Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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Reflexão
13/03/2023 (Nº 82) CUIDADO COM OS PRESENTES
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CUIDADO COM OS PRESENTES

Começar, muitas vezes, é difícil e, por isso mesmo, quando se consegue engatar rumo a um objetivo, a dificuldade de desistir do mesmo é maior. Por que deveria desistir? Quais os riscos envolvidos? Quando uma decisão está no meio do caminho, ou há uma decisão com pouca diferença entre as partes, é uma tarefa complexa seguir em frente.

Então, vamos lá! Lembro-me de que há uns 40 anos, eu tinha como objetivo servir as pessoas, procurando sempre as melhores condições para todos poderem viver melhor. Isso fazia sentido na época. Não havia a vantagem da comunicação de hoje, e eu ficava semanas esperando uma troca de opinião sobre o caminho a seguir rumo ao objetivo proposto.

Depois, por outros vieses que aqui não vem ao caso, tive que avisar aos envolvidos no projeto que estava difícil e que não iria seguir adiante. Logo vieram as sugestões para descansar, viajar para a Europa, ficar um ano por lá em algum aperfeiçoamento sem grandes exigências, com tudo pago. Posso dizer que essa foi a primeira vez em que me dei conta do problema com os presentes.

Era um grande presente, e para quem estava estressado com os trabalhos árduos... se não tivesse parado para pensar, cairia nessa lábia doce. Se estava sendo um trabalho árduo, quem iria fazê-lo enquanto eu estivesse fora, descansando? Por que ninguém percebeu antes que todo o trabalho estava ficando mais exigente?

Enfim, essas perguntas não eram o ponto central. A questão era como fazer o projeto parar porque ele não estava alinhado dentro dos objetivos de uma instituição maior. Digamos que era algo do tipo, a instituição tinha vários projetos alinhados com o objetivo de tornar melhor a vida das pessoas. O detalhe é que, de acordo com quem manda, este ou aquele grupo acaba sendo considerado mais humano que o outro. Um absurdo, mas era assim.

O resultado é que não aceitei o presente, sabia que não iria mudar e desisti, já que tudo dali para frente se tornaria insuportável. Servir as pessoas e levá-las a ter melhores condições por meio do estudo, do trabalho, da livre iniciativa, da liberdade de escolha, não se encaixava.



Posso dizer que o ensinamento, lá de trás, voltou agora quando percebi que as pessoas do passado fácil não compreendem que hoje tudo mudou. Agora, em poucos minutos, temos acesso a informações que antes demoravam a chegar. Em todos os níveis, social, familiar, empresarial e governamental, não dá para ter uma opinião ou prometer algo diferente. E pior ainda é fazer agrados com presentes baratos para contornar problemas maiores que são escondidos embaixo do tapete.

A atenção tem de ser redobrada e fiquei pensando nos estragos que irão acontecer se tudo continuar no ritmo em que está. No mercado financeiro, de tempos em tempos, temos empresas que quebram por tentarem enganar o mercado.

Quanto aos empréstimos feitos e que jamais serão pagos entre países, o pior é se formos credores; a conta será bem alta. Nesse quesito, estamos, indiretamente, cada um de nós, dando presentes de grande valor a caloteiros. E, se não bastasse, além disso, começo a ver muita criação de problemas miúdos, sem valor no contexto geral, para depois vir a solução, o presentinho barato para tapar a visão dos problemas maiores. Um círculo vicioso que, ao longo dos anos, vai e volta e nada muda.

No meio dessa divagação ficcional, só posso fazer um pedido, humildemente. Fique atento, cuidado com os presentes que você recebe quer pessoalmente, ou descontos e tantos outros. Sempre vale a pena ir um pouco mais fundo para não perder a esperança de que ainda temos condições de melhorar a vida de todos que querem estudar, trabalhar duro, exercer sua liberdade de optar e assumir os riscos pelas suas escolhas, sem a tutela de outrem.

Cláudio Loes

Ilustrações: Silvana Santos