Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Podcast(1) Dicas e Curiosidades(5) Reflexão(6) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(11) Dúvidas(1) Entrevistas(2) Divulgação de Eventos(1) Sugestões bibliográficas(3) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(2) Soluções e Inovações(3) Educação e temas emergentes(6) Ações e projetos inspiradores(24) Cidadania Ambiental(1) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Relatos de Experiências(1) Notícias(26)   |  Números  
Artigos
05/06/2008 (Nº 24) PROJETO PEIXES DA AMAZÔNIA: RELATO DE CASO NO PARQUE AMBIENTAL DE BELÉM - PA.
Link permanente: http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=577 
  
NRevista Educação Ambiental em Ação 24

PROJETO PEIXES DA AMAZÔNIA: RELATO DE CASO NO PARQUE AMBIENTAL DE BELÉM - PA.

 

 

Jaime Ribeiro Carvalho Júnior

Mestrando em Ciência Animal da UFPA, CENJA/LABIO (Laboratório de Biologia da UFPA). jaimejr@ufpa.br.

 

Nigiacy Alcidia Seabra da Silva Carvalho

Pedagoga, Laboratório de Ecopedagogia - Centro Jovem de Aquarismo (CENJA). nigy@yahoo.com.br

 

José Leocyvan Gomes Nunes

Graduando em Estatística da UFPA/CENJA/LABIO. leocyvan@yahoo.com.br

 

André Ribeiro de Santana

Mestre em Educação em Ciências e Matemáticas pelo PPGECM, NPADC/UFPA, SEDUC-PA, integrante do GPEEA/Sala Verde Pororoca/ mestredeo@yahoo.com.br.

 

Maria Ludetana Araújo.

Doutoranda em Filosofia e Ciências de la Educación. Universidade Nacional de Educación a Distancia, UNED, Espanha. ludetana@ufpa.br.

 

Luiza Nakayama

Doutora em Genética Bioquímica e Molecular. Orientadora nos mestrados em Ciência Animal e em Ciências e Matemáticas, coordenadora do GPEEA/Sala Verde Pororoca, orientadora no Projeto Clube de Ciências (CCIUFPA). Av. Augusto Correa, 01 – Campus Universitário do Guamá, Setor Básico. 66075-110. Belém-PA. lunaka@ufpa.br. sverdepororoca@ufpa.br.

 

 

 

Dia 04 de outubro nos estávamos celebrando o dia de São Francisco, e de frente, onde estavam as embarcações, os peixes começavam a cabrear. E ai eu estendi a mão e disse: ‘gente, todo mundo veja o tanto que os peixes ta alegre com o momento e que estamos celebrando, em nome do rio e em nome do peixe’

(UNGER, 2001, p. 69).

 

 

Resumo: Através desse trabalho objetivamos divulgar ações realizadas no Parque Ambiental de Belém (PAB), visando contribuir na ampliação das discussões de novas estratégias, envolvendo pesquisa e ensino em Educação Ambiental (EA).

 

Palavras-chave: aula de campo, educação ambiental, Parque Ambiental de Belém, Ecopedagogia, peixes.

 


1. Introdução

O Centro Jovem de Aquarismo (CENJA) participa, desde 2000, de um programa informal em várias comunidades ribeirinhas do estado do Pará, como as do médio rio Xingu (CARVALHO et al., 2004) utilizando peixes ornamentais, com objetivo eco-pedagógico.

Desde 2003 as atividades se tornaram mais sistematizadas, através da parceria com os laboratórios de Biologia de Organismos Aquáticos (LABIO) e de Citogenética da Universidade Federal do Pará (UFPA). Elas ocorrem, em sua maioria, no âmbito do Parque Ambiental de Belém (PAB), onde estão situados os mananciais de abastecimento de água dos municípios de Ananindeua e Belém: os lagos Bolonha e Água Preta.

