Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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TRABALHANDO A TRILHA ECOLÓGICA COMO ESTRATÉGIA DE APRENDIZAGEM
Rafael Santos de Araujo¹ Maria Eloisa Farias²
(¹Acadêmico de Biologia – ULBRA/ Canoas - RS)
(² Professora Curso de Biologia - ULBRA/ Canoas – RS. E-mail: mariefs10@yahoo.com.br Endereço: Rua Caravelas, 290 Bairro N. S. das Graças – Canoas/RS CEP: 92025310) RESUMO
A discussão sobre o processo de aprendizagem nas escolas e nas comunidades têm-se estendido a diferentes temas, associados à estratégia pedagógica. Tendo como tema a educação ambiental, pretendeu-se com este estudo, no ano letivo de 2008, no município de Montenegro-RS, articular discussões envolvendo as relações entre homem, natureza e cultura, pensando em contribuir para a mudança de atitudes inapropriadas em relação ao ambiente. A abordagem metodológica foi através de trilha ecológica, com paradas estratégicas para o desenvolvimento de atividades educativas, havendo a participação de vinte professores da região, responsáveis por sessenta e quatro turmas, que através deles participaram do projeto, formando uma rede de responsabilidades que demonstraram nos indivíduos envolvidos e na comunidade escolar, seu compromisso prático de aprender a viver sustentavelmente.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Trilha ecológica; Estratégias de aprendizagem.
INTRODUÇÃO
As trilhas ecológicas se apresentam como uma possibilidade de tornar o conhecimento pertinente, contextualizado e real. O contato com a natureza é o elemento motivador para dar encanto e interesse pela atividade desenvolvida. Sua preocupação básica centra-se na melhor maneira de conduzir a atividade, de forma a alcançar finalidades educativas, por meio da experiência prática. As trilhas visam não somente a transmissão de conhecimentos, bem como propiciam atividades que revelam os significados e as características do ambiente por meio do uso dos elementos originais, por experiência direta e por meios ilustrativos, sendo assim instrumento básico de programas de educação ao ar livre (ARAÚJO, D.;FARIAS, M.E., 2003). Sua motivação é puramente educativa e a educação ambiental pode ser praticada em três dimensões: conceituais, procedimentais e atitudinais. Além do mais, segundo Reigota (1991), os participantes podem desenvolver um sentimento de valorização, preservação e conservação do ambiente. A educação ambiental através de trilhas ecológicas pode promover projetos pedagógicos interdisciplinares ricos e diferenciados. Para Lück (2000), o conhecimento é, ao mesmo tempo, um fenômeno multidimensional e inacabado, sendo impossível sua completude e abrangência total, uma vez que, a cada etapa da visão globalizadora, novas questões e novos desdobramentos surgem. Tal reconhecimento nos coloca, portanto, diante do fato de que a interdisciplinaridade se constitui em um processo contínuo e interminável de elaboração do conhecimento, orientado por uma atitude crítica e aberta à realidade, com o objetivo de apreendê-la e apreender-se nela, visando muito menos a possibilidade de descrevê-la e muito mais a necessidade de vivê-la plenamente. Hoje, a educação ficou muito teórica, por isso é fundamental que atividades complementares ao ensino formal propiciem o convívio dos alunos com o entorno do espaço escolar e reservas ambientais, proporcionando o contato do homem com o ambiente e mudando assim suas ações e sentimentos em relação à natureza (Alvarenga, 2005). As trilhas ecológicas proporcionam a vivência prática dos conhecimentos teóricos, com vistas a facilitar os processos de aprendizagem, dinamizando as práticas e estimulando estudantes, professores e participantes, rumo a uma forma personalizada de aprendizagem, proporcionando a contemplação e valorização dos atrativos naturais do local. As trilhas ecológicas podem ser consideradas laboratórios vivos, salas de aula naturais; com a experimentação direta, despertando interesse, curiosidade e descoberta. Utilizando trilhas ecológicas como estratégia de aprendizagem com dinâmicas participativas, pode-se oferecer aos participantes, informações sobre o meio, recursos naturais, exploração racional, conservação e preservação ambiental. Neste trabalho