Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Medindo uma Nova Percepção do Meio Ambiente: A Escala do “Novo Paradigma Ecológico” José
Carlos Lázaro da Silva Filho UFC/
FEAAC-MPC / LECoS Resumo:
O objetivo desse artigo é apresentar, uma escala que mede a imersão da
sociedade (e/ou de grupos de indivíduos) em um novo paradigma em relação ao
meio ambiente, propondo uma agenda de pesquisa para a escala com adaptações a
realidade brasileira. Tal tipo de escala pode ser um instrumento de identificação
uma predisposição da sociedade, por exemplo, a aceitarem introdução políticas
públicas mais rígidas, ou a consumirem produtos ecologicamente “corretos”.
Apresenta-se inicialmente o histórico da “escala do Novo Paradigma Ecológico”
(escala-NPE) de Dunlap e Van Liere em 1978 (revisada em 2000), sendo em seguida
testada em um grupo específico no Brasil. Após essa revisão do histórico uma
versão traduzida foi aplicada a um grupo de 41 atores políticos que participam
da “arena de ação” de gerenciamento ambiental de uma região
metropolitana. Apesar de limitações no grupo, a escala pôde ser parcialmente
validada – apresentando dificuldades conceituais em dois itens. Além da
identificação das limitações, que não invalidam a escala, prepõe-se que
alguns itens focados nas questões ambientais locais
sejam adicionados, além de criar uma agenda de discussão sobre métodos de
medição da percepção ambiental. Abstract:
This
paper presents a scale that measures the immersion of societies and groups in a
new paradigm with regards to the relation between environment and human beings,
and at last proposes a research agenda to meet the Brazilian perspective of the
paradigm. The paper begins with a literature review from the New Ecological
Paradigm (NEP) Scale, proposed by Dunlap and Van Liere in 1978 (and in 2000
revised by their research group), followed by a test in a selected group made up
of 41 political actors from the environmental management action arena of a
metropolitan area. The selected group presented some limitation (statistical and
conceptual), nevertheless the results could be validated, at least partially,
and there are proposed adjustments – like the expurgation of some nonsense
(for the Brazilian reality) items and new local-droved items – and a new
research agenda. 1. Introdução O final da década de 1960 e o início
da de 1970 é considerado mundialmente um ponto de inflexão da postura do ser
humano frente o meio ambiente. Nesse período, tornou-se evidente o esgotamento
do modelo até então vigente de exploração da natureza, seja na sua
capacidade de fornecer materiais, ou na sua capacidade de absorção de dejetos
diretos e indiretos da produção e consumo de bens. Mesmo os mais reticentes a
essa inflexão não podem negar que nesse período há a inclusão de uma nova
discussão a nível global, explicitada pelo encontro da ONU em Estocolmo em
1972. Essa alteração da abordagem sobre
o meio ambiente é percebida por vários autores em grande parte das sociedades
modernas. Herman Daly já na introdução de sua obra propõe a existência de
um “novo paradigma sócio-econômico” (Daly 1973, p. 1-36), interpretando o
conceito de paradigma científico de Thomas Kuhn para a economia política.
