Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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Práticas de Educação Ambiental
16/03/2012 (Nº 39) Biodiversidade dentro da escola
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Biodiversidade dentro da escola

Valdir Lamim-Guedes1,2

¹Biólogo, Mestre em Ecologia pela Universidade Federal de Ouro Preto. Professor Visitante na Universidade Nacional de Timor-Leste, Díli, Timor-Leste.

²E-mail: dirguedes@yahoo.com.br

 

A diversidade de formas de vida, em número tão grande que ainda temos que identificar a maioria delas, é a maior maravilha desse planeta. A biosfera é uma tapeçaria intrincada de formas de vida que se entrelaçam (WILSON, 1997). A biodiversidade está passando por uma crise sem precedentes. Por este motivo, devemos atuar para demonstrar à sociedade o valor da biodiversidade e reunir esforços globais para o combate à sua perda, intensificada nas últimas décadas pelo aumento da pressão antrópica sobre as áreas naturais remanescentes (LAMIM-GUEDES, 2010).

O termo biodiversidade foi criado na segunda metade da década de 1980 - e amplamente divulgado pelo eminente biólogo americano E. O. Wilson. Segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica (MMA, 2000), diversidade Biológica ou biodiversidade é a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e dulcícolas, assim como os complexos ecológicos de que fazem parte; abrangendo ainda a diversidade dentro e entre espécies e, principalmente, dos variados ecossistemas.

O estudo da biodiversidade não deveria estar limitado a um inventário das espécies e genes por dois motivos: primeiro, porque o conceito de biodiversidade envolve também os ecossistemas e as paisagens; segundo, porque a biodiversidade e a diversidade cultural estão entrelaçadas no processo histórico de coevolução (SACHS, 2002).

A complexa diversidade natural constitui a base da vida no Planeta e a sua crescente deterioração é uma grave ameaça para a espécie humana e seu modo de vida, tanto na atualidade como a longo prazo. A biodiversidade oferece suporte a muitos processos e serviços dos ecossistemas naturais, tais como qualidade do ar, regulação climática, purificação da água, resistência a parasitas e doenças, polinização e prevenção das erosões.

Uma melhor gestão dos recursos naturais - incluindo a biodiversidade - é fundamental para o desenvolvimento sustentável que possa fomentar comunidades pacíficas, favorecer um crescimento econômico bem equilibrado e contribuir para a redução da pobreza. Apesar de existirem iniciativas que visam à proteção e utilização adequada da biodiversidade, estas não são suficientes para reduzir significativamente o risco de uma perda catastrófica de espécies.

Parte das ações para minimizar a perda de biodiversidade consiste em informar as pessoas, em idade escolar ou não, sobre o que é biodiversidade, sua importância e a necessidade de protegê-la e utilizá-la de forma adequada. Neste sentido, os desafios envolvendo abordagens sobre biodiversidade, tanto nos espaços formais quanto nos não-formais, englobam a necessidade das pessoas conhecerem a biodiversidade brasileira, como apresentado pela comenta Liana John (2006) no trecho a seguir:

“E de elefante, H de hipopótamo, Z de zebra. Ao aprender a ler e escrever, as crianças brasileiras ainda usam as espécies das savanas africanas como referência (...). Na hora de soletrar, nas brincadeiras, nas páginas dos livros – didáticos, paradidáticos e de literatura, para todas as idades – ainda prevalecem os bichos exóticos, mantendo no anonimato, desvalorizadas, as numerosas espécies nativas”.

Desta forma, professores, educadores, museólogos, entre outros, devem concentrar esforços para abordar a nossa biodiversidade durante as atividades educativas, a fim de reverter o quadro de uma triste constatação: o Brasil ainda não se apropriou de seu imenso patrimônio natural.

A necessária apropriação do nosso patrimônio cultural, natural e, em especial, da nossa diversidade biológica não ocorrerá sem a exposição dos brasileiros aos elementos que compõem tal patrimônio. Seja no processo escolar de alfabetização ou nas mais diversas e sofisticadas manifestações artísticas: livros, exposições, teatro, música, TV, cinema ou na mídia publicitária, hoje repleta de referências estrangeiras (JOHN, 2006), há uma carência de assimilação de fatores locais.

Tratando da biodiversidade em sala de aula ou em atividades extraclasse.

Devemos tratar a temática sobre a biodiversidade de forma transdisciplinar, como integrante do tema transversal Meio Ambiente proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997). Parte disto só é possivel se o professor tiver domínio sobre a temática, o que exige que este assunto seja abordado previamente, durante a formação do docente. Além disto, é necessário que sejam adotadas estratégias atraentes e viáveis. Portanto, devemos planejar atividades que se encaixem na realidade educacional brasileira. Dadas as limitações de infraestrutura nas escolas, sobretudo na rede pública de ensino, devemos trabalhar com o que temos disponivel.

