcar, cuja ação
principalmente no nordeste do país mereceram o destaque de Josué de Castro no
seu reconhecido livro Geografia da Fome ao denunciar que “teve o nordeste a
vida de seu solo, de suas águas, de suas plantas e de seu próprio clima, tudo
mudado pela ação desequilibrante e intempestiva do colonizador” (CASTRO,
1946:113). Em favor da monocultura, grande extensão de mata foi derrubada para
o plantio realizado no sistema de “plantation” com mão de obra
escrava e super exploração do solo que perdia suas riquezas motivando o avanço
das derrubadas para garantir a continuidade do então lucrativo cultivo da
cana-de-açúcar. Neste contexto, ganhou força a colônia de Portugal
exportadora do açúcar, produto de grande valor na Europa. Sendo viável, a
afirmação de Gilberto Freire (1943:24) ao relatar que a casa grande ,
completada pela senzala formava o sistema econômico, cultural, religioso, de
trabalho e de higiene do corpo do período colonial. Este fato, mesmo com o fim
do auge das fazendas de cana-de-açúcar, formou as forças políticas e econômicas
do início do período imperial. Nas “paredes” das casas-grande ergueram-se,
com a robustez e autoridade do senhor de engenho e a mão-de-obra escrava, os
pilares da sociedade brasileira. Data
também do período colonial, o início da pesca das baleias. Animais que
mereceram destaque nos relatos do Frei Vicente do Salvador pela facilidade com
que eram encontrados estes cetáceos que vinham gerar seus filhotes nas quentes
e calmas águas do litoral brasileiro. A baleia era fonte de matéria prima em
produtos utilizados nas iluminações, sabões, argamassas, espartilhos, entre
outros. Para facilitar a captura da baleia, surgiram na costa sul do país as
armações baleeiras, locais onde era extraído o valioso óleo de baleia e
porto de chegada e partida dos barcos baleeiros. A forma como era realizada a
captura da baleia, fez jus a indignada crítica de José de Bonifácio nos Anais
da Academia Real das Sciências de Lisboa em 1790. Era hábito, matar primeiro o
indefeso filhote para que sua mãe não fugisse, e esta, ao não abandonar sua
cria já morta, tornava-se presa fácil para os golpes de arpões dos
pescadores. A caça indiscriminada da baleia, iniciada no período colonial e
persistindo ainda no século XX, reduziu a população de várias espécies
destes grandes mamíferos nas águas que banham o país e conseqüentemente no
planeta, fato inquestionável na atualidade.
Reconhecer
o homem como agente da história, é acreditar na possibilidade de um mundo
melhor. Mesmo em épocas desfavoráveis algumas culturas dão demonstrações de
que é possível agir de forma sustentável. Um bom exemplo da uma vida
alternativa com reintegração do homem na natureza neste período de
“monocultura perversa”, responsável pela degradação não só do meio
ambiente como também de determinadas culturas, seria a relação do homem com a
terra nos quilombos. Josué de Castro relata o quilombo dos Palmares como um
exemplo de organização econômico-social e cultural integrada ao uso adequado
do solo. Este cientista refere-se ao quilombo dos Palmares como núcleo de
libertação da monocultura escravista, “demonstração decisiva da absoluta
integração do negro à natureza regional, aproveitando integralmente seus
recursos e desenvolvendo a favor de suas possibilidades recursos novos.”
(CASTRO,1946:134) Diante disto, pode-se definir Palmares como a integração do
homem com a natureza na busca da liberdade, episódio que incomodava a ignorante
elite de uma sociedade escravocrata e monocultora que declarou guerra aos
quilombos dizimando muitos desses aldeamentos. Fato que determinou a inconsistência
desta forma de poliagricultura sistemática, realizada nos quilombos,
impossibilitando sua extensão. Ficou na história o exemplo da luta do negro em
nome de uma liberdade que realçava subjetivamente o interesse em uma sociedade
mais justa e ecologicamente sustentável. Os quilombos representam uma “gota d´água
no seco deserto da história da era colonial do país”. Porém essa “gota”
deixou o exemplo de que se pode lutar contra todas as formas de opressão em
nome de uma sociedade mais justa e ecologicamente equilibrada. Considerações
Finais
Este
trabalho prendeu-se no relato das práticas de colonização do espaço e exploração
dos recursos naturais no período colonial da História do Brasil. Vale
ressaltar, que os fatos relatados resultaram na quase extinção das baleias na costa
brasileira (atualmente, felizmente, voltam a
aparecer em maior número nas praias do país) , na degradação da mata
atlântica, na desigualdade social e econômica atual. Alguns
dos fatos apresentados podem nos remeter a uma reflexão sobre as “re-ações”
e ações do homem na contemporaneidade para construção de um novo paradigma.
Urge se repensar uma nova forma de
sociedade. Alguns relatos históricos são exemplos de que o homem deve, em seu
presente, traçar no presente um novo caminho que resultará no futuro. Diante
disto, propõe-se pensar através de uma “racionalidade ambiental” para
promover uma descontinuidade da história de exploração e degradação da
natureza, almejando uma reformulação social para alcançar-se uma
“re-evolução” para uma sociedade ecologicamente sustentável.
BIBLIOGRAFIA CASTRO,
Josué’de. Geografia da fome: a fome no Brasil. Empresa gráfica “O
Cruzeiro” S.A . Rio de Janeiro, 1946. DIAS,
Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 8ª ed.
Editora Gaia. São Paulo, 2003. FREYRE,
Gilberto. Casa-grande e senzala. 4ª ed. Editora José Olympio. Rio de
Janeiro, 1943. JUNIOR,
Caio Prado. História Econômica do Brasil. 31ªed. Editora Brasiliense.
São Paulo, 1985. SALVADOR,
Frei Vicente. História do Brasil: 1500-1967. Editora Melhoramentos. São
Paulo 1965. |