Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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08/06/2020 (Nº 71) PROJETO CONEXÃO PARCÃO: AMIGOS E GUARDIÕES
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PROJETO CONEXÃO PARCÃO: AMIGOS E GUARDIÕES

Adriana Backes1

Adriana RovêdaCornelius2

Cláudia Vogel3



Resumo

O presente artigo tem como objetivo relatar a experiência de aproximação, imersão, conhecimento, engajamento e comprometimento da comunidade escolar local com o Parque Municipal Henrique Luis Roessler, em Novo Hamburgo, a partir do projeto Conexão Parcão: Amigos e Guardiões. O projeto teve início em 2018, sendo que desdobramentos da proposta continuam ocorrendo. O projeto propõe que os estudantes dos arredores, a partir da sensibilização e conscientização sobre a importância e riqueza desta unidade de conservação, contribuam para o cuidado e conservação, atuando como amigos e guardiões do parque. Os estudantes passam por momentos de formação e podem atuar em atividades programadas de educação ambiental junto aos frequentadores e visitantes, bem como em dias de livre escolha com seus familiares, circulando com o colete de guardião indicando o cuidado do parque pela comunidade. Os resultados preliminares demonstram que os estudantes desenvolveram o sentimento de pertencimento, resultando num maior engajamento nas atividades e ações de conservação. As crianças, jovens e suas famílias se sentem orgulhosas e satisfeitas por fazerem parte desta iniciativa.

Palavras-Chave: educação ambiental; unidade de conservação; Guardiões do Parcão



Abstract

 This article aims to report the experience of approximation, immersion, knowledge, engagement and commitment of the local school community with the Henrique Luis Roessler Municipal Park, in Novo Hamburgo, through the project Parcão Connection: Friends and Guardians. The project started in 2018, and developments of the proposal continue to occur. The project proposes that students from the surroundings, from the sensitization and awareness about the importance and wealth of this conservation unit, contribute to the care and conservation, acting as friends and guardians of the park. Students go through training sessions and can participate in scheduled environmental education activities with regulars and visitors, as well as on days of free choice with their families, circulating with the guardian's vest indicating the care of the park by the community. Preliminary results demonstrate that students have developed a sense of belonging, resulting in greater engagement in conservation activities and actions. Children, young people and their families are proud and satisfied to be part of this initiative.

Keywords: environmental education; conservation unit; Guardians of the Parcão



Introdução

O projeto Conexão Parcão: Amigos e Guardiões cujo objetivo é o de aproximar, engajar e comprometer a comunidade escolar do entorno do Parque Municipal Henrique Luis Roessler, o Parcão de Novo Hamburgo, com a sua conservação, é desenvolvido em parceria com as seguintes escolas municipais: EMEF Ana Néri (Jardim Mauá), EMEF Anita Garibaldi (Canudos), EMEF Marcos Moog (Jardim Mauá), EMEF Machado de Assis (Canudos), EMEF São Jacó (Hamburgo Velho), EMEF Presidente Castelo Branco (Canudos).

Sendo a maior área verde da zona urbana de Novo Hamburgo, totalizando 54 hectares, o parque faz divisa com três bairros do município de Novo Hamburgo aos quais estas escolas pertencem. São eles: bairro Jardim Mauá, Canudos e Hamburgo Velho.

O histórico do parque sempre contou com a participação da comunidade, aproximação e sentimento de pertencimento que também propomos neste projeto. A criação do parque surgiu da mobilização da comunidade local que, no final dos anos 1980, reuniu lideranças comunitárias com o apoio dos ambientalistas do Movimento Roessler para a Defesa do Meio Ambiente e da UPAN (União Protetora do Ambiente Natural)propondo à prefeitura de Novo Hamburgo um parque na última área verde do município.

Então, no ano 1990, ocorreu a fundação do Parcão, sendo que:

A área foi adquirida pela prefeitura do município mediante aumento temporário da cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) dos seus moradores, conservando assim um patrimônio natural, histórico e cultural de valor imensurável (BACKES; CORNÉLIUS; VOGEL, 2019).

Anos mais tarde outra mobilização popular impediu que o parque fosse cortado pela rua Florença, o que acarretaria em grandes impactos à fauna e flora, especialmente à sobrevivência de animais como o graxaim

Atualmente o Parcão está inscrito no Órgão Estadual como uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável, classificado como uma ARIE (Área de Relevante Interesse Ecológico) e é dentro deste ambiente natural, rico em biodiversidade, com diversos exemplares de fauna e flora que ocorrem atividades de Educação Ambiental (BACKES; SILVA, 2017).