Duas atividades são propostas a seguir. Ambas são de simples execução, com a utilização de pouco material. Além das atividades escolares, também podem ser realizadas atividades não-formais, como visitas a museus (LAMIM-GUEDES e SOARES, 2011) ou parques ecológicas, com resultados muito interessantes.

Atividade 1: biodiversidade dentro da escola

Objetivo: Observar a biodiversidade existente na escola; discutir as interações ecológicas que existem entre as espécies observadas.

Tempo (em minutos): 1 aula (50 minutos)

Quantidade de pessoas: 30

Descrição da prática:

Esta prática consiste numa visita à horta escolar ou a algum jardim dentro de escola. Apesar de permitir abordar diversos temas, aqui será focado o ensino de ecologia (biodiversidade e relações ecológicas).

A ideia é observar os animais que vivem no local escolhido. Por exemplo, folhas comidas indicam a presença de herbívoros por perto, portanto analise os ramos próximos a estas folhas. Permaneça algum tempo em frente a algumas flores, possivelmente abelhas ou outros animais venham visitá-las. Se há alguma árvore frutificando, pode-se observar pássaros comendo os frutos. Estas observações permitem que o professor discuta a importância das interações ecológicas, sobretudo ressaltando que uma relação aparentemente ruim, como a herbivoria, é importante porque o herbívoro poderá ser consumido por um pássaro, e assim por diante, formando uma cadeia alimentar.

É importante ressaltar como as interações ecológicas formam uma intrincada rede que gera e mantém biodiversidade neste espaço dentro da escola, assim como em outros locais, como nas áreas naturais. Um aspecto importante a ser comentado são os serviços ambientais relacionados às interações ecológicas observadas, como a polinização e dispersão de sementes.

 

Atividade 2: teias alimentares e as interações ecológicas

Objetivo: discutir o papel das interações ecológicas na estruturação das cadeias alimentares e na manutenção ecossistêmica.

Tempo (em minutos): 1 aula (50 minutos)

Quantidade de pessoas: 30

Material necessário:

  • Cartolina
  • Cola
  • Lápis de cor
  • Giz
  • Quadro-negro
  • Revistas e jornais (para serem recortadas)

Descrição da prática:

Esta prática consiste na apresentação dos conceitos relacionados às teias alimentares. Inicialmente, explique o que são cadeia alimentar e teia alimentar. Ressalte que as ligações entre os diferentes níveis tróficos dão-se através de interações ecológicas como, por exemplo, predação, herbivoria (polinização e frugivoria incluídas aqui) e parasitismo. Apresente no quadro-negro um exemplo de teia alimentar, mostrando os vários níveis tróficos. Após a explicação, proponha aos alunos que recortem fotos e desenhos de animais e plantas nas revistas e colem numa cartolina, montando uma teia alimentar.

Dê preferência às espécies brasileiras. Por exemplo, ao mostrar uma relação de predação, prefira mostrar um tamanduá comendo formigas, ao invés de um leão comendo uma zebra, pois estes últimos são animais africanos. Isto faz com que os alunos tenham contato com a biodiversidade brasileira.

Ao fim da montagem da teia alimentar, proponha um debate, questione o que aconteceria se uma espécie fosse extinta. Com isto, demonstre que a manutenção da biodiversidade depende das várias interações ecológicas que acontecem em um ecossistema e que cada espécie desempenha papéis ecológicos essenciais.

Observação

As atividades propostas podem ser realizadas em conjunto. Uma forma de fazer isto é executar a Atividade 2 em uma aula posterior à Atividade 1, utilizando as interações observadas in situ na construção das cadeias alimentares.

Bibliografia

BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: Brasília, 1997. 126 p.

JOHN, L. Biodiversidade também é uma questão de educação. In: BENSUSAN, N., BARROS, A. C.; BULHÕES, B.; ARANTES, A. Biodiversidade: para comer, vestir ou passar no cabelo? São Paulo: Peirópolis, 2006. p. 397-406.

LAMIM-GUEDES, V. Biodiversidade em Foco. Boletim Diário Ecodebate, 2010.

LAMIM-GUEDES, V.; SOARES, N. C. Conservação da Biodiversidade: interação escola-Museu em Ouro Preto, Minas Gerais. Educação em Ação, 37, 2011.

MMA (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE). A Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB. Cópia do Decreto Legislativo no. 2, de 3 de fevereiro de 1994. Brasília – DF: MMA, 2000.

SACHS, I. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

WILSON, E. O. Biodiversidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. 657 p.

 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos