Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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PROJETO
PEIXES DA AMAZÔNIA: RELATO DE CASO NO PARQUE AMBIENTAL DE BELÉM - PA.
Jaime
Ribeiro Carvalho Júnior Mestrando
em Ciência Animal da UFPA, CENJA/LABIO (Laboratório de Biologia da UFPA). jaimejr@ufpa.br. Nigiacy
Alcidia Seabra da Silva Carvalho Pedagoga,
Laboratório de Ecopedagogia - Centro Jovem de Aquarismo (CENJA). nigy@yahoo.com.br José
Leocyvan Gomes Nunes Graduando
em Estatística da UFPA/CENJA/LABIO. leocyvan@yahoo.com.br André
Ribeiro de Santana Mestre
em Educação em Ciências e Matemáticas pelo PPGECM, NPADC/UFPA, SEDUC-PA,
integrante do GPEEA/Sala Verde Pororoca/ mestredeo@yahoo.com.br. Maria
Ludetana Araújo. Doutoranda
em Filosofia e Ciências de la Educación. Universidade Nacional de Educación a
Distancia, UNED, Espanha. ludetana@ufpa.br. Luiza
Nakayama Doutora
em Genética Bioquímica e Molecular. Orientadora nos mestrados em Ciência
Animal e em Ciências e Matemáticas, coordenadora do GPEEA/Sala Verde Pororoca,
orientadora no Projeto Clube de Ciências (CCIUFPA). Av. Augusto Correa, 01 – Campus Universitário do
Guamá, Setor Básico. 66075-110. Belém-PA.
lunaka@ufpa.br. sverdepororoca@ufpa.br. Dia 04 de outubro nos estávamos
celebrando o dia de São Francisco, e de frente, onde estavam as embarcações,
os peixes começavam a cabrear. E ai eu estendi a mão e disse: ‘gente, todo
mundo veja o tanto que os peixes ta alegre com o momento e que estamos
celebrando, em nome do rio e em nome do peixe’ (UNGER, 2001, p. 69). Resumo:
Através desse trabalho objetivamos divulgar ações realizadas no Parque
Ambiental de Belém (PAB), visando
contribuir na ampliação das discussões de novas estratégias, envolvendo
pesquisa e ensino em Educação Ambiental (EA). Palavras-chave:
aula de campo, educação ambiental, Parque Ambiental de Belém, Ecopedagogia,
peixes. 1. Introdução O Centro Jovem de
Aquarismo (CENJA) participa, desde 2000, de um programa informal em várias
comunidades ribeirinhas do estado do Pará, como as do médio rio Xingu
(CARVALHO et al., 2004) utilizando peixes ornamentais, com objetivo eco-pedagógico. Desde 2003 as
atividades se tornaram mais sistematizadas, através da parceria com os laboratórios
de Biologia de Organismos Aquáticos (LABIO) e de Citogenética da Universidade
Federal do Pará (UFPA). Elas ocorrem, em sua maioria, no âmbito do Parque
Ambiental de Belém (PAB), onde estão situados os mananciais de abastecimento
de água dos municípios de Ananindeua e Belém: os lagos Bolonha e Água Preta. Lynch et al. (2005),
analisando questionários com moradores do entorno do PAB e de observações in
loco, fizeram as seguintes considerações: 1) o maior fator impactante na
região da Área de Proteção Ambiental (APA) é a ação antrópica; 2) essa ação
vem causando males progressivos e irreparáveis a esta área, capazes de
comprometer o fornecimento de água potável para toda a área metropolitana de
Belém – Pará; 3) como a APA/PAB constituem patrimônio ambiental devem ter a
biodiversidade preservada; 4) pesquisar a origem das patologias que ocorrem em
organismos aquáticos do ambiente em estudo; 5) implementar programas efetivos
de Educação Ambiental (EA) para a população residente e empresas; 6)
elaborar e implementar planos de manejo; 7) realizar a fiscalização mais
efetiva da área, para coibir a degradação ambiental. Diante
dessa realidade do PAB, acreditamos na
afirmação de Marenzi et al. (2001, p. 95) que “a
educação formal, de caráter técnico-científico, ignorando a integração do
ser humano com o meio ambiente, não resulta em uma sensibilização para mudança
de comportamento, em relação com o meio”. Reconhecemos, portanto, os papéis, da educação
e instituições de ensino formal (universidades e escolas) tanto
na sistematização, e socialização, do conhecimento, quanto em
possibilitar a formação de cidadãos suficientemente informados, conscientes e
atuantes acerca das questões ambientais. Nessa perspectiva, buscando contribuir
não apenas em nível de discussões, mas também na busca de soluções para as
mesmas, é que realizamos esta pesquisa. 2. Metodologia 2.1. Área de coleta A pesquisa foi
realizada no PAB, criado pelo Decreto 1.552, de 03 de maio de 1993. O Parque