Talvez ainda não saibamos dar o real valor de uma área que é categorizada como uma unidade de conservação tanto para as espécies que nela vivem,como para a comunidade que vive no seu entorno:

Você sabia que o Brasil tem a maior biodiversidade do planeta e que boa parte desse patrimônio natural é protegido por Unidades de Conservação? São mais de 2.500 áreas de proteção ambiental, que ocupam 17% do território nacional e garantem a conservação de florestas, savanas, rios e oceanos, preservando a riqueza biológica e cultural. Isso não só garante a sobrevivência de inúmeras espécies como a qualidade de vida da população em seu entorno, já que pode servir de base para iniciativas de desenvolvimento sustentável (NUNES, 2018).

A elevação de categoria de área verde à ARIE foi de fundamental importância, pois foi uma forma de garantir por lei a maior preservação desse espaço pela comunidade (BACKES; CORNELIUS; VOGEL, 2019). No entanto, o que, de fato, contribui com a conservação é a importância que a comunidade, que mora nos seus arredores e que usufrui deste espaço, atribui a essa área e que acaba por desdobrar-se em atitudes de conservação ou de depredação. E é neste ponto que o papel da Educação Ambiental nesse espaço, torna-se fundamental, bem como projetos de que o presente artigo trata.

No entanto, assim como Arno Kayser, ambientalista e engenheiro agrônomo, acreditamos que não bastam decretos e leis para a conservação dos recursos naturais, fazem-se necessárias ações de aproximação e conscientização para que a comunidade abrace os espaços naturais.

Num país como o Brasil, marcado por sua diversidade de ambientes, a defesa da sua vegetação assume uma dimensão fundamental. Todos os brasileiros têm razões de sobra para defendê-la. Aflora brasileira é uma das mais ricas do mundo, fundamental para regular o clima de todo o planeta e também é uma fonte de produtos para os mais diversos fins. […] Ao mesmo tempo a flora vem sofrendo uma série de ameaças desde o início da ocupação do nosso território. […] Somente a reação dos cidadãos pode desenvolver uma relação de proteção e uso e de uso sustentável (KAYSER, 2010,p.24).

Entre2017 e 2019, o Parcão passou por um processo de revitalização. As obras,em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) através do Programa de Desenvolvimento Municipal Integrado - PDMI, foram de incremento no espaço de lazer, a estruturação da trilha pública e embelezamento do espaço, entre outros. As melhorias aumentaram significativamente o número de visitantes e frequentadores assíduos do parque, especialmente aos finais de semana, chegando a receber 5 mil pessoas nos dois dias.

O aumento na circulação de pessoas trouxe a necessidade de um olhar mais afetivo e de identidade com o parque a fim de diminuir possíveis impactos antrópicos. Além disso, por se tratar de uma área de conservação existem regras diferenciadas que devem ser conhecidas.

Esta foi a motivação para o projeto Conexão Parcão: Amigos e Guardiões que tem como objetivo amplo oportunizar atividades que favoreçam a aproximação da comunidade do entorno com o Parcão, em especial os estudantes e suas famílias, objetivando a conexão com o parque tornando-os “amigos e guardiões”, para que interajam, conheçam, sintam-se sensibilizados e comprometidos com a conservação, cuidado e divulgação da importância do parque. A proposta também está em consonância com os indicadores de sustentabilidade Identidade Afetiva e Sensibilização, Grupos de agentes ambientais escolares em todos os segmentos e Valorização dos recursos hídricos, princípios norteadores das ações da Educação Ambiental na rede municipal de ensino de Novo Hamburgo-RME.

Entre os objetivos específicos do projeto estão: proporcionar um maior conhecimento sobre a importância histórica e ambiental do parque; incentivar o uso do parque como forma de lazer, contato com a natureza e educação ambiental; tornar o estudante um multiplicador fazendo com que transmita os conhecimentos adquiridos aos colegas, professores, familiares e comunidade em geral; ampliar a compreensão da criança sobre o mundo social e natural e possibilitar o reconhecimento das interdependências entre os diferentes elementos do ambiente ( biótico e abiótico ) e que as interferências, positivas ou negativas, causadas em determinados elementos refletem no todo, enfim, no equilíbrio ecológico. Além de estabelecer relações de respeito, responsabilidade e solidariedade através do trabalho em grupo, construindo relações de respeito com a natureza, reconhecendo-as como necessárias para garantir a qualidade de vida e favorecer momentos de pesquisa e investigação histórica e científica no parque, desenvolvendo as diferentes linguagens e manifestações artísticas.



