Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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Educação e temas emergentes
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR Em 2021 a UNESCO alertou que a educação tradicional não estava preparando os jovens para atuarem em um mundo onde as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade são as maiores ameaças à vida humana. O órgão sugere que a Educação Ambiental faça parte do currículo escolar até 2025. No Brasil, segundo o Educa Brasil, hoje muitas instituições de ensino promovem a educação ambiental atrelada às aulas de Ciências da Natureza, principalmente por meio de matérias como: Biologia, Química e Física. Mas, à medida que eventos extremos cada vez mais poderosos e frequentes nos atingem, surge a pergunta: não seria o momento de incluir a Educação Ambiental como disciplina autônoma e obrigatória na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), desde as séries iniciais até o Ensino Superior? Imagem, www./onestep-connect.com. A UNESCO e a Educação Ambiental no currículo escolar até 2025 No estudo ‘Aprender pelo nosso planeta‘, a UNESCO analisou os programas e currículos escolares de 50 países de todas as regiões do mundo. Mais da metade não faz qualquer referência às mudanças do clima, e apenas 19% explicam sobre a biodiversidade. A diretora geral da organização, Aidrey Azoulay chamou a atenção: “A educação deve preparar os alunos para compreenderem a atual crise ambiental (…). Para salvar o planeta, devemos transformar a nossa forma de viver, produzir, consumir e interagir com a natureza. É fundamental integrar a educação para o desenvolvimento sustentável em todos os programas de aprendizagem de todos os lugares.” Por esses motivos, acreditamos que a Educação Ambiental deve integrar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que estabelece as aprendizagens essenciais nas escolas brasileiras de toda a Educação Básica, da Educação Infantil até o Ensino Médio. Atualmente, menciona-se frequentemente que a Educação Ambiental deve ser incorporada aos currículos escolares de maneira ‘interdisciplinar e/ou transversal’. Ao que se sabe, o Estado do Pará será o primeiro a trabalhar com a temática ambiental e sustentável nas escolas públicas, por meio do currículo escolar obrigatório a partir de 2024. A conferência de Berlim Durante a Conferência Mundial Virtual, mais de 80 representantes de países se comprometeram com medidas concretas para transformar a aprendizagem para a sobrevivência de nosso planeta. A importância da Educação Ambiental no Brasil Antes de mais nada, o ensino público no Brasil é de péssima qualidade. Esta realidade aparece sempre que o País participa de alguma avaliação global, como o PISA (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), organizado pela OCDE, por exemplo. No
último exame, de 2022, o Brasil ficou em 62º lugar
no ranking, atrás de países como México, Chile e
República Tcheca. O País nunca saiu do nível
mais baixo da escala de proficiência do Pisa, uma avaliação
com alunos de 15 anos. Como preparar as futuras gerações para o caos climático que deixaremos como herança Contudo, são problemas diferentes. Temos, sim, que melhorar a qualidade do ensino. Porém temos a obrigação de, simultaneamente, preparar as futuras gerações para o caos climático que deixaremos como herança. Felizmente, neste momento em que o Rio Grande do Sul foi quase varrido do mapa, especialistas como Mercedes Bustamante, professora titular do Departamento de Ecologia da UnB e membro da Academia Brasileira de Ciências, defendem publicamente esta inclusão. Em 11 de maio, a Folha de S. Paulo publicou o artigo Futuro incerto exige educação climática já, de autoria de Mercedes Bustamante. Ela alerta que devido ao extenso período durante o qual os efeitos do aquecimento global serão sentidos, há uma disparidade entre as gerações passadas, responsáveis pelas emissões, e as futuras, que viverão seus impactos. A extensão em que as gerações futuras irão vivenciar um mundo mais quente e diferente depende das escolhas de agora. Para a autora, a educação e a ciência são os motores de transformação da sociedade e desempenham um papel fundamental para moldar novos caminhos para o mundo. Em outras palavras, educar cidadãos globais e entregar conhecimento e inovação à sociedade. A educação climática, em essência, tem a ver com o aprendizado diante de riscos, incertezas e mudanças rápidas. Não podemos mais prometer aos jovens uma atmosfera estável em suas vidas. Como se preparar e lidar com as mudanças do clima? Para Mercedes Bustamante, a mudança climática não é apenas um fenômeno científico. É também uma questão social complexa que exige mais do que o ensino de conteúdo. O “clima” envolve as ciências naturais, enquanto “mudança”, ou educar para a mudança, impõe o envolvimento das ciências sociais e humanas. Como as crianças são particularmente vulneráveis aos efeitos de eventos extremos, os currículos escolares que incorporam o aprendizado sobre os riscos locais de desastres, e como se preparar e lidar com eles quando ocorrem, podem aumentar a resiliência dos jovens. A redução do risco de desastres com base na comunidade e centrada na criança se tornará cada vez mais parte do trabalho de professores. A preparação para a crise climática E conclui a autora: A preparação para a crise climática supera, por necessidade, qualquer estagnação atual nos currículos em todos os níveis. No futuro, não teremos o luxo da escolha. É nos espaços curriculares e de aprendizado formal e informal que os educadores encontrarão a oportunidade de mudança. Nós já tínhamos terminado este post quando, em pesquisa, descobrimos o que segue, e que mais uma vez demonstra a necessidade de Educação Ambiental nos currículos oficiais. Em maio de 2024, o Jornal da USP publicou a matéria ‘Estudantes de escolas públicas têm visão romanceada e utilitária dos oceanos’ que mostrava os resultados de uma pesquisa feita com estudantes paulistas. ‘Prevalência de uma cosmovisão antropocêntrica’ O trabalho resultou em um artigo publicado no Journal of Biological Education. No resumo da apresentação fica evidente a maligna falta de informação. ‘O ambiente marinho sofreu transformações e degradações que são, em muitos casos, irreversíveis. Conhecer e valorizar esse meio ambiente é o primeiro passo no processo de conservação. O objetivo foi analisar a percepção inicial de estudantes brasileiros do ensino médio sobre ambientes marinhos e sua relação com o cotidiano’. O instrumento utilizado para coleta de dados foi um questionário com três questões abertas. As respostas foram agrupadas por similaridade e depois por categorias. A maioria dos alunos não conseguiu relacionar suas vidas diárias com o ambiente marinho, com a justificativa mais citada sendo a distância física do mar. Quando questionados sobre seus conhecimentos, a maioria dos alunos mencionou assuntos relacionados à geografia, enquanto apenas alguns citaram a biodiversidade oceânica. Outro aspecto notável foi a prevalência de uma cosmovisão antropocêntrica, na qual o ambiente é visto como uma coleção de recursos naturais que estão disponíveis para uso humano. Para reverter esse cenário, defendemos práticas de ensino por meio da Educação Ambiental para ampliar o conhecimento dos alunos sobre os ecossistemas marinhos, sua preservação e seu impacto na qualidade de vida das pessoas, mesmo para aqueles que vivem longe das áreas costeiras. Este site diria que a educação ambiental daria uma chance para que as futuras gerações compreendam melhor o funcionamento da vida na Terra e sua infinita interdependência. A disciplina, se bem ministrada, também os prepararia melhor para enfrentarem e mitigarem as consequências de nossos excessos. Fonte: https://marsemfim.com.br/a-educacao-ambiental-na-base-nacional-comum-curricular/#google_vignette |