Lynch et al. (2005), analisando questionários com moradores do entorno do PAB e de observações in loco, fizeram as seguintes considerações: 1) o maior fator impactante na região da Área de Proteção Ambiental (APA) é a ação antrópica; 2) essa ação vem causando males progressivos e irreparáveis a esta área, capazes de comprometer o fornecimento de água potável para toda a área metropolitana de Belém – Pará; 3) como a APA/PAB constituem patrimônio ambiental devem ter a biodiversidade preservada; 4) pesquisar a origem das patologias que ocorrem em organismos aquáticos do ambiente em estudo; 5) implementar programas efetivos de Educação Ambiental (EA) para a população residente e empresas; 6) elaborar e implementar planos de manejo; 7) realizar a fiscalização mais efetiva da área, para coibir a degradação ambiental.

Diante dessa realidade do PAB, acreditamos na afirmação de Marenzi et al. (2001, p. 95) que “a educação formal, de caráter técnico-científico, ignorando a integração do ser humano com o meio ambiente, não resulta em uma sensibilização para mudança de comportamento, em relação com o meio”. Reconhecemos, portanto, os papéis, da educação e instituições de ensino formal (universidades e escolas) tanto na sistematização, e socialização, do conhecimento, quanto em possibilitar a formação de cidadãos suficientemente informados, conscientes e atuantes acerca das questões ambientais. Nessa perspectiva, buscando contribuir não apenas em nível de discussões, mas também na busca de soluções para as mesmas, é que realizamos esta pesquisa.

 

 

2. Metodologia

2.1. Área de coleta

A pesquisa foi realizada no PAB, criado pelo Decreto 1.552, de 03 de maio de 1993. O Parque apresenta uma área total de 1.206 hectares, em torno dos lagos Bolonha e Água Preta (SECTAM, 2007), sendo um dos maiores do Brasil.

A transformação do PAB em unidade de conservação objetivou  recuperar, e preservar, a qualidade da água dos mananciais e a biodiversidade amazônica, propiciando um espaço de lazer para a comunidade, oportunizando ainda, a realização de atividades artísticas, científicas, culturais, e educativas (FARIAS et al., 2001).

Recentemente, o comandante do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), tenente coronel Antônio Azevedo (comunicação pessoal), comentou que os animais apreendidos em residências e/ou comercializados no Estado eram encaminhados ao Batalhão para serem soltos no PAB. Até o ano de 2003, foram introduzidos no local, em caráter oficial, 6.767 animais (entre peixes, aves, répteis e anfíbios). Este número é maior, pois não estamos levando em conta os que são abandonados por pesquisadores e populares. O comandante afirmou ainda que, a partir de 2004, os animais silvestres apreendidos passaram a ser encaminhados ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis – IBAMA, para o destino adequado, segundo a legislação em vigor (LYNCH et al., 2005).

As áreas de observação e coletas de peixes respeitaram as logísticas, sendo distribuídas nos ambientes aquáticos com base em diferentes locais de acesso e hábitats.

 

2.2. Procedimentos de atuação.

 

Almeirim

 
Os pesquisadores do LABIO/CENJA organizam visitas monitoradas desde 2004. A partir de 2006 passaram a contar com o apoio do Grupo de Pesquisa e Ensino em Educação Ambiental (GPEEA) e do Clube de Ciências (CCIUFPA). Até o presente momento, foram efetivadas cinco excursões de campo, sendo: uma com alunos do curso de Biologia e duas de Oceanografia, ambas as graduações da UFPA; as outras duas envolveram alunos de 6ª série e de 8ª série da Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

As excursões foram divididas nos seguintes momentos: palestra, visita de reconhecimento do entorno dos mananciais e coletas de peixes. Aproveitamos todas essas oportunidades para, com a participação dos alunos, discutirmos soluções para problemas observados no PAB.

Nas coletas, tivemos cuidado de capturar apenas espécies de peixes permitidas pela SECTAM-PA; para isso utilizamos diferentes técnicas de pesca, empregando vários tipos de redes e puçás.

Dessa forma, tendo a dimensão ambiental dos recursos hídricos do PAB como tema gerador, conduzimos esta pesquisa em conformidade com as orientações metodológicas da Pesquisa–ação (THIOLLENT, 2000; TOZONI–REIS, 2003).