os grupos-alvos são principalmente as escolas de ensino fundamental e médio localizadas no município de Montenegro - RS, onde estudantes, professores e comunidade escolar são os atores envolvidos diretamente no processo, pois a trilha proposta funciona não só como instrumento de ensino e pesquisa, como também um processo dinâmico de sensibilização e conscientização dos mesmos. Segundo Vasconcellos (2005), em áreas naturais, as trilhas desempenham importantes funções e, entre estas, destaca-se a de conectar os visitantes com o lugar, criando maior compreensão e apreciação dos recursos naturais e culturais; provocar mudanças de atitude, atraindo e envolvendo as pessoas nas tarefas de conservação; aumentar a satisfação dos usuários, criando uma impressão positiva sobre a área tornando-a planejada e menos impactante. Reconhecidamente, as trilhas ecológicas desempenham importante papel no processo de conservação da natureza, pois, ao facilitar o acesso de pessoas a locais naturais, comumente, a interação resultante desse contato direto, repercute em mudança de comportamento na relação homem-natureza (Arancíbia & Cavalcante, 2005). A trilha ao proporcionar a experiência prática no cotidiano escolar, poderá estimular o pensamento estratégico e o raciocínio lógico entre os estudantes, bem como promover entre eles princípios básicos de cidadania e noções sobre sustentabilidade ambiental. Trazer o estudante para um ambiente novo e desenvolver um trabalho relacionado às experiências vividas, vem a somar qualidade para a educação na atualidade. E, na busca por uma educação de qualidade que vise a sustentabilidade do planeta, este projeto teve como objetivos:
· Criar trilhas ecológicas no Parque CEULBRA – Montenegro - RS, promovendo uma integração com o município, para desenvolver a educação ambiental com vistas ao desenvolvimento sustentável enfocando o aspecto da conscientização e da educação. · Proporcionar o contato direto dos atores envolvidos, promovendo através das narrativas ao longo do trajeto uma oportunidade de esclarecimento e conhecimento sobre os múltiplos aspectos que envolvem a biodiversidade local. · Proporcionar aos atores a vivência do objeto repassado em sala de aula, auxiliando no entendimento dos processos a partir da observação “in loco”. · E, através das narrativas desenvolvidas durante o trajeto das trilhas, estimular o interesse pela pesquisa, ao mostrar a importância de conhecer, para valorizar e preservar a natureza.
CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO
O município de Montenegro está situado no Vale do rio Caí, na encosta inferior Nordeste, uma das regiões mais produtivas do Rio Grande do Sul. Diferencia-se por sua localização privilegiada, de fácil acesso a outros centros regionais. É o município mais antigo da região do Vale do Caí, recentemente inserido na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde um dos marcos importantes é o Morro São João. Montenegro está na área central do Vale do Caí. Possui altitude média de 34 metros do nível do mar, alcançando em alguns pontos, como no Morro São João, até 172 metros. Sua Área é de 449,08 km² representando 0.1562% do Estado, 0.0745% da Região e 0.0049% de todo o território brasileiro. O clima é subtropical úmido. A temperatura média anual é de 19,4 º C, sendo que no mês mais quente (janeiro) é de 24,8 ºC. No mais frio (junho) é de 13,9 º C. A vegetação é segmentada em duas regiões bem distintas: uma localizada ao sul, onde a terra é composta de argila preta misturada com areia fina, compreendendo as campinas e pastagens usadas para a pecuária, para a plantação de acácia-negra e de eucalipto. Por estar ao longo do rio Caí, os banhados são utilizados para cultivo de arroz irrigado. Na parte norte do município predominam os terrenos mais ricos, as chamadas "terras roxas", compostas de fosfato e calcário, onde se encontram as áreas de cultivo de citros e acácia. Animais como capivara, preá, ratão, cágado, jararaca, lagarto e cascavel são alguns dos que fazem parte da fauna local. Nos rios ainda resistem os peixes como bagre, jundiá, pintado, cascudo, traíra e lambari. Algumas aves como araponga, carancho, garça, chimango, macuco, martim-pescador e tucano já são raras ou até desapareceram.