Fundamentação Teórica

Há algum tempo vem se falando da importância no desemparedamento das crianças, e na aprendizagem que vai para além dos muros das escolas:

[...] é fundamental investir no propósito de desemparedar e conquistar os espaços que estão para além dos muros escolares, pois não apenas as salas de aula, mas todos os lugares são propícios às aprendizagens: terrenos, jardins, plantações, criações, riachos, praias, dunas, descampados; tudo que está no entorno, o bairro, a cidade, seus acidentes geográficos, pontos históricos e pitorescos, as montanhas, o mar... (TIRIBA, 2010, p.9).

Quando se trata de educação ambiental para uma unidade de conservação, nada mais propício a fazer neste território, do que envolver a comunidade do entorno:

Fica evidente que no entorno de reservas e de áreas de proteção ambiental, a sustentabilidade local passa necessariamente pela Educação Ambiental de suas comunidades, pelo favorecimento da biofilia desde a mais tenra idade (TIRIBA, 2014, p. 68).

Richard Louv (2016) jornalista e autor do livro A última criança na natureza comenta em seu livro que muitas instituições, “estão ajudando a abrir caminho na direção de um reencontro com a natureza e a criança” pois elas entendem que:

[...] enquanto o conhecimento sobre a natureza é vital, a paixão é o combustível pra longa luta pra salvar o que restou da nossa herança natural e - por meio do surgimento de um urbanismo verde - para reconstituir a terra e as águas perdidas. A paixão não chega por materiais de divulgação. A paixão é pessoal,ela emerge da própria terra… Se vamos salvar o ambientalismo e o meio ambiente também precisamos salvar uma espécie indicadora em perigo de extinção: a criança na natureza (LOUV, 2016, p.178).

O Parcão, através do setor de educação ambiental, acredita nesta premissa e busca realizar projetos que aliem sensibilização e conhecimento. Desde a mais tenra idade atividades são oferecidas com o intuito de proporcionar uma conexão com o meio ambiente. A proposta vem de encontro ao documento norteador da educação infantil na rede municipal de ensino.

Acreditamos que quanto mais cedo iniciarmos o encontro da criança com a natureza melhores serão os resultados, pois a criança contemporânea já nasce no ambiente urbano e, infelizmente, com possibilidades muito restritas de viver na natureza (Caderno 2 , Educação Infantil, Documento Orientador, 2020, p.86, Apêndice C).

Esta experiência da criança em nascer e viver num ambiente urbano faz com que cresçam, por exemplo, acreditando que arroio é esgoto, ou é a água que sai do cano do banheiro. Ouentão que se assuste ao ver estrelas no céu aos nove anos, porque simplesmente não sabia o que era, nunca as tinha visto, como relata Narayan, pai, líder de um grupo de escotismo.

Uma noite, uma menina de nove anos me acordou.. Ela precisava ir ao banheiro. Saímos da barraca. Ela olhou para cima, levou um susto e agarrou a minha perna. Nunca tinha visto estrelas. Naquela noite percebi o poder da natureza sobre uma criança. Elas se tornou uma pessoa diferente (LOUV, 2016, p. 175).

Afinal como dizer às crianças e jovens que se faz necessário preservar os arroios se, na visão delas, eles não passam de simples esgotos?

Tendo em vista que só cuidamos daquilo que amamos e só amamos aquilo que conhecemos, consideramos necessário oferecer oportunidade para que a criança aprenda a amar a terra. Dessa forma, é fundamental colocar a criança em contato com todas as formas de vida, criando uma identidade afetiva com a terra, essa identidade afetiva com a terra (NOVO HAMBURGO, 2020, p.86).

Para alcançarmos um maior número de pessoas, faz-se necessário parcerias, neste caso, o setor de educação ambiental do parque, vinculado à Secretaria Municipal de Educação, buscou como aliada à comunidade escolar do entorno.

