Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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Horta em materiais recicláveis: conscientização ecológica de comunidades carentes e segurança alimentar no Norte de Minas Gerais
Wedson Carlos Lima Nogueira1 e Lucinéia de Pinho2 1Mestre em Ciências Agrárias/Agroecologia - UFMG; doutorando em Zootecnia - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária/Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Jaboticabal/SP; Rua Jaime Ribeiro, 988 CEP 14.883.125; wedsonlima3@yahoo.com.br 2Nutricionista; Mestre em Ciências Agrárias/Agroecologia – UFMG; lucineiapinho@hotmail.com
RESUMO As hortaliças são plantas que apresentam crescimento rápido e geralmente são cultivadas em pequenas áreas. Algumas famílias, cujas residências não disponibilizam de espaço suficiente para a construção de canteiros, podem utilizar recipientes como latas, bacias, vasos, entre outros, para o seu cultivo. O presente trabalho teve como objetivo transferir alternativas para a produção de hortaliças nas residências urbanas de baixa renda no município de Montes Claros/MG. Foram ministrados cursos nas comunidades, focalizando a importância desses alimentos para a saúde humana e de como deve ser realizado o seu cultivo. No desenvolvimento do trabalho houve a promoção da conscientização ecológica da comunidade, contribuiu para a diminuição de doenças como a dengue e a redução da poluição ambiental. Além disso, houve a melhoria da alimentação das famílias com produção de alimentos ricos em vitaminas e minerais a baixo custo. O projeto buscou alternativas para combater a fome e medidas para serem veículo de inclusão social, com enfoque ambiental para recuperação de materiais que serviam apenas para o acúmulo de lixo. Palavras- chave: educação ambiental, espaço, olerícolas, promoção social.
1. INTRODUÇÃO Estudos confirmam que famílias carentes tendem a ter um menor consumo de hortaliças (Homem de Melo et al., 1988; Roux et al., 2000; Vilela & Henz, 2000), por isso o cultivo dessas em materiais recicláveis constitui uma forma alternativa de complementação da cesta de alimentos do dia-a-dia e acesso direto a alimentos com boas características nutricionais e importantes para a saúde (Melo et al., 2004). Na cidade de Montes Claros, igualmente nas cidades do terceiro Mundo, fatores determinantes como o baixo poder aquisitivo, culturais, educacionais e sociais e entre outros, interferem significativamente nos hábitos alimentares (WHO, 2003). A Universidade Federal de Minas Gerais está localizada em meio a tanta desigualdade social, pode em muito contribuir para o desenvolvimento regional, permitindo que haja a participação das comunidades periféricas, promovendo a transformação social e inserção da universidade junto às comunidades, cumprindo assim o papel fundamental que é o ensino, pesquisa e extensão (Ministério da Saúde, 2000). Atualmente a maioria das famílias não dispõe de espaço suficiente para o cultivo de hortaliças, por isso a orientação do uso de recipientes como latas, bacias, vasos, entre outros, pode ser uma boa alternativa. A prática contribui na obtenção de alimentos de qualidade a baixo custo, o resgate e a valorização da cultura alimentar de cada região e para a preservação do meio ambiente (Dutra-de-Oliveira, 1998). As Hortaliças são fontes de vitaminas, fibras e sais minerais essenciais para a alimentação humana, são pobres em gorduras, portanto são mais saudáveis, além disso, contribuem para a prevenção de inúmeras doenças devido ao seu valor medicinal (Balbach & Boarim, 1992). O presente trabalho teve como objetivo transferir alternativas para a produção de hortaliças nas residências urbanas de baixa renda no município de Montes Claros/MG.
2. METODOLOGIA
2.1. Comunidades envolvidas
O trabalho foi realizado junto à famílias de baixa renda no Município de Montes Claros no Norte de Minas Gerais, no período de março a dezembro de 2006. Contemplou o público dos bairros Renascença, Juscelino Kubitschek, Cidade Industrial e Jaraguá, atingindo 20, 25, 20 e 15 famílias, respectivamente.
2.2. Etapas
1ª etapa – Capacitação das famílias Capacitação das 80 famílias envolvidas no projeto. Esta capacitação foi feita por acadêmicos de agronomia do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais. Foram ministrados um total de 15 cursos em cada comunidade, focalizando a importância das olerícolas para a saúde humana e de como deve ser realizado o seu cultivo (preparo de mudas, irrigação, adubação, capinas e controle de pragas). Nos cursos foram realizadas demonstrações de hortaliças cultivadas em materiais recicláveis, bem como a disponibilização de mudas e sementes cedidas pela Embrapa Hortaliças para as comunidades.
