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HORTAS COMUNITÁRIAS OFERECEM EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SEGURANÇA ALIMENTAR O Correio visitou dois espaços comunitários destinados ao cultivo e à produção de itens orgânicos sem agrotóxicos e de baixo custo. São diversas espécies de hortaliças, frutíferas e de ervas medicinais que abastecem a mesa de comunidades inteiras
Na Horta Comunitaria na 602 Sul, criada por Georlano Alves Menezes - (crédito: Carlos Vieira/CB ) Além do acesso a uma alimentação saudável, saber de onde a comida vem também faz bem. Hortas comunitárias são a oportunidade de levar educação ambiental e segurança alimentar para comunidades, escolas, unidades de saúde e outros espaços de uso público do Distrito Federal. O engenheiro agrônomo e gerente de agricultura urbana da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Rogério Lúcio Viana Júnior, explica que esses espaços são um fenômeno mundial e que surgiram como uma solução para a produção de alimentos sem agrotóxico e de baixo custo. "Também são uma forma de propiciar segurança alimentar e geração de renda em comunidades mais carentes, que aprendem sobre sustentabilidade. Estimula-se, com as hortas, a captação da água da chuva e a reciclagem de resíduos orgânicos, que barateia ainda mais os custos da horta e controla o fluxo de materiais para os aterros sanitários", acrescenta o gerente. Rogério explica que a Emater trabalha no âmbito educativo, na orientação e estímulo na construção de hortas. Ele conta que a empresa já apoiou o desenvolvimento delas em locais como unidades escolares, de saúde e socioeducativas. Iniciativa pedagógica O professor de geografia da Secretaria de Educação do DF Georlando Alves Menezes, 55, sempre teve contato com o trabalho rural, por meio de sua família, de Quixadá (CE). Ele é o criador do Projeto Germinar, iniciativa pedagógica que atende alunos do Centro de Ensino Especial 2, na 612 Sul, onde leciona, e de outras unidades educacionais públicas e privadas, agendadas previamente. Nos fundos da escola onde trabalha, 50 mil metros quadrados são destinados para o plantio de diversas espécies de hortaliças, frutíferas e de ervas medicinais. “O foco é a complementação da merenda escolar e tratar da relação ensino e aprendizagem, onde os alunos terão conhecimento de educação ambiental, sustentabilidade e importância da conservação do meio ambiente”, explica Georlando, que criou o projeto em 2005. No canteiro das hortaliças, coentro, cebolinha, alface, manjericão, espinafre, agrião, tomate e pimentas de cheiro, malagueta e dedo de moça brotam dos canteiros suspensos ao lado do pátio da escola, assim como ervas , como mastruz, hortelã, tomilho e rúcula. “A horta ensina a importância de uma alimentação saudável, sem defensivos químicos, o que vai refletir nas qualidades de vida e de saúde das pessoas”, aponta o docente. “É um projeto que atende o interesse público, mas ainda carece de recursos públicos para alavancar a iniciativa e levá-la como modelo para outras unidades escolares”, informa o professor, que, junto a outro professor da unidade, Antônio Francisco da Silva Melo, 47, tiram dinheiro do próprio bolso para que o Projeto Germinar continue existindo.
Só de bananas são sete variedades: naniquinha, roxa, marmelo, ourinho, prata nanica, prata grande e maçã. Na roça, milho, feijão, fava e mandioca são mais algumas das espécies que Antônio cuida com muito carinho. “Como não é monocultura, temos uma grande diversidade de comida em um espaço pequeno, sem contar a variedade de animais, entre insetos e pássaros, que começaram a aparecer com o desenvolvimento da agrofloresta. É um microecossistema que se cria”, diz com orgulho. É tanta variedade de espécies, que Antônio não conseguiu precisar a quantidade exata para a reportagem.
A horta comunitária Girassol, localizada na Quadra 12 do Morro Azul, em São Sebastião, é uma das maiores em área urbana do DF e foi reconhecida pela ONU(foto: Instituto Horta Girassol) Referência para a ONU A horta comunitária Girassol, localizada na Quadra 12 do Morro Azul, em São Sebastião, é uma das maiores em área urbana do Distrito Federal. Ela começou após um episódio triste de um surto de hantavirose, doença transmitida pela urina, saliva e fezes de ratos silvestres, que ocorreu em 2005, na cidade. No local onde hoje é a horta, o lixo acumulado foi um dos responsáveis pela tragédia que matou moradores de São Sebastião. Após a limpeza do local, a administração regional deixou o cuidado do terreno a cargo da comunidade, que decidiu fazer ali uma horta. Com apoio e orientação da Emater, a iniciativa começou com apenas dois canteiros. “De lá para cá, só cresceu. Hoje, temos 10 pessoas envolvidas diretamente com a horta, fora os voluntários que nos ajudam com cursos de capacitação”, informa Hozana Alves do Nascimento, 52 anos, presidente do Instituto Horta Girassol. A horta fez e faz tanto sucesso que chamou a atenção até da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2017, o órgão internacional selecionou quatro hortas brasileiras consideradas exemplo de agricultura urbana. A Girassol foi uma delas. A horta serve alimento para 20 famílias que recebem semanalmente uma cesta de alimentos por meio de pagamento e a uma creche que recebe doações do que é produzido. O excedente é vendido para a comunidade. Banana, mamão, limão, alface cenoura, beterraba, milho, feijão, abóbora, alecrim, pimenta, capim-santo, erva cidreira, hortelã, taioba, ora-pro-nobis e inhame são algumas das espécies cultivadas no local. “A horta fez São Sebastião ganhar visibilidade. Tudo é orgânico e a água é da nascente. Para mim, a horta é como um quinto filho, que trato com muito amor e cuidado. Com ela, consegui estudar. Hoje, sou técnica em meio ambiente. Um dos meus filhos se formou em agronomia pela Universidade de Brasília e uma filha está no curso de veterinária”, orgulha-se a presidente.
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