Outros autores como Dunlap, Catton, Pirages e Van Liere (Catton
Jr. & Dunlap, 1978
, 1980
; Dunlap & Van
Liere, 1978
, 1984; Dunlap 1980
; Pirages &
Ehrlich, 1974
) consideram como uma conseqüência dessa reflexão a criação de um novo
paradigma sócio-ambiental, destacando o papel do meio ambiente na nova
interpretação econômica. Esse então foi inicialmente chamado de novo paradigma ambiental, NPA (new
environmental paradigma –NEP), e posteriormente de novo paradigma ecológico,
NPE (new ecological paradigma, também
NEP), que se contrapõe ao paradigma até então vigente em grande parte da
sociedade ocidental, o paradigma social dominante, PSD (dominant social paradigma –DSP). O PSD apresentava uma visão
ortodoxa e antropocêntrica na sociedade ocidental onde: coloca-se a relação ser
humano/natureza de tal forma que os seres humanos são vistos acima e
diferenciados do resto da natureza; acredita-se no crescimento econômico
ilimitado, na abundância de matéria prima, e na ciência e tecnologia como
solucionadora de todos problemas vindouros. Esse paradigma se desenvolveu nas nações
industriais do norte, onde foi possível um rápido crescimento material e
progresso local, podendo assim ser melhor ainda denominado paradigma
sócio-industrial dominante (Pirages
& Ehrlich, 1974
). O conceito básico do novo
paradigma ecológico, o NPE, deriva da metáfora da Terra como uma espaçonave,
onde as fontes naturais são delicadas e limitadas, e onde, portanto, a
possibilidade de crescimento humano é limitada e o esforço humano para
sobrepor a natureza pode levar a graves problemas para toda a humanidade. Alguns atores foram além da preposição
da existência desse novo paradigma, e buscaram propor um instrumento para medição
da situação do mesmo dentro de determinadas sociedades. A criação de uma
escala foi proposta em 1978 por Dunlap e Van Liere (1978
). Essa teve uma seqüência de trabalhos e discussões, sendo revisada
em 2000 pelos mesmos autores em conjunto com novos colegas (DUNLAP
et al., 2000)
. 2. Sobre um novo
paradigma Neste artigo apresenta-se uma revisão
teórica sobre a escala original de 1978, seus resultados de validação,
seguido por uma breve revisão bibliográfica de estudos sobre tal escala e seu
re-endossamento em 2000. Para finalizar o artigo apresenta-se um teste piloto
feito no Brasil como parte de uma pesquisa sobre “atores” de uma rede política
ambiental. Apesar da limitação de tal teste piloto (ser um grupo específico e
não uma população, e conseqüentemente ter um numero limitado de
entrevistados), propõe-se aqui ainda uma reflexão sobre a sua validade e possíveis
interpretação e modificação para uma aplicação posterior no Brasil. Para a parte de validação e análise
estatística deste artigo foram usadas as bibliografias indicadas pelos autores,
sendo as mesmas revisadas. São essas: Nunnally
(1978)
, Zeller &
Carmines (1980)
e Mueller (1986)
. Baseado nessa literatura se reafirma os parâmetros de aceitação
propostos pelos autores para a avaliação, e assim, por exemplo, um “alfa de
Crombach” com valor de 0,70 é suficiente para confirmar a consistência
interna em casos de pesquisas exploratórias como essa, assim como e como uma
significância menor que 0,05 unilateral como suficiente para afirma uma correlação. 2.1.
Uma Escala Para o “Novo Paradigma Ambiental (NPA)” (1978) Começa-se a análise teórico
conceitual com a revisão do artigo original de Dunlap e Van Liere (1978), onde
foi apresentado a escala de medição com 12 itens para o “novo paradigma
ambiental”, NPA. Apresentam-se esses resultados e a discussão sobre consistência,
unidimensionalidade e validade. A escala inicialmente proposta tinha
12 itens em forma de questionário. O conteúdo dos itens eram citações de
conceitos básicos de autores que escreveram sobre o novo paradigma ou conceitos
interpretados com definidores do PSD (componentes inversos na soma da escala). As questões e foram estruturadas
para serem respondidas em um escala de atitude Likert, com 4 respostas. Como teste para essa escala foram então
aplicados questionários a dois grupos distintos: moradores do estado de
Washington (Estados Unidos, EUA) e uma amostra de membros de uma organização
ambientalista com atuação ampla no mesmo estado. O primeiro grupo, razoavelmente
representativo da população do estado, foi considerado uma “amostra do público
geral” (APG) e teve 806 respostas dos 1441 inicialmente selecionados (depois
de filtros de ajuste de representatividade e não-respostas). O segundo grupo, a “amostra da
organização ambientalista” (AOA), teve 407 respostas dos 558 inicialmente
selecionados. Com os resultados dessas entrevistas os autores analisaram a
consistência interna, a unidimensionalidade e as validações estatísticas da
escala NPA. O trabalho de Dunlap e Van Liere
(1978) segue com a discussão sobre consistência interna, unidimensionalidade e
as validações preditiva, de construção e de conteúdo. 2.1.1. Utilização e Discussão
da NPA O objetivo de Dunlap e Van Liere em 1978 foi criar uma escala para medir o novo paradigma proposto e endossar a mesma. Ao final de sua pesquisa os autores propuseram novas pesquisas para revalidações e melhoramentos da mesma. A criação de uma escala
proporcionou diferentes tipos de linhas pesquisa: a análise da base teórica do
triangulo “crença-atitude-comportamento”, a análise da ambientalismo em
diferentes sociedades, e a análise entre ambientalismo e atitudes reais, como
consumo de produtos ecologicamente corretos e reciclagem. Nesse aspecto uma
questão importante da escala é sua validação frente a atitudes e comportamentos.
Como salienta Gooch (1995:513-514) um paradigma envolve “crenças”, e esse
triângulo “crença-atitude-comportamento” na área ambiental deve ser
melhor estudada e pesquisada, sobretudo no Brasil, pois questionários com
perguntas diretas sobre atitude (normalmente usado aqui) podem sofrem facilmente
a interferência para uma resposta mais correta, (vide “Theory of Planned
Bahavior ” de Ajzen, 1991). Escalas como a do NPA, com questões paradigmáticas
podem identificar crenças pessoais podem vir a identificar melhor atitudes
reais. As pesquisas realizadas baseadas na
escala do NPA podem-se dividir em abordagens conforme os itens abaixo listados. a)
Discussões teóricas sobre a escala do NPA Um
dos aspectos que seguiu a discussão da escala foi a sua unidimensionalidade.
Alguns autores como Albrecht et al. (1982), Arcury (1990), Scott e Willits
(1994) e Furman(1998) ao avançarem com o estudo da escala do NPA, e em suas análises
de componentes, acabam por propor 3 dimensões dentro do paradigma: uma batizada
de “Balanço natural” (com os itens 2, 5, 8 e 12 da tabela 1), uma
segunda “Limites do crescimento”(itens 1, 7 ,9 e 11) e por último
“Humanos sobrepõe a natureza” (itens 3, 4, 6, 10). Outra discussão teórica da escala
do NPA é a análise do triângulo “crenças
(valores)-atitude-comportamento”, que foi o cerne de alguns trabalhos como os
de Stern et al. (1995), Tarrant e Cordell (1997), Widegren (1998) além de Gooch
(1995). Esse aspecto seria o mais importante para futuros usos práticos da
escala, onde a identificação de crenças ligadas a atitudes e comportamentos
podem melhorar confiabilidade em pesquisas sobre meio ambiente, área em que a
resposta de um comportamento planejado (uma concordância com o “bem”) pode
interferir no real comportamento esperado (AJZEN,1991). b)
A escala do NPA em diferentes sociedades A escala NPA pode ser usada para a análise da imersão de uma sociedade no novo paradigma, podendo seu resultado ser usado para corroborar políticas públicas ambientais (conforme a validade preditiva do teste já indicou). Como exemplos dessa análise podem ser citados os trabalhos de Gooch (1995), Schultz & Zelezny (1998) Furman (1998). O único estudo encontrado sobre o NPA com parte da pesquisa realizada no Brasil, é o dos pesquisadores Bechtel, Verdugo & Pinheiro realizada em 1996 (BECHTEL et al. 1999) O trabalho de Arcury
& Christianson (1990)
é um exemplo de uma medição ao longo do tempo de tal escala, c)
Escala do NPA e atitudes pessoais frente ao meio ambiente Trabalhos que estudam a relação entre as respostas à escala do NPA e atitudes pessoais podem servir como base a um desenvolvimento do uso dessa escala para uso específico. Além do original (DUNLAP; VAN LIERE, 1978), onde a validação foi proposta com questões sobre atitudes reais, estudos sobre a relação entre reciclagem e o NPA podem ser encontrado nos trabalhos de Vining & Ebreo (1992) , Schultz & Oskamp (1996) e Ebreo et al.(1999) . Consumo ecologicamente correto e NPA são temas dos trabalhos de Roberts & Bacon (1997) e Ebreo et al.(1999) . Alguns trabalhos como o de Blake et al.(1997) , Scott & Willits (1994) e Gooch (1995) também tem análise de atitudes pessoais e medidas de ambientalismo com a escala do NPA. Após
a revisão do conteúdo da escala proposta por Dunlap e Van Liere em 1978 e da
apresentação de um breve histórico de trabalho que a seguiram, nessa seção
apresenta-se a versão atual, revisada pelos autores em conjunto com novos
colegas em 2000 (Dunlap et al.,
2000)
, acompanhando o seu re-endossamento. 3.1. A Escala Revisada: O Novo Paradigma Ecológico NPE (2000): A discussão em torno da escala por
outros cientistas mostrou a validade de seu conteúdo. No entanto os autores
originais se preocuparam com alguns aspectos apresentados nessas outras
pesquisas (com a dimensionalidade e a eventual exclusão de algum item) e
propuseram uma revisão à escala e re-endossamento. A revisão proposta por Dunlap e seus colegas (DUNLAP et al, 2000), embora publicada somente em 2000, foi baseada em um re-teste realizado em 1990, sendo seus resultados podem ser vistos na Tabela 1.