Donos de um dos acervos de maior biodiversidade do planeta, estamos desprezando nossa maior riqueza. Daí a importância do trabalho conjunto: pais, professores, monitores ambientais, gestores das áreas de educação, saúde, conservação da natureza, sustentabilidade, etc. (MENDONÇA, 2015, p.8).

Está comprovado que a identificação com o espaço natural traz resultados imediatos e a longo prazo. Estudos de Rita Mendonça relatam alguns dos benefícios desta interação.

A ocupação das praças pelas escolas acabou com as frequentes depredações das praças. Esta é uma iniciativa que poderia ser levada para todas as cidades, pois traz benefícios recíprocos, tanto para a escola, ampliando as possibilidades de ensino/aprendizagem, como para a área ambiental, ampliando suas parcerias com os cidadãos, que ajudam a cuidar enquanto aprendem a interagir com os espaços públicos. (Mendonça, 2015,p.60)

O Parcão é um território público, acessível a todas as pessoas de dentro e de fora da cidade. E por ser público é preciso garantir que esse mesmo público que o acessa, para o seus momentos de lazer e tranquilidade junto a natureza, também saiba que é uma unidade de conservação. E para que mantenha-se conservado é preciso que cada um tome ações conscientes. Por isso o parque é ao mesmo tempo um território de conservação e lazer e um território educativo potente para envolver toda a comunidade do entorno, através do projeto em questão como descrito no livro: desemparedamento da Infância: Barros complementa este conceito e defende a cidade como território educativo:

Significa potencializar agentes educativos enquanto instituições formadoras, incluindo na escola as práticas comunitárias, bem como articular os saberes acadêmicos com os espaços de educação não formal. Na comunidade de aprendizagem, o território urbano passa a ser potencialmente educativo. Nesse sentido, a cidade é compreendida como território vivo, permanentemente concebido, reconcebido e produzido pelos sujeitos que a habitam. Trata-se de associar a escola ao conceito de cidade educadora, pois a cidade, no seu conjunto, oferecerá intencionalmente às novas gerações experiências contínuas e significativas em todas as esferas e temas da vida (BARROS, 2018, p.31).



Metodologia

A ideia de realização do projeto, em 2018,partiu do diálogo entre a Secretaria Municipal de Educação (SMED) e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Previu-se que o parque a partir de sua revitalização teria um maior potencial de atendimentos e para isso haveria a necessidade de haver um plano de Educação Ambiental que atendesse esta necessidade.

A Equipe de Educação Ambiental, desde 2002 atendia grupos no parque porém não havia neste momento uma ligação frequente do parque, com as escolas que o cercam.

Sentiu-se a necessidade de se construir uma maior e melhor relação entre o Parcão e sua comunidade. Então foi criado o Projeto “Conexão Parcão: Amigos e Guardiões”.

Como estratégia foram realizadas visitas a cada uma das seis escolas municipais de ensino fundamental que ficam nos arredores do parque.

Em um primeiro momento a ideia foi fazer uma aproximação buscando a parceria e sensibilização das equipes diretivas das escolas. Nesta visita foi realizado um convite para uma reunião entre as as escolas participantes para alinhar ideias que atendessem os objetivos do projeto.

Ao mesmo tempo as duas secretarias aliadas ao Plano de Educação proposto pela empresa CELTES, definiu que a equipe de Educação Ambiental do parque faria nestas seis escolasuma palestra de apresentação do Parcão para todos os estudantes da Escola. Nestes encontros foram atingidos diretamente entre 1200 a 1500 estudantes e mais de 100 professores, e indiretamente suas famílias. A intenção era de trazer ao público alvo o desejo de estar e conhecer melhor o espaço.

Rita Mendonça coloca que: “o encantamento é fundamental para formar os alicerces de qualquer conhecimento”, enfatizando que “sem encantamento o conhecimento não nos afeta de verdade.” Ressalta ainda que o encantamento sobre o conhecimento e o encantamento sobre os fenômenos naturais diferem entre si, entretanto, ambos são fundamentais para que a aprendizagem ocorra de forma significativa:

É importante aqui fazermos as devidas distinções entre o “encantar-se com o conhecimento” e o “encantar-se com o fenômeno natural” propriamente dito. Se ambos são muito importantes, reconhecer a diferença entre eles é mais importante ainda. É comum darmos importância muito maior ao conhecimento do que à experiência. Mas quando entramos no campo das vivências com a natureza, somos desafiados a rever essa posição. Há muitas pesquisas bem fundamentadas que afirmam que, para melhores resultados na aprendizagem, a experiência aparece como tão importante quanto o conhecimento (MENDONÇA, 2015, p. 25).