 

 

3. Resultados e Discussão

3.1. A caminhada

A distância do portão principal até o Centro de Vivência (CV) é de aproximadamente 4 km. É importante ressaltar que, no transcurso da caminhada, os alunos vivenciaram sensações de prazer, paz e tranqüilidade, propiciadas pelos quatro sentidos (visão, audição, olfato e tato), conforme atestam seus depoimentos: “O contato com a natureza me dá paz”; “O canto dos pássaros me deixa feliz”; “Gosto do cheiro desse mato”. Em nenhum momento da excursão, ouvimos comentários negativos reclamando, por exemplo, da presença de insetos, talvez por Belém, felizmente, ainda possuir muitas áreas verdes, nas quais a presença de animais ainda é muito comum.

Mas também podemos inferir, através de comentários como: “aqui a gente pode caminhar sem perigo”, “eu não tenho medo de bicho, só de ladrão”, que a oportunidade de estar em contacto com a natureza e com segurança, está se tornando cada vez mais rara em Belém. Nossa metrópole, como qualquer outras, está vivenciando a gradativa substituição de casas e quintais por conjuntos habitacionais, avenidas e shoppings, entre outros empreendimentos arquitetônicos. Essa nova configuração da nossa capital, somada à violência urbana, gerou uma drástica redução dos espaços de lazer para crianças e jovens.

Assim, pelo “alto astral” manifestado pelos estudantes e professores acompanhantes durante toda a caminhada, concordamos com Freire (1979), para o qual o método participativo, embasado no diálogo, é um importante meio para garantir a comunicação, sendo indispensável em questões vitais de nossa ordem política e em todos os sentidos da nossa existência.

No CV, numa área coberta que serviu de sede, um membro do Batalhão de Meio Ambiente ministrou uma palestra. Nela salientou a importância da conservação do PAB, abordando aspectos históricos e culturais; a presença dos peixes nos mananciais e problemas causados pela ocupação urbana.

Foram citadas ações que podem ajudar a garantir a qualidade das águas, tais como: 1) preservar a vegetação ciliar dos lagos; 2) providenciar o tratamento de esgotos; 3) evitar o lançamento de lixo doméstico em ambientes aquáticos. Essas medidas, de acordo com o palestrante, possuem potencial para minimizar riscos de contaminação de seres vivos, incluindo o homem, por doenças de veiculação hídrica.

Em seguida, realizamos visitação ao entorno do CV. Os alunos da graduação constataram a destruição da mata ciliar em alguns locais, associando essas percepções as aulas de Ecologia, na qual são discutidas conseqüências dessa agressão para o meio ambiente: erosão do solo, assoreamento de córregos e igarapés, diminuição da vazão de água ou mesmo destruição das nascentes. Os alunos de Ciências se mostraram bastante sensibilizados pelos problemas locais, causados pela ação antrópica.

 

3.2. Observações de peixes e habitats

A escolha dos locais de observação teve como requisito segurança para todos os participantes. Com esse intuito, durante as atividades dos alunos na água, os mergulhos sempre foram acompanhados por dois monitores, enquanto outros dois observavam da margem. Para os alunos de Biologia e os de ensino fundamental, limitamos as observações ao período matinal, com duração de 4 horas, em locais rasos próximos à margem dos lagos.

Com os alunos de Oceanografia (turmas 2006 e 2007), por já termos maior familiaridade e experiência na área de estudo, realizamos três saídas de voadeira (períodos matutino, vespertino e noturno) pilotadas pelo cabo Gomes do BPA.

Para que os alunos tivessem oportunidade de comparar os diferentes habitats aquáticos do PAB, através de mergulho-livre, escolhemos para observação: 1) a área na frente do porto, localizado no CV, com remanso e mata secundária nas margens; 2) área próxima ao canal artificial de escoamento do lago Bolonha, localizado fora do CV, com corredeira e mata-capoeira nas margens. Verificamos que os alunos conseguiram: 1) diferenciar a corredeira do canal artificial e sua vegetação aquática (macrófitas) do que é contatado no lago Água Preta, 2) diferenciar as macrófitas, quanto à forma, à coloração e ao nível na coluna d΄água, 3) constatar a importância das macrófitas como refúgio para alguns organismos aquáticos.

Coletamos, selecionamos e fotografamos algumas espécies de peixes e mantivemos vivos alguns exemplares em recipientes (containers) plásticos e isopores, a fim de que os alunos observassem suas morfologias.

Manipulamos, inicialmente, os peixes com luvas, comentando que a mão humana, por normalmente ter temperatura mais elevada que a do peixe poderia agredi-lo. Identificamos as espécies mais comuns (pelo nome vulgar e científico) e descrevemos as principais características morfológicas.

Os alunos tiveram a oportunidade de conhecer a ecologia das espécies de peixes coletadas. As amostras incluíram espécies nativas (acará, piranha, acari e piaba), ameaçadas de extinção (pirarucu) e introduzidas (acari-amarelinho, endêmica do rio Xingu-PA e tilápia do Nilo, de origem africana). Explicamos que os lagos do PAB, por estarem dentro de área urbana, estão sujeitos à ação antrópica, que também inclui a introdução de espécies exóticas de outras localidades da Amazônia. É importante ressaltar que até a década de 1990, o IBAMA liberava nos lagos exemplares de peixes amazônicos, apreendidos no combate à biopirataria e na pesca predatória.

Em seguida, os alunos foram estimulados a manipular os peixes a fim de sentir a textura, a forma, o padrão de cores, tipo de cobertura do corpo do peixe (escama, placa óssea e pele) e o comportamento ao toque. Inicialmente demonstraram certo medo dos peixes vivos, às vezes repugnância, mas depois que adquiriram confiança, observaram os peixes minuciosamente.

Os alunos constataram a presença de crustáceos ectoparasitas na boca, na pele e nas brânquias em várias espécies de peixes. Foi uma oportunidade de discutirmos as razões do aparecimento de parasitas nos peixes, devido à ação antrópica nesse processo, segundo Lynch et al. (2005).

Os alunos de Oceanografia levaram alguns exemplares de peixes para o LABIO. Posteriormente, identificaram os ectoparasitas como sendo da ordem Isopoda e Família Cymothoidae (ARAÚJO et al., 2007) e presença de endoparasitas (WATANABE et al., 2007) helmintos do gênero Procamallanus e larvas da família Anisakidae na cavidade abdominal, aderidos ao peritônio visceral e no estômago da piranha preta (Serrasalmus rhombeus).

Os alunos do ensino fundamental, que declararam não conhecer a maioria dos peixes capturados, ficaram encantados pela variedade de formas e cores. Compreenderam a relação peixe-ambiente e a importância da preservação dos ambientes aquáticos. Ao mergulharem com máscaras, uma aluna comentou que “tinha a sensação de estar voando, uma vez que a água batia em seu rosto e os peixes eram como se fossem os pássaros voando”.

De modo geral, os estudantes não esperavam encontrar tanta biodiversidade de peixes em um lago. Os alunos de Oceanografia, que efetivaram coleta em três períodos (coleta nictimeral), constataram que a ictiodiversidade varia ao longo do dia, pois os hábitos alimentares, por exemplo, fazem com que os peixes migrem verticalmente ao longo da coluna d´agua.

Após cuidadosa observação, os peixes foram soltos nos locais de coleta. Espécimes mortos oriundos da pesca foram colocados em sacos plásticos, etiquetados com um código do local de coleta, e devidamente processados. Devido aos procedimentos realizados e ao curto período de amostragem, os óbitos não foram examinados, sendo os espécimes fixados em formol. Esses peixes foram depositados na coleção dos laboratórios de Genética e de Biologia (UFPA) e do CENJA. Também enriquecerão coleções didáticas usadas em práticas de disciplinas do CCB-UFPA.

Em 2004 os alunos de Biologia identificaram 51 espécies (Carvalho et al., 2005). Em 2007, na coleta efetivada com alunos de Oceanografia, a biodiversidade totalizou 20 espécies.

Consideramos que a amostra de espécies capturadas é uma pequena subestimativa da riqueza total dos mananciais. Acreditamos que a ictiodiversidade de peixes ultrapasse 100 espécies, graças à influência do rio Guamá, ao cultivo de peixes exóticos e, de acordo com reportagem do jornal O LIBERAL (2007), a introdução de grande diversidade oriunda de apreensões realizadas pelo IBAMA ao longo dos anos.