Essa escala foi enviada a uma amostra representativa dos residentes do estado de Washington (EUA), comparável com a amostra do público geral (APG) de 1978. Essa escala “revisada” passou por uma nova análise de unidimensionalidade e construção e de validades preditiva e construtiva, reconfirmando-a. No entanto, na re-construção da tabela foram separadas pelos autores “cinco facetas hipotéticas da visão de mundo ecológica”, derivadas de diferentes literaturas.Conforme proposição dos autores, haveriam as seguintes “facetas” na escala do NPE de 15 itens: - “a realidade do limite do crescimento” (itens 1, 6 e 11 dessa escala); - “o anti-antropocentrismo” (itens 2, 7 e 12); - “a fragilidade do balanço natural” (itens 3, 8 e 13); - “a rejeição da exclusão do ser humano da natureza” (itens 4, 9 e 14); e - “a possibilidade de uma ´crise ecológica`” (itens 10, 15 e 5). Como a “dimensionalidade” da tabela, frente a essas hipotéticas “facetas”, foi algumas vezes contestada em outros trabalhos, Dunlap e seus colegas (Dunlap et al. 2000: 434-436) fazem uma análise através do método “VARIMAX” para análise de componentes, criando dimensões ortogonais testando a independência dessas facetas como “componentes”. No entanto, comparando com as “cinco facetas conceituais” não há concordância entre o que seriam os componentes e as dimensões. Haveria, no caso, a possibilidade de interpretações de “novas dimensões”. Por outro lado, frente a falta de definição conceitual dessas dimensões os autores preferiram valorizar os bons dados da análise de componente “não-rotada”, e aceitar a unidimensionalidade da escala. Em paralelo a escala do NPE, o questionário contou com outras perguntas relacionadas a posicionamento “ideológico-ambiental”, que vieram a comprovar a validade preditiva da mesma, indicando assim a escala realmente uma maior disposição do grupo pesquisado a atitudes e comportamentos ambientais. As medidas que apresentaram correlações validadoras foram: a) 13 itens sobre a “percepção sobre a seriedade dos problemas ecológicos globais”; b) quatro itens sobre “apoio a políticas pró-ambientais”; c) quatro itens sobre a percepção da “seriedade da poluição do ar e da água do estado e da comunidade”; e d) 10 itens sobre “comportamentos (auto-declarados) pró-ambientais”. Quanto a validade construtiva, os autores basearam-se novamente em pesquisas que indicam que adultos jovens, bem-educados e politicamente liberais são mais pró-ambientalistas que seus contrapontos, somaram-se a primeira referência anteriormente citada, Buttel ¨& Flinn (1976) , outros trabalhos como os de Jones & Dunlap (1992 ) e Buttel (1987 ). 4.
Aplicação do Método Após essa apresentação da revisão das escalas do NPA de 1978 e NPE de 2000 com sua validação e apresentação de alguns trabalhos a elas vinculados, cabe uma análise de sua possível introdução para pesquisa no Brasil. Para isso além da divagação teórica final nesse artigo se apresentará os resultados da aplicação dessa escala em um grupo piloto específico. 4.1.
O Novo Paradigma Ecológico no Brasil Quando se analisa o Novo Paradigma Ecológico no Brasil, pode se espera que, a defasagem no desenvolvimento industrial provoque algum atraso em relação ao momento proposto para inflexão de paradigmas na comunidade internacional nos países industriais – essa tida como início da década de 1970. Eduardo Viola descreve bem essa situação do ambientalismo brasileiro (VIOLA, 1991 ) e sua evolução desde a década de 1970, e embora o autor veja já na década de 1980 uma emergência no Brasil de um ambientalismo multisetorial (com a participação em vários setores da sociedade – o que pode ser interpretado exatamente como uma característica desse novo paradigma) com alguma literatura já produzida sobre o tema. Uma análise mais crítica pode ser feita interpretando como marco no Brasil de mudança de paradigma sócio-ambiental o segundo encontro mundial sobre meio ambiente, realizado em 1992 no Rio de Janeiro. Desse modo se fazem necessários estudos, medidas e análises sobre a percepção desse novo paradigma sócio-ambiental no Brasil, em todos os seus aspectos e fins, seja para análises comparativas entre sociedades, para confirmações de políticas ambientais, para desenvolvimento de estratégias para melhor difusão do novo paradigma (em projetos de educação ambiental) ou simplesmente identificação de um mercado possível para produtos “ecologicamente saudáveis”. 4.2.
