Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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Arte e Ambiente
15/03/2022 (Nº 78) O QUE NOS INDICA A ARTE SOBRE QUEM SOMOS?
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O QUE NOS INDICA A ARTE SOBRE QUEM SOMOS?

Cláudia Mariza Mattos Brandãoi



Resumo: A partir de duas efemérides celebradas em 2022, proponho neste texto uma reflexão sobre o que obras de arte podem nos dizer sobre a estrutura histórica de uma propalada identidade nacional. Abordo tal questão focada em produções de Tarsila do Amaral, refletindo sobre reverberações históricas que nos atravessam e influenciam comportamentos.



2022 é um ano especialmente emblemático para nós, brasileiros, pois celebramos dois marcos importantes da nossa cultura e da nossa história: o bicentenário da Independência e o centenário da Semana de Arte Moderna. Cabe destacar tais efemérides, pois elas envolvem em si mesmas contradições merecedoras de problematizações plurais. Além disso, para refletir sobre uma “Educação Ambiental para repensar sobre produção e consumo”, o tema desta edição da revista, é fundamental ter clareza sobre as estruturas sociais, políticas e históricas das mentalidades e dos comportamentos contemporâneos.

Assim como a historiadora Lilia Schwarcz, dentre outras/os pensadoras/es, entendo que os duzentos anos de Independência do Brasil deixam transparecer uma celebração prenhe de vazio. Independência para quem? Para os povos originários, para os negros ou para as elites palacianas do período?

São muitas as indagações que o tema suscita, e isso indica a sua complexidade. A temática acena para a formatação de uma identidade nacional com base nos valores de poucos em detrimento da maioria do povo, para quem somos e como nos comportamos na atualidade. Alude também, para o fato de muitas pessoas identificarem a emancipação de Portugal com o quadro do pintor Pedro Américo, intitulado “Independência ou Morte!” (1888), uma tela pautada numa pintura do francês Ernest Meissonierii.

A Semana de 22, realizada em São Paulo, foi também uma ideia que buscava contestar as manifestações ufanistas preparadas para as comemorações do centenário da Independência, considerado um evento conservador, palaciano e imperial. Assim como a própria independência, o modernismo é um processo que começou muito antes e em diferentes lugares, porém, naquele momento, alguns artistas paulistas reivindicavam para si essa vanguarda, questionando estruturas tradicionalmente arraigadas.

Não vou me alongar sobre as contradições históricas que margeiam o entendimento sobre a nossa “libertação” do jugo colonial. Neste texto eu quero focar na arte modernista brasileira dos idos de 1922 e nos indicativos que algumas obras nos oferecem, ampliando o entendimento acerca de uma sociedade que cada vez mais consome suas riquezas naturais, destruindo o território que tanto encantou os primeiros europeus que aqui chegaram.

Quando falamos em modernismo no Brasil logo lembramos da Semana de Arte Moderna, que teve como palco o Teatro Municipal de São Paulo, iniciada em 13 de fevereiro de 1922. Porém, reitero que a Semana e o próprio modernismo transbordam as datas emblemáticas.

Do evento, tanto celebrado quanto questionado, participaram nomes hoje consagrados como a artista plástica Anita Malfatti, os escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade e o compositor Heitor Villa-Lobos, dentre outros. Tratava-se de um grupo de intelectuais da burguesia paulista que capturou um movimento já em andamento, elaborado anteriormente pela cultura popular brasileira.

Embora sem ter participado da Semana, a artista Tarsila do Amaral, nascida numa fazenda no interior paulista e filha de um barão do café, se tornou a figura mais emblemática do movimento modernista. Casada com Oswald de Andrade, em 1926, Tarsila é a autora da obra muitas vezes apontada como símbolo do modernismo, o quadro “Abaporu”, de 1928, representado em muitos livros escolares.

Anteriormente, em 1923, Tarsila produziu duas obras que considero fundamentais para pensarmos sobre a elaboração de uma identidade nacional e suas controvérsias. E é sobre elas que versa esta reflexão.

Figura 1: Tarsila do Amaral, A Negra, óleo sobre tela, 80x100cm, 1923.