 

3.3. Avaliação das aulas de campo no PAB

Apesar da falta de infra-estrutura nos serviços oferecidos, como alimentação e transporte para locomoção terrestre, os alunos se manifestaram positivamente com relação ao PAB. Suas declarações expressaram manifestações de paz e empatia com a natureza, o que remete as conclusões de Damásio (2001) sobre as percepções, dos órgãos sensoriais acerca do ambiente externo, responderem pelo disparo de emoções no cérebro.

Quanto à aula de campo ministrada, os alunos a consideraram muito produtiva, pois a equipe já conhecia o local e se preparou, emocional e intelectualmente, para as excursões.

Silva & Zanon (apud SCHNETZLER & ARAGÃO, 2000) partem do pressuposto que aulas experimentais, por si só, não asseguram promoção de aprendizagens significativas, nem garantem o estabelecimento de vínculos entre prática e teoria, sendo a experimentação no ensino de Ciências, não raro, escassa e infrutífera, pois “fica-se na experimentação pela experimentação”. Essa preocupação da “aula em campo não se tornar simplesmente atividade lúdica”, ou seja, “um mero passeio ao ar livre” foi compartilhada por todos os membros da equipe.

Souza (2007), em sua dissertação de mestrado, conclui que:

 

“... aulas mais dinâmicas em debates como esse, possibilitam aos alunos maior participação, independente do assunto que se está abordando, inclusive, fazendo com que exponham suas idéias, sem se sentirem coagidos a se expressarem. E ainda, que podem e devem fazer parte desse momento tão importante, propiciando o compartilhar de sabores e de saberes, de ensinamentos e aprendizagens.” (p. 63).

 

Outro fator que destacamos para aprovação do trabalho em campo foi a empatia imediata dos alunos com os membros da equipe, com o “nosso ensinar com doçura”, aspecto esse que remete ao pensamento de Aragão e Sopelsa (2000) as quais ressaltam que os alunos devem ser considerados como parceiros no processo ensino-aprendizagem, nunca como mero objetos da práxis do professor.

Obviamente esse entendimento requer novo olhar para os conhecimentos. Não podemos buscar perceber nossos alunos de forma holística e, simultaneamente, empregar saberes associados às Ciências, particularmente as Biológicas - pelas características de nossas ações -, de modo fragmentado, como explicações isoladas dos contextos da realidade.

O cenário de nossa investigação é mais que o somatório de suas partes. É preciso exercitar a transdisciplinaridade, valorando e abordando, simultaneamente, diferenciadas dimensões da realidade - como as científicas, culturais, afetivas -, unificando saberes (RONCA & TERZI, 2001), afinal o estudo da biodiversidade de peixes no PAB não pode prescindir da dimensão humana, que integra e interage com o ambiente, seja degradando, apreciando, refletindo ou buscando meios de mantê-lo.

Consideramos que levar os graduandos, futuros professores, para o PAB foi uma oportunidade de reflexão, pois, como afirma Bortolozzi (1997) dentre os vários fatores que contribuem para mascarar a realidade ambiental, está a:

 

Visão distorcida de uma significativa parcela de professores, em relação ao processo educativo e às inovações exigidas que possam levar à compreensão globalizadora da realidade e da problemática ambiental, o que fatalmente se remete à própria má formação acadêmica desses professores, que provocam a falta de conscientização da questão ambiental (1997, p. 97-98).

 

Por outro lado, vemos que essas iniciativas de atividades em campo são esporádicas e isoladas, com pouco apoio logístico da universidade, quando consideramos que deveria ser obrigatório e apoiado pela academia, pelo menos para alunos das áreas biológicas. No entanto, o que se houve, na maioria das vezes, é a desculpa da falta de verba. Por conta disso, escolhemos o PAB, localizado em zona urbana de Belém-PA, minimizando assim os gastos com deslocamento.

