ENTREVISTA
COM PROFESSOR RAGE WEIDNER MALUF PARA A EDIÇÃO DE
NÚMERO 73 DA REVISTA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO
por BERE ADAMS
Apresentação
– O entrevistado desta edição é a
Professor Rage Weidner Maluf, que mora em Morro Reuter, é
biólogo, Ms. em botânica, e atualmente é
professor na Universidade Feevale. Atua nas áreas de ecologia,
botânica e educação ambiental (com projetos de
extensão na Feevale) e é agroagricultor. Vamos conhecer
um pouco mais das suas experiências?
Rage Weidner Maluf –
Fotografia de arquivo pessoal do professor
Bere – Olá
Professor Rage, é uma grande satisfação tê-lo
como nosso entrevistado e, desde já, agradecemos muito por
aceitar o convite para esta entrevista. Inicio te perguntando: Como
surgiu o interesse pelo meio ambiente e como foi o início
desta trajetória?
Professor Rage – Olá
Berenice é um grande prazer, poder conversar contigo sobre uma
área tão instigante. Eu diria que o meu interesse pelo
meio ambiente, já iniciou quando eu era criança. Eu era
um apaixonado (ainda sou) por “bichos” (não
somente pets), catava casulos de borboletas, para ver estas
“nascendo” na sua nova fase. Criei aranha caranguejeira,
acompanhava a metamorfose dos girinos, etc. Tive sorte porque, apesar
de morar em Porto Alegre, existiam grandes terrenos baldios em torno
do prédio onde morava. Estes terrenos chegavam a atravessar de
uma rua a outra, e ali foi o meu pátio, onde eu, meus irmãos
e amigos passávamos muitas horas do dia nos divertindo. Era um
terreno com muitas árvores frutíferas, então, já
comecei comendo fruta do pé. O interesse pela botânica
veio um pouco mais tarde, mas não muito, logo comecei a buscar
mudas de plantas e cultivá-las em casa. Bom, a partir daí,
dá prá se ter uma ideia da continuidade da história.
Bere – Realmente o
contato com a natureza, desde a infância, é
importantíssimo para que possamos nos sentir integrados ao
meio. Ter uma infância assim é um privilégio,
Professor Rage. E o que mais te marcou neste percurso inicial? O que
te motivou?
Professor Rage – Acho
que o verdadeiro biólogo já nasce biólogo. Vejo
muito, nas conversas com meus alunos da biologia, que passaram por
processos muito semelhantes, em relação a esta paixão,
a curiosidade, o sentido da observação. Mas lembro, que
o interesse pelas plantas, foi motivado, sobretudo, por um irmão
mais velho que eu, o Rachid, que tinha também esta paixão
pela natureza. Meus primeiros acampamentos foram com ele, eu ainda
piá.
Sempre digo, quanto mais
conhecemos o meio ambiente, mais aprendemos a respeitá-lo.
Bere – Você vem
transformando a sua propriedade em um verdadeiro laboratório
vivo de projetos e experiências. Conte-nos como está
sendo este processo, de onde partiu a ideia?
Professor Rage – Isso é
um sonho realizado. Quando comprei o sítio, sempre tive a
intensão de tornar a área, uma área de
conservação. Atualmente, fazem 23 anos que a tenho e,
desde lá, uma boa parte (mais de 80%) é intocada, deixo
ali, a natureza agir.
No curso de biologia, estamos
sempre buscando locais para os alunos fazerem suas pesquisas. Em um
determinado momento, não lembro ao certo quando, o
ex-coordenador do curso, prof. Marcelo Barros, me propôs usar a
área do sítio para investigações pelos
alunos. E a partir daí uma quantidade de pesquisas foram
realizadas ao longo dos anos. Já teve alunas e alunos
trabalhando com levantamento de macrofauna edáfica (do solo),
decomposição de serapilheira. Há bastante tempo
uma aluna trabalhou com levantamento de aves e, agora, mais
recentemente, quando a área se encontra em um avançado
grau de regeneração, uma outra aluna fez um novo
levantamento. E os resultados foram ótimos, pois aumentou
significativamente o número de aves, no decorrer dos anos
(salientando que é um grupo indicador de qualidade ambiental).
Tem uma pesquisa atualmente ocorrendo, com levantamento de mamíferos.
Ainda, realizamos várias saídas de campo aqui para o
sítio com turmas de disciplinas do curso de biologia.
Outro projeto, que aconteceu,
também, foi o de trilhas.
Recebíamos grupos de
adultos e crianças para realização de trilhas em
diferentes níveis de dificuldade. Nesta época, vinham
grupos que faziam rapel e escalada também. Nos fundos do sítio
tem um peral, com paredões de rocha. O Sítio das
Canjeranas, ficou bem conhecido pelo público que aprecia este
tipo de turismo, inclusive o Sítio está dentro das
rotas turísticas de Morro Reuter. Fizemos concursos de
fotografia, saraus, enfim, eram momentos de encontros e muitas
trocas. Nossas trilhas, principalmente com as crianças, eram
direcionadas a atividades, onde trabalhávamos os sentidos, a
observação, a expressão da criança.