A partir deste propósito de “encantar-se” com o espaço os estudantes interessados a terem vivências como guardiões foram convidados a participarem junto com os seus familiares de uma reunião com a equipe de educação ambiental e realizarem uma trilha interpretativa no parque. Neste momento os alunos conheceram os coletes de Guardião que poderiam ser retirados por eles para serem utilizados no parque aos finais de semana quando estivessem acompanhados de seus familiares.

Durante a trilha interpretativa, os Guardiões foram convidados a pararem na nascente do arroio Wiesenthal, que corta o Parcão a fazerem o Juramento do Guardião, que proferia as seguintes palavras: Prometo, como guardião e protetor da natureza: estudar, conhecer, curtir, cuidar, amar e reverenciar todas as espécies de vida, em especial do Parcão, cuidando da sua floresta, dos seres que nela moram e de suas águas, para que todos: animais, plantas e pessoas possam viver em harmonia, paz e alegria.

Além disso foram traçadas regras que o estudante interessado em ser Guardião do Parcão deveria seguir:

  • Participar, junto com um representante da família, do encontro de apresentação do Parcão e explicação do projeto e ter o bilhete assinado pelos pais autorizando a participação no Projeto.

  • Ser um exemplo para os visitantes do Parcão, respeitando as regras de uso;

  • Estar sempre acompanhado da família quando participar das atividades como Guardião do Parcão, vestindo o colete do Guardião.

  • Ajudar e informar os visitantes do parque quando solicitado;

  • Informar ao guarda municipal do parque caso perceba algo errado;

Ao mesmo tempo, cada escola, foi convidada a partir de sua trajetória, plano pedagógico, necessidade e interesse definir um plano de ação e metas a serem atingidas com o propósito de aproximarem-se ainda mais do Parcão.

Outra linha de atuação dos guardiões foi a participação em eventos e ações, enquanto grupo, de conscientização, esclarecimento e de interação com os frequentadores e visitantes do parque.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017, p.31), corrobora neste sentido. O capítulo da Área das Ciências da Natureza já aponta que “apreender ciência não é a finalidade última do letramento, mas sim, o desenvolvimento da capacidade de atuação no e sobre o mundo, importante ao exercício pleno da cidadania.”

As escolas tiveram como sugestão tratar de um ou mais dos temas abaixo listados.

Parcão bonito por natureza:A partir de uma imersão no parque, realização de atividades na área das artes, participação em concursos fotográficos com a exposição dos resultados no Parcão.

Trilha de saberes no Parcão: Participação em trilhas, pesquisas como detetives da natureza e participação no Festival de Curtas: Curta O Parcão(com a produção de audiovisuais)

Conhecendo o Parcão: Participação em palestras sobre o Parcão com profissionais da área.

Encontros Criança e Natureza: Realização de brincadeiras, piqueniques e/ou contação de história ao ar livre.

Caminhos das águas: Estudos sobre os arroios e a hidrografia do Parcão em parceria com a Comusa/Semam/ Prad Arroio Wiesenthal

Celebrando a nossa natureza: Integração com as escolas e suas comunidades escolares com trilhas, piqueniques, brincadeiras entre pais e filhos na pracinha, chimarrão e outros.

As escolas em sua maioria, buscaram seguir em 2018 as atividades propostas pela equipe do parque ampliando significativamente a presença destas famílias na unidade de conservação.

Uma das escolas decidiu realizar um estudo mais aprofundado em relação ao parque, adotando o projeto “Conexão Parcão “ como um projeto a ser desenvolvido com diversas turmas e estudantes.

Resultado

Em 2018 o projeto atingiu diretamente cerca de 1250 estudantes e 100 professores das escolas parceiras e em 2019 cerca de 1.500 estudantes e mais de 100 professores. Nesses dois anos houve cerca de 3.720 participações destas escolas em atividades diversas, tanto dentro do Parcão como nas escolas. Entre as atividades podemos citar:c onvite e apresentação do projeto, reuniões com os pais, trilhas de educação ambiental, plantio de árvores no parque e às margens do Arroio Wiesenthal, passeio de mobilidade social, sábados de integração da família com a escola, piqueniques, feiras de iniciação científica, entre outros.

