Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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Arte e Ambiente
10/09/2011 (Nº 37) Diane Arbus: Registros das Diferenças
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DIANE ARBUS: REGISTROS DAS DIFERENÇAS

DIANE ARBUS: REGISTROS DAS DIFERENÇAS

 

Cláudia Mariza Mattos Brandão[i]

Amanda Morialdo Funari[ii]

Carine Belasquem Rodriguez[iii]

 

 

Articular a reflexão sobre a produção artística em fotografia, focada nas imagens fotográficas de Arbus, possibilita o desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo sobre a alteridade dos sujeitos, além de estimular a análise das imagens como discursos/testemunhos sobre o impacto dos padrões socialmente disseminados na “Sociedade do Espetáculo”, em sua constante produção de rótulos acerca das diferenças.

Sabemos que vivemos numa sociedade de padronização do indivíduo, “um mundo onde o que vemos tem muita influência em nossa capacidade de opinião” (HERNÁNDEZ, 2007, p. 29), no qual as pessoas muitas vezes alienam-se da complexidade das relações em função de modelos sociais instituídos. Nesse sentido, é possível considerarmos as representações visuais, em especial a fotografia, como portadoras e mediadoras de posicionamentos discursivos que estimulam a reflexão acerca do mundo ao redor.

 

Como nenhum outro fotógrafo, Diane Arbus tinha consciência plena do projeto fabulador de que se incumbiu. A busca por rostos e histórias fantásticas tomava contornos de verdadeira expedição. Conhecida como a “fotógrafa dos freaks” – alcunha que não lhe agradava –, soube expandir a noção de anomalia para além da presença física de corpos e rostos incomuns. Seu feitio conhecia os meios para colher zelosamente de cada modelo ou de cada paisagem, por ordinários que fossem, o grotesco e o estranho. Não era uma questão de método, mas de envolvimento. (KURAMOTO, p. 07, 2006)

 

Diane Nemerov nasceu em Nova York, no dia 14 março de 1923. Os pais eram proprietários de uma loja de departamento especializada em roupas femininas. Aos 18 anos ela casa-se com Allan Arbus, um funcionário do departamento de propaganda da loja da família, de quem recebe de presente uma câmera fotográfica (Graflex), o que a motiva a frequentar as aulas da fotógrafa Berenice Abbott. Um pouco depois disso, Diane e Allan são contratados pelo pai da Diane, para fazer os anúncios publicitários da loja nos jornais.

            Em 1946 o casal aluga um estúdio, iniciando uma parceria em “fotografia de moda” que durou mais de dez anos.   Os anos 50 foram produtivos para o casal. Nessa época ainda havia poucos aparelhos de TV nas casas norte-americanas, e os anúncios publicitários que circulavam em revistas e jornais recebiam altos investimentos. Apesar disso, a fotografia de moda não satisfazia nenhum dos dois. O Allan queria ser ator e a Diane desejava, de alguma maneira, penetrar na história de vida das pessoas fotografadas, algo impossível na produção de editoriais de moda. 

            Por volta de 1955, na busca por um estilo pessoal, Diane começou a frequentar o estúdio da fotógrafa austríaca Lisette Model, conhecida por registrar os extremos das aparências: pessoas magras, gordas, ricas, pobres. Model foi uma influência determinante no estilo autoral adotado a partir de então. Durante as aulas com a fotógrafa, Arbus descobriu em Nova Iorque dois redutos de freaks[iv]: o Hubert´s Museum, uma espécie de circo de horrores, e o Club 82, uma casa de espetáculos travestis, que se transformaram no tema de seus primeiros ensaios fotográficos individuais publicados.

            É difícil passar impunemente diante das fotografias de Diane Arbus. São imagens que desconcertam o olhar e nos capturam pela estranha sensação que provocam. Suas fotos tocam no fundo da alma deixando na memória um traço, marcado como um arranhão.

O que vemos são pessoas friamente expostas na precariedade de suas condições humanas. São indivíduos fortemente marcados por traços que as identificam em grupos específicos, marginalizados pelas diferenças expostas ao olhar, condenadas por sua condição de freaks. Com tal produção, com a veracidade das aparências que incomodam e desacomodam os modelos de beleza internalizados, Diane Arbus abre um curioso diálogo entre aparência e identidade, ilusão e crença, teatro e realidade.

A atualidade e pertinência do tema nos fazem refletir sobre as variedades de culturas, etnias e grupos (diferentes tribos), com que lidamos cotidianamente, e a dificuldade de aceitar o humano e suas diferenças. Afinal, Diane Arbus nos pergunta: Como permitimos que a imagem de alguém funcione como um carimbo de identidade? Por que é tão difícil para muitos perceber um “além da forma”?

 

Mexican dwarf

Diane Arbus
Mexican dwarf in his hotel room in N.Y.C, 1970.

 

Arbus, Jewish giant at home

Diane Arbus
A Jewish giant at home with his parents in the Bronx, N.Y.,1970.

Albino sword swallower

Diane Arbus
Albino sword swallower at a carnival, Md.,1970.

 

Arbus, Untitled

Diane Arbus
Untitled (1), 1970-71.

 

Arbus, Untitled

Diane Arbus
Untitled (6), 1970-71.

 

 

Arbus, Untitled

Diane Arbus
Untitled (7); 1970-71.

 

 

 

REFERÊNCIAS:

HERNÁNDEZ, Fernando. Catadores da Cultura Visual: transformando fragmentos em nova narrativa educacional. Porto Alegre: Mediação, 2007.

Master of Photography, disponível em: http://masters-of-photography.com/A/arbus/arbus_untitled7_full.html

KURAMOTO, Emy. A representação diruptiva de Diane Arbus: do documental ao alegórico. Campinas, SP: [s.n.], 2006.

 



[i] Professora assistente do Centro de Artes e Design, Universidade Federal de Pelotas, coordenadora do PhotoGraphein - Núcleo de Pesquisa em Fotografia e Educação, UFPel/CNPq. attos@vetorial.net

[ii] Licenciada em Artes Visuais, pesquisadora do PhotoGraphein - Núcleo de Pesquisa em Fotografia e Educação, UFPel/CNPq.

[iii] Licenciada em Artes Visuais, pesquisadora do PhotoGraphein - Núcleo de Pesquisa em Fotografia e Educação, UFPel/CNPq.

[iv] A palavra Freak usualmente é utilizada como sinônimo de "aberração", algo fora do normal, excêntrico ou diferente.

Ilustrações: Silvana Santos