Um “Teste Piloto” no Brasil: Atores da Gestão Ambiental de uma Região
Metropolitana Com o objetivo de testar a escala do
NPE, foi aplicado o questionário da escala dentro de um estudo sobre atores e
instituições vinculados a gestão ambiental em uma região metropolitana
brasileira. Nesse estudo estavam sendo considerados “atores” os
representantes de instituições que participavam das decisões relacionadas a
políticas e ações específicas sobre o meio ambiente na região metropolitana
escolhida, independente de que suas instituições fossem estaduais ou
municipais, governamentais ou não. Foram entrevistados 42 “atores” da gestão ambiental e 41 desses responderam o questionário da escala NPE (60% de um total de 66 atores identificados). As características e o tamanho do grupo definem bem esse como um “grupo piloto”, sendo desde início não uma análise populacional, o que não invalida seu uso para uma análise inicial da aplicação da escala no Brasil, considerado essa pesquisa com objetivos exploratórios. Essa “amostra” pode ser considerada uma “amostra por julgamento” propõe de uma população ligada ativamente às questões ambientais. O questionário da escala do “novo
paradigma ecológico” foi aplicado completo, com 15 itens (NPE15),
seguindo o modelo da Tabela 1. Assim na Tabela 2 temos os resultados da
distribuição de freqüência das respostas desse grupo. A análise da freqüência
de cada item mostra uma confirmação pelo grupo do “novo paradigma ecológico”,
com um pequeno problema no item 2, onde houve uma tendência a negar a novo
paradigma. As médias por itens (incluindo os invertidos já corrigidos) ficou
entre 3,18 e 4,65 (retirando-se o item 2, que teve uma média 2,90), e com uma média
para toda a NPE15 de 4,03. Tendo essa 15 itens, pontuou-se de 1 a 5,
e obteve-se o resultado de 60,5 pontos (numa escala de 15 a 75 pontos, com uma
neutralidade a 45).
Analisando a consistência da escala
NPE15 pelo “alfa de Crombach”(α), temos para esse grupo um
resultado satisfatório, com um coeficiente de 0,7177 . No entanto uma análise
com retirada de alguns itens mostra um crescimento na consistência: com a
retirada do item 2 (α-2=0,7473) e do item 6 (α-6=0,7393),
e um melhor coeficiente com a retirada dos dois itens (α-2-6=α13=
0,7684). Essa análise também se confirma por uma nova análise da correlação
item-total (por Pearson) dos itens com a escala NPE15 (colunas r i-t(a)
e P(a) da tabela 2) e a escala com 13 itens (NPE13),
descartando os itens 2 e 6 (colunas r i-t(b) e P(b) da
tabela 2). A interpretação do item 2 será
posteriormente avaliada, assim como o problema de consistência do item 6. A
retirada desse dois itens e análise da escala NEP com 13 itens(NPE13),
faz a média subir para 4,12 e atinge uma pontuação de 53,6 (agora numa pontuação
entre de 65 e 13 com um neutro de 39). Um outro elemento para analisar a
consistência interna usado pelos autores originais (DUNLAP et al.,
2000
) foi a “análise de componentes”, buscando as dimensões que
poderiam ser separáveis e escalas próprias (vide 3.1.1). Esse estudo também
foi feito para o grupo do “teste piloto”, tanto para a escalas de 15 itens
(NPE15) quanto para a de 13 (NPE13). Na análise de componentes da NPE15
foram achados cinco componentes com valores acima de 1,00, esses explicando
68,9% da variância total do grupo, sendo o primeiro componente explicando 25%
da variância. No caso quase todos
os itens “carregaram” um valor acima de 0,30 nesse primeiro componente “não-rotado”
(exceção itens 2 – 0,084 – e item 6 – 0,038). Com uma análise pelo método
de rotação “VARIMAX com normalização Kaiser”
para criação de dimensões ortogonais, dois dos cinco componentes se confirmam
como as dimensões teóricas propostas (item 3.1.1.), o
“anti-antropocentrismo” (componente 1: itens 2, 7 e 12) e a “possibilidade
de uma “crise ecológica” (componente 2: itens 10, 15 e 5), no entanto os