A Escola Machado de Assis levou o projeto de pesquisa Conexão Parcão: Amigos e Guardiões, para as Feiras de Ciências da Escola, classificando-se para a Feira Municipal de Iniciação Científica e Tecnológica (FEMICTEC) e posteriormente para a VI Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente (CNIJMA).

Acreditamos, entretanto, que muitos dos resultados efetivos em relação tanto ao parque quanto ao meio ambiente como um todo, se darão a longo prazo. Identificação afetiva e cuidado que se estendem muito além dos guardiões e que podem não ser mensurados de imediato.



Considerações Finais

Em virtude dos bons resultados que este projeto vem obtendo, especialmente em dar visibilidade a identidade afetiva e cuidado com o Parcão, em 2020 pretende-se ampliá-lo. Será feita parceria com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e EMEI Paulo Sérgio Gusmão, pois as duas fazem parte do entorno do Parcão e demonstraram interesse no projeto no decorrer do ano de 2019, quando participaram das trilhas de Educação Ambiental do Parcão.

Além da ampliação no número de escolas a contribuírem com o projeto, serão ampliadas as atividades, incluindo-se: formação no contraturno, sábados letivos e atividades que serão realizadas durante a semana com a ida das professoras do parque às escolas e posteriormente a visita destas escolas ao parque, com atividades planejadas a fim de contemplar os objetivos de formação, integração e conexão dos Amigos e Guardiões do Parcão!



Referências

BARROS, Maria isabel Amando de, Desemparedamento da Infância: a Escola como lugar de Encontro com a natureza.<https://criancaenatureza.org.br/wp-content/uploads/2018/08/Desemparedamento_infancia.pdf>Acesso em 02 de mar. de 2020, 13h31

BACKES, Adriana.; SILVA, Rosemari de Lima e. O Movimento Roessler, o Parcão e a Educação Ambiental no Parcão. Disponível em: <http://movimentoroessler.org/o-movimento-roessler-o-parcao-e-a-educacao-ambiental-no-parcao/> Acesso em: 27 mai.2019, 11:25

BACKES, CORNÉLIUS; VOGEL e. Uma história encantada vivenciada em um passeio na floresta - contemplando a aprendizagem. Disponível em

<https://www.novohamburgo.rs.gov.br/smed/revista-saberes-foco/revista-saberes-foco-v2-n1> Acesso em: 26 fev.2020, 16:00

BRASIL, Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF, 2017.

NOVO HAMBURGO. Documento Orientador - Organização da Ação Pedagógica na Educação Infantil, Caderno 2, 2020.

KAYSER, Arno. A reconciliação com a floresta por uma atitude ecológica, - 2ed, rev. E ampl, Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010.

LOUV, Richard. A última criança na natureza. São Paulo: AQUARIANA, 2016.

MENDONÇA, Rita. Atividades em áreas naturais (livro eletrônico)São Paulo : Instituto Ecofuturo, 2015. 5 Mb; PDF.

NUNES, Mônica.<tp://conexaoplaneta.com.br/blog/umdianoparque-em-22-de-julho-visite-parques-nacionais-fotografe-e-publique-com-a-hashtag/>Acesso em 19 de mar. de 2020 , 14:14

TIRIBA, Lea. Crianças da Natureza. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2010-pdf/7161-2-9-artigo-mec-criancas-natureza-lea-tiriba/file>, p.9. Acesso em: 24 mai. 2019,16:50.

TIRIBA, Lea; PROFICE, Christiana. O Direito Humano à Interação com a Natureza. In SILVA, Aida Maria Monteiro; TIRIBA, Lea. (orgs.) Direito ao ambiente como direito à vida: desafios para a educação em direitos humanos. São Paulo: Cortez, 2014.

1Pós-graduada em Educação Ambiental, adrianabackes@novohamburgo.rs.gov.br,educadora ambiental do Parcão, prefeitura municipal de Novo Hamburgo,Rio Grande do Sul, Brasil.


2Pós-graduada em Educação Ambiental, adrianacornelius@novohamburgo.rs.gov.br, assessora de Educação Ambiental da prefeitura de Novo Hamburgo,Rio Grande do Sul, Brasil.


3Pós-graduada emMídias e Educação, claudiavogel@novohamburgo.rs.gov.br, educadora ambiental do Parcão, prefeitura municipal de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, Brasil.

Ilustrações: Silvana Santos