apresenta uma área total de 1.206 hectares, em torno dos lagos Bolonha e Água
Preta (SECTAM, 2007), sendo um dos maiores do Brasil. A
transformação do PAB em unidade de conservação objetivou
recuperar, e preservar, a qualidade da água dos mananciais e a
biodiversidade amazônica, propiciando um espaço de lazer para a comunidade,
oportunizando ainda, a realização de atividades artísticas, científicas,
culturais, e educativas (FARIAS et al.,
2001). Recentemente,
o comandante do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), tenente coronel Antônio
Azevedo (comunicação pessoal), comentou que os animais apreendidos em residências
e/ou comercializados no Estado eram
encaminhados ao Batalhão para serem soltos no PAB. Até
o ano de 2003, foram introduzidos no local, em caráter oficial, 6.767 animais
(entre peixes, aves, répteis e anfíbios). Este número é maior, pois não
estamos levando em conta os que são abandonados por pesquisadores e populares.
O comandante afirmou ainda que, a partir de 2004, os animais silvestres
apreendidos passaram a ser encaminhados ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
e dos Recursos Renováveis – IBAMA, para o destino adequado, segundo a legislação
em vigor (LYNCH et al., 2005). As
áreas de observação e coletas de peixes
respeitaram as logísticas, sendo distribuídas nos ambientes aquáticos com
base em diferentes locais de acesso e hábitats. 2.2. Procedimentos de atuação.
Almeirim As
excursões foram divididas nos seguintes momentos: palestra, visita de
reconhecimento do entorno dos mananciais e coletas de peixes. Aproveitamos todas
essas oportunidades para, com a participação dos alunos, discutirmos soluções
para problemas observados no PAB. Nas
coletas, tivemos cuidado de capturar apenas espécies de peixes permitidas pela
SECTAM-PA; para isso utilizamos diferentes técnicas de pesca, empregando vários
tipos de redes e puçás. Dessa
forma, tendo a dimensão ambiental dos recursos hídricos
do PAB como tema gerador, conduzimos esta pesquisa em conformidade com as
orientações metodológicas da Pesquisa–ação (THIOLLENT, 2000;
TOZONI–REIS, 2003). 3.
Resultados e Discussão 3.1. A caminhada A
distância do portão principal até o Centro de Vivência (CV) é de
aproximadamente 4 km. É importante ressaltar que, no transcurso da caminhada,
os alunos vivenciaram sensações de prazer, paz e tranqüilidade, propiciadas
pelos quatro sentidos (visão, audição, olfato e tato), conforme atestam seus
depoimentos: “O contato com a natureza me dá paz”; “O canto dos pássaros
me deixa feliz”; “Gosto do cheiro desse mato”. Em nenhum momento da excursão,
ouvimos comentários negativos reclamando, por exemplo, da presença de insetos,
talvez por Belém, felizmente, ainda possuir muitas áreas verdes, nas quais a
presença de animais ainda é muito comum. Mas
também podemos inferir, através de comentários como: “aqui a gente pode
caminhar sem perigo”, “eu não tenho medo de bicho, só de ladrão”, que a
oportunidade de estar em contacto com a natureza e com segurança, está se
tornando cada vez mais rara em Belém. Nossa metrópole, como qualquer outras,
está vivenciando a gradativa substituição
de casas e quintais por conjuntos habitacionais,
avenidas e shoppings, entre outros
empreendimentos arquitetônicos. Essa nova configuração da nossa capital,
somada à violência
urbana, gerou uma drástica redução dos
espaços de lazer para crianças e jovens. Assim, pelo “alto astral”
manifestado pelos estudantes e professores acompanhantes durante toda
a caminhada, concordamos com Freire (1979), para o qual o método participativo,
embasado no diálogo, é um importante meio para garantir a comunicação, sendo
indispensável em questões vitais de nossa ordem política e em todos os
sentidos da nossa existência. No CV, numa área
coberta que serviu de sede, um membro do Batalhão de Meio Ambiente ministrou
uma palestra. Nela salientou a importância da conservação do PAB, abordando
aspectos históricos e culturais; a presença dos peixes nos mananciais e
problemas causados pela ocupação urbana. Foram
citadas ações que podem ajudar a garantir a qualidade das águas, tais como:
1) preservar a vegetação ciliar dos lagos; 2) providenciar o tratamento de
esgotos; 3) evitar o lançamento de lixo doméstico em ambientes aquáticos.
Essas medidas, de acordo com o palestrante, possuem potencial para minimizar
riscos de contaminação de seres vivos, incluindo o homem, por doenças de
veiculação hídrica. Em seguida,
realizamos visitação ao entorno do CV. Os alunos da graduação constataram a
destruição da mata ciliar em alguns locais, associando essas percepções as
aulas de Ecologia, na qual são discutidas conseqüências dessa agressão para
o meio ambiente: erosão do solo, assoreamento de córregos e igarapés, diminuição
da vazão de água ou mesmo destruição das nascentes. Os alunos de Ciências
se mostraram bastante sensibilizados pelos problemas locais, causados pela ação
antrópica. 3.2. Observações de peixes e habitats A
escolha dos locais de observação teve como requisito segurança para todos os
participantes. Com esse intuito, durante as atividades dos alunos na água, os
mergulhos sempre foram acompanhados por dois monitores, enquanto outros dois
observavam da margem. Para os alunos de Biologia e os de ensino fundamental,
limitamos as observações ao período matinal, com duração de 4 horas, em
locais rasos próximos à margem dos lagos. Com
os alunos de Oceanografia (turmas 2006 e 2007), por já termos maior
familiaridade e experiência na área de estudo, realizamos três saídas de
voadeira (períodos matutino, vespertino e noturno) pilotadas pelo cabo Gomes do
BPA. Para
que os alunos tivessem oportunidade de comparar os diferentes habitats aquáticos
do PAB, através de mergulho-livre, escolhemos para observação: 1) a área na
frente do porto, localizado no CV, com remanso e mata secundária nas margens;
2) área próxima ao canal artificial de escoamento do lago Bolonha, localizado
fora do CV, com corredeira e mata-capoeira nas margens. Verificamos que os
alunos conseguiram: 1) diferenciar a corredeira do canal artificial e sua vegetação
aquática (macrófitas) do que é contatado no lago Água Preta, 2) diferenciar
as macrófitas, quanto à forma, à coloração e ao nível na coluna d΄água,
3) constatar a importância das macrófitas como refúgio para alguns organismos
aquáticos. Coletamos,
selecionamos e fotografamos algumas espécies de peixes e mantivemos vivos
alguns exemplares em recipientes (containers) plásticos e isopores, a fim de
que os alunos observassem suas morfologias. Manipulamos,
inicialmente, os peixes com luvas, comentando que a mão humana, por normalmente
ter temperatura mais elevada que a do peixe poderia agredi-lo. Identificamos as
espécies mais comuns (pelo nome vulgar e científico) e descrevemos as
principais características morfológicas. Os alunos tiveram a
oportunidade de conhecer a ecologia das espécies de peixes coletadas. As
amostras incluíram espécies nativas (acará, piranha, acari e piaba), ameaçadas
de extinção (pirarucu) e introduzidas (acari-amarelinho, endêmica do rio
Xingu-PA e tilápia do Nilo, de origem africana). Explicamos que os lagos do
PAB, por estarem dentro de área urbana, estão sujeitos à ação antrópica,
que também inclui a introdução de espécies exóticas de outras localidades
da Amazônia. É importante ressaltar que até a década de 1990, o IBAMA
liberava nos lagos exemplares de peixes amazônicos, apreendidos no combate à
biopirataria e na pesca predatória. Em
seguida, os alunos foram estimulados a manipular os peixes a fim de sentir a
textura, a forma, o padrão de cores, tipo de cobertura do corpo do peixe
(escama, placa óssea e pele) e o comportamento ao toque. Inicialmente
demonstraram certo medo dos peixes vivos, às vezes repugnância, mas depois que
adquiriram confiança, observaram os peixes minuciosamente. Os
alunos constataram a presença de crustáceos ectoparasitas na boca, na pele e
nas brânquias em várias espécies de peixes. Foi uma oportunidade de
discutirmos as razões do aparecimento de parasitas nos peixes, devido à ação
antrópica nesse processo, segundo Lynch et al. (2005). Os
alunos de Oceanografia levaram alguns exemplares de peixes para o LABIO.
Posteriormente, identificaram os ectoparasitas como sendo da ordem
Isopoda e Família Cymothoidae (ARAÚJO et al., 2007) e presença de
endoparasitas (WATANABE et al., 2007) helmintos
do gênero Procamallanus e larvas da família Anisakidae na
cavidade abdominal, aderidos ao peritônio visceral e no estômago da piranha
preta (Serrasalmus rhombeus). Os
alunos do ensino fundamental, que declararam não conhecer a maioria dos peixes
capturados, ficaram encantados pela variedade de formas e cores. Compreenderam a
relação peixe-ambiente e a importância da preservação dos ambientes aquáticos.
Ao mergulharem com máscaras, uma aluna comentou que “tinha a sensação de
estar voando, uma vez que a água batia em seu rosto e os peixes eram como se
fossem os pássaros voando”. De
modo geral, os estudantes não esperavam encontrar tanta biodiversidade de
peixes em um lago. Os alunos de Oceanografia, que efetivaram coleta em três períodos
(coleta nictimeral), constataram que a ictiodiversidade varia ao longo do dia,
pois os hábitos alimentares, por exemplo, fazem com que os peixes migrem
verticalmente ao longo da coluna d´agua. Após
cuidadosa observação, os peixes foram soltos nos locais de coleta. Espécimes
mortos oriundos da pesca foram colocados em sacos plásticos, etiquetados com um
código do local de coleta, e devidamente processados. Devido aos procedimentos
realizados e ao curto período de amostragem, os óbitos não foram examinados,
sendo os espécimes fixados em formol. Esses peixes foram depositados na coleção
dos laboratórios de Genética e de Biologia (UFPA) e do CENJA. Também
enriquecerão coleções didáticas usadas em práticas de disciplinas do
CCB-UFPA. Em
2004 os alunos de Biologia identificaram 51 espécies (Carvalho
et al., 2005). Em 2007, na coleta efetivada com alunos de Oceanografia, a
biodiversidade totalizou 20 espécies. Consideramos que a amostra de espécies
capturadas é uma pequena subestimativa da riqueza total dos mananciais.
Acreditamos que a ictiodiversidade de peixes ultrapasse 100 espécies, graças
à influência do rio Guamá, ao cultivo de peixes exóticos e, de acordo com
reportagem do jornal O LIBERAL (2007), a introdução de grande diversidade
oriunda de apreensões realizadas pelo IBAMA ao longo dos anos. 3.3.
Avaliação das aulas de campo no PAB Apesar
da falta de infra-estrutura nos serviços oferecidos, como alimentação e
transporte para locomoção terrestre, os alunos se manifestaram positivamente
com relação ao PAB. Suas declarações expressaram manifestações de paz e
empatia com a natureza, o que remete as conclusões de Damásio (2001) sobre as
percepções, dos órgãos sensoriais acerca do ambiente externo, responderem
pelo disparo de emoções no cérebro. Quanto
à aula de campo ministrada, os alunos a consideraram muito produtiva, pois a
equipe já conhecia o local e se preparou, emocional e intelectualmente, para as
excursões. Silva
& Zanon (apud SCHNETZLER & ARAGÃO, 2000) partem do pressuposto
que aulas experimentais, por si só, não asseguram promoção de aprendizagens
significativas, nem garantem o estabelecimento de vínculos entre prática e
teoria, sendo a experimentação no ensino de Ciências, não raro, escassa e
infrutífera, pois “fica-se na experimentação pela experimentação”. Essa
preocupação da “aula em campo não se tornar simplesmente atividade lúdica”,
ou seja, “um mero passeio ao ar livre” foi compartilhada por todos os
membros da equipe. Souza
(2007), em sua dissertação de mestrado, conclui que: “...
aulas mais dinâmicas em debates como esse, possibilitam aos alunos maior
participação, independente do assunto que se está abordando, inclusive,
fazendo com que exponham suas idéias, sem se sentirem coagidos a se
expressarem. E ainda, que podem e devem fazer parte desse momento tão
importante, propiciando o compartilhar de sabores e de saberes, de ensinamentos
e aprendizagens.” (p. 63). Outro
fator que destacamos para aprovação do trabalho em campo foi a empatia
imediata dos alunos com os membros da equipe, com o “nosso ensinar com doçura”,
aspecto esse que remete ao pensamento de Aragão e Sopelsa (2000) as quais
ressaltam que os alunos devem ser considerados como parceiros no processo
ensino-aprendizagem, nunca como mero objetos da práxis do professor. Obviamente esse
entendimento requer novo olhar para os conhecimentos. Não podemos buscar
perceber nossos alunos de forma holística e, simultaneamente, empregar saberes
associados às Ciências, particularmente as Biológicas - pelas características
de nossas ações -, de modo fragmentado, como explicações isoladas dos
contextos da realidade. O cenário de nossa
investigação é mais que o somatório de suas partes. É preciso exercitar a
transdisciplinaridade, valorando e abordando, simultaneamente, diferenciadas
dimensões da realidade - como as científicas, culturais, afetivas -,
unificando saberes (RONCA & TERZI, 2001), afinal o estudo da biodiversidade
de peixes no PAB não pode prescindir da dimensão humana, que integra e
interage com o ambiente, seja degradando, apreciando, refletindo ou buscando
meios de mantê-lo. Consideramos que
levar os graduandos, futuros professores, para o PAB foi uma oportunidade de
reflexão, pois, como afirma Bortolozzi (1997) dentre os vários fatores que
contribuem para mascarar a realidade ambiental, está a: Visão
distorcida de uma significativa parcela de professores, em relação ao processo
educativo e às inovações exigidas que possam levar à compreensão
globalizadora da realidade e da problemática ambiental, o que fatalmente se
remete à própria má formação acadêmica desses professores, que provocam a
falta de conscientização da questão ambiental (1997, p. 97-98). Por
outro lado, vemos que essas iniciativas de atividades em campo são esporádicas
e isoladas, com pouco apoio logístico da universidade, quando consideramos que
deveria ser obrigatório e apoiado pela academia, pelo menos para alunos das áreas
biológicas. No entanto, o que se houve, na maioria das vezes, é a desculpa da
falta de verba. Por conta disso, escolhemos o
PAB, localizado em zona urbana de Belém-PA, minimizando assim os gastos com
deslocamento. O PAB como tema gerador possibilitou oportunidades de formação holística
dos estudantes, pois diante da dinâmica local, encontramos condições para o
ensino e pesquisa de: (1) biodiversidade e biopirataria, com ênfase em
organismos aquáticos; (2) ecologia de peixes; (3) fatores hidrológicos; (4)
tipo e uso do solo; (5) ocupação humana; (6) impactos antrópicos; (7) modelos
de gestão ambiental; (8) possibilidades de recuperação; (9) a história
ambiental do local. E para termos nesses
alunos aliados fiéis na proteção aos contextos ambientais, buscamos
sensibilizá-los para as idéias de Cornell (1997), que preconizam o seguinte:
“As experiências diretas com a natureza são necessárias para desenvolver
sentimentos de amor e preocupação pela Terra, caso contrário, as pessoas
passarão a conhecê-la de modo superficial e teórico, sem nunca serem tocadas
profundamente”. 4.