O ENSINO NO MUNICÍPIO DE MONTENEGRO
A legislação sobre Educação Ambiental tem assinalado que ela é um componente essencial e permanente da Educação Nacional devendo estar presente de forma articulada em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. Afirma também que a Educação Ambiental presente no ensino, deverá abranger os currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando todos os níveis, merecendo atenção especial por ser um instrumento de mobilização, difusão e informação. Para que se tivesse noção dos estudantes que poderiam ser atingidos pelo projeto, realizou-se uma pesquisa documental envolvendo ensino, onde se buscou: matrículas (no ensino fundamental 8776; no ensino médio 2318), docentes ( 511 no ensino fundamental e 157 no ensino médio) e rede escolar ( 39 escolas de ensino fundamental e 7 escolas de ensino médio) tendo como fonte os registros do IBGE do ano de 2006.
CARACTERIZAÇÃO DO CEULBRA
Localizado na cidade de Montenegro, no Rio Grande do Sul, em uma área de 320 hectares, o Campo Experimental da Universidade Luterana do Brasil (CEULBRA), prioriza a prática do ensino, da pesquisa e da extensão, beneficiando os alunos dos cursos de Engenharia Agrícola, Engenharia Ambiental, Medicina Veterinária, Biologia, dentre outros, sendo que o CEULBRA está aberto a todas as Escolas da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Esta área é registrada no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) como criadouro de animais silvestres. Aqui são desenvolvidos projetos para a preservação de espécies como o tachã, ema, avestruz, papagaio, arara, anta, mutum cavalo, capivara, cateto, javali e queixada. Outras atividades do CEULBRA são a agricultura, a pecuária de corte e leite e a piscicultura. Esta última é uma das mais importantes atividades do campo, onde se encontra uma lâmina d'água de 32 hectares, com vários açudes e tanques para produção comercial de peixes, além de um laboratório para reprodução artificial e produção de alevinos. O CEULBRA possui criações comerciais de: avestruz, capivara, cateto, cevos emas e javali. Também criações conservacionistas: anta, antilopes, araras amarela e vermelha, bugio, camelideos, emu, grow coroado, jabuti, jacuaçu, macaco prego, quatis e queixada (Fonte: site ceulbra, 2008).
MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia adotada para este trabalho foi a de observação local realizada inicialmente, para caracterização do ambiente e apontamentos dos aspectos mais relevantes, que viessem a auxiliar nas práticas de educação ambiental, durante a trilha. Foram realizadas três saídas de campo no primeiro semestre de 2008. 1ª saída: primeiramente foi realizada uma reunião com os responsáveis pelo Centro Experimental da Universidade Luterana do Brasil (CEULBRA), onde foi apresentada a proposta de trabalho. Antes da saída a campo, foi feito o reconhecimento da área com a utilização de mapas e visualização da planta baixa. Após foi feito uma caminhada de reconhecimento do local. 2ª saída: juntamente com a técnica responsável foi realizado um simulado do percurso proposto para futura trilha. Observou-se a fauna e flora existentes onde foram apontados locais significativos para serem realizadas as paradas educativas. 3ª saída: realizou-se uma discussão entre os membros da equipe participante com o objetivo de análise do percurso proposto e demais apontamentos que poderiam ser utilizados no estudo. Durante o semestre a abordagem consistiu na utilização de diversas formas de aproximação dos professores e estudantes, junto ao conhecimento ambiental que se pretendia multiplicar. Durante as reuniões para o planejamento do trabalho foram realizadas as atividades: 1) elaboração do roteiro da trilha onde os objetivos específicos foram o de distribuir informativo para o público, aplicar questionário de modo a obter dados do perfil do público participante e da avaliação da atividade. 2) O momento denominado de desenvolvimento abrangeu procedimentos de pesquisa bibliográfica sobre a região e outros aspectos da biodiversidade local e o estudo do meio. Foram realizadas visitas onde se verificaram as condições locais no Ceulbra, para que se pudesse otimizar o tempo de explicações no decorrer do trajeto, além de estabelecer os locais para a parada com fins exploratórios/informativos. 