2ª etapa – Preparação para o cultivo As atividades específicas de preenchimento dos recipientes de cultivo, tratos culturais e colheita. Cada família ficou responsável pela manutenção de sua horta e ainda foram estimulados ao trabalho em grupo. Os materiais utilizados para o cultivo de alface, couve, tomate, cenoura, beterraba e plantas condimentares foram: vasos, latas, bacias e caixotes; e para a irrigação das plantas utilizou-se regadores. Os recipientes ficaram dispostos próximos da fonte de água e de luz solar. Antes de preencher o recipiente foi preparado o substrato da seguinte forma: misturou-se 3 partes de terra com 1 parte de esterco curtido. Após o preparo do substrato e enchimento do recipiente, molhou-se o mesmo para a realização do plantio, que foi semeadura direta ou indireta de acordo a exigência de cada hortaliça. Incentivou-se o uso de adubos orgânicos, constituído de elementos naturais do meio ambiente que são os estercos, folhas, minerais encontrados em rochas, composto e diversos outros.
3ª etapa - Monitoramento das atividades Foram realizadas visitas semanalmente para monitorar as atividades nas comunidades para garantir a continuidade e auxílio em eventuais problemas como a preparação de extratos para o controle de pragas e doenças, nos quais as famílias não conseguiam combater, além de auxilio no cultivo das olerícolas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o período de realização do trabalho, observou-se que aproximadamente 75% das famílias aderiram de forma efetiva às atividades propostas. No entanto, devido a fatores como: mudança de residência e aumento da área construída contribuiu para que algumas famílias (25%) não concluíssem o projeto. Houve a promoção da conscientização ecológica da comunidade, em função do reaproveitamento de utensílios que eram agravantes ao meio ambiente, contribuiu para a redução de doenças cujo ciclo se desenvolve em águas paradas como a dengue, para a limpeza urbana, diminuindo as fontes de poluição e serviu de modelo para outras comunidades vizinhas. Uma vez que houve uma melhoria quantitativa e qualitativa na alimentação das famílias a partir da produção de alface, couve, tomate, cenoura, beterraba e plantas condimentares, alimentos ricos em vitaminas e minerais a baixo custo. A ingestão de alimentos ricos em vitaminas e minerais favorecem na redução da incidência de doenças correlacionadas com a ausência destes na dieta (Castelo Branco et al., 2007). Incentivou-se também o uso de adubos orgânicos para o crescimento de plantas saudáveis, com menor impacto ao meio ambiente e que implica em menores gastos para manutenção da cultura. O projeto buscou alternativas para combater a fome e medidas para serem veículo de inclusão social, com enfoque ambiental para recuperação de materiais que serviam apenas para o acúmulo de lixo. 4. Conclusões A partir das atividades elaboradas é possível concluir que: 1) As práticas desenvolvidas nestas comunidades podem ser adotadas por outras comunidades; 2) Ações comunitárias e a conscientização ambiental melhoram a qualidade de vida, permite um ambiente saudável, alternativa de renda e garante a segurança alimentar.
Agradecimentos Em especial a todas as pessoas envolvidas na construção de um futuro melhor. À Embrapa Hortaliças pela doação de sementes que possibilitou a germinação de possibilidades a famílias carentes e a Universidade Federal de Minas Gerais pelo grande apoio na extensão universitária. Referências BALBACH A; BOARIM DSF. 1992. As hortaliças na medicina natural. Itaquaquecetuba, São Paulo: Editora Missionária. 291p. CASTELO BRANCO M; ALCÂNTRA FA; MELO PE. 2007. O projeto horta urbana de Santo Antônio do Amparo. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças. 160p. DUTRA-DE-OLIVEIRA JE; MARCHINI JS. 1998. Ciências nutricionais. São Paulo: Editora Sarvier. 403p. HOMEM DE MELO F; RYFF T; MAGALHÃES AR; CUNHA A; MUELLER C; COSTA JMM. 1988. A questão da produção e do abastecimento alimentar no Brasil, um diagnóstico macro com cortes regionais. Brasília: IPEA. 423p. MELO PE; CASTELO BRANCO M; ALCÂNTRA FA; SANTOS RC. 2005. A produção para o consumo próprio intensificou a diversidade de cultivos em uma horta urbana no Entorno do Distrito Federal. Horticultura Brasileira. 23: 352. Ministério da Saúde. 2000. Alimentos regionais. Brasília, DF: Ministério da Saúde. ROUX C; LE COUEDRIA P; DARAND-GASSELIN S; LUQUET FM. 2000. Consumption patterns and food attitudes of a sample of 657 low-income people in France. Food Policy 25: 91-103. VILLELA NJ; HENZ GP. 2000. Situação atual da participação das hortaliças no agronegócio brasileiro. Cadernos de Ciência e Tecnologia 17: 71-89. WHO (WOLRD HEALTH ORGANIZATION). 2003. Diet, nutrition and the prevention of cronic diseases. Report of a joint WHO/FAO expert consultation. Technical Report Series. 916p.
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