O PAB como tema gerador possibilitou oportunidades de formação holística dos estudantes, pois diante da dinâmica local, encontramos condições para o ensino e pesquisa de: (1) biodiversidade e biopirataria, com ênfase em organismos aquáticos; (2) ecologia de peixes; (3) fatores hidrológicos; (4) tipo e uso do solo; (5) ocupação humana; (6) impactos antrópicos; (7) modelos de gestão ambiental; (8) possibilidades de recuperação; (9) a história ambiental do local.

E para termos nesses alunos aliados fiéis na proteção aos contextos ambientais, buscamos sensibilizá-los para as idéias de Cornell (1997), que preconizam o seguinte: “As experiências diretas com a natureza são necessárias para desenvolver sentimentos de amor e preocupação pela Terra, caso contrário, as pessoas passarão a conhecê-la de modo superficial e teórico, sem nunca serem tocadas profundamente”.

 

 

4. Considerações Finais

Consideramos a programação das atividades em campo importante, pois: 1) facilitou descobertas pessoais; 2) favoreceu a compreensão direta, empírica e intuitiva de problemas observados no PAB; 3) oportunizou o conhecimento de aspectos ecológicos dos peixes coletados e dos transtornos causados por ações antrópicas e 4) desenvolveu o comprometimento pessoal com os ideais ecológicos.

Acreditamos que este relato, sustentado em um projeto que abrange e contempla o ensino e pesquisa, poderá trazer importantes subsídios para os alunos, futuros educadores e gestores, já que favorece a compreensão, simultaneamente, das problemáticas ambientais em seu contexto real e as possibilidades de intervenção da Universidade.

Na re-inauguração do PAB, em 2006, verificamos que os convidados fizeram várias perguntas para nosso aluno de PIBICJr, sobre os peixes ornamentais regionais dos lagos, mantidos em aquários. Isso estimulou a ampliação de nossas ações, com a introdução dos “Aquários Itinerantes” no Projeto, os quais poderão ser levados para as escolas públicas de ensino fundamental e médio do entorno do PAB, partindo do princípio de que: “se os alunos não vão até os peixes do PAB, os peixes do PAB irão aos alunos”.

Esperamos que essas aulas em campo se tornem “a sementinha” para minimizar problemas advindos de ações antrópicas nos mananciais, vitimizados por males progressivos e irreparáveis, que poderão inclusive comprometer o futuro fornecimento de água potável para toda a área metropolitana de Belém – Pará.

 

 

Agradecimentos

A SECTAM – Pará, pela autorização para trabalho no PAB e ao Batalhão de Polícia Ambiental pelo apoio logístico (palestra, segurança dos alunos, empréstimo da voadeira), sem os quais essas excursões, certamente, não teriam sido realizadas. Ao bolsista de PIBIC Jr-CNPq-SECTAM, durante o período de 2006 a 2008, Manoel Cirdiley Ramos Correia, participante do CCIUFPA, pelo auxílio nas atividades em campo e manutenção dos peixes regionais vivos coletados no PAB.

 

 

Referências

ARAGÃO, R. M. R. de; SOPELSA, O. Olhando a prática docente de Ensino do Corpo Humano com olhos carregados de teoria... Sistematização teórica de aulas de Ciências no Ensino Fundamental. São Paulo. 2000. 16 p.

 

ARAÚJO, T. R. C.; ARAÚJO, L. C.; AKEL, A. R.; GIESE, E. G.; CARVALHO JR, J. R. & NAKAYAMA, L. 2007. Isopodas parasitas de peixes do Lago Água Preta no Parque Ambiental de Belém – PA. 59ª Reunião Anual da SBPC. Universidade Federal do Pará- UFPA.

 

BORTOLOZZI, A. Educação ambiental e ensino de geografia: bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. 1997. 245f. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação. Campinas.

 

CARVALHO, N. A. S. S.; CARVALHO JR, J. R.; SOUZA, A. C. P.; NUNES, J. L. G.; MELLO, C. F.; BELÚCIO, L. F. & NAKAYAMA, L. A ictiofauna do Parque Ambiental de Belém como instrumento para a Educação Ambiental. In: I ENCONTRO PAN-AMAZÔNICO, I REUNIÃO CIEA’S DO NORTE, II ENCONTRO ESTADUAL DE EA. Belém-PA. 1CD-ROM. 2005.