outras dimensões se distribuem sem predominância nos componentes restantes. Na análise de componentes da escala
NPE13, foram encontrados quatro componentes com valores próprios
iniciais acima de 1,00, esses explicando 66,3% da variância total do grupo,
sendo o primeiro componente explicando 28,9 % da variância e todos os itens
“carregando” acima de 0,327
nesse primeiro componente não-rotado. A análise “VARIMAX com normalização Kaiser”
apresenta quatro componentes, e novamente apenas duas dimensões se confirmam, o
“anti-antropocentrismo” (componente 1: agora somente com os itens 7 e 12) e
a “possibilidade de uma “crise ecológica” (componente 2: itens 10, 15 e
5). Novamente as outras três dimensões
se distribuem sem predominância pelos outros dois componentes restantes. A
dificuldade de definir dimensões independentes na lista pode ser ainda
enfatizada pela existência de cinco itens com “carga” do segundo componente
acima de 0,400 e mais 3 itens com “carga” de um segundo componente acima de
0,345. Com esses dados podemos supor limitações
na escala NPE15 e aceitar que a escala do NPE13 é mais
consistente e unidimensional quanto na medida do “novo paradigma ecológico”. Uma
segunda parte da análise da escala seria a busca de sua validação preditiva,
de construção e de conteúdo. No entanto, a princípio aceita-se a validade
preditiva dos trabalhos originais e colocada aqui como uma agenda de pesquisa
para essa área de estudo. Para validade de construção se
buscou correlações como as citadas no item 3.1.2, mas aparentemente o teste
piloto foi ainda muito pequeno e específico para indicar alguma outra correlação
(com significância de P<0,05) que confirme a validade de construção,
seguindo assim também a validade de construção como uma agenda de pesquisa. Com objetivo informativo
apresenta-se aqui os resultados dessas correlações (por Pearson) entre a escala NPE13 com algumas variáveis do
grupo, mesmo com sua baixa significância: a)para variável “formação”
houve uma correlação negativa, r=-0,16 (Significância de P=0,165),
contrariando o esperado; b) com “idade” houve uma correlação positiva
(também inverso do esperado) de r=0,195 (P=0,119). As correlações inversas são
explicáveis exatamente por ser um grupo específico, onde são “chamados para
atuar” vários atores com alta experiência prática na relação com ambiente
(sendo a idade relacionada com a experiência), apesar de não ter uma formação
acadêmica tradicional (lembrando que de nenhum modo a escala de formação do
grupo representa a formação geral de uma população). Verificando essa
peculiaridade de não se tratar de uma amostra populacional e sim um grupo
especifico (e pequeno), não podemos esperar os resultados propostos por Jones
& Dunlap (1992)
e Buttel &
Flinn (1976)
. A validade de conteúdo é um dos
pontos de discussão desse artigo, sendo comentada nas considerações finais. 5. Considerações Finais Após a revisão sobre o NPE e sua escala, a análise dos resultados do grupo piloto de uma região metropolitana brasileira trás vários pontos para uma interessante agenda de pesquisa sobre a relação homem com meio ambiente no Brasil e a penetração de novos conceitos e visões de mundo na sociedade brasileira nos últimos anos. 5.1.
Críticas e reavaliações e sugestões de agenda de pesquisa A pesquisa apresenta limitações derivadas do grupo escolhido e seu tamanho, no entanto seus resultados são suficientes para a introdução de uma agenda de pesquisa na comunidade científica brasileira que trata da relação do homem com o meio ambiente. Assim limitações como a validação de sua construção através de dados demográficos comparados com os dados esperados, e a aceitação da validação original é aceita, no entanto, sem deixar de salientar que há uma necessidade de uma agenda de pesquisa nesse sentido, por exemplo sugerindo-se que o questionário seja aplicado junto a surveys como o de Lages e Neto (Lages and Neto, 2002) . 5.2.
Análise do conteúdo do teste piloto O teste piloto feito com “atores
de gestão ambiental de uma região metropolitana” apresentou um resultado que
indica uma alta concordância com a existência de um novo paradigma nesse
grupo, como esperado e mostrado na Tabela 2. Como comentado no item 4.2.1. o
grupo apresentou na escala NPE13 uma média de 4,12 (de 1 a 5),
atingindo uma pontuação de 53,6 (numa escala de 13 a 65, com um “neutro”
de 39). Uma análise do conteúdo é, no entanto, dependente de uma validação
desse conteúdo para uma aplicação no Brasil, e essa validade é analisada no
próximo item. 5.3.Validade
de Conteúdo: Uma escala que mede a percepção Global? Talvez a grande dúvida sobre tal
escala é qual o conteúdo que está sendo medido, ou seja a validade de conteúdo.
Seria esse apenas um paradigma da visão “global” do meio ambiente? Não
haveria a falta em tal escala questões “locais” diretas? Seria essa uma
escala para o novo paradigma ecológico
“global”? Por outro lado, os problemas locais
podem ser exatamente conseqüências de uma falta de visão global dos membros
da sociedade que definem o paradigma vigente. Nessa questão é interessante
analisar os resultados que apresentaram que estudos feitos em países em
desenvolvimento: Gooch (1995)
teve algumas dificuldades de consistência na Estônia e Letônia, na
sua comparação com a Suécia. Furman (1998
) também relata limitações que comprometeriam seus resultados, no seu
trabalho na Turquia quando tenta aplicar questionário nas “favelas” locais.
Nota-se que ambos já haviam usado a somente parte da escala de 12 itens
original de 1978. Ainda importantes para essa reflexão
são os estudos de Schultz & Zelenzny (1998) e Bechtel et
al.(1999). Os dois estudos foram feito em amostras de estudantes universitários
calouros, em cursos de ciências sociais (como psicologia, economia e
sociologia), que apresentaram limitações. Refletindo sobre essas limitações
na validação de conteúdo da NPE15, é importante a contribuição
dada pelo grupo piloto de atores da gestão ambiental, salientando que esse é
um grupo tipicamente diferente dos anteriormente pesquisados, estudantes. Os
atores se caracterizam pela participação ativa na questão ambiental local. Os resultados do grupo de atores de gestão ambiental se mostram consistentes para uma análise e aceitação da escala proposta por Dunlap et al.(2000), com uma redução para 13 itens. Mas, sem deixar de refletir sobre os itens a serem excluídos: §
O item 2 tem aparentemente
um conceito básico que diferencia os países “desenvolvidos” dos “em
desenvolvimento”, o conceito de “necessidade humana” (traduzida de “human
needs”): mesmo aqueles que não aceitam as categorias de necessidades
definidas por Maslow não podem negar que em países onde grande parta da população
não está suprida de suas “necessidades básicas”, essas são vistas mais
claramente como as “necessidades humanas”. Lembrando que essa foi a grande
discussão do terceiro e último encontro sobre meio ambiente da UNEP (Rio+10,
em Johannesburg, África do Sul, 2002), gerando um impasse, pois os países
“desenvolvidos” (e industrializados) buscaram criar uma agenda em torno da
questão de emissões de CO2 e os riscos do “efeito estufa”,
enquanto os países “em desenvolvimento” e “subdesenvolvidos” buscavam
uma agenda focada na falta de condições mínimas de saúde e higiene, que
geram um problema ambiental. § O item 6 por outro lado traz uma afirmação que pelo menos no Brasil, assim como outros países latinos, pode ter um vício interpretativo, ligado ao paradigma existencialista secular do País, sempre colocado como um paraíso com/de riquezas naturais. Os demais itens com problemas nas literaturas citadas (3, 10, 11 e 13) ganham um sinal de desconfiança para a agenda pesquisa, devendo ser observados com cuidado, mas de maneira alguma invalidando a escala. Por
final, para essa agenda de pesquisa sobre o NPA sugere-se a adição de novos
itens (uma nova faceta) sobre as questões ambientais locais, ligadas as questões
urbanas dos países em desenvolvimento, como, por exemplo, “saneamento vs.
ambiente”; “arroios vs. esgoto”; “arborização vs. construção”. 6.
Bibliografia
AJZEN, I. The Theory of Planned Behavior. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 50, p.
179-211. 1990. ALBRECHT,
D. et al. The New Environmental Paradigm Scale. Journal
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