3) Montagem de mapas, cartazes e maquetes que consistiu em uma coleta de dados previamente realizada junto ao departamento de Engenharia da Universidade, onde foram confeccionados os mapas e painéis destinados ao público e fotografias na forma de painéis que representam o processo de formação do centro Experimental e suas principais características. Esta etapa de planejamento teve como objetivo propiciar o contato com o ambiente da pesquisa, provocando questionamento sobre suas origens e respectivos usos. Também se aproveitou para discutir como o estudante utiliza essas informações e como a sua estada no Ceulbra poderia transformar o ecossistema local. A exposição dos mapas e pôsteres da região consistiu em coleta prévia, posta à disposição da equipe pesquisadora e técnicos locais, visando a interatividade. Entre os temas foram abordados os painéis sobre a propriedade e os piquetes encontrados no Ceulbra. Os painéis são compostos por fotografias da região e esquemas didáticos de forma a representarem futuramente, um trabalho de campo virtual para aqueles que não pudessem participar da trilha ecológica quando oferecida pelo professor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o desenvolvimento do projeto verificou-se que aprender ganhou um novo significado quando relacionado ao estudo do meio. As atividades ao ar livre e o contato direto com a natureza foram de suma importância para o desenvolvimento intelectual e social, segundo a avaliação dos participantes, criando uma relação harmoniosa entre o homem, seu meio e sua postura natural. Assim, buscou-se desenvolver um estudo junto à comunidade escolar, tendo a trilha ecológica como laboratório natural, possibilitando a construção de um conhecimento básico sobre o ambiente local, observando as diferentes formas de preservação e conservação do meio, em que também foi possível os alunos reconhecerem quando aconteciam as atitudes inapropriadas em relação à natureza. O ensino vivencial permitiu uma aprendizagem mais efetiva e significativa, sendo fundamental o papel da educação ambiental com vistas a estimular uma reflexão mais crítica no ensino. A produção de material didático pela equipe, contribuiu para a abordagem de aspectos relevantes em relação ao ambiente através de cartazes, maquetes, bem como a seleção de conteúdo exposto nas placas dos piquetes, identificando a biodiversidade presente e sua história de vida. Encontra-se em andamento a construção de uma trilha virtual com informações do centro e da biodiversidade de Montenegro - RS. Portanto, o trabalho da trilha ecológica como estratégia de aprendizagem, vem de encontro as atuais necessidades educativas para construção de uma mudança de pensamento e de atitude, a partir dos preceitos propostos na educação ambiental visando o desenvolvimento sustentável. Sendo assim, o projeto veio contribuir com o ensino almejado onde se quis não só repassar informações dos acontecimentos que ocorrem no cotidiano e no mundo, mas também formar o participante e levando-o à prática do descobrir, refletir e discutir as ações e pensamentos resultantes do conhecimento adquirido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alvarenga, L. da C. A. Mudando valores na escola; praticando educação ambiental. Candombá: Revista Virtual, 2005.
ANDRADE, L. et Al. Oficinas Ecológicas: Uma proposta de mudanças. Petrópolis: Vozes, 1995.
Arancíbia, S. D. & Cavalcante, A. De M. B. Conservação da biodiversidade e da paisagem através de trilhas com sinalização para o ecoturismo, na Reserva Ecológica de Sapiranga, Ceará. Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC, Fortaleza: Anais, 2005.
ARAÚJO, D.; FARIAS, M.E. Trabalhando a construção de um novo conhecimento através dos sentidos em trilhas ecológicas. In: II Simpósio SulBrasileiro de Educação Ambiental, 2003. Anais. Itajaí: Unilivre, 2003.
DIAS, G.F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2003.
IBGE: banco de dados. Disponível em :http://www.ibge.gov.br acesso em maio 2008.
LÜCK, H. Pedagogia Interdisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
REIGOTA, M. Educação Ambiental, cidadania e criatividade. São Paulo: UNICAMP, 1991.
VASCONCELLOS, J. Trilhas interpretativas: aliando educação e recreação. Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Curitiba: IAP, 1997. |