Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Arte e Ambiente
04/09/2012 (Nº 41) A VIDA NA PRODUÇÃO ARTÍSTICA DE JAIME PRADES
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A VIDA NA PRODUÇÃO ARTÍSTICA DE JAIME PRADES

 

Cláudia Mariza Mattos Brandão[i]

 

 

RESUMO: O artigo propõe uma reflexão acerca das relações entre o homem contemporâneo e o meio natural através da obra do artista urbano Jaime Prades.

 

 

A frase que inspira esta edição da revista me levou a refletir sobre a visibilidade das relações do homem contemporâneo com o meio. Deepak Chopra afirma que "As árvores são nosso pulmão, os rios nosso sangue, o ar é nossa respiração, e a Terra, nosso corpo". E, se assim for, temos muito que aprender sobre o assunto, pois basta olhar ao redor para termos a certeza de que o CORPO está doente (Figura 1).

 

 

Figura 1: Cláudia Brandão

Fotografia digital, 2009.

 

 

É difícil não identificarmos nas paisagens urbanas contemporâneas sinais da “passagem” humana, marcas do consumo e do descarte. E não me refiro aqui ao “lixo”, trata-se de pensar sobre a posição de tais objetos no cotidiano de determinada pessoa, nas relações entre memória e esquecimento, entre vida e morte.

Muito se tem falado sobre a maciça presença das sacolas plásticas (Figura 2), distribuídas em inúmeros estabelecimentos comerciais, nas paisagens urbanas, rurais e marinhas. Sim, pois esses objetos além de poluírem a paisagem, podem provocar a morte por asfixia, por exemplo, de tartarugas. Ou seja, temos livre no ar, materiais que de utilitários podem se transformar em horrendos adornos para as árvores (Figura 3), assim como, armas mortíferas. 

 

 

Figura 2: Cláudia Brandão

Fotografia digital, 2009.

 

 

Figura 3: Cláudia Brandão

Fotografia digital, 2009.

 

 

Essas são questões exaustivamente debatidas, legisladas, mas ainda sem uma solução plausível. O que precisamos perceber é que os resultados de nossos comportamentos podem ser a diferença entre a vida e a morte. VIDA que brota da terra, do ar e da água enquanto essência animadora dos seres, e que aparece, também, como apelo criativo da consciência poética de artistas urbanos.

Refiro-me em especial ao artista espanhol nacionalizado brasileiro Jaime Prades, um dos precursores do grafite brasileiro. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, Prades destaca-se no cenário artístico por suas intervenções urbanas nas ruas de grandes cidades, em especial, São Paulo. Artista autodidata, foi integrante de um dos primeiros coletivos de arte de rua de São Paulo, o Tupinãodá, na década de 1980.

Com uma atitude diferente da maioria dos grafiteiros, cujas produções destacam-se pelas soluções pictóricas, em seus trabalhos Prades prioriza uma linguagem iconográfica. Isso, em prol da problematização acerca de comportamentos contraditórios identificados cotidianamente nas cidades. Sobre uma proposta em especial (Figura 4) o artista destaca: VIDA. Para a cidade, para a Virada Sustentável, para todos! Por uma cultura de vida e paz interna e planetária (disponível em http://lilianeferrari.com/tag/vida/).

 

 

Figura 4: Jaime Prades.

VIDA, série de lambe-lambe.

Disponível em: http://www.jaimeprades.art.br/

 

"As ruínas urbanas são testemunhas da voracidade humana. Migalhas do apetite insaciável de um sistema devorador" (Jaime Prades, http://jaimeprades.blogspot.com.br/). E essas palavras do artista ganham mais sentido e profundidade quando analisamos a proposta apresentada ao público em 2010, sob o título “Natureza Humana”. O projeto surgiu da observação crítica sobre o lixo acumulado na cidade de São Paulo, e de como a questão implica na detecção do desperdício, em especial, da madeira.

Em a “Natureza Humana” Prades faz uma crítica contundente ao desperdício e ao desmatamento, recriando no ateliê as árvores que ora repousam nas caçambas de lixo como peças descartadas de madeira sólida (Figura 5). Ele alude ao tombamento de uma floresta fragmentada, que no dia-a-dia das cidades morre aos poucos na forma de restos esquecidos da vida.

 

 

http://style.greenvana.com/wp-content/uploads/2011/01/jaime_03-200x300.jpg

Figura 5: Jaime Prades.

Natureza Humana, 2011.

Disponível em: http://www.jaimeprades.art.br/

 

 

http://style.greenvana.com/wp-content/uploads/2010/12/jaime_01-550x363.jpg

Figura 6: Jaime Prades.

Natureza Humana, 2010.

Disponível em: http://style.greenvana.com/2011/jaime-prades-cria-arvores-com-madeira-usada/

 

 

A série “Natureza humana” foi apresentada em 2010 no evento Setembro Verde, na galeria paulista Matilha Cultural (Figura 6), com grande repercussão. Embora seja reconhecido pela realização de intervenções urbanas, o artista reconhece que as suas “árvores” recriadas geram maior impacto quando colocadas em ambiente fechado (Figura 7, 8 e 9).

 

 

MSB Jaime Prado 2 Arte Sustentável: 10 incríveis artistas que transformam lixo comum em arte

Figura 7: Jaime Prades.

Natureza Humana, 2010.

Disponível em: http://falacultura.com/2012/02/07/arte-sustentavel-10-incriveis-artistas-transformam-lixo-comum-em-arte/

 

 

MSB Jaime Prado 8 Arte Sustentável: 10 incríveis artistas que transformam lixo comum em arte

Figura 8: Jaime Prades.

Natureza Humana, 2010.

Disponível em: http://falacultura.com/2012/02/07/arte-sustentavel-10-incriveis-artistas-transformam-lixo-comum-em-arte/

 

MSB Jaime Prado 13 Arte Sustentável: 10 incríveis artistas que transformam lixo comum em arte

Figura 9: Jaime Prades.

Natureza Humana, 2010.

Disponível em: http://falacultura.com/2012/02/07/arte-sustentavel-10-incriveis-artistas-transformam-lixo-comum-em-arte/

 

E para encerrar essa reflexão sobre a vida que brota da terra na forma de árvores, que morrem e se transformam em móveis, e que renasce na forma de “árvores” pela mão do artista, trago algumas perguntas que o próprio artista nos faz como uma provocação à VIDA: “Por que tanto desperdício e tanta carência?”, “Por que não cuidamos do que é comum?”, “Você se importa com a natureza?”

 

“Pois o que mais está sendo contaminado, destruído e desprezado, é o mais sagrado!” (Jaime Prades, depoimento disponível em http://vimeo.com/14868118)

 



[i] Doutora em Educação, mestre em Educação Ambiental, professora do Centro de Artes, Artes Visuais – Licenciatura, Universidade Federal de Pelotas, coordenadora do PhotoGraphein - Núcleo de Pesquisa em Fotografia e Educação, grupo de pesquisa UFPel/CNPq. attos@vetorial.net

Ilustrações: Silvana Santos