 

CARVALHO, N. S.; CARVALHO JR, J. R.; DAMACENO, Y.; LIMA, R.; BELÚCIO, L. F.; MELLO, C. F.; NAKAYAMA, L. Ensino fundamental em comunidades ribeirinhas do médio rio Xingu: uma proposta de política educacional alternativa. In: III SEMINÁRIO DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS E CURRÍCULO. Belém PA. (Trabalho completo). 1CD-ROM. 2004.

 

CORNELL, J. A. A alegria de aprender com a natureza: atividades na natureza para todas as idades. São Paulo: Melhoramentos/SENAC. 1997. 186 p.

 

DAMÁSIO, A. R. O erro de Descartes. São Paulo: Companhia das Letras. 2001. 330 p.

 

FARIAS, M. S. A.; ARAÚJO, M. L.; BELÚCIO, L. F.; NAKAYAMA, L. Educação Ambiental: Universidade e Vida. Participação - Revista do Decanato de Extensão da Universidade de Brasília. Novembro, no. 5, ano 10, p. 80-81. 2001.

 

LYNCH, C. F. L.; SILVA, M. M.; LOBATO, C.; ARAÚJO, M. L.; MELLO, C. F.; BELUCIO, L. F.; NAKAYAMA, L. Fatores impactantes no Parque Ambiental de Belém. In: I Encontro Pan-Amazônico, I Reunião CIEA’s do Norte, II Encontro Estadual de Educação Ambiental. Belém-PA (trabalho completo). 1CD-ROM. 2005.

 

MARENZI, A. W. C.; MANZONI, G. C.; MARENZI, R.C.; CERCHIARI, E. Oficina do Mar – Programa de Sensibilização Ambiental. p 95-96, In: Universidade do Vale do Itajaí. PRÓ-REITORIA DE ENSINO. Projeto Pedagógico: da identidade dos cursos aos referenciais ético-políticos da UNIVALI, VII Fórum Institucional de Integração Universitária - ITAJAÍ: UNIVALI. 2001. 211 p.

 

O LIBERAL. Disponível em: www.orm.com.br/oliberal/notícias.htm. Acesso: 03 maio 2007.

 

RONCA, P. A.; TERZI, C.A. O pensamento parece uma coisa à-toa... São Paulo: Edesplan, 2001.

 

SECTAM. Disponível em: http://www.sectam.pa.gov.br/MeioAmbiente/parque.htm. Acesso: 03 maio 2007.

 

SILVA, L. H. de A.; ZANON, L. B. A experimentação no ensino de Ciências. In: SCHNETZLER, R. P. & ARAGÃO, R. M. R. de. Ensino de Ciências: fundamentos e abordagens. Campinas: R. Vieira, 2000.

 

SOUZA, S. S. P. Atividades investigativas como estratégia para o ensino de Ciências: propostas e aprendizagens. 2007. 78 p. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciência e Matemáticas). Mestrado do Núcleo Pedagógico de Apoio ao Desenvolvimento Científico (NPADC). Universidade Federal do Pará. Belém, 2007.

 

THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2000.

 

TOZONI-REIS, M. F. C. Pesquisa em educação ambiental na universidade: produção de conhecimentos e ação educativa. In: TALAMONI, J. L.; SAMPAIO, A. C. (Orgs.). Educação ambiental: da prática pedagógica à cidadania. São Paulo: Escrituras, 2003. p. 9-21.

 

WATANABE, F. K.; PORFÍRIO, M. P.; PENA, G. G.; GIESE, E. G.; CARVALHO JÚNIOR, J. R.; NAKAYAMA, L. 2007. Larvas de nematóide da família Anisakidae no intestino do Serrasalmus rhombeus (Serrasalmidae, Perciforme) no Lago Água Preta, Parque Ambiental de Belém - PA. 59ª Reunião Anual da SBPC. Universidade Federal do Pará- UFPA.

 

UNGER, N. M. Da foz à nascente: o recado do rio. São Paulo: Cortez, 2001.
Ilustrações: Silvana Santos