Considerações Finais Consideramos a
programação das atividades em campo importante, pois: 1) facilitou descobertas
pessoais; 2) favoreceu a compreensão direta, empírica e intuitiva de problemas
observados no PAB; 3) oportunizou o conhecimento de aspectos ecológicos dos
peixes coletados e dos transtornos causados por ações antrópicas e 4)
desenvolveu o comprometimento pessoal com os ideais ecológicos. Acreditamos
que este relato, sustentado em um projeto que abrange e contempla o ensino e
pesquisa, poderá trazer importantes subsídios para os alunos, futuros
educadores e gestores, já que favorece a compreensão, simultaneamente, das
problemáticas ambientais em seu contexto real e as possibilidades de intervenção
da Universidade. Na re-inauguração
do PAB, em 2006, verificamos que os
convidados fizeram várias perguntas para nosso aluno de PIBICJr, sobre os
peixes ornamentais regionais dos lagos, mantidos em aquários. Isso estimulou a ampliação
de nossas ações, com a introdução
dos “Aquários Itinerantes” no
Projeto, os quais poderão ser levados para as escolas públicas
de ensino fundamental e médio do
entorno do PAB, partindo do princípio
de que: “se os alunos não vão até os peixes do PAB, os peixes do PAB irão
aos alunos”. Esperamos que essas
aulas em campo se tornem “a sementinha” para minimizar problemas advindos de
ações antrópicas nos mananciais, vitimizados por males progressivos e irreparáveis,
que poderão inclusive comprometer o futuro fornecimento de água potável para
toda a área metropolitana de Belém – Pará. Agradecimentos A
SECTAM – Pará, pela autorização para trabalho no PAB e ao Batalhão de Polícia
Ambiental pelo apoio logístico (palestra, segurança dos alunos, empréstimo da
voadeira), sem os quais essas excursões, certamente, não teriam sido
realizadas. Ao bolsista de PIBIC Jr-CNPq-SECTAM, durante o período de 2006 a 2008, Manoel
Cirdiley Ramos Correia, participante do
CCIUFPA, pelo auxílio nas atividades em campo e manutenção dos peixes
regionais vivos coletados no PAB. Referências ARAGÃO, R. M. R. de; SOPELSA, O. Olhando
a prática docente de Ensino do Corpo Humano com olhos carregados de teoria...
Sistematização teórica de aulas de Ciências no Ensino Fundamental. São
Paulo. 2000. 16 p. ARAÚJO, T. R. C.; ARAÚJO,
L. C.; AKEL, A. R.; GIESE, E. G.; CARVALHO JR, J. R. & NAKAYAMA,
L. 2007. Isopodas parasitas de peixes do
Lago Água Preta no Parque Ambiental de Belém – PA. 59ª Reunião
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A. Educação ambiental e ensino de
geografia: bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. 1997. 245f. Tese
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Campinas. CARVALHO,
N. A. S. S.; CARVALHO JR, J. R.; SOUZA, A. C. P.; NUNES, J. L. G.; MELLO, C. F.;
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uma proposta de política educacional alternativa. In: III SEMINÁRIO DE POLÍTICAS
EDUCACIONAIS E CURRÍCULO. Belém PA. (Trabalho completo). 1CD-ROM. 2004. CORNELL,
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Melhoramentos/SENAC. 1997. 186 p. DAMÁSIO,
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SCHNETZLER, R. P. & ARAGÃO, R. M. R. de. Ensino de Ciências:
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S. S. P. Atividades investigativas como
estratégia para o ensino de Ciências: propostas e aprendizagens. 2007. 78
p. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciência e Matemáticas). Mestrado
do Núcleo Pedagógico de Apoio ao Desenvolvimento Científico (NPADC).
Universidade Federal do Pará. Belém, 2007. THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez,
2000. TOZONI-REIS, M. F. C. Pesquisa em educação ambiental na universidade:
produção de conhecimentos e ação educativa. In: TALAMONI, J. L.; SAMPAIO, A.
C. (Orgs.). Educação ambiental:
da prática pedagógica à cidadania. São Paulo: Escrituras, 2003. p.
9-21. WATANABE, F. K.; PORFÍRIO,
M. P.; PENA, G. G.; GIESE, E. G.; CARVALHO JÚNIOR, J. R.; NAKAYAMA, L. 2007. Larvas
de nematóide da família Anisakidae no intestino do Serrasalmus
rhombeus (Serrasalmidae, Perciforme) no Lago Água Preta, Parque Ambiental
de Belém - PA. 59ª Reunião Anual da SBPC. Universidade Federal
do Pará- UFPA. |